Desde que Luiz Fernando Martinotto se conhece por gente, já corria pelo campo do Botafogo, em Santa Lúcia do Piaí. O futebol era a brincadeira preferida da infância e por muito pouco não se tornou o seu ganha-pão.
Mesmo que não tenha se tornado profissional, o esporte sempre foi muito importante para Martinotto, desde seus primeiros chutes no Botafogo.
– Gosto do futebol. Te falo do Botafogo hoje, que se não fosse para jogar aqui, não teria muito ânimo. Só continuo por esse vínculo com a comunidade. Hoje, não jogaria em outro clube – destaca o jogador.
Essa afirmação retrata bem a sua paixão e até sua história de vida, completamente enraizada no Botafogo e na comunidade de Santa Lúcia do Piaí. É até difícil quem o conheça por Luiz Fernando Martinotto. Já quando se fala em Nene...
O apelido surgiu no futebol, pelo fato dele estar desde muito novo envolvido com os jogadores mais velhos do time. Lógico, também por vestir desde muito cedo a camisa do clube.
– Como a comunidade é pequena, quando o cara conseguia correr, já te colocavam na categoria suplentes – brinca Nene, que logo nos primeiros anos já mostrou que tinha talento:
– O Botafogo jogava campeonatos no interior, mas pequenos. Aí, em 1992, começou a disputar a Copa União. Até fui goleador nesse ano, no time de suplentes.
Se apenas o fato de correr já era motivo para entrar no grupo, com talento já estava apto aos titulares. E assim foi. Antes de chegar aos 20 anos, Nene já estava no time principal e fazendo parte daquela que considera a melhor geração que já defendeu o alvinegro, dona de quatro títulos na década de 1990.
A nominata dos craques daquela época é bem fácil: Luís Henrique Daneluz, Ronaldo Boff, Júlio César Daneluz, Airton Frizzo e o camisa 10 Carlos Alberto Daneluz, o Carlinhos.
É dele que Nene herdou o número que tanto pesa para o mundo do futebol.
– O Carlinhos sempre gostou de jogar com a 10. Ele era uns anos mais velho. Aí quando ele largou, peguei a 10. Hoje, quando tem algum amistoso, ele pega a 10 e vai jogar, mas sempre gostei dessa camisa – diz Nene.
Se o herdeiro ficou feliz, o antigo dono também aprovou.
– Ficou em boas mãos, com certeza – diz Carlinhos, empresário do futebol, que completa:
– Como jogador, para o futebol amador, era muito bom, de alto nível e muito competitivo.
Nene tem a vida dedicada ao Botafogo e a Santa Lúcia do Piaí. Dos suplentes, Nene passou pelos titulares, veteranos e no ano que vem será o 10 dos masters.
Nene cresceu jogando futebol, como define o amigo Carlinhos, que o conhece há muito tempo:
– Conheço ele desde os cinco anos de idade, sempre jogando. Era doente.
Aptidão ele sempre mostrou, mas faltou um passo para ser profissional. Aquilo que foi empecilho para muitos jogadores que surgiam da várzea até meados de 2000: a remuneração.
Ele chegou a jogar na base grená em 1994, passou também pelo Vasco da Gama e a Enxuta, no futsal. Mas faltaram condições financeiras para se manter no centro de Caxias do Sul e parar os estudos.
– Eu acho que não seria um destaque, mas creio que sim (poderia ser profissional). Com psicológico preparado e tendo remuneração para ao menos me manter. Meu pai não tinha muita condição na época – relembra Nene, que hoje possui uma agropecuária e um viveiro em Santa Lúcia do Piaí.
Nome:
Luiz Fernando Martinotto
Data de nascimento:
4/2/1975 (42 anos)
Peso:
72kg
Clubes:
Botafogo, Minuano (Fazenda Souza), Juvenil (São Bráz), São Luiz (6ª Légua), Estrela (Nossa Senhora da Saúde)
Situação:
em atividade
Posição:
Meia
O distrito de Santa Lúcia do Piaí fica a 40km do centro de Caxias do Sul. Pelo caminho onde hoje há asfalto, leva-se cerca de 40 minutos para chegar até o campo do Botafogo. Só que quando Nene começou a jogar, e até nas conquistas dos títulos do clube, o caminho ainda era de chão. Ou seja, para chegar à localidade demandava, no mínimo, uma hora. O futebol era a única atividade de lazer para toda a comunidade.
– Na nossa infância era só futebol. Se começava cedo e o mais importante era jogar no fim de semana – conta Carlinhos, que hoje não reside mais na comunidade.
Como as comunidades viviam do futebol, lógico que histórias engraçadas não faltariam.
Para se ter uma ideia, Nene começou a jogar no time com 15 anos e hoje, aos 42, está pronto para ingressar na categoria de masters. Viveu muitas situações diferentes. Até aqueles jogos que não terminaram...
Ou melhor, acabaram, mas uma semana depois.
– Numa semifinal do time principal na Copa União, contra o São Cristóvão, na 4ª Légua, o juiz deu uma falta no canto da área e o time deles queria um pênalti. Naquela confusão toda, acabou que escureceu e a partida não terminou. Aí tivemos que jogar no outro fim de semana os últimos 15 minutos. Não era organizado como é agora. Hoje, a arbitragem é mais profissional e algumas outras coisas melhoraram. Mas isso deve ter sido um pouco antes de 2000. Eram coisas engraçadas que aconteciam – conta Nêne.
Também foram inúmeras as preliminares que o Botafogo fez em jogos da dupla Ca-Ju. Outras histórias gratificantes para quem saía lá do interior da cidade e dava de cara com os imponentes estádios Centenário e Alfredo Jaconi.
– Ficava assustado, porque era diferente. Imagina sair daqui (de Santa Lúcia do Piaí), que era mais de uma hora de distância, e ver aqueles estádios – lembra o meia, que também recorda que as derrotas nunca foram vendidas fáceis para os times das categorias de base da dupla:
– Se perdia no segundo tempo porque, até onde se tinha força, o jogo era de igual para igual.
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