08 DE OUTUBRO DE 2018

site templates free download

+entrevista

“Não podemos cuidar
só do nosso quintal”

Presidente do cic de bento gonçalves, Elton paulo gialdi acredita que a sonhada estabilidade
econômica só será conquistada a partir de 2020

Mobirise



SILVANA TOAZZA

silvana.toazza@pioneiro. com

Elton Paulo Gialdi, 51 anos, é proprietário da Mérica Transportes e Logística e presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Bento Gonçalves, cidade que vem se destacando por diversificar sua matriz econômica e investir fortemente no turismo, caminhos vitais em tempos de conjuntura retraída.

– O que difere esta crise de outras que já enfrentamos é a duração: o período é de vários anos de recessão, só os mais fortes sobrevivem – avalia o empresário, casado com Alexandra Marina Gialdi e pai de Enzo, 16 anos, e Ângelo, 12.

A seguir, entrevista concedida ao Pioneiro por Elton Paulo Gialdi, quando avalia temas como momento econômico, desafios do empresariado e a importância de lideranças se envolverem em um tema que por muito tempo foi considerado tabu: política/eleições:

fotos Igor Guedes, divulgação

Mobirise

voz coletiva |  Executivo defende integração da região para pleitear melhorias de infraestrutura

Mobirise


Em Bento Gonçalves, o setor público e as entidades privadas são desprovidas de vaidades

