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O caminho é o principal atrativo

Pequeninas flores amarelas formam um tapete espalhado pelo acostamento, principalmente no trecho entre os distritos de Lajeado Grande e Tainhas, em São Francisco de Paula.

Texto
Raquel Fronza
raquel.fronza@pioneiro.com


André Fiedler
andre.fielder@rdgaucha.com.br

Infografia e diagramação
Márcia Dorigatti
marcia.dorigatti@pioneiro.com

Fotos
Roni Rigon
roni.rigon@pioneiro.com
Porthus Junior
porthus.junior@pioneiro.com

A moldura natural que acompanha a Rota do Sol desde a Serra até o mar é de encher os olhos. Desde que riachos e penhascos deixaram de ser obstáculos – e que os montes foram contornados pelos túneis –, o passeio se tornou mais tranquilo, seguro e inegavelmente mais bonito. E, especialmente na primavera, um detalhe torna o trajeto ainda mais agradável e colorido: pequeninas flores amarelas formam um tapete espalhado pelo acostamento, principalmente no trecho entre os distritos de Lajeado Grande e Tainhas, em São Francisco de Paula.

O plantio das flores envolve um casal que se representa bem o povo da Serra que, de fato, gosta e cuida da rodovia como se ela fosse uma extensão da sua rua.

– Meu marido sempre foi muito apaixonado por ecologia, meio ambiente. Então, quis fazer algo pela Rota do Sol também – conta a professora aposentada Francisca Loiva Cardoso dos Reis, 78 anos.

E lá se vão 21 anos desde que Loiva e o marido, Evilázio Machado dos Reis, passaram a carregar sacos de sementes no carro e percorrer a rodovia aos finais de semana. Loiva pilotava uma Variant branca e o marido, também professor aposentado, seguia na carona. Enquanto ela conduzia o carro devagarinho, ele se apoiava na janela e espalhava sementes das margaridinhas amarelas.

– Eu dizia a ele: “isso aqui não vai pegar, imagina!” E ele dizia: “vai sim, tu vai ver como vai”. E não é que funcionou?– diverte-se.

O ano era 1996, e a estrada de chão batido e as péssimas condições de tráfego em nada diminuíam o apreço do casal pela Rota do Sol. Eles moravam em Caxias do Sul e mantinham parte da família no interior de Cazuza Ferreira, em São Francisco de Paula, onde Loiva vive hoje. Seu Evilázio, que chegou a ser vereador e vice-diretor do Instituto de Educação Cristóvão de Mendonza, morreu em 2008. Em defesa das flores, até travou briga com engenheiros do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer/RS), que podavam a vegetação às margens da rodovia. Evilázio sentia o seu trabalho ser desprezado a cada vez que percorria a rodovia e não enxergava mais o colorido amarelo. Era então hora de agir.

– Ele pegava os netos e voltava para a Rota e plantava tudo de novo – revela Loiva.

A aposentada hoje só troca a tranquilidade de Cazuza Ferreira para fazer visitas esporádicas aos filhos e netos em Caxias. É quando revê, de pertinho, o resultado do plantio que fez ao lado do marido. E a Rota do Sol, por ora, segue ligando Loiva à família e ao passado:

– Não tem uma vez que eu passe ali que não lembre dele. Fica a recordação. 


Em meados da década de 1990, casal passeava
pela Rota e semeava flores para deixar a estrada
mais bonita e colorida

Mobirise

Da aventura ao sossego

Nem as péssimas condições da Rota do Sol antes da pavimentação desanimavam dona Terezinha, 68 anos, e o marido, Antônio Saul Benedetti, 70. Na semana que antecedia o Natal, os caxienses se preparavam para mais uma estada no litoral. A casa que eles mantém há 28 anos em Curumim é visitada quinzenalmente. Mas eles contam que não se deslocavam até a praia só para abrir a casa.

– A gente dizia: vamos fazer uma aventura? Vamos! Então saíamos no sábado de manhã cedo e passávamos o dia todo na Rota do Sol. Era comum ficar atolado quando chovia, pneus furarem – lembra Benedetti.

– Quando chovia dava um trabalho horrível. E quando furava o pneu, tínhamos que esperar carona. Uma vez ficamos empenhados à noite, quando uma ponte quebrou – lembra Terezinha.

Mesmo aproveitando hoje as melhorias da rodovia, o casal garante que nunca viu as dificuldades na estrada como um fator negativo. Terezinha e Benedetti gostam tanto da Rota do Sol que, em uma das paradas para tomar um café, decidiram eternizar o momento. Eles cederam à proposta do fotógrafo Odilar Zanrosso e fizeram uma foto no mirante de um restaurante no km 4 da ERS-486.

O registro estampou o calendário que Terezinha e Antônio levaram para casa por R$ 20. Ao lado do letreiro “Eu amo a Serra Gaúcha”, o fotógrafo chega a fazer mais de 100 calendários por dia quando há bastante movimento. 

Curiosidades


A flor que enfeita as margens da Rota do Sol é conhecida como coreópsis ou margaridinha-amarela. Pertencente à espécie Coreopsis lanceolata, tem ramagem densa, com folhas espessas e lanceoladas (em formato de lança). As flores são pequenas e as pétalas são largas e com bordas denteadas. A floração se estende por todo o ano, em climas quentes, mas é mais abundante no verão (Fontes: Jardineiro.net e Belli Plantas)

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