bootstrap themes

As horas felizes de Lourdes

Restaurantes e cervejarias trazem novo vigor a um dos bairros mais antigos de Caxias do Sul


Texto
Adriano Duarte
adriano.duarte@pioneiro.com

Fotos
Lucas Amorelli
lucas.amorelli@pioneiro.com

Segundo bairro oficial de Caxias do Sul, Lourdes cresceu a partir de duas igrejas famosas, teve a influência do poder industrial das hoje extintas Maesa, Madezorzi, Gazola e Madezatti e virou endereço de duas galeterias emblemáticas que enfileiravam clientes na Rua Os Dezoito do Forte. Nos últimos tempos, o bairro viu a crise esvaziar pavilhões e salas comerciais. Agora, numa reversão surpreendente, a região desponta como o endereço certeiro de pubs e restaurantes que garantem mais de 300 empregos diretos e ajudam a quebrar o costumeiro tédio da vida noturna da cidade.

Parte dessa mudança de perfil é atribuída ao complexo gastronômico e cultural Fabbrica, inaugurado no ano passado no repaginado prédio da antiga Vinícola Luiz Michielon, nos fundos da Igreja Nossa Senhora de Lourdes. Só que há mais vida além da novidade preferida dos caxienses. Bares e restaurantes em outros pontos do bairro estão abraçando um público disposto a sair de casa à noite para aliar comida e bebida de qualidade num lugar confortável e descolado, mas que não exija a solenidade da camisa social e do sapato novo.

Ainda não é o que poderíamos classificar de uma área imersa na boemia como a Cidade Baixa de Porto Alegre ou com a mesma agitação no entorno da Estação Férrea, em São Pelegrino. Mas é um vigor interessante para uma parte da cidade que costumava dormir cedo.

A transformação do bairro em reduto de entretenimento não começou com tanto alarde como na época da revitalização do Moinho da Estação, ação empresarial que trouxe mais frescor a São Pelegrino em 2006 e estimulou a prefeitura a investir nos imóveis públicos do Largo da Estação Férrea. A onda de Lourdes é um pouco diferente, está mais distribuída pela comunidade e traz o empreendedorismo isolado de arquitetos, chefs de cozinha, cervejeiros e administradores de empresas. Muitos sequer se conhecem, uns buscavam alternativa de renda e outros sonhavam em implantar definitivamente em Caxias do Sul um padrão europeu: a diversão que começa antes das 18h e termina pouco depois da meia-noite, com algumas exceções.

As opções estão espalhadas num quadrilátero formado pelas ruas Dom José Barea, Júlio de Castilhos, Treze de Maio e Angelina Michielon. Levantamento do Pioneiro mostra que 11 endereços abriram as portas desde 2015 com uma nova proposta de atendimento, entre eles cervejarias e restaurantes gourmet. Somando locais mais antigos, já são 33 opções para jantar, para o happy hour ou para dançar na comunidade. Dos novos negócios, poucos atendem em prédios novos, já que a tendência é o aproveitamento das estruturas antigas da comunidade, geralmente alugadas por valores nada exorbitantes se comparados a outros pontos do Centro e de São Pelegrino.

Com mais pessoas buscando diversão em Lourdes e mais empresários com ideias novas, restaurantes tradicionais também se reinventam para oferecer algo a mais além da manjada combinação do pedido anotado-jantar na mesa-pagamento da conta-até mais. A expectativa de crescimento seguirá em alta para os próximos anos, caso o prédio da antiga Maesa seja efetivamente ocupado pela prefeitura, o que atrairia mais movimento. Mantendo o ritmo, Lourdes certamente dominará a cena da diversão noturna em Caxias.

Mobirise
Mobirise

Compare



Com 33 opções à noite, entre bares, restaurantes e casas de bailes, Lourdes já supera São Pelegrino, com mais tradição, e que tem 29 opções.




Não é mais um point Noturno

Mobirise

Causa antipatia entre o pessoal da Fabbrica definir o endereço como o novo point noturno da cidade, já que isso lembra atração passageira.

Diferentemente dos bares e boates concentrados no Largo da Estação Férrea, a Fabbrica definitivamente não é um lugar para a paquera ou para os baladeiros profissionais. O atendimento geralmente se encerra por volta da meia-noite, a música não é alta e o público varia conforme o dia: as noites de quintas e sextas-feiras atraem o público mais jovem e os sábados parecem ser mais o território das famílias, embora isso não seja relevante para clientes e donos.

Os sócios da Salvador Tap Room, uma das opções do complexo no prédio da velha Vinícola Luiz Michielon, atrás da igreja de Lourdes, querem transformar o negócio deles na melhor cervejaria do país e garantir vida longa.

