O TÉCNICO
PUBLICADO EM 15 DE NOVEMBRO DE 2018
Texto
Crisitano Daros
cristiano.daros@pioneiro.com
Arte
Andressa Paulino
andressa.paulino@pioneiro.com
Fotos
Felipe Nyland
felipe.nyland@pioneiro.com
Marcelo Casagrande
marcelo.casagrande@pioneiro.com
O futebol respira no amador. Ali, bem longe dos salários astronômicos, gramados perfeitos e grandes craques é onde o esporte cumpre com a sua função primária: divertir. Só que para isso acontecer tem muita gente batalhando e criando uma estrutura mínima para sonhar com uma taça que representa bem mais que qualquer valor financeiro. Moacir Oss Emer, de 46 anos, é um destes personagens e que neste sábado, às 16h, estará em campo para tentar sagrar o São Virgílio campeão da Copa União de Clubes (CUC) na categoria máster. Para isso, será necessário superar ou empatar com o São Francisco fora de casa, em um clássico da 6ª Légua.
– É a satisfação de ver quem está torcendo por nós, vibrar. E ver que todo o trabalho da direção deu certo. Para se ter uma ideia, quem corta a grama do campo somos nós. Eu venho aqui na sexta-feira cortar a grama junto com meus colegas, de forma voluntária. A satisfação é essa de suar a camisa dentro e fora de campo para no final poder comemorar um título e ver o nome da comunidade ser difundido – diz Emer.
Engenheiro agrônomo durante a semana, ele vira um cão de guarda quando entra em campo e cumpre a função de volante. Segundo o próprio, não é um craque e se concentra mais na marcação. Inclusive, na sua avaliação, o time inteiro é o chamado brigador. Uma equipe que corre por todas as bolas, em um espírito de união.
– Todos estarão lá dentro jogando um pelo outro, sem pensar em pegar o dinheiro no fim do jogo. Eles (os atletas) querem ajudar o companheiro, querem ganhar e vão saber que lá fora vai será a galera bebendo uma cervejinha, comendo um galeto e confraternizando. Isso dá força para o resultado dentro de campo – acredita o volante.
Esse espírito de união representa muito o amor pelas origens que é muito latente nas comunidades em Caxias. A maioria dos atletas tem identificação com o time e a localidade representada naquele uniforme. Emer nasceu em São Virgílio e toda a sua família participa do clube. Algo quase hereditário.
– Meu pai ajudou a construir essa sede, meus irmão fazem parte do clube, toda a minha família está envolvida. Acabei crescendo e vendo as pessoas mais velhas jogarem. O amor começou por aí – ressalta Emer.
O futebol na essência. Aquele de diversão, de competição e que faz o interior de Caxias do Sul movimentar no mês de novembro. O esporte que motiva e é quase um psicólogo para os inúmeros atletas.
– É uma das motivações em trabalhar a semana inteira para curtir alguma coisa no fim de semana. Futebol é uma delas e eu não abro mão. Quando chove, eu fico meio triste por não ter sido possível jogar. Futebol é uma das motivações que me fazem bater perna durante a semana, e no domingo jogar uma bolinha – encerra o volante.
Se a vida de jogador na várzea é difícil, por inúmeras questões, a de treinador não deixa de ser complicada. Fora de campo, os problemas passam pelas atividades profissionais e pessoais e vão até a falta de tempo para treinar o time. Com apenas o pré-jogo para conversar com os atletas, é preciso ter uma boa leitura das ações durante as partidas.
Leandro Rodrigues Mazotto, 42 anos, é o técnico dos másters do São Francisco e sabe que terá de encontrar soluções neste sábado, quando a sua equipe jogará contra o São Virgílio, em casa, no segundo jogo das finais da Copa União. Para reverter a vantagem adversária, de 1 a 0, o comandante acredita na força do seu time.
– A principal qualidade do grupo é a união. Montamos um time escolhido a dedo para representar a comunidade. Deu certo até agora e pretendemos chegar nesse tão sonhado título – avisa Mazotto.
Num jogo final, o público presente será um pouco maior que o normal. Se o número de pessoas aumenta, também cresce a pressão. Vale a taça e trata-se de um clássico local, que promete esquentar ainda mais os 90 minutos de partida – ou mais, como deseja a comunidade de São Chico, mandante do jogo. Mesmo assim, o treinador já se considera honrado por fazer parte dessa história escrita na Copa União de 2018.
– É motivo de orgulho estar à frente de uma comunidade como São Francisco. Ver famílias no alambrado cobrando, gritando e dando incentivo para nós é uma grande responsabilidade. Quero dar essa alegria para comunidade – ressalta ele.
Como muitos, Mazotto era jogador no futebol amador e a ida para casamata ocorreu até de forma inusitada. Ele passou 10 anos afastado de Caxias do Sul, morando em Rio Grande, e voltou já com um convite para disputar uma competição na cidade, em 2013. Só que ele chegou após ser encerrado o período de inscrições. Sem clube, acabou aceitando outro convite: ser treinador do São Martinho. A equipe chegou até a semifinal. A partir de então começaram os convites, e neste ano veio o do São Francisco.
– Sempre gostei de futebol. Nunca fui profissional, mas sempre tive a vontade de estar presente. Jogava com os amigos, tanto no salão como no futebol 7. Isso acabou me envolvendo e hoje não sai de mim. Futebol é uma segunda paixão que eu tenho e é difícil deixar de lado – destaca o técnico.
Domingo poderá ser mais um capítulo desta história de amor. Quem sabe com um título dentro de casa. A certeza é de que emoção não irá faltar.
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