DNA ela tem. Força de vontade também. Atributos não faltam para Ana Klaus, natural de Dois Irmãos e moradora de Farroupilha. O cartão de visitas é autoexplicativo. A lateral-direita do Brasil de Farroupilha é prima do zagueiro Willian Klaus, ex-Juventude e que hoje atua pelo Inter.
Os pais de Ana e Klaus são irmãos, mas os caminhos, apesar do mesmo esporte, são completamente distintos. A única semelhança é que a jogadora deixou de ser zagueira para atuar do lado do campo. Muito em virtude dos 1m67cm de altura, estatura baixa para o centro da defesa, mesmo no futebol feminino. Ela garante, porém, que o principal motivo está nas suas características: “veloz e de bom preparo físico”.
Aos 37 anos, Ana é a capitã e camisa 2 do time feminino da equipe farroupilhense, que estreou nesta temporada no Campeonato Gaúcho e está nas semifinais da competição, quando vai encarar o Inter. O campeonato reuniu 10 clubes e a jogadora é a mais velha da única equipe na disputa.
– Me sinto muito responsável, principalmente porque são muitas meninas mais jovens e elas olham para a gente como espelho. Precisamos manter o foco e a disciplina nos treinos e fora deles também. É uma reponsabilidade grande. Pretendo jogar até quando conseguir. Cuido da minha alimentação, busco sempre evitar lesões – resume, ao garantir que não pretende pendurar as chuteiras tão cedo.
Ana mora em Farroupilha desde 2010, mas não foi o futebol que a fez deixar a cidade dos pais Arsênio e Marlene Klaus. Ela é formada em Processos Gerenciais e trabalha diariamente como líder técnica na Grendene. É justamente essa liderança que ela tenta transportar também para os gramados.
– Pratiquei vôlei por um tempo, mas gostei mesmo do futebol porque é uma paixão, me adaptei melhor. Adoro estar em campo. Nos times que participei sempre tento ajudar a organizar as coisas. Acho que manter o time, reunir o pessoal para jogar já é um grande desafio. Isso é o que me motiva – conta.
ADRIANO PADILHA, BRASIL-FA, DIVULGAÇÃO
Time feminino do Brasil-Fa faz bonito e está entre os quatro melhores
na sua primeira participação no Gauchão
A rotina de treinos não é tão intensa. Ao menos junto da equipe. As meninas do time farroupilhense treinam uma vez por semana, às quartas-feiras, nas Castanheiras. Fora isso, Ana garante que têm todos os cuidados necessários para se manter em atividade.
– Eu cuido da minha alimentação. Fora do horário de trabalho, sempre me dediquei ao esporte. Faço cross fit, participo da equipe de atletismo da empresa. Nossos treinos nem sempre contam com todas, mas todas se preparam fisicamente fora do clube – explica.
Ana chegou ao Brasil por acaso. Apesar de sempre ter disputado competições de futebol em todas as categorias, participar do Gauchão Feminino é o seu maior desafio como atleta. E tudo começou por incentivo da amiga Marluci Araldi. A zagueira de 30 anos é uma das organizadoras da equipe e só perdeu a braçadeira de capitã por ter sofrido lesão e passado por cirurgia no ligamento cruzado há alguns meses.
– Na verdade ela não queria jogar campo, pois já tinha muitos compromissos, e como nossos treinos eram no domingo ficava ruim para ela, que não é de Farroupilha. Num final de semana ela ficou aqui e eu a convenci de ir assistir a um treino nosso e levei uma chuteira extra. Quando chegou, pedi para ela treinar. Acabou gostando e resolveu jogar conosco – conta Marluci, que está perto de retornar aos treinamentos e “roubar” novamente a faixa de capitã da amiga.
Apesar das dificuldades de ser atleta no interior e, sobretudo, com investimentos infinitamente menores ao do futebol masculino, o tom não é de reclamação. Tanto Ana quanto Marluci acreditam que o cenário tende a mudar, na medida que mais mulheres se interessem pela prática da modalidade.
– Acho que o futebol, por muito tempo, não teve espaço para mulheres, assim como no mercado de trabalho. A passos lentos se caminha para, primeiro se profissionalizar, depois dar continuidade – projeta Ana Klaus.
Do número escasso de meninas para formar um time até atuar com uma camisa como a do Brasil-Fa e enfrentar o Inter nas semifinais do Estadual, talvez a maior conquista de Ana tenha sido vencer a balança. Em um ano, a lateral perdeu 24kg até chegar nos 73kg atuais.
– Foi há três anos. Estava quase na obesidade. Isso me assustou. Comecei a fazer mais atividades físicas porque tinha muitas lesões por causa do peso. Fui numa nutricionista e foquei para aparecerem resultados. Sem meta. Fiz uma reeducação e isso muda tudo o que você fez uma vida inteira. Os resultados apareceram porque em nenhum momento eu desisti. Isso me ajudou não só na saúde, mas também no meu trabalho porque passei a ter mais disposição para tudo, do lazer ao trabalho – relembra a atleta, que serve de exemplo para as demais colegas de jogos no Estádio das Castanheiras.
Texto
Renan Silveira
renan.silveira@pioneiro.com
Design
Andressa Paulino
andressa.paulino@pioneiro.com
Fotos
Felipe Nyland
felipe.nyland@pioneiro.com
Esporte anterior: Skate
Esporte de hoje: Futebol Feminino
Próxima Semana: BMX Freestyle
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