– Nossa temática é militar, é a guerra da cerveja artesanal – brinca Andrigo Salvador numa alusão aos nomes de cervejas, inspirados em generais e locais históricos da Segunda Guerra Mundial e de outros fatos relacionados ao militarismo.

Inaugurada em setembro passado, a cervejaria passou no teste das noites de verão com público lotando as mesas internas e o deck externo. O cenário histórico da velha cantina, que tem até uma chaminé preservada, ajuda a cativar, mas não dá para desconsiderar a proposta que quebra conceitos na noite caxiense. Na portaria da Fabbrica, o cliente ganha três cartões diferentes para usar na Salvador, na Becco Enopizzeria ou na Soulshi. Depois, é só quitar o consumo na portaria. No andar superior, funciona um centro de eventos. A Salvador, por exemplo, não tem garçom e o público é quem busca a cerveja ou a pizza no balcão, tudo muito à vontade. Dá para saborear uma IPA e observar os tanques onde são produzidas as bebidas.

Andrigo e o irmão dele, Leonardo, já tinham experiência com cerveja e usavam uma Kombi para vender produtos em eventos variados. Eles já conheciam a construção da vinícola e imaginavam que o lugar seria ótimo para um pub. Hoje, empregam 10 pessoas.

– Um dia vimos um pedreiro trabalhando na frente e fomos conversar com a dona – lembra Andrigo, que meses depois inaugurou a cervejaria ao lado do irmão e dos sócios Fabiano Gasperin, Cláudio Ferreira Costa e Jocemar Gross.

O empresário César Heleno Quadros, habituê da Fabbrica, acredita que a falta de opções diferenciadas mantém os caxienses em casa e, como não há público, poucos empreendedores se arriscam em investir.

– Quando viajo e saio, sempre observo a arquitetura. O local aqui é de nível internacional, tu está na rua, mas não está completamente na rua – elogia Quadros.


Mobirise
Mobirise


Pai e filho de olho na Balada

Mobirise

A música sertaneja é a alma da Duff’s Garage Bar, que surgiu no final da Luiz Michielon, em Lourdes, semanas após a inauguração da Fabbrica. É projeto de pai e filho.

– Nós abrimos em outubro de 2017. Sou da área hospitalar (analista administrativo) e meu pai era representante comercial. Ele teve a ideia, nós já conhecíamos o La Birra e decidimos investir na noite – conta Filipe Maia.

Ele e o pai, Luiz Maia, inauguraram o pub numa sala que abrigava uma tradicional sorveteria na esquina da Luiz Michielon com a Angelina Michielon. Como o local ficou pequeno, houve a mudança para um prédio a 170 metros da Fabbrica, também desocupado há meses, sinônimo do esvaziamento de salas comerciais enfrentado por Lourdes.

A Duff’s tem conceito diferente das opções do complexo da antiga Vinícola Michielon. Ali, é show de quarta a sábado. As noites de quinta a sábado atraem mais gente, sempre a partir das 22h30min, horário em que os músicos ligam o microfone e desatam canção atrás de canção.

– Nós geralmente vamos até a madrugada, dificilmente fechamos antes da 1h, às vezes vamos até as 4h – conta Filipe.

Com o sucesso do bar em Lourdes, a família abriu uma filial em São Marcos no início de julho. O negócio tem a ajuda da irmã, da cunhada, da namorada e da mãe. No total, a unidade em Lourdes garante renda para oito funcionários, entre contratados e terceirizados. O cast artístico inclui 20 músicos que se revezam em dias diferentes – um dos diferenciais é a tal Noite das Patroas, em que só as cantoras animam o público.

– Nossa ideia é fidelizar o cliente com o preço não muito caro – ressalta Filipe.

Mobirise
Mobirise



Mais intimidade para Degustar

Mobirise

Ao oferecer pratos gourmet, chef Marcos Takayama ajuda a quebrar tradição das receitas mais conhecidas de Lourdes

Protegida pela sombra de uma árvore, havia uma casa de dois pisos. Logo o chef mineiro Marcos Takayma imaginou um bistrô. Três semanas depois, quando voltou a Lourdes para nova pesquisa, viu uma placa de aluga-se na moradia. Parecia um aviso.

Marcos fechou negócio e nascia ali o Le Petit, que rompeu a tradição gastronômica do bairro por oferecer um mix de comida italiana, algo da cozinha contemporânea e outras coisas mais que brotam da mente criativa de Marcos.

São nove mesas no pequeno restaurante aberto em 2018 na Rua Treze de Maio. Não pense que a lotação transformará o garçom num ser impaciente a rondar sua mesa. Pelo contrário, a ideia é transformar o jantar num momento quase zen. O jantar é embalado por música ambiente, a iluminação é mais intimista e o cardápio, degustativo.

– Servir comida à noite deve consistir num ritual de tranquilidade, de descontração. Não dá para ser como o almoço – ensina Marcos, que já passou por cozinhas famosas de São Paulo.

