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O guardião das
SEMENTES

Vilmar Menegat organizou um banco de sementes com 65 variedades crioulas no interior de Ipê


Texto
Andrei Andrade

Fotos
Felipe Nyland

Preparar a terra, semear e colher. Saberes ancestrais que a família Menegat transmite de geração para geração desde os tempos dos imigrantes, no final do século 19. Localizada no distrito de Vila Segredo, no interior de Ipê, a propriedade hoje comandada por Vilmar Menegat se tornou referência regional em produção orgânica. Aos 56 anos, o agricultor é responsável por um banco de sementes crioulas com 65 tipos de grãos – são mais de 20 variedades somente de feijão e milho, além de grãos como linhaça, chia, pipoca, trigo e lentilha.

Também conhecidas como sementes tradicionais, as sementes crioulas são cultivadas desde o período pré-colonial pelos povos indígenas. Por definição, são variedades desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, indígenas e quilombolas, desde que reconhecidas culturalmente por suas comunidades. Além de preservar saberes (e sabores) tradicionais, elas garantem a manutenção do patrimônio genético da terra.

No caso da família Menegat, o cultivo dessas sementes se confunde com a história da propriedade, levando Vilmar a criar, em 1989, um sistema de armazenamento e catalogação das espécies cultivadas nos seis hectares contíguos à antiga casa de madeira construída pelo avô.

– Eu mantenho a tradição da minha família. Lembro que as sementes crioulas sempre foram a base da nossa produção. Meu pai já usava para o plantio e para alimentação dos animais. O banco foi uma consequência. Acabei organizando pela procura dos consumidores nas feiras – relata o produtor, que participa regularmente da Feira dos Agricultores Ecologistas, junto ao Parque da Redenção, em Porto Alegre.

Localizado no porão de casa, o banco tem um sistema de armazenamento simples, mas eficaz: a cada safra, Vilmar reserva sementes de todas as variedades cultivadas na propriedade e guarda em potes de vidro. Para vedação, utiliza uma tira de papel em chamas e tampa os recipientes. Com o processo, o oxigênio do interior do pote é queimado – o que garante a durabilidade das sementes de um ano para o outro.

– Como eu vendo produtos orgânicos, sempre tive a intenção de oferecer ao consumidor também as sementes. E acabou virando uma marca. Na feira, as pessoas já me conhecem como o guardião das sementes – conta, bem humorado.

Entre os produtos levados para a comercialização na Feira dos Agricultores Ecológicos, na Capital, os que mais fazem sucesso são os milhões e feijões coloridos. Um dos destaques é o feijão olho de cabra, que além de possuir uma chamativa coloração vermelho e branca, possui grãos maiores do que as variedades comumente encontradas nos supermercados.

– O público procura o que é diferente. Ou seja, aqueles grãos que são mais coloridos. Muitos consumidores têm lembranças da infância no meio rural e dizem não encontrar no mercado as sementes que eu cultivo. Eles buscam a cultura que resgata essa memória.

Além de garantir a autossuficiência da propriedade, o cultivo das sementes crioulas também transformou a terra de Menegat num atrativo para visitantes de outras regiões do Brasil e até mesmo de países vizinhos. Em um pequeno caderno espiral, o agricultor de 56 anos recolhe as assinaturas e os locais de origem de quem conheceu o banco de sementes: é possível encontrar nomes desde estudantes de biologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) a produtores orgânicos de outros países, como Argentina, Chile e Uruguai. Tudo isso para ampliar a rede de apoiadores da agricultura sustentável.

Mesmo sem filhos, Menegat não demonstra preocupação com o futuro da propriedade. Para o agricultor, o mais importante é o legado que deixará quando o assunto é sustentabilidade e preservação das sementes crioulas.

– Pra mim, a melhor coisa que pode acontecer é que outras pessoas busquem essas sementes para que elas não se percam. Se tivermos interesse dos consumidores e vontade de outros produtores, é possível dar continuidade a esse trabalho – pondera Menegat.

Agroecologia

Realizada desde 1989, a Feira dos Agricultores Ecologistas reúne produtores orgânicos de várias regiões do Estado nas manhãs de sábado, das 7h às 13h, junto ao Parque da Redenção, em Porto Alegre. Além da comerci-alização de produtos da agricultura familiar, os produtores também realizam outras atividades, como a troca de sementes crioulas.







As sementes

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Conheça os diferentes tipos de sementes:

  1. Crioulas: também conhecidas como tradicionais, são selecionadas e cultivadas por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, povos indígenas e quilombolas, com características reconhecidas pela comunidade local.  
  2. Orgânicas: oriundas de plantas cultivadas sem uso de agrotóxicos ou adubos químicos. 
  3. Híbridas: criadas pela reprodução controlada de duas plantas para gerar uma terceira variedade.  
  4. Transgênicas:  modificadas geneticamente a partir de cruzamentos artificiais feitos em laboratório, com a finalidade de inserir características especiais em determinadas plantas.

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