Para muitos, uma opção de lazer. Para outros tantos, uma terapia. Para Alexon Piccolin, uma forma diferente de ver a vida. Aos 42 anos, o morador de Caxias do Sul é técnico e paratleta do tênis de mesa. Foi por meio dele que vieram suas principais vitórias. E não só na modalidade.
Alexon Chilis Piccolin é natural de Passo Fundo, mas adotou o solo caxiense como casa em 2000. Foi em 2010, no entanto, que a raquete e a bolinha pequena passaram a fazer parte efetiva da sua rotina.
– Tive uma experiência em 2008 com o tênis de mesa. Mas só dois anos depois que decidi ser atleta. Tinha uma mesa na empresa em que eu trabalhava e nos intervalos jogávamos entre os funcionários, como uma forma de lazer. Ali eu comecei a gostar. Um dia, um colega de trabalho me fez um elogio e aquilo me marcou muito, porque ele já jogava. Tive o interesse a partir dali em jogar de verdade – recorda o paratleta.
Antes dos primeiros saques, a convivência de Piccolin foi com outros esportes. Ele treinou taekwondo, canoagem, basquete em cadeira de rodas, muay thai e até boxe. Entretanto, nenhum deles trouxe o que mais procurava: a igualdade.
– Não importava minha classe social e o fato de eu ser deficiente. Eu jogava de maneira igual com quem não tem deficiências. Ganhava ou perdia, mas sempre era competitivo. Isso que diferenciava das outras modalidades e me trazia a satisfação de poder sentir prazer no esporte. Não me sentia inferior – conta o jogador.
Essa sensação o fez arriscar tudo. Logo após decidir levar o esporte como seu objetivo de vida, Piccolin participou da sua primeira competição nacional, em 2010, no Rio de Janeiro. Depois disso, ele não parou mais.
O mesatenista tem paralisia cerebral hemiparética desde o primeiro ano de vida. Isso afetou seus membros superiores e inferiores do lado direito.
No tênis de mesa, ele compete na classe 8. As classes de 1 a 5 são para cadeirantes, de 6 a 10 para andantes e 11 para quem tem déficit cognitivo. Esta, exclusiva para o tênis de mesa. Quanto maior a lesão, menor a classe.
Alexon Chilis Piccolin (D) é treinador de um grupo de quase
40 mesatenistas de 8 a 60 anos de idade
Alexon Piccolin é técnico da equipe Tinoco Esportes. Além disso, trabalha como auxiliar administrativo na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ele é formado como técnico em segurança do trabalho e também é acadêmico de educação física.
– Não é fácil, tenho uma filha pequena, mas já faço isso há um bom tempo. Nos reunimos aqui na Tinoco Esportes para os treinos, às 19h, nas terças e quintas. Depois, das 21h às 22h, eu faço o meu trabalho para competir, com algum dos nossos atletas. Treino também nos sábados à tarde, das 14h às 17h. Além disso, dou aulas de graça para projetos em parceria com algumas escolas – conta o mesatenista que é casado com Janaína da Costa Castelo Branco e pai da pequena Sofia da Costa Piccolin, de dois anos.
A equipe iniciou em 2010 e reúne cerca de 40 pessoas, mas nem todos participam de competições. Nos últimos quatro anos, a Tinoco Esportes teve pelo menos um representante entre os finalistas do Top 16 gaúcho. Além de Piccolin, os destaques são Sabrina Moschen, Ruan Necker e Eduardo Xavier.
Atualmente, o mesatenista é o segundo colocado no ranking nacional de sua categoria de atletas. No momento, se prepara para a seletiva do Parapan-americano, que será disputado no Peru, em 2019.
– Como atleta, estou no momento mais importante da minha carreira. Estou na eminência de conseguir uma vaga na seletiva de São Paulo. Meu sonho mais próximo é essa vaga no Parapan. Também irei em dezembro para a Costa Rica, buscando mais uma medalha internacional. São sonhos próximos, tangíveis – projeta Piccolin.
Ao todo, são 17 medalhas em circuitos da Copa Brasil. Mas a principal conquista veio no Chile, quando foi campeão por equipes de uma competição mundial.
Piccolin superou as limitações de uma paralisia cerebral com
a raquete e a bolinha
Se como jogador os sonhos são pensados a curto prazo, como treinador os anseios de Alexon Piccolin se amplificam e giram em torno da propagação da modalidade em Caxias do Sul:
– Como técnico e acadêmico de educação física, meu sonho é de que mais alunos possam ter o privilégio de jogar em grandes competições. Além disso, conseguir levar para escolas e comunidades o tênis de mesa de uma forma menos burocrática. Nem tudo é competição. O mais importante para mim é poder ver meus alunos felizes.
Além de jogar, treinar e até ter cursos para ser árbitro de tênis de mesa, Piccolin é um estudioso da modalidade. Basta conversar alguns segundos com o paradesportista que se nota o brilho no olho ao falar de sua história com o esporte.
– O tênis de mesa representa o prazer de viver. Por muitos momentos é ele que me sustenta, emocionalmente falando. Tenho as derrotas no jogo, mas quando vejo uma criança querendo aprender, quando olho para um pai, uma mãe que vem me agradecer ou até fazer uma crítica, vejo que o esporte é importante. Eu sei quanto eu gasto com essa modalidade. Mas eu não consigo mensurar o quão prazeroso e tudo o que ganho com ele. O tênis de mesa é tudo – resume Piccolin, que também diferencia a modalidade da competição com a recreação:
– O tênis de mesa iniciou como lazer e sofreu mudanças ao longo dos anos. Ainda se fala em pingue-pongue, mas sempre com a conotação de diversão. Como modalidade esportiva, a única semelhança do pingue-pongue e o tênis de mesa, é a bolinha. O resto é tudo diferente (as raquetes também alteram no seu material).
Texto
Renan Silveira
renan.silveira@pioneiro.com
Design
Andressa Paulino
andressa.paulino@pioneiro.com
Fotos
Felipe Nyland
felipe.nyland@pioneiro.com
Ilustrações
Rodolfo Guimaraes
rodolfo.guimaraes@pioneiro.com
Esporte anterior: Hóquei
Esporte de hoje: Tênis de Mesa
Próxima Semana: Rugbi
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