O chef diz que o diferencial de Lourdes, especificamente na parte onde está situado o Le Petit, é a mistura de bairro residencial com algo de leve boemia, além de ser passagem para o Exposição. Na mesma quadra onde o chef mineiro recebe os clientes, tem o McDonalds, o Panela de Barro e a Pizzaria Marguerita. Perto dali, Alvorada, Di Paolo e Galeto Brasile continuam sendo fortes referências em pratos típicos da imigração.



Pub cresceu e produz
15 mil litros

No imediatismo da noite caxiense, a turma do La Birra já não é mais caloura e pode ser vista como a responsável por colocar em evidência a moda dos brew pubs em Caxias. O bar abriu em 2015 produzindo a própria cerveja. Dos 100 litros por lote na época, a empresa saltou para 15 mil litros mensais, volume que impulsionou a criação da Cervejaria La Birra e seus respectivos produtos. Semanalmente, cerca de 2 mil pessoas passam pelo bar ao lado da antiga Maesa, no limite entre Lourdes e o Cristo Redentor. A empresa tem 20 funcionários no pub e mais 12 nas outras duas ramificações do negócio.

O projeto dos amigos Tiago Trentin Lima, 25 e Guilherme Cenzi Alberton, 26, poderia ter tido outro rumo, caso seguissem conselhos de que só é possível prosperar em pontos do Centro. Antes da abertura do bar, aquele trecho da Rua Dom José Barea estava meio que abandonado. O cenário mudou bastante. Para os donos, o segredo é a simplicidade: a idade do público varia de 25 a 35 anos, a maioria costuma vir do trabalho e quer descontração a preço acessível. O bem-sucedido negócio já produz frutos: o La Birra Brew Pub Gramado será inaugurado no início de agosto. Os sócios também organizam a quarta edição da Oktoberfest, evento que exige o bloqueio da via e atrai muita gente. 



A mesa na beira da pista
perdeu o apelo

A vida noturna em Caxias passa por ciclos diferentes a cada geração, na avaliação do colunista social João Pulita. Há uns 10 anos, a tendência era investir em danceterias. A cena clubber perdeu espaço porque o público mudou. Daí surge uma possível explicação para o crescimento de pubs e restaurantes gourmet pela cidade, em especial na região de Lourdes.

– Parece não ter mais apelo aquela história de ter uma mesa reservada na beira da pista. Esse desenho não existe mais. Hoje, a vida noturna é cada vez mais casual, menos compromissada, menos protocolar, mais solta, mais despojada, o comportamento mudou – pondera Pulita.

A visão é a mesma de Vicente Homero Perini Filho, presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho. Perini foi dono da lendária boate Quinta Estação, no bairro Panazzolo, hoje um restaurante e casa de eventos.

Segundo ele, manter uma casa noturna para abrir uma vez por semana exige um custo altíssimo, o que faz com muitas não durem. Na esteira, surgem casas menores e com propostas diferentes. Lourdes, por exemplo, já abrigou duas boates badaladas há 10 anos, redutos que perderam público para outras atrações. Os pontos que resistem ao tempo possuem apelo diferente, caso da Chardonnay e do Velho Fogo de Chão.

– Uma vez, sair de casa tinha de ser depois da meia-noite. Hoje, as pessoas também estão indo mais cedo para a festa. Tu vê o crescimento nesse sentido de bares e gastronomia nos últimos 10 anos – avalia Vicente.

Pulita vê um público maduro, acima dos 25 anos, frequentando a noite caxiense.

– Preocupante é a nova geração que fica exposta na rua, em postos de gasolina, em lojas de conveniência. Não vejo tanto isso como uma questão de dinheiro, mas de preferência mesmo pelos locais – diz Pulita.

Vicente e o colunista acreditam que Lourdes crescerá mais.

– A região no entorno da igreja vai ser ocupada pelo mercado de entretenimento – aposta Pulita.

Tendência



Para Vicente Perini Filho, a tendência em Caxias é concentrar a diversão próxima uma da outra, a exemplo de outras cidades.



Aprendizado na Estação Férrea

É inegável o impacto positivo da revitalização do Moinho da Estação num endereço antes abandonado e tomado pelo vandalismo em São Pelegrino. A exemplo do trabalho realizado na antiga Vinícola Michelon, em Lourdes, a criação de espaços de cultura e lazer no prédio da família Tondo transformou o Largo da Estação Férrea na área mais efervescente da cidade. Só que o trabalho atraiu um público que prefere ficar no lado de fora dos bares e restaurantes, o que trouxe problemas de segurança. É um aprendizado relevante para toda a cidade.

