22 de abril de 1988
O Tribunal Regional Eleitoral define a realização do plebiscito de emancipação.
Há 30 anos, a comunidade de Ana Rech dividiu-se entre emancipacionistas e não-emancipacionistas. O período de maior acirramento ocorreu entre os dias 22 de abril e 12 de maio de 1988. Neste sábado, dia 12, completam-se 30 anos da votação da Assembleia Legislativa que acatou o veto do então governador Pedro Simon (PMDB). Por 30 votos a 13, os parlamentares sepultaram a tentativa da criação do município de Ana Rech.
O movimento mobilizou homens, mulheres e crianças, simpatizantes dos movimentos pró e contra a emancipação. Os grupos saíram às ruas da localidade em passeatas ou na Praça Pedavena, carregando faixas, cartazes, em carros de som ou em comunicados usando as cornetas da igreja, buscando o convencimento dos eleitores indecisos para o plebiscito que votou pela emancipação. Das pequenas vias de Ana Rech, o movimento tomou as galerias da Assembleia Legislativa para pressionar os deputados estaduais e o governador Pedro Simon, contrário a emancipação. Em Caxias, o prefeito Victório Trez (PMDB) articulava com aliados para não perder o bairro.
Após muitas incertezas, no dia 22 de abril, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) confirmou a realização do plebiscito de emancipação para dois depois. O domingo, 24 de abril, dia de votação, atraiu a atenção da comunidade caxiense para o bairro, considerado região administrativa pela administração municipal, que buscava sua autonomia política.
Com 5.464 eleitores inscritos, compareceram nos locais de votação 4.283 moradores de Ana Rech. O resultado do plebiscito foi confirmado pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) no mesmo dia, às 19h35min. Os emancipacionistas venceram com 2.815 votos para o sim, contra 1.408 votos para o não. A vitória nas urnas encheu de esperança os defensores da emancipação.
No dia 5 de maio, a Assembleia aprovou por 53 votos a favor e um contrário (do então deputado estadual Germano Rigotto, do PMDB) a criação do novo município. A consolidação agora dependia apenas da sanção de Simon. Porém, no dia 11 de maio o caxiense vetou o projeto de lei. No dia seguinte, dos 55 parlamentares, compareceram à sessão 44 deputados — 30 deles acataram o veto de Simon e 13 votaram contra. Assim, os deputados que haviam aprovado a criação do município sepultaram o sonho da maioria dos moradores de Ana Rech de constituírem um novo município.
A historiadora Loraine Slomp Giron lembra que Ana Rech tinha o desejo de se tornar município desde 1927 quando conquistou a independência, mas que Caxias interferiu e não deixou a localidade de se emancipar.
— Ficou guardada a vontade durante muitos anos e várias vezes houve essa tentativa de criar um movimento de emancipação. Em 1988, a nova Constituição permitiu que os municípios que tivessem as condições necessárias de se emanciparem. Então, o velho sonho renasceu.
Loraine conta que, a pedido de Victório Trez, produziu um documento mostrando que Ana Rech integrava a Colônia Caxias e que não poderia se separar do município.
Segundo a historiadora, Ana Rech perdeu sua identidade ao não ser emancipada, e o principal objetivo era evitar que se tornasse subúrbio, como realmente aconteceu.
— Ana Rech estaria bem melhor se tivesse sido emancipada. Tenho convicção disso. Uma coisa é a verdade histórica e a outra é a opinião política _ disse ao comentar sobre o apanhado histórico com a defesa da manutenção do bairro junto ao município-sede.
Na opinião do presidente da Associação Amigos de Ana Rech (Samar), Alberto De Sales, a decisão contra a emancipação não trouxe nenhum prejuízo ao bairro. Ele conta que a cassação da emancipação ainda hoje é tema comum das rodas de conversas dos moradores. Ele diz que a decisão de cassar o município trouxe uma revolta e indignação, mas que nunca atingiu a união da comunidade.
— As pessoas a favor e contrárias moram nas mesmas casas e frequentam os mesmos lugares em Ana Rech. Todos sentam na mesma mesa para conversar.
Apesar de negar que houve perda para a localidade, o presidente da Samar ressalta que Ana Rech tinha as mesmas condições turísticas de Gramado.
O Tribunal Regional Eleitoral define a realização do plebiscito de emancipação.
Realização do plebiscito.
