Rasga a Rua Sinimbu, em São Pelegrino, uma ambulância do Samu. Motoristas, talvez insensíveis, seguem sua rota, sem preocupar-se com a urgência.
A Banca da Ana, ainda resiste e está quase na hora de abrir. O horário de funcionamento é das 8h às 19h, de segunda a sábado.
Na igreja Deus é Amor, na rua Pinheiro Machado, três crentes clamam fervorosamente. Pouco mais à frente, um senhor pede um copo de cachaça em uma lancheria, que também serve almoço e prato feito.
Pouco antes do comércio tradicional abrir suas portas, os vendedores ambulantes começam a espalhar suas peças no chão da Avenida Júlio de Castilhos. Os imigrantes africanos de hoje são os italianos de ontem, que vendiam seus produtos carregando-os em carroças ou sobre o lombo dos animais.
No sol da manhã, dois Guardas Municipais procuram um lugar ao sol enquanto observam o movimento na Praça Dante Alighieri. Nos bancos, trabalhadores compartilham um café da manhã.
“Não tenho nenhuma resposta, certamente serei condenada”, é a canção que uma das varredoras da Codeca canta, enquanto faz o seu trabalho na praça Dante.
Desliza sobre a calçada da Rua Borges de Medeiros, um skatista. Ele enfrenta o trânsito na contramão, com doses de bravura e sorte.
Começa o horário da fila dupla em frente às escolas centrais. A cena tem momentos de “ternura” com buzinaços e xingamentos.
Na Júlio de Castilhos, em frente ao banco Itaú, em São Pelegrino, duas amigas usavam grafite do muro como fundo para uma selfie.
O trânsito como está? Trancado na Sinimbu, desde a altura do Colégio São Carlos até perder de vista.
A distribuição de panfletos com a sugestão de um frívolo prazer sexual, para compra e venda de ouro, ou a promessa da infalível ação do cupido amoroso, dividem espaço com os evangelistas, que procuram responder à eterna questão: “Você quer ser feliz de verdade?”.
Dentro da Catedral, três pessoas ajoelhadas no genuflexório e mais quatro sentadas nos bancos. Nenhum ruído se impõe ao silêncio dentro da Catedral. Nenhuma voz, sequer em sussurro. É no silêncio que agradecem, pedem ou imploram.
Na Sinimbu, entre as ruas Visconde de Pelotas e a Garibaldi, as vendedoras das lojas ficam no lado de fora, como se pescassem clientes com suas vozes sediciosas.
A placa fechada, estampada na porta de uma barbearia do bairro Panazzolo, não condiz com o movimento. Lá dentro, o barbeiro cortava o cabelo de uma pessoa enquanto outra ainda esperava.
Um casal de mulheres troca abraços e juras de amor, em um café com livros.
Em um ponto de táxi, na esquina da Rua Marquês do Herval com a Avenida Júlio de Castilhos, um dos taxistas assiste à televisão, parece interessado na novela do caso Neymar.
Pessoas conversam e tomam chimarrão, sentadas em bancos de plástico, na esquina da Rua Garibaldi com a Avenida Júlio de Castilhos, enquanto esperam o cachorro quente ficar pronto.
Movimento intenso de pedestres ao redor da FSG. Dividem-se entre à espera do ônibus e o devaneio em bares próximos.
Parece não haver mais opções para comer em Caxias. É por isso que ainda seguem impávidos e ávidos os incansáveis motoboys desafiando as leis da física e do bom senso, porque sinal vermelho, à esta altura da noite, não significa parar.
Não há igreja ou templo religioso aberto. As casas de luz vermelha reluzem em meio às trevas de alguns cantos da cidade.
Na Avenida Júlio de Castilhos, em frente ao Shopping Prataviera, a polícia aborda um cidadão que recém havia concedido carona a uma jovem prostituta.
Um senhor de barbas brancas atravessa a Praça Dante Alighieri carregando um saco em que parece toda vida caber.
Por entre os descaminhos da madrugada vazia e veloz, dois adolescentes entram a passos rápidos para no bairro Primeiro de Maio, de onde voltam menos de cinco minutos depois esbravejando bravura como se fossem super-heróis.
Antes do amanhecer, o homem que havia entrado sozinho na casa da luz vermelha, sai acompanhado, para não passar sozinho a manhã seguinte ao Dia dos Namorados.
E começa tudo outra vez. Mais um dia para perdoar o imperdoável e semear o bem na lavoura dessa vida.