Orfeu Conz organizou o acervo da família e abriu em março um museu particular aberto ao público

A casa do tempo
passado

Museu da Família Conz, em Flores da Cunha, convida o visitante a reviver e redescobrir costumes dos primórdios da colonização


Texto
Rodrigo Lopes*
rodrigolopes33@gmail.com
*Especial para o Pioneiro

Fotos
Marcelo Casagrande
marcelo.casagrande@pioneiro.com

Uma bíblia em italiano, trazida pelos pioneiros imigrantes italianos, por volta de 1878, dá as boas-vindas, logo na entrada do velho casarão – um sinal de que história e memória são sagradas para a família. Na parede em frente, avô, filho e neto são reverenciados pelo bisneto em fotos e inscrições entalhadas com esmero. Circulando pelos cômodos, impressiona o preciosismo dos detalhes, da jarra d’água para a higiene no quarto às gravuras sacras amareladas pelo tempo.

Visitar o Museu da Família Conz, em Flores da Cunha, é muito mais do que conferir objetos, móveis, costumes e histórias de antigamente. Para as novas gerações, é a chance de conferir um museu de grandes “novidades”: um pega-moscas de vidro, uma funda, um rastel. Tudo acompanhado pelo testemunho, ao mesmo tempo orgulhoso e saudosista, de seu Orfeu Conz, 77 anos. Quatro gerações de sua família passaram pela casa, o que enriquece e potencializa cada detalhe contado por ele.

Tudo começou em 3 de março de 1878, quando o bisavô, Agapito Conz, chegou à região, oriundo da província de Belluno. Exímio marceneiro e com habilidades em tanoaria, Agapito construiu a primeira moradia da família a cerca de 50 metros de onde o museu está situado, no bairro Videiras, logo na entrada do município. Uma forte tormenta, porém, destruiu a casa cinco anos depois, em 1883. Foi quando o imigrante resolveu construir uma fortaleza capaz de resistir a tudo.

Não só resistiu como abrigou boa parte da descendência Conz: além do pioneiro Agapito, moraram lá, em diferentes períodos do século 20, o filho Tarcilo, o neto Diógenes e o bisneto Orfeu, o responsável pela abertura do espaço ao público, após dois anos de reformas.

Seu Orfeu morou no casarão por cerca de 10 anos, dos oito aos 17. E lembra perfeitamente da rotina no lugar. Posando junto ao velho carretão defronte à casa, recorda de quando subia no “veículo” e guiava duas mulas, percorrendo os terrenos da propriedade nos anos 1950.

– Tinha 15 anos e trazia milho, trigo, lenha, verduras, frutas, pasto seco, tudo que precisava ser feito – conta.

A carreta é um dos tantos símbolos que traduzem a história do lugar. Móveis e peças de família mesclam-se a outras garimpadas ao longo do tempo, contribuindo para a harmonia do primeiro piso, onde estão cozinha, quarto e despensa – um banheiro foi atualizado à moradia, visto que a “casinha” para as necessidades costumava ficar fora, nos fundos do terreno. Já o porão de pedra e chão batido guarda tachos, mastelas e pipas.

Mas o que impressiona mesmo são as antigas ferramentas organizadas no sótão – identificadas em dialeto por seu Orfeu, pela esposa, dona Maria Mantovani Conz, e pelo primo Luiz Antonio Conz, o Antoninho. Estão lá, entre outras, o trapano, a svaldora, o scaiarol... Todos sob o telhado feito com os não menos típicos scándoles. Não sabe o que é cada um deles, nem para o que servem? Seu Orfeu e a família terão o maior prazer em lhe explicar. As visitas podem ser feitas mediante agendamento prévio, pelo fones (54) 3292.1227 ou (54) 99164.1283.

Reforma buscou manter a rústica construção o mais original possível. À direita, o antigo carretão




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Placas com a história do bisavô, avô, pai e neto decoram a casa

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Toalha bordada exposta na cozinha resume o cotidiano familiar

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No quarto, a tradicional jarra com a bacia ao lado da cama

Fé em Lourdes

Além da bíblia em italiano na entrada do museu, uma gruta em louvor a Nossa Senhora de Lourdes traduz a fé e a religiosidade dos Conz. Ela foi erguida recentemente no acesso à casa da família.

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Quarto reflete a forte religiosidade dos imigrantes italianos

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Cozinha abriga a mesa de refeições, cadeiras de palha e louças

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Utensílios da família e outros garimpados compõem o acervo

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Porão de pedra e chão batido é um dos destaques do museu

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Orfeu e Maria Conz junto à gruta erguida em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes

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Orfeu Conz junto à cozinha do museu

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Orfeu e o velho carretão, que decora a entrada do museu da família

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Orfeu Conz demonstra o funcionamento do antigo maquinário, localizado no porão de pedra

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Orfeu e a esposa Maria Mantovani Conz defronte ao museu da família

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Cozinha do museu abriga diversos utensílios dos primórdios da colonização

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Detalhes históricos estão por todos os cômodos do museu

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