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História
petrificada

Em Nova Petrópolis, parque de esculturas em pedra
conta a saga da imigração alemã na região


Texto
Andrei Andrade
andrei.andrade@pioneiro.com

Fotos
Marcelo Casagrande
marcelo.casagrande@pioneiro.com

Existem diversas formas de se utilizar da arte para resgatar a história: livros, documentários, filmes, pinturas. Para contar a saga da imigração germânica na Serra gaúcha, o empresário Valmor Heckler recorreu ao trabalho de três escultores para dar vida ao parque Pedras do Silêncio, que abriu as portas em novembro de 2014 no interior de Nova Petrópolis. Durante o passeio de aproximadamente uma hora pela área que ostenta uma das mais belas paisagens da região, o visitante pode apreciar 80 peças de arenito que ilustram desde a chegada até a consolidação da cultura alemã na região.

Além de ter a sociedade com o irmão, Claudionor Heckler, Valmor é um dos guias do passeio, que pode ser feito individualmente, em família ou mesmo excursões. Em suas explicações, percebe-se que cada detalhe tem uma razão de ser: a entrada e recepção do parque, por exemplo, foram construídos com a técnica enxaimel, a mesma utilizada pelos pioneiros desta região, que consiste no uso de hastes de madeiras encaixadas entre si, e tijolos. Para as esculturas, a escolha pelo arenito foi por se tratar de uma matéria-prima abundante na região e que oferece boa resistência às ações climáticas. A grande maioria das peças foi feita a partir de um único bloco de pedra cada, o que torna o resultado ainda mais impressionante.

– Como as peças ficam a céu aberto, não poderíamos ter as esculturas de madeira, por exemplo. Para esculpir todo o parque, foram utilizadas mais de 300 toneladas de pedra – comenta Heckler.

O sócio conta que a ideia para abrir o parque, que está localizado na Linha Brasil, cerca de 500 metros após o acesso pela ERS-235, surgiu após conhecer e se encantar pela obra do escultor Rogério Bertoldo, cujo ateliê fica em Santa Maria. Admirador da história da imigração, Valmor sentia falta na região de um espaço que contasse a saga que levou à edificação da cidade mais “alemã” da Serra. A área de seis hectares foi adquirida em 2011, sendo necessários três anos até a abertura para o público.

– Os turistas vinham a Nova Petrópolis e saíam com muitas referências da gastronomia, da arquitetura, dos costumes dos imigrantes, mas muitas vezes sem saber o porquê, sem conhecer o contexto histórico. Antes de encomendar as esculturas, cada artista recebeu um roteiro escrito com a ajuda de diversos historiadores do município e da região. Hoje me deixa bastante feliz que, além de turistas, a gente recebe muitas escolas – destaca o empresário. 

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Avô do cartunista, Leon Yotti (D) serviu de inspiração para a criação do Radicci

Pioneiros e costumes

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O passeio pelas pedras silenciosas começa pelas obras que representam as longas viagens de navio em condições sub-humanas. É interessante perceber como uma única peça pode retratar uma dezena de elementos diferentes, ajudando a condensar a história em poucas cenas – que faz lembrar a riqueza de simbolismo da arte sacra. O trajeto segue pela representação das principais profissões dos imigrantes – tanoeiros, ferreiros, marceneiros, alfaiates, entre outras – com a curiosa explicação de como a maioria desses ofícios originou sobrenomes comuns na Serra (Schneider = alfaiate, Becker = padeiro, Zimmer = marceneiro, etc.).

A caminhada segue pelos rostos de pessoas importantes ao desenvolvimento de Nova Petrópolis, que a tornaram conhecida como capital nacional do cooperativismo. Na parte final, as esculturas retratam costumes que permanecem vivos, como o jogo de bolão, o preparo do pão caseiro, as corridas de carrinho de lomba. Nada chama mais a atenção, no entanto, do que a maior das esculturas, feita a partir de 20 blocos de pedra, e que mostra um casal de imigrantes, o homem com o machado e a mulher com um bebê no colo, além de outra criança. Esculpida por Cristóvão Hullen, a imagem foi feita a partir de 40 toneladas de pedra bruta.

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Sócio do parque, Valmor Heckler, também é um dos guias

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Trecho do caminho onde ficam os rostos dos pioneiros

“Aqui eu vejo o meu trabalho”

Para elaborar as 80 esculturas que compõem o parque, foram convidados três escultores: Cristóvão Hullen, natural de Três Passos e que era morador de Galópolis, em Caxias, até se mudar para as dependências do parque, onde mantém seu ateliê, Rogério Bertoldo, natural de Júlio de Castilhos e cujo ateliê fica em Santa Maria, e Rodrigo de Azevedo, baseado em Pareci Novo. Este último assina apenas uma das obras, enquanto os outros dois dividem o restante.

Durante o período de criação das peças, Rogério Bertoldo morou por três meses em uma casa nas dependências do parque, que atualmente está fechada. Cristóvão Hullen, por sua vez, não pensa em deixar o parque, onde se estabeleceu para esculpir, entre outras, a obra principal do parque, a do casal de imigrantes. Acostumado a trabalhar com madeira e concreto, aos 62 anos teve no Pedras do Silêncio o desafio de esculpir em pedra pela primeira vez. Foram dois meses de adaptação à nova técnica, sendo a parte mais difícil aprender a cortar os veios das pedras. Hoje, enquanto trabalha em novas peças para o parque (já tem uma banda de música pronta), considera que a melhor parte da vida no interior de Nova Petrópolis é poder manter contato direto com o fruto do seu trabalho.

– Antes eu terminava a obra, vendia e nunca mais via. Hoje eu vivo dentro do que eu faço, abro a porta e minha obra está sendo visitada diante dos meus olhos. Isso me deixa muito orgulhoso – comemora.

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Escultor Cristóvão Hullen foi convidado a morar nas dependências do parque

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Para visitar 


O Parque Pedras do Silêncio fica na Rua Emílio Dinnebier Filho, 560, localidade Linha Brasil, interior de Nova Petrópolis (a 500 metros do acesso pela ERS-235, no km 13). Está aberto para visitações todos os dias, pela manhã e à tarde.
O ingresso custa R$ 30 (R$ 15 meia entrada).
Mais informações: (54) 99994-9995.

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