– A nossa propriedade vai acabar – relata Zoira, resignada.
A certeza de Zoira se justifica: ela tem duas filhas, que vivem na área urbana de Bento Gonçalves. Nenhuma seguirá a atividade da família.
Da varanda da casa na qual vive há 43 anos, Zoira tem uma visão clara do Vale e do avanço da cidade.
– De uns anos para cá, é uma revolução. Têm hotéis, cantinas, uma vez não tinha. Nós continuamos na mesma, só parreirais.
Se Zoira tem esperanças de seguir trabalhando enquanto tiver forças, o mesmo não acontece com a família Festa. A propriedade deles está um pouco adiante, pela Via Trento. Conforme Larri Festa, 69, que vive ali com o irmão Adorindo Emílio Festa, 81, e a cunhada Elza Longhi Festa, 78, a atividade de viticultor não compensa mais.
– Não tem preço, ninguém compra – resume.
No início do ano, Larri vendeu a propriedade de 12 hectares para uma grande vinícola do Vale e manteve somente a casa. Adorindo relata que os irmãos tentaram arrendar parte do terreno anos atrás, mas a área acabou abandonada.
– Virou tudo mato, não quiseram seguir na atividade. Agora por aqui passa ônibus, carros, antes era mais tranquilo. Daqui a alguns anos, teremos que abandonar – reflete.
– Nem uma flor eles molham mais – decreta dona Elza, sobre a preferência dos jovens pela cidade.
A falta de políticas públicas faz com que a continuidade das propriedades rurais esteja à mercê da configuração de cada família, reconhece Melissa Bortoletti Gauer, diretora adjunta do Instituto de Planejamento Urbano de Bento Gonçalves (Ipurb).
– Isso é um problema para a região. Mas acredito que, com o passar dos anos, alguns jovens já enxergam o potencial que tem no distrito e começam a tocar o que os pais deixaram – diz a diretora do Ipurb de Bento.
Para a professora do Programa de Pós-graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS, Susana Gastal, são necessários incentivos claros para impedir o êxodo.
– Em Portugal, em 2013/14, foi registrada uma volta muito importante de famílias para o campo, porque o setor foi menos afetado pela crise. Na pesquisa que a gente fez sobre a alimentação ali (na região do Vale), quase todos compram os produtos na cidade, não há compra do produto local. Então não tem cadeia produtiva. Sem incentivo, o jovem não volta – explica.
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