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Natureza preservada

Essa beleza que emoldura cartões-postais é consequência da construção da Rota do Sol em meio a uma reserva ambiental, com espécies raras de árvores e animais, e que precisa de mais atenção e conscientização de motoristas e moradores.

Texto
Raquel Fronza
raquel.fronza@pioneiro.com
André Fiedler
andre.fielder@rdgaucha.com.br

Infografia e diagramação
Márcia Dorigatti
marcia.dorigatti@pioneiro.com

Fotos
Roni Rigon
roni.rigon@pioneiro.com
Daer, acervo

A Rota do Sol é responsável pelo encurtamento de distâncias, pela aceleração do crescimento econômico da Serra e é garantia de uma viagem mais segura e bonita. Essa beleza que emoldura cartões-postais é consequência da construção da rodovia em meio a uma reserva ambiental, com espécies raras de árvores e animais, e que precisa de mais atenção e conscientização de motoristas e moradores. Isso porque para que a rodovia pudesse sair do papel, houve inevitáveis impactos negativos ao meio ambiente. Ainda hoje, centenas de bichos continuam sendo mortos por atropelamento todos os meses. Um estudo encomendado pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) tenta mensurar a quantidade de animais atingidos pelos carros, quais as espécies mais comuns e quais medidas podem ser tomadas para solucionar o problema. Por isso, pelos próximos quatro meses, os motoristas podem deparar com trânsito trancado para que o estudo possa ser executado.

– Esta ação ocorre em decorrência do grande número de animais atropelados, principalmente neste trecho de Itati. Vamos monitorar mamíferos, anfíbios e aves que morrem – explica a bióloga Caroline Zank, responsável pelo trabalho a campo.

A Rota do Sol atravessa uma área de preservação ambiental chamada Reserva Biológica Mata Paludosa, uma unidade de conservação estadual. Vivem ali espécies como graxaim-do-mato, gato-do-mato pequeno, guaxinim, tatus e anfíbios que estão em extinção, como a perereca-castanhola (é chamada de castanhola porque o som que emite se assemelha ao do instrumento de percussão). Medindo até 10 centímetros de comprimento, este animal possui uma coloração verde-musgo, com tons amarronzados. A pigmentação da espécie é uma vantagem porque ela pode se camuflar entre líquens e musgos de cascas de árvores. No entanto, nem mesmo esta adaptação garante que o bicho seja imune do vaivém dos carros da rodovia.

– Anfíbios são os que mais morrem, e neste trecho há banhado nos dois lados da estrada. Ainda não podemos tirar conclusões porque os estudos estão em andamento, mas a perereca-leiteira é o que mais morre atropelada – pontua Caroline.


Para que a rodovia saísse, houve inevitáveis impactos negativos ambientais. Ainda hoje, centenas de bichos continuam sendo mortos por atropelamento

Ibama e Rota do Sol: parceria contínua

A Rota do Sol foi construída em uma área muito importante para a conservação do ecossistema no Rio Grande do Sul: trata-se da Zona Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântida, reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O traçado, portanto, inclui três unidades de conservação ambiental: a Estação Ecológica Estadual Aratinga, a Área de Proteção Ambiental da Rota do Sol (APARS) e a Reserva Biológica Estadual da Mata Paludosa. Por isso, o impacto da construção da rodovia foi fiscalizado de perto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), conforme lembra um dos entusiastas da Rota do Sol, o empresário Nelson Sbabo.

– Há três passagens subterrâneas para os animais passarem para o outro lado. O custo destas três passagens, por exemplo, daria para construir 30 escolas. Mas a rodovia não seria construída se não houvesse uma passagem segura para os animais – lembra Sbabo.

Ações compensatórias, como a construção das passagens, além dos túneis, viadutos e alterações do traçado foram necessárias para que o projeto fosse aprovado – e, mais que isso, para que o Daer tivesse licença de operação da rodovia. Com este aval, uma série de programas cumpridos gerenciam ações e riscos, não somente na construção da rodovia, mas também na continuidade dela. Por isso, o Ibama ainda fiscaliza e propõe ações para que, cada vez mais, o ecossistema rico que rodeia a Rota do Sol seja respeitado.

– Ainda há ações previstas, como construção de recuos e instalação de sinalização. Também tem a questão da ocupação das margens da rodovia que, geralmente, é desenfreada. Há restaurantes irregulares, principalmente no trecho entre São Francisco de Paula e Itati, que precisam de conscientização e de controle por parte das prefeituras – pontua o analista de licenciamento do Ibama Rodney Schmidt.