Assembleia Legislativa vota a emancipação de Ana Rech, decidida pela população, conforme o resultado do plebiscito.
Assembleia aprova a criação do novo município por 53 votos a favor e um contrário (o do então deputado estadual
Governador Pedro Simon vetou projeto de lei aprovado pela Assembleia.
Assembleia acata o veto de Simon. Trinta deputados votaram a favor do veto.
Na década de 1990, os emancipacionistas buscaram anular no Supremo Tribunal Federal (STF) à decisão da Assembleia que cassou a criação do município.
Marcado a eleição para o município criado.
O Pioneiro ouviu dois caxienses que tiveram participação decisiva no processo de cassação do município de Ana Rech.
Ao ser questionado pela reportagem para comentar o tema, o ex-governador Pedro Simon reagiu com a seguinte frase: “Tu vai me lembrar uma passagem triste, que foi muito dolorosa no início”.
O ex-governador diz que tomou a decisão após uma análise “muito profunda” e ouviu amigos pessoais e entidades como a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC). Ele lembra que havia um receio de que Ana Rech poderia se transformar em município dormitório de Caxias do Sul e que a localidade se constituiria um centro de progresso maior do que se transformar em município.
— O comando político de Ana Rech ficou muito magoado comigo. Eles queriam a emancipação, mas acho que não era o momento. Tomei a decisão como caxiense, e não como governador. Sou apaixonado por Caxias. Não tinha nenhum interesse, foi uma decisão absolutamente aberta.
Trinta anos depois, Simon ressalta que tomou a melhor decisão para a comunidade, e diz que nada impede de a comunidade analisar se deve continuar como está ou se querem partir para a criação do município.
Após o resultado do plebiscito, o ex-deputado estadual na época Germano Rigotto (PMDB) foi o único parlamentar a votar contra a emancipação. Ele explica que Ana Rech não tinha a interrupção entre a localidade e a sede do município, um dos itens previstos em lei para a emancipação. Rigotto lembrou que a Assembleia aprovava todos os processos de emancipação.
— Até hoje tem distritos que são afastados 10, 15, 20 quilômetros distantes da sede, com grandes interrupções e sem população vivendo no perímetro, distritos distantes, abandonados, com dificuldades de infraestrutura. Ana Rech tinha atenção do poder público. Era um quadro totalmente diferente.Apesar da mobilização favorável a Ana Rech, Rigotto lembra ainda que havia uma decisão partidária contra a emancipação e uma aliança de todos os setores de Caxias contra a emancipação.
— Minha decisão não foi fácil. Tomei a posição que mais representava o desejo da maioria do município. Não tenho nenhum arrependimento.
Para Rigotto, a intenção do movimento pró-emancipação era ter arrecadação própria para desenvolver o novo município, além da autonomia política com a criação dos poderes Executivo e Legislativo. Segundo Rigotto, nem todos os municípios que se emanciparam conseguiram oferecer mais desenvolvimento e melhor qualidade de vida para a população.
A pirâmide que foi o símbolo da tentativa de emancipação política da região administrativa de Ana Rech não existe mais. O objeto que estava nos fundos do terreno do empresário e idealizador, Enor Bernando Wartha, 75 anos, foi destruído meses depois do início da reforma da praça Pedavena, em 2010.
— Ganhei um carregamento de madeira das árvores tiradas da praça e jogaram em cima da pirâmide. Foi de propósito, não foi de coincidência _ diz o empresário.
Wartha conta que, antes de fixar a obra na frente do terreno onde mora, a pirâmide, ainda de alumínio e com a inscrição "Vote sim!", circulava pelas ruas do bairro na carroceria de seu Corcel 2.
Com a derrota, Wartha reproduziu o símbolo em alvenaria com a inscrição "Ana Rech. Município cassado" e o fixou na parte da frente de seu terreno, localizado ao lado da praça, onde permaneceu por mais de duas décadas.
O símbolo provocativo irritou lideranças políticas contrárias à emancipação. A oportunidade de retirar a pirâmide do local veio a partir do pedido de um porta-voz do então prefeito José Ivo Sartori (PMDB), conta o empresário. A reforma da praça estaria condicionada à saída da pirâmide.
O empresário lembra com saudade do período e diz que as lideranças pró-emancipação queriam transformar Ana Rech um local de muitos restaurantes, parecido com o bairro Santa Felicidade, em Curitiba.
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