Mobirise

+indústria

O futuro da Guerra SA

nesta semana, falência da empresa, decretada por juíza da 4ª vara cível de caxias do sul, completa um mês

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

FELIPE NYLAND

Mobirise

aspecto de abandono  Na principal fábrica da Guerra, às margens da BR-116, cenário é composto por produtos inacabados no pátio e grama elevada

Mobirise

A situação dramática da Guerra SA ganhou um novo capítulo em 8 de novembro, quando a juíza da 4ª Vara Cível de Caxias do Sul Maria Olivier decretou a falência da fabricante de implementos rodoviários. Nesta semana, completa-se um mês desde o parecer da magistrada. E, aos poucos, avançam os trâmites para a liquidação do patrimônio da empresa para que se realize o pagamento dos credores. Ou, ao menos, de parte deles.

O administrador judicial do processo, Cristiano Franke, é quem tem a responsabilidade de conduzir os passos pós-falência. A primeira medida tomada foi a lacração das plantas de Caxias do Sul e Farroupilha. Em seguida, Franke negociou para que as unidades tivessem novamente luz e água, que estavam cortadas nos últimos meses. Também foi garantida a presença de seguranças nas fábricas.

Outra tarefa que será realizada é a arrecadação dos bens da Guerra. Ou seja, averiguar quais são os equipamentos que podem ser vendidos e resguardá-los. Esta etapa ainda não começou a ser feita. No momento, a prioridade é definir o escritório de advocacia responsável pelos processos da massa falida, o que deve ocorrer nesta semana.

O administrador judicial considera que a opção pela falência é a mais adequada, dadas as circunstâncias, e acredita que será difícil mudar esse cenário.

– A empresa está parada desde maio, não apareceu nenhum interessado durante todo o processo de recuperação, o plano foi reprovado (por parte dos credores). O sentimento técnico é de que o tribunal vai manter a falência – aponta.

Na primeira instância, em Caxias, a juíza Maria Olivier foi contundente em seu parecer. Segundo a magistrada, “não pairam dúvidas do estado falimentar da Guerra”, em função da inatividade nos últimos meses. Ela também apontou que “nenhum movimento foi realizado na busca de alternativas para a efetiva recuperação fabril.”

Entretanto, o quadro falimentar ainda não é definitivo. Os advogados da Guerra entraram com recurso e pediram efeito suspensivo da falência. O processo, então, passou a tramitar no Tribunal de Justiça (TJ-RS), em Porto Alegre. A relatora do caso, a desembargadora Isabel Dias Almeida, negou o efeito suspensivo. Ainda resta o julgamento do recurso, o que, segundo a assessoria do TJ-RS, só deverá ocorrer após março de 2018. Além de Isabel, outros dois desembargadores da 5ª Câmara Cível deverão analisar o mérito.


Entre os ativos da Guerra, a planta 2, em Caxias, é a com maior valor de mercado. A unidade já foi avaliada por cerca de R$ 48 milhões anteriormente. 

tentativa de reversão

O advogado Angelo Coelho, que representa os controladores da Guerra, é quem tenta reverter a situação. Coelho opina que a falência não é o melhor caminho e defende que a Guerra ainda tem condições de voltar a produzir. Por isso, promete ir até as últimas instâncias para mudar o panorama atual.

– A Guerra precisa de uma oportunidade. O passivo tributário não é significativo, é uma empresa reconhecida, a própria comunidade reconhece o potencial dela. Há viabilidade econômica – diz Coelho.

Após ter o seu pedido de efeito suspensivo negado pela desembargadora, Coelho encaminhou uma nova solicitação de revisão, pedindo que os lacres fossem retirados. Em sua argumentação, o advogado mencionou que haveria interesse do DX Group em assumir a operação da Guerra. Com escritório em São Paulo, o grupo de investidores costuma comprar empresas em dificuldades.

– A Guerra é um ativo que nos interessa, mas não há nada além de conversas preliminares. No meio do caminho, fomos surpreendidos com a falência. Com a empresa falida, nada podemos fazer – explica Creso Suerdieck, sócio do DX Group.

Segundo Suerdieck, as tratativas começaram há cerca de 60 dias. A intenção é adquirir a integralidade das ações da empresa, assumindo o passivo e os ativos, como as unidades fabris e a marca. O empresário, porém, frisa que desde que a falência foi decretada, a negociação foi interrompida. Além disso, menciona que qualquer negócio necessita estar alinhado com diferentes atores, como sindicatos de trabalhadores, o administrador judicial e o Judiciário.

Na semana passada, o pedido de reconsideração de Coelho foi negado pela relatora Isabel Dias Almeida. Na sua justificativa, Isabel disse que causava estranheza o fato de surgir um suposto investidor justo às vésperas de a falência ter sido oficializada.

