A moldura natural que acompanha a Rota do Sol desde a Serra até o mar é de encher os olhos. Desde que riachos e penhascos deixaram de ser obstáculos – e que os montes foram contornados pelos túneis –, o passeio se tornou mais tranquilo, seguro e inegavelmente mais bonito. E, especialmente na primavera, um detalhe torna o trajeto ainda mais agradável e colorido: pequeninas flores amarelas formam um tapete espalhado pelo acostamento, principalmente no trecho entre os distritos de Lajeado Grande e Tainhas, em São Francisco de Paula.
O plantio das flores envolve um casal que se representa bem o povo da Serra que, de fato, gosta e cuida da rodovia como se ela fosse uma extensão da sua rua.
– Meu marido sempre foi muito apaixonado por ecologia, meio ambiente. Então, quis fazer algo pela Rota do Sol também – conta a professora aposentada Francisca Loiva Cardoso dos Reis, 78 anos.
E lá se vão 21 anos desde que Loiva e o marido, Evilázio Machado dos Reis, passaram a carregar sacos de sementes no carro e percorrer a rodovia aos finais de semana. Loiva pilotava uma Variant branca e o marido, também professor aposentado, seguia na carona. Enquanto ela conduzia o carro devagarinho, ele se apoiava na janela e espalhava sementes das margaridinhas amarelas.
– Eu dizia a ele: “isso aqui não vai pegar, imagina!” E ele dizia: “vai sim, tu vai ver como vai”. E não é que funcionou?– diverte-se.
O ano era 1996, e a estrada de chão batido e as péssimas condições de tráfego em nada diminuíam o apreço do casal pela Rota do Sol. Eles moravam em Caxias do Sul e mantinham parte da família no interior de Cazuza Ferreira, em São Francisco de Paula, onde Loiva vive hoje. Seu Evilázio, que chegou a ser vereador e vice-diretor do Instituto de Educação Cristóvão de Mendonza, morreu em 2008. Em defesa das flores, até travou briga com engenheiros do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer/RS), que podavam a vegetação às margens da rodovia. Evilázio sentia o seu trabalho ser desprezado a cada vez que percorria a rodovia e não enxergava mais o colorido amarelo. Era então hora de agir.
– Ele pegava os netos e voltava para a Rota e plantava tudo de novo – revela Loiva.
A aposentada hoje só troca a tranquilidade de Cazuza Ferreira para fazer visitas esporádicas aos filhos e netos em Caxias. É quando revê, de pertinho, o resultado do plantio que fez ao lado do marido. E a Rota do Sol, por ora, segue ligando Loiva à família e ao passado:
– Não tem uma vez que eu passe ali que não lembre dele. Fica a recordação.
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