Faça sua parte para preservar

  • Dirija sempre com atenção. Respeitar os limites de velocidade evita atropelamentos de animais silvestres.
  • Não jogue lixo na rodovia. Assim, você ajuda a preservar a água, o solo, as plantas e os animais da região
  • Respeite o que é da natureza. Não arranque flores e folhas, nem retire os animais do seu habitat natural.
  • Cuide das árvores. Não retire galhos, não remova cascas, não pinte, escreva ou afixe placas nos troncos ou galhos.
  • Aprecie a paisagem no lugar certo. A rodovia tem diversos lugares adequados para você estacionar, como refúgios e pontos de parada.
  • Atenção caminhoneiros: o transporte de cargas perigosas na Rota do Sol, entre Tainhas e Terra de Areia, é proibido das 17h às 8h.
Mobirise

Ocupação do entorno preocupa

A conscientização da comunidade para que preserve a flora e fauna do entorno é trabalhada com insistência pela Coordenadoria Técnica de Meio Ambiente do Daer. Moradores de municípios como Itati e São Francisco de Paula localizados no trecho de 54 quilômetros entre os dois municípios são alvos frequentes de ações de educação e relacionamento por parte do Daer.

Prova disso é que o órgão busca junto ao Ministério Público (MP) uma maneira de regularizar a situação dos tendeiros que, muitas vezes, acabam se instalando nas margens da via de maneira irregular.

– Há até um problema de especulação porque nem sempre são os moradores os donos das barracas. São pessoas que chegam lá e constroem sem aviso algum. É uma região ambientalmente muito rica, e por isso, um dos maiores desafios para o Daer – explica a titular da coordenadoria, Josani Carbonera Pereira.

Ações em escolas e com moradores frisam a importância da preservação do meio ambiente e também de recursos hídricos. A Rota do Sol é pioneira em muitos quesitos e é por consequência dela que foi criado o Departamento Ambiental no Daer. Por isso, o órgão criou quatro programas importantes para a compensação ambiental: monitoramento de fauna, comunicação social, recuperação ambiental e gerenciamento de risco. 

– Este último é um plano de ações emergenciais, que incluem medidas para evitar acidentes com cargas perigosas e como lidar com isso caso aconteçam. Ele é composto ainda de alterações na pista, que oferecerão mais segurança viária e poderão minimizar riscos de acidentes ambientais – explica Josani.

Além da construção de recuos, a instalação de dois postos de policiamento rodoviário estão inclusas nestas medidas. Segundo o Daer, resta a liberação de recursos para que os postos sejam construídos em Itati e a localidade de Tainhas.

– Além de controlar a questão dos caminhões em horários restritos, nos fins de semana em que não podem passar, haverá mais controle de tráfego e segurança para a região – acrescenta.

Fauna típica da Rota do Sol

A Mata Atlântica na região é caracterizada pela grande riqueza da flora e da fauna, apresentando diversas espécies ameaçadas de extinção, como a araucária, o palmito, o bugio-ruivo e o gato-maracajá. Confira  alguns exemplares comuns na área:

Mobirise

Graxaim-do-mato

É o canídeo mais comum do Estado. Tem pelagem geralmente cinza-clara com base amarelada, sendo os pelos da linha dorsal mais escuros, formando uma faixa preta que se estende da nuca à ponta da cauda. A extremidade anterior das patas também é preta, o que o distingue do graxaim-do-campo. Durante o dia, costuma se esconder em matas fechadas ou em grandes moitas de capim, tornando-se ativo à noite,
quando sai para caçar.

Mobirise

Gambá-de-orelha-branca

É uma espécie comum na região. É um marsupial de grande porte. O dorso é normalmente grisalho, com pelos negros misturados aos brancos, que predominam externamente. Apresenta 3 listras pretas na cabeça, duas delas sobre os olhos e uma central, no topo da cabeça. As orelhas são pretas na base e brancas na ponta. Tem hábitos noturnos e crepusculares. Também possui hábito de escalar árvores ocasionalmente.

Mobirise

Perereca-castanhola: 

Esse pequeno anfíbio se distribui desde o Sergipe até o Rio Grande do Sul. Têm preferência por viver em arbustos e ramos de áreas de Mata Atlântica. Com cerca de 10 centímetros de comprimento, possui uma coloração verde-musgo com tons amarronzados. Seus olhos têm a íris dourada, marcada por estrias negras. Elas se camuflam em meio a líquens e musgos de cascas de árvores. Esse mimetismo dificulta que o anfíbio seja encontrado por predadores.

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