É como uma mini-sociedade, em que núcleos diferentes executam diferentes trabalhos que visam um objetivo comum.
A analogia do maestro Manfredo Schmiedt ajuda a compreender o organismo vivo que é uma orquestra, grupo de instrumentistas que se reúne para executar composições eruditas ou populares, instrumentais ou cantadas, em teatros ou a céu aberto. Há 17 anos literalmente à frente da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul, Schmiedt viu nascer e ganhar corpo em Caxias uma instituição que assume a responsabilidade de levar ao público a música de todas as partes do planeta, numa missão ao mesmo tempo educativa e cultural.
— O primeiro papel da orquestra é oferecer às pessoas a oportunidade de viajar por sonoridades que trazem o sabor de todos os cantos do mundo: do Japão, da China, da Rússia, da Espanha, da Alemanha. Ao mesmo tempo, ela ajuda a dar a dimensão dessa infinidade de instrumentos e de possibilidades que existem a partir da combinação de apenas sete notas, que faz a música tão fascinante. Esse é o segundo papel da orquestra: dar vida à composição que pode ter sido escrita em qualquer época ou lugar _ define Schmiedt, que também é regente da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Ospa, há 26 anos.
Nos bastidores de um grupo que em 2018 irá apresentar 40 concertos diferentes, a palavra-chave é planejamento. Em meados de junho, já é discutida não apenas a próxima temporada, mas também a de 2020. É a receita para poder entregar com a maior antecedência possível a programação do ano todo. Violoncelista e regente-assistente, Diego Biasibetti considera que a entrega do material antecipado é uma demonstração de preocupação com o público.
— A revista demanda uma organização e um envolvimento muito grande, mas é a maior demonstração da nossa responsabilidade enquanto orquestra. Com ela em mãos o público pode se programar para acompanhar nossos concertos o ano todo _ destaca Biasibetti, um dos remanescentes da antiga Orquestra de Concertos de Caxias do Sul, encampada pela Universidade em 2001 para dar origem à OSUCS.
Embora a maior parte dos membros more em Caxias, alguns vivem em outras cidades e sobem a Serra para ensaiar duas vezes por semana. Para isso a orquestra dispõe de um ônibus que sai de Porto Alegre e busca os músicos em cidades como Canoas, Novo Hamburgo, Gramado e Ivoti. É um investimento tão importante quanto o de divulgação dos concertos, manutenção de instrumentos, remuneração dos integrantes e contratação de solistas ou instrumentistas complementares. O resultado é um grupo que tem na profundidade de repertório e na excelência musical fatores para construir um público cada vez mais cativo e chegar a palcos importantes como o do Teatro São Pedro, em Porto Alegre e o Teatro Feevale, em Novo Hamburgo.
—Por ser a segunda maior cidade do Estado, Caxias merece ter uma orquestra desse porte, que leve o seu nome a lugares mais distantes _ ressalta o regente.
A partir do desmembramento dos diferentes naipes e funções que contribuem para realizar ritmo, harmonia e melodia no palco, nas próximas páginas convidamos você a conhecer um pouco mais sobre a OSUCS e o universo da música orquestral. Silêncio e boa leitura.
Embora haja um número fixo de integrantes, a quantidade de músicos varia de acordo com a necessidade de cada concerto. Mais instrumentistas são contratados em casos específicos para executar todas as partes da composição que será apresentada.
A disposição dos naipes no palco se dá por uma lógica principalmente acústica, que leva em consideração o volume característico de cada instrumento. Aqueles que produzem menos som, como o violino, ficam à frente. Médios, como a família dos metais, ficam no centro. Ao fundo ficam os de som mais forte, como os contrabaixos.
Também por uma questão acústica se desenha a quantidade que a orquestra terá de cada instrumento. Um número maior de violinos, por exemplo, servirá para equilibrar a produção sonora com a de instrumentos de maior volume.
É mais comum que os instrumentos de sons mais agudos assumam a maior parte das linhas melódicas das composições, assim como os solos, enquanto os mais graves cumpram funções de harmonia. Mas não é uma regra.
