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Itati se desenvolve com a estrada

Investimento estimado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (Daer) é de aproximadamente
R$ 298,5 milhões, distribuídos de 1990 a 2007.

Texto
Raquel Fronza
raquel.fronza@pioneiro.com

André Fiedler
andre.fielder@rdgaucha.com.br
Infografia e diagramação
Márcia Dorigatti
marcia.dorigatti@pioneiro.com
Fotos
Roni Rigon
Mauro Vieira, Bd

Do alto do Viaduto da Cascata, há 10 anos, a então governadora Yeda Crusius deu por encerrado o ciclo de lutas de comunidades que sonhavam com a pavimentação da Rota do Sol desde o início dos anos 1930. A inauguração da rodovia, em 20 de dezembro de 2007, só foi possível após empresários pressionarem diversos governos para que a proposta não caísse no esquecimento. O investimento estimado pelo Departamento de Estradas de Rodagem (Daer) é de aproximadamente R$ 298,5 milhões, distribuídos de 1990 a 2007. Apesar do investimento pesado, sem este aporte dificilmente a Serra perceberia tamanho desenvolvimento. Quem passa apressado pela rodovia não faz ideia, mas a cidade de Itati, por exemplo, só persistiu graças à Rota do Sol.

– A Rota do Sol nos tirou do anonimato. Hoje, somos ponto de ligação entre a Serra e o mar, e ela nos aproximou do desenvolvimento – elogia o prefeito de Itati, Flori Werb (PP).

Pouco mais de 2 mil habitantes povoam a agrícola Itati. Por lá, a população estufa o peito quando o assunto é Rota do Sol. É como se a rodovia tivesse devolvido a dignidade aos moradores, já que muitos abandonaram a cidade na década de 1990. Com o início da fiscalização ambiental, os colonos não puderam mais trabalhar do modo tradicional nas encostas de morros e as opções de exploração ficaram restritas.

– O pessoal cortava a mata para produzir nos morros. Quanto passaram a trancar a derrubada, as pessoas viveram a fase de ir embora. Iam fazer o que aqui, passar fome? Mas graças a Deus, em 1995, começaram a desbravar aqui e falar em Rota do Sol – lembra José Moisés Trisch, morador das margens da Rota do Sol e dono da Tenda Flores.

Conforme o traçado avançava e a poeira dava espaço ao asfalto, moradores passaram a acreditar que o município poderia ser beneficiado de verdade. Por isso, pouco a pouco, Itati voltou a ser povoada. Trisch conta que a construção da via, inclusive, trouxe emprego aos moradores que aceitaram trabalhar nas construtoras gaúchas que desenhavam o novo traçado para o litoral. No entanto, o que se mostrou mais prático e óbvio, diante da vocação agrícola, era investir no plantio de banana e outras frutas características da região. O cenário para vender os produtos já estava definido: tendas seriam instaladas na rodovia e, segurando milho e banana em cada braço, os moradores iam para o asfalto e convenciam os veranistas a pararem para comprar.

– Colocava um banco, e em cima mamão, laranja, e vendia. Assim não dependia de intermediários para comercializar. E a coisa foi virando profissional, foi empregando bastante gente – resume Trisch. 


Pouco mais de 2 mil habitantes povoam o município, cuja economia depende em cerca de 80% da venda de produtos em tendas na rodovia

Tendeiros têm até associação

Pelo menos 50 empreendimentos integram a Associação Tendas do Itati, conhecida na comunidade como ATI. Moradores de Itati, muitos desses microempresários decidiram que era hora de levar o assunto a sério ao perceber que boa parte da renda da cidade surgia dali. Pudera: além de produzir os alimentos, os agricultores tiveram a oportunidade de entregá-lo ao seu público final, sem atravessadores. Com a formação da associação, em 2010, eles tiveram a oportunidade de passar por cursos de qualificação que ampliaram a perspectiva de negócios.

– Antes, a gente achava que nosso público era só os veranistas de Caxias. Mas com pessoas nos instruindo, vimos que boa parte deles vem também de Santa Catarina. O nosso tratamento com o público mudou, nos tornamos mais profissionais – ensina o tendeiro José Moisés Trisch.

O presidente da ATI é também secretário de Agricultura do município. Everson Flores diz que a economia de Itati sobrevive deste negócio, já que todas as tendas que pertencem à associação estão posicionadas na Rota do Sol. 

– Nós estimamos que 80% da economia vinda da agricultura gire em torno das tendas. Há anos em que quatro ou cinco novos estabelecimentos surgem durante o verão. Hoje, é o maior negócio da cidade – afirma Flores.

Além disso, estima-se que, apenas de Itati, cerca de 300 pessoas estejam empregadas em um desses comércios, isso sem contar os agricultores que trabalham ano a ano para entregar milho, banana, cachaça, feijão e outras especiarias da região.

O trabalho chegou para ficar em Itati

Dentro do âmbito social e cultural, a construção da Rota do Sol também permitiu que comunidades antes isoladas tivessem acesso a educação e saúde. É o que também aconteceu em Itati. Com mais dinheiro circulando na cidade, o próprio poder público pôde investir em infraestrutura para atender a população.

– Antes da Rota, nosso gargalo não era a produção agrícola, era a venda. Hoje, a situação se inverteu: quase não damos conta de produzir diante da grande procura. A estrada nos colocou no mercado. Com isso, conquistamos uma melhora tanto para a sociedade civil quanto para o setor público – evidencia o prefeito de Itati, Flori Werb, acrescentando que a cidade deve ganhar, no primeiro semestre de 2018, um ginásio de esportes e uma escola modelo.

A moradora Dorinha Selau, 54 anos, entende bem o quanto o asfalto mudou a realidade da sua família e de tantas outras. O trabalho chegou com fartura: trabalhando com o beneficiamento do couro, eles conseguem escoar seus produtos para qualquer canto do Estado graças à rodovia. Eles chegaram a deixar a cidade no início dos anos 1990: era difícil encarar os prejuízos que os caminhões acumulavam com uma estrada em más condições.

– Foram uns 20 anos na luta, mas uma luta que valeu a pena. Nós víamos a marcação da estrada, víamos as máquinas trabalhando, mas nada do asfalto chegar. Agora, vamos ligeiro para qualquer lugar, vai e volta a hora que quiser– descreve Dorinha, que vive em uma moradia a poucos metros da Rota do Sol, próximo do trevo de acesso a Itati.

Desde o início da construção da via, em 1997, cerca de 20 famílias foram removidas do trecho entre Lajeado Grande, Tainhas e Várzea do Cedro. Os valores indenizatórios variaram de acordo com o tamanho da área, e o que existia nela. Cada família recebia o valor e procurava novo espaço.

Com a consolidação do comércio à beira da Rota, o município agora pensa também em expandir os negócios. Conforme o prefeito, Itati, junto com Três Forquilhas, Terra de Areia e Torres, está planejando a criação de um consórcio de turismo. A ideia, adianta ele, “é fazer as pessoas passarem, chegarem e ficarem na região”.

– Nos inspiramos nos bons exemplos da Serra, aproveitando os veranistas, que descem para o litoral durante o verão, e também aqueles turistas que sobem a Rota, vindos do sul de Santa Catarina, por exemplo, durante o inverno – adianta Flori Werb. 

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