Ex-funcionários começam
a se recolocar no mercado

FELIPE NYLAND

Mobirise

alívio   Depois de 13 anos na Guerra, Mathyas encaminhou rescisão e conseguiu vaga na Marcopolo

Mobirise

A data não sai da memória de Moisés Mathyas: 16 de outubro de 2017. Foi naquele dia que o operador de produção da Guerra encerrou oficialmente seu vínculo com a empresa de maneira unilateral, após 13 anos.

O trabalhador aguentou até onde pôde. Desde que a empresa interrompeu as atividades, em maio, e não depositou mais o salário e os diretos trabalhistas, a situação financeira de Mathyas se deteriorou. As contas se acumulavam e não era possível honrar os compromissos.

Só há duas semanas que a situação melhorou e Mathyas ganhou um novo motivo para sorrir. Conseguiu se recolocar no mercado de trabalho. Foi contratado pela Marcopolo para atuar como montador de acabamento.

O movimento não é isolado. A fabricante de ônibus e outras companhias caxienses, como a Randon, têm absorvido parte dos ex-funcionários da Guerra. Mathyas conta que, assim que entrou na Marcopolo, reencontrou uma série de ex-colegas que passaram por situação semelhante à sua.

Agora, Mathyas aguarda para receber os valores de salários, direitos atrasados e a rescisão. Ao todo, ele calcula que a Guerra lhe deve de R$ 70 mil a R$ 100 mil. A expectativa é que o montante seja pago após a venda dos bens da empresa em leilão.

– A decisão pela falência, na situação atual, é o melhor caminho. Mas, no fundo é muito triste, por tudo o que a Guerra foi e o que ela representava para Caxias. Era uma das melhores empresas para se trabalhar na cidade – lamenta.

No momento em que paralisou as atividades, a Guerra contava com cerca de 680 funcionários. A maioria deles já se desligou da empresa ao longo dos últimos meses, conforme se agravava a situação da fabricante de implementos rodoviários.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, Claudecir Monsani, diz que nos últimos meses a entidade encaminhou diversos pedidos de rescisão unilateral. A procura pelo procedimento ganhou ainda mais força após a falência ser decretada.

– Hoje a empresa deve ter menos de 200 funcionários ainda vinculados. Todo dia tem uma turma aqui encaminhando processo para habilitar direito à dívida – conta Monsani.

Ao todo, o presidente do sindicato estima que o apenas o passivo trabalhista da Guerra deverá girar em torno de R$ 70 milhões.

O caminho da empresa até a falência

De segunda maior fabricante de implementos rodoviários do Brasil à empresa falida. Desta maneira pode ser resumida a trajetória da Guerra nos últimos anos. As dificuldades da companhia ficaram mais evidentes a partir de julho de 2015, quando ingressou com pedido de recuperação judicial.

Desde então, a aprovação de um plano que permitisse a recuperação da companhia nunca foi consenso entre os acionistas da empresa. O fundo de investimentos francês Axxon Group, que adquiriu o controle da Guerra em 2008, e Marcos Guerra, que detinha 20% das ações, divergiam sobre os caminhos a serem tomados pela empresa. O Pioneiro procurou Marcos Guerra para comentar a situação da companhia após a falência, mas o empresário não quis conceder entrevista.

Após uma série de adiamentos e revisões nos planos, a assembleia de credores votou em julho a proposta elaborada pelo advogado Angelo Coelho. Na ocasião, os credores das classes 1 (trabalhistas) e 3 (fornecedores e bancos) reprovaram a alternativa. Enquanto, a classes 2 (bancos) e 4 (microempresas e empresas de pequeno porte) aprovaram. 

Diante do resultado, a decisão sobre a homologação do documento ficou nas mãos da Justiça, que optou pela falência por considerar que não havia viabilidade na alternativa exposta. A decisão da 4ª Vara Cível de Caxias levou aproximadamente três meses para ser anunciada.

No início do processo, as dívidas da Guerra eram superiores a R$ 200 milhões. O cálculo do valor atualizado do passivo está sendo desenvolvido.


Apenas entre as quatro classes de credores, as dívidas somam R$ 113,5 milhões.

Próximos passos

  • O administrador judicial Cristiano Franke deverá definir um escritório de advocacia para defender a massa falida. Depois, será elaborada uma lista dos bens da empresa que poderão ser vendidos para a realização do pagamento dos credores. A ordem de pagamento ainda está para ser divulgada, mas a tendência é de que credores trabalhistas tenham prioridade.
  • Após a sentença pela falência ser proferida, o advogado da Guerra, Angelo Coelho, entrou com recurso. O julgamento será feito, depois de março de 2018, por três desembargadores da 5ª Câmara Cível do TJ-RS, em Porto Alegre. 
  • Caso a falência seja mantida em Porto Alegre, ainda há possibilidade de recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
  • Uma lista atualizada dos credores terá de ser apresentada pela Guerra ao Judiciário. O advogado Angelo Coelho pediu mais 30 dias para elaborar o documento, alongando o prazo inicial de 15 dias.

Compartilhe