O naipe de cordas é composto por seis primeiros violinos, cinco segundo violinos, quatro violas, quatro violoncelos, dois contrabaixos e um piano (estes três últimos à direita do maestro).
FecharO naipe de percussão, responsável por manter o andamento da música, é composto por um percussionista, que na maioria das vezes toca tímpano.
FecharToda orquestra tem um spalla (ombro, em italiano), função exercida por um primeiro-violino, que é o braço direito do maestro. Se fosse no futebol, seria o capitão do time. Sentado na primeira cadeira à esquerda do regente, é o responsável por conferir a afinação da orquestra. Antes de se popularizar a figura do maestro, na segunda metade do século 19, era o spalla quem regia o grupo. O spalla da OSUCS é André Meneghello.Toda orquestra tem um spalla (ombro, em italiano), função exercida por um primeiro-violino, que é o braço direito do maestro. Se fosse no futebol, seria o capitão do time. Sentado na primeira cadeira à esquerda do regente, é o responsável por conferir a afinação da orquestra. Antes de se popularizar a figura do maestro, na segunda metade do século 19, era o spalla quem regia o grupo. O spalla da OSUCS é André Meneghello.
FecharO naipe de madeiras é composto por dois oboés, dois clarinetes e dois fagotes. Outras orquestras também podem ter corne inglês, flautas e flautins e saxofone
FecharO naipe de metais é composto por duas trompas, dois trompetes e dois trombones. Em outras orquestras, também pode ter tuba.
FecharResponsável por conduzir a orquestra, o maestro é, na figura utilizada por Manfredo Schmiedt, o advogado de defesa do compositor. De frente para os músicos e de costas para a plateia, o maestro utiliza na mão esquerda uma varinha chamada de batuta, com a qual irá indicar a entrada dos instrumentos e dar a dinâmica da música, ora mais intensa ou moderada. Com a mão direita, irá indicar o “pulso”, ou andamento. – O maestro tem consigo todas as partes de todos os músicos. O trabalho parte da análise de cada uma dessas vozes e a combinação delas a partir do que o compositor quis. Cada nuance, qual instrumento faz o quê, as entradas e os acabamentos. Acima de tudo está o respeito à ideia do compositor – explica Schmiedt.
FecharNa maioria dos concertos, a Orquestra conta com solistas, que podem ser membros do próprio grupo ou instrumentistas, cantores e maestros convidados. Além de dar vez a expoentes da música mundial, muitas vezes é a oportunidade de oferecer ao público a experiência de ouvir instrumentos menos conhecidos. Em agosto, por exemplo, a OSUCS receberá o solista e compositor norte-americano Kevin Weed, que toca gaita de foles (instrumento típico de países como Irlanda e Escócia)
FecharÉ comum que haja dúvidas sobre estes dois termos que designam diferentes orquestras pelo mundo, mas trata-se de uma diferenciação que faz mais sentido histórica do que atualmente. Sinfonia, que significa sons em conjunto, e servia para designar os grupos musicais, normalmente mantidos por órgãos públicos. Filarmônica, que significa amor pela música, designava grupos em sua maioria amadores, mantidos por associações de amigos ou empresas benfeitoras. Com o passar do tempo e as diferentes formas de fomento dos grupos, os termos passaram a ser utilizados de forma mais simbólica.
FecharO naipe de cordas é composto por seis primeiros violinos, cinco segundo violinos, quatro violas, quatro violoncelos, dois contrabaixos e um piano (estes três últimos à direita do maestro).
FecharPara ajudar a viabilizar financeiramente a Orquestra, a UCS conta com empresas patrocinadoras e mais de 30 apoiadores que destinam recursos através de mecanismos públicos de incentivo à cultura. Apenas com essa união de esforços é possível manter em Caxias do Sul um grupo de referência, com um dos programas de concertos mais extensos e diversificados do país, reconhecida como uma das principais orquestras do Estado.
ROCK SINFÔNICO
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