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Uma visão clara dos
CONTRASTES

Na região, convivem agricultores, vinícolas que
buscam se diferenciar para atrair turistas e empreendimentos que se instalam 


Texto
Lucas Demeda
lucas.demeda@pioneiro.com

Arte e Infografia
Cíntia Colombo
cintia.colombo@pioneiro.com

Fotos
Diogo Sallaberry
diogo.sallaberry@pioneiro.com
Roni Rigon
roni.rigon@pioneiro.com

Mobirise

Na entrada do Vale dos Vinhedos pela Linha Leopoldina, uma das primeiras casas à vista é a de dona Zoira Longhi Ferrari, 69 anos. Ela mantém uma pequena propriedade rural com o marido, Valdir Ferrari, 74. Atualmente, os dois contam com três empregados que os ajudam no plantio da uva


– A nossa propriedade vai acabar – relata Zoira, resignada.
 
A certeza de Zoira se justifica: ela tem duas filhas, que vivem na área urbana de Bento Gonçalves. Nenhuma seguirá a atividade da família.

Da varanda da casa na qual vive há 43 anos, Zoira tem uma visão clara do Vale e do avanço da cidade.
– De uns anos para cá, é uma revolução. Têm hotéis, cantinas, uma vez não tinha. Nós continuamos na mesma, só parreirais. 

Se Zoira tem esperanças de seguir trabalhando enquanto tiver forças, o mesmo não acontece com a família Festa. A propriedade deles está um pouco adiante, pela Via Trento. Conforme Larri Festa, 69, que vive ali com o irmão Adorindo Emílio Festa, 81, e a cunhada Elza Longhi Festa, 78, a atividade de viticultor não compensa mais.  

– Não tem preço, ninguém compra – resume.
No início do ano, Larri vendeu a propriedade de 12 hectares para uma grande vinícola do Vale e manteve somente a casa. Adorindo relata que os irmãos tentaram arrendar parte do terreno anos atrás, mas a área acabou abandonada.
– Virou tudo mato, não quiseram seguir na atividade. Agora por aqui passa ônibus, carros, antes era mais tranquilo. Daqui a alguns anos, teremos que abandonar – reflete.
– Nem uma flor eles molham mais – decreta dona Elza, sobre a preferência dos jovens pela cidade.

A falta de políticas públicas faz com que a continuidade das propriedades rurais esteja à mercê da configuração de cada família, reconhece Melissa Bortoletti Gauer, diretora adjunta do Instituto de Planejamento Urbano de Bento Gonçalves (Ipurb).

– Isso é um problema para a região. Mas acredito que, com o passar dos anos, alguns jovens já enxergam o potencial que tem no distrito e começam a tocar o que os pais deixaram – diz a diretora do Ipurb de Bento.

Para a professora do Programa de Pós-graduação em Turismo e Hospitalidade da UCS, Susana Gastal, são necessários incentivos claros para impedir o êxodo.

– Em Portugal, em 2013/14, foi registrada uma volta muito importante de famílias para o campo, porque o setor foi menos afetado pela crise. Na pesquisa que a gente fez sobre a alimentação ali (na região do Vale), quase todos compram os produtos na cidade, não há compra do produto local. Então não tem cadeia produtiva. Sem incentivo, o jovem não volta – explica.


“De uns anos para cá, é uma revolução. Têm hotéis, cantinas. Nós continuamos só parreirais”

Mobirise

A reinvenção tem
seu lugar no Vale

O envelhecimento da população e o êxodo rural, problemas estruturais comuns à região da Serra, têm seu contraponto no próprio Vale dos Vinhedos. A algumas centenas de metros adiante pela Linha Leopoldina, encontra-se a Vinícola Marco Luigi. De propriedade familiar, o empreendimento conseguiu se reinventar com o oferecimento de serviços para o turista que visita a região.

– Só neste ano, o Vale tem cerca de oito novos empreendimentos turísticos. É algo que vai aumentar muito – acredita Luciane Menegotto, gerente de varejo da empresa.

Como diferencial, a Marco Luigi, que não faz parte da Aprovale, realiza eventos fechados e aposta em caves naturais de pedra e de terra, que guardam espumantes com fermentação de até 10 anos.

– Hoje, produzimos de 100 mil a 130 mil garrafas por ano. Tudo feito na propriedade de 32 hectares – destaca Luciane.

A Vinícola Larentis, seguindo pelo mesmo caminho, é outro case de sucesso. Até 2001, a família produzia somente uvas, quando decidiu dar o passo para o mercado de vinhos finos. André Larentis é o enólogo e diretor da vinícola.

– Investimos cada vez mais pensando na qualidade dos vinhos e atrativos para o turista. A ideia é que o setor se fortaleça cada vez mais e seja interessante para o produtor cultivar uvas. Hoje temos visitação diariamente, com programas de colheita, poda, degustação de vinhos – enumera o enólogo.

A Larentis produz cerca de 80 mil litros de vinho por ano. Com 27 anos, André reconhece, porém, que seu caso é exceção.

– Foi sempre uma paixão minha. Da minha geração, só tem eu na área. Os primos e irmãos foram para outro caminho. 

Empreendedorismo em alta

  1. Bento Gonçalves  -  De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, há 182 empreendimentos ativos no distrito do Vale dos Vinhedos. De janeiro a outubro de 2016, 11 novos locais entraram em operação na área que corresponde ao município. Neste ano, já são 13. 
  2. Monte Belo Sul - Não há novos empreendimentos registrados na prefeitura.
  3. Garibaldi - A prefeitura informa que, neste ano, autorizou a construção de um novo hotel na região do Vale, idealizado pela Terra do Ouro Empreendimentos Imobiliários. Foi realizada uma audiência pública para permitir a edificação do empreendimento, que prevê um prédio de seis andares – o Plano Diretor limita as construções a quatro andares no local.  Conforme Marcus Leandro Cartes, gestor do projeto, o investimento se justifica pela atratividade do turismo na região. – Todos os índices têm indicado que o turismo não foi afetado pela crise. Isso mostra que há espaço. Foi aprovada a mudança por se tratar de algo de interesse para o município, já que deve abrigar lojas, centro de eventos, restaurantes. Cartes acredita que o hotel gere pelo menos 200 empregos diretos e 700 indiretos.

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