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Coordenador da Orquestra da UCS, Moacir Lazzari se emociona ao falar do projeto

Movidos pela
MÚSICA HÁ 25 ANOS

Projeto Concertos ao Entardecer comemora trajetória de sucesso e  
projeta conquistar novos públicos, como o infanto-juvenil


Texto
Ronaldo Bueno
ronaldo.bueno@pioneiro.com

Fotos
Felipe Nyland
felipe.nyland@pioneiro.com
Pedro Gyles, divulgação - BD 21/05/2017
Arquivo Histórico Municipal, divulgação


Com a voz embargada e os olhos marejados, o músico e coordenador da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Moacir Lazzari, se emociona ao falar da sua relação com o Concertos ao Entardecer, projeto musical que completa 25 anos neste mês. Também pudera: a parceria da Osucs com a Divisão de Museus da secretaria da Cultura de Caxias do Sul tem uma história recheada de apresentações memoráveis ao longo desse tempo. Além disso, o Concertos merece atenção porque, desde o início, faz a música de câmara ressoar no cenário artístico da região e, principalmente, no coração do público. O caráter social, que joga ainda mais luz à sua existência, também é ponto forte da iniciativa que ocorre nos palcos de Caxias sempre no último final de semana de cada mês.

O primeiro acorde desta trajetória foi escrito em 29 de agosto de 1993, quando os artistas da Orquestra de Câmara da Sociedade de Cultura Musical, sob a regência do uruguaio Jorge Inda, saudaram o entardecer de domingo com um repertório que tinha nomes consagrados da música erudita, como Carlos Gomes (1836-1896) e Villa-Lobos (1887-1959). Na ocasião, cerca de 150 pessoas lotaram as dependências do Museu Municipal para acompanhar a estreia da iniciativa. A intenção de criar um projeto permanente para o desenvolvimento e popularização da música de câmara na cidade foi uma sugestão da então servidora pública Ana Rita Bertocchi, que se inspirou em iniciativas semelhantes que fervilhavam na capital gaúcha. A ideia de Ana Rita foi vista com entusiasmo pela museóloga e pesquisadora Tânia Tonet, que à época dirigia o Museu e Arquivo Histórico Municipal. O carinho e a dedicação da equipe, aliás, são características marcantes nessa trajetória de 25 anos, como ressalta a servidora Marizete Raimann, que atualmente ajuda na organização do projeto:

— Comecei a trabalhar no Museu Municipal em 2001 e lembro ter ficado impressionada em ver a Ana Rita, mentora dos concertos, decorando os convites com aquarelas, num trabalho artesanal. Era fantástico porque ela dispensava uma atenção grandiosa. Foi aí que comecei a me envolver, ainda não na organização, mas como apreciadora de música — conta Marizete.

O tempo passou e o Concertos ao Entardecer ganhou cada vez mais espaço no calendário cultural de Caxias, fortalecendo o leque de opções de lazer aos domingos. Seja nas dependências do Museu Municipal, no altar de templos religiosos, como a Igreja Metodista, a Capela de Santo Sepulcro e as charmosas igrejas do interior, as apresentações cumprem dois papéis importantes na cadeia de produção artística: formação de público e criação de espaço para artistas.

— Esse é um dos nossos diferenciais. Como curadores, não impomos absolutamente nada. A única regra é valorizar música de qualidade, seja ela instrumental ou vocal. O artista escolhe seu repertório e isso traz uma proximidade maior com o público. A música de câmara também facilita o entendimento, pois um oboé, piano ou saxofone podem se diluir na grande massa sonora de uma orquestra. Nos concertos fica tudo mais próximo — salienta Moacir Lazzari, que chegou a se apresentar em uma das edições do projeto, ao som do oboé, instrumento de sopro da família das madeiras.

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Música de câmara

Com menos instrumentistas do que uma orquestra sinfônica, é feita para execução em ambientes pequenos. A quantidade de instrumentos e vozes é limitada e, geralmente, os músicos utilizam partituras individuais, o que permite uma apreciação mais atenta do talento de cada artista.


Repertório Eclético

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Lucio Yanel foi um dos artistas participantes do Concertos

Focado inicialmente na música erudita e nos instrumentos de cordas, o projeto Concertos ao Entardecer foi diversificando a gama de gêneros e artistas convidados ao longo dos anos. Primeiro ocorreu a inclusão de instrumentos do grupo dos metais; depois, o convite para que artistas locais e nacionais se apresentassem à comunidade caxiense.

