Há 15 anos, quando Eronilda Pimentel Aguiar, 58, largou a boleia dos caminhões para montar uma lanchonete em Aratinga, localidade de São Francisco de Paula, o asfalto da Rota do Sol chegava apenas até a região de Contendas, distante cerca de 10 quilômetros. A estrada de chão levava poucas pessoas até a pequena localidade incrustada no meio da mata e a comerciante conseguia atender toda a clientela com a ajuda da filha.
A experiência de quatro anos pelas rodovias, porém, foi suficiente para que Eronilda aprendesse a importância de um caminho pavimentado para o desenvolvimento. Ela sabia que o crescimento do próprio negócio e da região onde vive há 41 anos dependia da conclusão da Rota do Sol.
– Eram muito precárias as condições da nossa localidade. Aratinga não existia no mapa. Há 40 anos, a Rota do Sol estava sendo feita em Caxias. Aqui não havia ônibus e carro poucas pessoas tinham. Era normal os carros e caminhões ficarem atolados e ter que esperar clarear o dia para alguém buscar. É uma lembrança que não é boa. O único caminho que Aratinga tinha era o término da Rota do Sol. Era um sinal de sol para as famílias, os moradores e os comerciantes – lembra.
Ao longo dos anos, enquanto o asfalto se aproximava a passos lentos, Eronilda mantinha a expectativa pelo dia em que o progresso chegaria aos moradores da região, apesar da descrença de algumas pessoas. Quando as obras, já em fase final, interromperam completamente o fluxo da estrada de chão, a comerciante se mobilizou para reverter a situação. Ela buscou orientações e criou a Associação de Moradores de Aratinga. O esforço resultou em duas audiências com a então governadora Yeda Crusius e a liberação do tráfego em determinados horários.
– As empreiteiras diziam que o contrato tinha cláusulas para interromper o trânsito até o término da Rota do Sol. Mas morávamos aqui e víamos que a estrada tinha condições, não digo 24 horas, mas em alguns horários – conta.
Na medida em que a estrada tomava forma, Eronilda viu o restaurante Sombra Nativa crescer e se tornar um dos principais pontos de parada dos motoristas que sobem ou descem a Serra. As 10 mesas iniciais agora são 40. No entorno, os três comércios da época em que a estrada estava inacabada agora são ladeados por vários estabelecimentos. Ao longo do caminho até o Litoral Norte, muitos empreendedores também abriram restaurantes para aproveitar o movimento que a Rota proporcionou.
A estrada asfaltada, porém, não encerrou o sonho da comerciante de ver condições para um desenvolvimento cada vez maior de Aratinga pelo caminho da Rota do Sol. Após o recapeamento da rodovia entre Caxias do Sul e Tainhas, que praticamente eliminou os buracos, a busca agora é pela instalação de um posto do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) e pela duplicação da estrada. Preocupação natural para quem enxerga a rodovia como se fosse alguém da família.
– Há 10 anos, temos uma grande vitória. É uma filha ou um filho, que você viu nascer, se criar. A Rota do Sol está na adolescência – comemora.
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