  • Como você avalia o momento econômico. A retomada prevista está se confirmando?
    Vejo que conseguimos estancar a queda, e isso é algo a ser comemorado. Quanto à retomada, ela está muito lenta e gradativa, ainda temos uma enormidade de ajustes para serem feitos a fim de garantir uma recuperação que ocorra de forma mais efetiva. 
  • O pano de fundo eleitoral prejudica os negócios?
    Muito. Infelizmente nossa economia está muito dependente e atrelada a fatores políticos. A instabilidade que temos vivenciado causa insegurança – o que, para os negócios, é extremamente desfavorável. Para crescermos com segurança, temos de ter segurança jurídica e estabilidade política. De outro modo, qualquer percalço que ocorra no outro lado do mundo já afeta negativamente a nossa economia. 
  • Bento Gonçalves diversificou sua atuação, com o crescimento de setores como o turístico e o vinícola, ao lado do industrial, como o moveleiro. Não ser tão refém de um setor, como o metalmecânico em Caxias, parece ser um caminho de sucesso. Como avalia esse processo?
    Não avalio a situação de Caxias, mas, sim, acredito que o caminho que Bento Gonçalves está desenvolvendo seja extremamente positivo. As mudanças estratégicas nesta era de tecnologia e da Quarta Revolução Industrial transformam o cenário e os negócios de forma muito rápida. Precisamos estar atentos a essas mudanças no perfil socioeconômico das regiões. O turismo é uma fonte importante de receitas, motivo pelo qual temos de estar atentos às oportunidades relacionadas ao segmento. Apenas neste primeiro semestre, quase meio milhão de pessoas visitaram Bento Gonçalves e contribuíram ativamente na movimentação da economia. Já temos no enoturismo várias ações de sucesso, e estamos indo bem com o turismo de negócios, vide nossas feiras. Agora precisamos explorar mais o turismo industrial. Cito outro setor que, em nosso município é muito bem atendido: o de logística, no que tange ao transporte rodoviário. Bento Gonçalves tem um leque formidável de opções de empresas prestadoras desse tipo de serviço, muito bem estruturadas para atender demandas em todos os locais do Brasil. Essa condição certamente é um fator favorável para o sucesso nas vendas das indústrias, agregando competitividade ao processo. 
  • A união entre o poder privado e público torna-se vital?
    É fundamental uma integração harmoniosa entre os poderes. Nenhum dos setores terá êxito sem trabalhar em sintonia com os demais. Aqui em Bento Gonçalves, o setor público e as entidades são desprovidas de vaidades e, desta forma, conseguem desenhar melhor um planejamento de desenvolvimento a médio e longo prazos que são os pilares que um município precisa para evoluir. Temos muitos problemas que são enfrentados com diálogo franco, sempre em busca do melhor para nossa cidade e região. A municipalidade também não ficou esperando a retomada, buscou a criação de oportunidades e oferece isenção temporária de taxas e tributos para quem quer ampliar seu empreendimento ou para quem quiser se instalar em Bento, gerando empregos. Outro trabalho são as Parcerias Público-Privadas (PPPs). Agora vamos ter um investimento privado já anunciado pela prefeitura de R$ 53 milhões numa usina de transformação de resíduos sólidos urbanos em energia, gerando 65 empregos, inclusive um projeto muito inovador para o Brasil.
  • De que forma os empresários podem se mobilizar para dar sugestões e interferir nos rumos do país a partir das eleições?
    É importante que o empresariado tenha comprometimento e se responsabilize também com o assunto “política”. Por muito tempo, o tema foi tratado como tabu, e terceirizado para setores que não têm capacidade de representar o empresariado. A política, gostemos ou não, é o setor que pode levar um município, Estado ou país ao sucesso ou ao fracasso. Todo o empresário, como cidadão, tem o dever cívico de liderar a transformação que é necessária no nosso sistema político. Não podemos mais cuidar só das nossas empresas e ser omissos. Acredito que a classe empresarial e as entidades precisam se fazer presentes e ajudar o setor público a descobrir novos e bons talentos políticos. 
  • Bento Gonçalves foi também afetada pela crise nos últimos anos, ou menos?
    Sem dúvida foi afetada, não tem local neste país que não sofreu as consequências dessa tragédia, uma crise acima de tudo “política”. O que difere esta crise de outras que já enfrentamos é a duração: o período é de vários anos de recessão, só os mais fortes sobrevivem. Acredito que as boas práticas administrativas e a estrutura saudável de nossas empresas tenham sido fatores decisivos para evitar que a crise não tenha tido efeitos mais profundos. Mas, de toda forma, afetou a capacidade de investimento e expansão de nossas empresas. 
  • Qual a perspectiva de crescimento da economia da cidade para 2018? São quantas empresas e empregos gerados?
    Falar em perspectiva de crescimento, de maneira geral, nos deixa receosos. Então prefiro falar que estamos no caminho certo. Neste primeiro semestre, pela primeira vez desde 2015, tivemos um período de seis meses em que contratamos mais do que demitimos, e isso é um indicativo de que estamos conseguindo crescer. Entre janeiro e junho deste ano, foram criados 918 postos de trabalho. No ano passado, nesse mesmo período, havia um déficit de 170 vagas. Também foram abertos quase mil empreendimentos neste ano, sendo mais de 500 voltados à prestação de serviços. Há de se destacar o investimento de R$ 168 milhões por parte de várias empresas da cidade em seus empreendimentos, como a M. Dias Branco, a Aurora e a Caitá. Acreditamos que já estamos em retomada, porém, por ser um ano eleitoral e com candidatos poucos animadores, persistem as indefinições. Entendo que mesmo com a vitória de um candidato mais equilibrado, sem apelo populista, mesmo que o novo governo tome as decisões corretas, a tão sonhada estabilidade somente será conquistada a partir de 2020. 
  • Quais as grandes conquistas e lacunas vividas pelo empresariado de Bento Gonçalves?
    A principal conquista é sobreviver a esta crise profunda e longeva. Precisamos dessa consciência: por mais criatividade e inovação que possamos implementar em nossas empresas, dependemos muito de fatores externos para o crescimento. Acredito que o câmbio vem contribuindo muito para as empresas exportadoras. Nossas marcas e a qualidade dos produtos, a exemplo dos vinhos, têm tido grande evolução, agora precisamos ser mais competitivos economicamente. As lacunas que temos são impostos mais honestos e adequados. Não tem mais como o setor produtivo bancar essa farra com o dinheiro alheio, o governo precisa rever seus gastos urgentemente, gasta-se muito e mal. A máquina pública é inchada, inoperante, precisamos urgentemente rever este quadro. Outro fato desanimador é a inoperância, somada à burocracia, ao excesso de regulamentações que só fazem travar o desenvolvimento e o empreendedorismo. Nossa infraestrutura é lamentável, não temos rodovias adequadas, precisamos rever rapidamente o sistema de concessão de rodovias e privatizar empresas que o governo não tem competência para administrar. Em sua maioria, o que é público não tem resultados positivos. Precisamos ser honestos e expor nossas carências para evoluir. 
  • Bento Gonçalves tem ganhado notabilidade pela união da iniciativa privada. Como mobilizar os empresários para bandeiras conjuntas?
    Com transparência, credibilidade, renovação, legitimidade. Tudo o que se faz informando, esclarecendo o porquê estamos fazendo desta forma, com pessoas e entidades valorizando a união, novas lideranças e visando o bem coletivo, tem tudo para dar certo. Por exemplo, na questão de segurança, temos o Consepro com uma sólida relação com as empresas e a sociedade. Graças a isso temos conseguido arrecadar recursos para fortificar nossas forças policiais, doando veículos ou encampando projetos como o Centro Integrado de Operações, uma sala onde várias câmeras monitoram pontos importantes da cidade. 
  • A atração de inúmeras feiras industriais em Bento tem impressionado, já que Caxias não tem conseguido avançar em eventos técnicos. Qual a receita?
    A receita passa pelas boas relações entre público e privado. Bento Gonçalves combina entidades fortes e representativas, parque adequado para receber boas feiras e, acima de tudo, o desenvolvimento, ao longo do tempo, de um excelente know-how na forma de fazer feiras e eventos. Dois setores em que somos competitivos, o transporte e o vinícola, foram contemplados com feiras neste ano, a Transposul e a Wine South America, o que é uma novidade. Outro importante nicho que teremos contemplado este ano é o da expansão do conhecimento e promoção da inovação, por meio do primeiro Congresso da Transformação Digital. Será uma grande oportunidade para empresários se conectarem de vez a esse mundo e se capacitarem ainda mais para ganhar competitividade na indústria, comércio, serviços e turismo. 
  • Como a Serra pode se unir e se fortalecer como polo empresarial, minimizando a carência de infraestrutura?
    Entendemos que, cada vez mais, precisamos trabalhar visando à região. Não podemos mais nos isolar e cuidar só do nosso quintal. É fundamental que os municípios desenvolvam agendas de integração e formatação de processos coletivos nas mais diversas áreas. Infraestrutura sempre é importante e necessária, mas até isso teremos melhores condições de pleitear e desenvolver se trabalharmos em coletivo. Unidos num mesmo propósito, todos se fortalecem. 

Clique e leia mais

+ARTIGO

O papel do coaching é auxiliar as pessoas a conectar a imensa quantidade de fatos que não conseguimos enxergar e não conhecemos 

+Desenvolvimento

Serra, que possui cinco arranjos produtivos locais, deve ganhar um novo APL a partir do próximo ano

+ENTREVISTA

Presidente do CIC de Bento Gonçalves, Elton Paulo Gialdi acredita que a sonhada estabilidade
econômica só será conquistada a partir de 2020

+DICAS

Dia das crianças é oportunidade para transmitir orientações e bons exemplos aos pequenos

+AGENDA

Oportunidades, cursos, seminários e exposições. Programe-se para os eventos na região

Compartilhe