Com um calendário de apresentações que vai de março a novembro (inicialmente iam até dezembro, mas em função dos inúmeros concertos de Natal, encurtou-se um mês), a lista de artistas que já passaram pelos concertos é extensa e contempla nomes como Valdir Verona, Fernando Rauber, Carlos Zinani, Ária Trio, além do aclamado violonista argentino Lucio Yanel (foto). Para Moacir Lazzari, a parceria com os músicos é um dos pontos de maior destaque nessa história que chega aos 25 anos:

— Tivemos participações memoráveis, como o quinteto de metais da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) e o excepcional violinista Cármelo de los Santos em concerto solo na Igreja Metodista. Também trouxemos para Caxias os dois principais grupos de música de câmara do Brasil, o Quinteto Villa-Lobos e o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo — destaca o coordenador da Osucs.

Marizete Raimman, que ajuda na organização do Concertos ao Entardecer, corrobora a afirmação de Lazzari. Para ela, apostar em um repertório eclético tem mostrado resultados satisfatórios, inclusive como a presença de um público cada vez mais heterogêneo:

— A gente tem um público fiel ao longo dos anos, mas também começamos a ver pessoas diferentes nos concertos. E essa é uma das nossas preocupações: fazer que esse momento tão bonito chegue a um número maior de pessoas. Acho que o grande desafio de hoje é esse, conquistar principalmente o público jovem e infanto-juvenil.

Programe-se

O concerto comemorativo aos 25 anos do Concertos ao Entardecer será no dia 26, no Museu Municipal de Caxias, às 18h. A entrada é gratuita, mas sugere-se a doação de um quilo de alimento não-perecível.

Linha do Tempo

1993

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em parceria com a Orquestra de Câmara da Sociedade de Cultura Musical, o Museu Municipal inicia o projeto Concertos ao Entardecer. A primeira edição é realizada em 29 de agosto e segue nas dependências do museu até abril de 1997.

1997-2002

a partir de maio de 1997, a Igreja Metodista passa a sediar os concertos. Em 2001 é criada a Orquestra Sinfônica da UCS, que absorve a Sociedade de Cultura Musical e mantém as atividades já desenvolvidas.

2003-2006

nos anos seguintes, o projeto passa por novas sedes, como a Igreja Anglicana (2003), Centro de Cultura Ordovás (2004) e a Casa da Cultura (2005). Em 2006, os concertos circulam pelas capelas do interior, valorizando o patrimônio histórico-cultural dos distritos.

2007-2014

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a temporada de 2007 marca o início da parceria com a Paróquia Nossa Senhora de Lourdes. Os espetáculos passam a ser realizados na Capela do Santos Sepulcro e permanecem ali por oito anos.

 2015-2018

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em março de 2015, a sede social do Recreio da Juventude se torna a nova sede do Concertos ao Entardecer. A parceria com o clube segue até hoje.


Para além da música

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Além de tentar popularizar a música de câmara com apresentações gratuitas, o projeto Concertos ao Entardecer tem um caráter social muito forte

As apresentações do Concertos ao Entardecer ocorrem no último domingo do mês – e a origem dessa decisão é curiosa. Além de se firmar como opção gratuita em um dia da semana que costumeiramente apresenta menos alternativas de lazer, a escolha levou em consideração aspectos relacionados à saúde pública. Em reunião com os apoiadores da primeira temporada – entre eles o Hospital Pompeia – verificou-se grande incidência de internações por acidentes cardiovasculares nas tardes de domingo, além do aumento no número de acidentes de trânsito.

– Quanto mais perto do fim do mês, pior ficava: as pessoas estavam sem dinheiro, trabalhavam a semana inteira e nutriam uma grande expectativa para o final de semana. Quando o domingo chegava, a mistura de festas, comida e bebida resultava em brigas e mortes. Aí, para ir contra a tudo isso, se optou por fazer as apresentações no último domingo do mês – recorda Moacir Lazzari, que participa da organização dos Concertos desde a primeira edição, há 25 anos.

A diretora da Divisão de Museus da secretaria da Cultura, Daniela Fraga, ressalta que a preocupação com a saúde mental da população é um dos principais objetivos das iniciativas apoiadas pelo órgão:

– É importante aliar essa questão da cultura musical com o cotidiano, o bem-estar, a melhoria da qualidade de vida. Esse é um dos focos que não mudam, que é promover, por meio dos concertos, um momento de descontração na vida das pessoas.

Além da preocupação com a saúde, um dos pontos marcantes do Concertos é o caráter social – que não reside apenas na tentativa de popularizar a música de câmara com apresentações gratuitas. Em parceria com o LionsEduC, os organizadores arrecadam doações espontâneas a cada espetáculo, destinadas às pessoas em situação de vulnerabilidade. Alimentos, agasalhos e brinquedos estão entre os principais itens recolhidos. Um apelo social que, conforme Daniela, é prontamente atendido pelos frequentadores do projeto.

– Essa questão da responsabilidade social agrega ao nosso trabalho. É importante ressaltar e agradecer a resposta da comunidade a esse chamado – finaliza.
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História

Este é o convite da primeira edição do Concertos ao Entardecer, em 29 de agosto de 1993.

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