– Quando o prédio foi restaurado, a intenção era trazer muita cultura. O Mississipi (bar) é cultural e vem se mantendo fiel, havia o Boteco 13, que trazia o samba. Eram pequenas culturas, só que nos surpreendeu, pois o público viu isso como uma grande festa e não conseguimos mais controlar o fluxo, nos assustou – recorda Eloisa Tondo, empresária e presidente da Associação Amigos do Largo da Estação (AALE).

Nos últimos meses, a associação, empresários e moradores concentram esforços para valorizar o Largo da Estação, prejudicado por confusões nas ruas. Somente à noite, são nove estabelecimentos gerando empregos na Estação Férrea.

– Durante esses anos, tentamos fechar a rua, dar mais segurança para as pessoas circularem a pé, ser um verdadeiro centro de lazer. O pessoal agora ficou mais em cima e reduziu de certa forma – pondera Eloisa.

Para a empresária, a abertura da Fabbrica e das demais atrações de Lourdes são fundamentais para evitar a concentração de público numa só área da cidade. Por outro lado, ela entende que há prédios tombados que poderiam ser melhor aproveitados para a cultura e o entretenimento. Em agosto, um seminário debaterá essa possibilidade.

Conforme Heloíse Salvador, coordenadora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural (Dipach), o empreendedorismo nem sempre considera o aspecto cultural do local que ocupa e o encontro vem para despertar esse olhar. A data e a programação do seminário serão divulgadas em breve. 



“O pessoal preferia ir para o Centro”

Recentemente, Paulo Poletto, um dos moradores mais antigos de Lourdes, se surpreendeu com uma das tantas novidades gastronômicas do bairro e concluiu que a vida realmente mudou na comunidade.

– Demorou muito, o pessoal preferia ir para o Centro – lembra Poletto.

Assim como muitos moradores, a preocupação dele com a expansão da vida noturna está relacionada às badernas. Até pouco tempo, um trecho da Rua Sinimbu, na frente do Colégio Madre Imilda e da Fruteira Barcelona, era sinônimo de bebedeira em via pública e confusão aos finais de semana. A situação acalmou um pouco, mas as reclamações voltaram a aparecer com a abertura de novos estabelecimentos.

Os novos rostos que frequentam o bairro também estão tirando de cena os bares tradicionais, aqueles em que homens acima dos 40 anos se reúnem para carteados e aperitivos. O Café Brasil, que opera num ponto cativo há 40 anos na Angelina Michielon, quase ao lado da igreja, é um dos poucos que resistem oferecendo bebidas e mesa de sinuca.

– Aqui já não é mais aquele bairro, é uma cidade – compara Rudinei Bonaldi, 53, cliente habitual do bar.
Mobirise
Mobirise



Inovação é cardápio obrigatório

Se a tradicional Sorveteria Urca migrou do porão em que atendeu durante 25 anos na Rua Angelina Michielon para uma área moderna e mais ampla ao lado, é sinal de que pontos tradicionais não estão indiferentes à mudança de conceitos de entretenimento e gastronomia de Lourdes. Antes, o público enfrentava a longa fila para sentar em mesas simples, tomar sorvete e ir embora. No auge do verão, a climatização não era muito agradável. Hoje, a estrutura é um convite para que os clientes curtam o local por mais tempo.

Tem música boa num telão, mesas e cadeiras mais confortáveis, deck externo, decoração diferenciada e uma marca própria de sanduíches. Foi um projeto gestado durante cinco anos. A alteração no visual e na proposta de atendimento aumentou a clientela, segundo a gerência, o que é ótimo para manter os 17 empregos que o negócio gera.

Não é diferente no Baita-Kão, restaurante cuja história está associada ao próprio bairro desde que os donos abriram um trailer de cachorro-quente durante a Festa da Uva de 1972, grande novidade na época e que virou ponto de encontro da juventude. Há três ou quatro anos, a clientela conhecia o Baita-Kão apenas pelo salão principal. Hoje, são seis ambientes diferentes, incluindo o contêiner e um salão aos fundos com clima de pub e cerca de 50 funcionários.

Numa das noites de junho, enquanto uma turma garantia o funcionamento da cozinha e dos salões, outros colegas viraram atores, trocaram o uniforme por figurino típico e encenaram um casamento caipira no estacionamento. Eles arrancaram boas risadas dos clientes, evidenciando que os caxienses desejam algo que os cardápios não oferecem.

– Lourdes começou a se destacar agora novamente. Antes, havia muitos empresas grandes e antigas aqui, boa parte por causa da BR-116. As empresas foram se extinguindo e o bairro estava em decadência em termos de empresas, salas vazias, estava um verdadeiro deserto. O negócio é uma corrente, quando tu quebra ela, tudo se vai. Então, os bares e restaurantes, pelo que vemos, estão ocupando esses espaços fechados, que estavam para alugar – pondera Ivo Posser, um dos donos do Baita-Kão.

Compartilhe