Prefeitura de Farroupilha substituirá
festa dedicada ao kiwi por um novo
evento a partir de 2018

A última
Fenakiwi

Publicado em 5 de julho de 2017

TEXTOS
Fernando Soares
fernando.soares@pioneiro.com

IMAGENS
Diogo Sallaberry
diogo.sallaberr@pioneiro.com

INFOGRAFIA
Andressa Oestreich
Guilherme Ferrari

Em meio ao contexto de dificuldades enfrentado pelos produtores de kiwi em Farroupilha, uma das principais vitrines da produção local se despedirá do público em 2017. A Festa Nacional do Kiwi (Fenakiwi) chegará a sua 22ª e derradeira edição. O evento, que será realizado entre 20 de julho e 6 de agosto, será o último com este formato. A ideia da prefeitura é, a partir do próximo ano, começar a fazer uma festa multissetorial, ainda sem detalhes definidos.

Além da perda de pomares nos últimos anos, outros fatores pesaram para a decisão de dar ponto final à Fenakiwi. Entre eles, o fortalecimento da uva moscatel e a própria diversificação do perfil da economia da cidade, que passou a contar com uma série de indústrias nas últimas décadas. Ainda, a cereja no bolo foi a perda do título de capital brasileira do kiwi. Farroupilha ficou para trás e, agora, a dona desse título é Campo Belo do Sul, em Santa Catarina.

— Enquanto a doença diminuiu a produção de kiwi, tivemos um crescimento muito grande na uva. Hoje somos o maior produtor de uva moscatel do Brasil. O nosso negócio, em termos de agricultura, mais do que nunca é a uva. Como o kiwi perdeu esse espaço, achamos que é hora de dar à uva essa grandeza de novo – aponta Claiton Gonçalves, prefeito de Farroupilha.

A nova feira, segundo o gestor, não está formatada, mas tende a ser uma espécie de mostruário da produção de Farroupilha, incluindo desde as frutas até os artigos industriais. Nesta nova estrutura, o kiwi deverá ter seu espaço, apenas não será mais o protagonista.

O presidente da Fenakiwi e secretário de Turismo de Farroupilha, Francis Casali, vê a edição deste ano da feira como uma transição para outro modelo. Na Fenakiwi 2017, a expectativa é superar a marca de 80 mil visitantes, atingida na edição passada. O dirigente não acredita que a cidade sairá prejudicada pela troca do perfil de evento municipal.

— Vai se começar do zero (a nova festa), mas é uma oportunidade para desenvolver um novo produto. A Fenakiwi também começou do zero. Não temos medo de criar algo novo – menciona Casali.

Responsável por trazer algumas das primeiras mudas de kiwi para Farroupilha e ajudar os produtores a introduzirem a cultura no município, o engenheiro agrônomo Gervásio Silvestrin lamenta o fim da festa. O proprietário da Silvestrin Frutas acredita que o estudo liderado pela Embrapa Uva e Vinho encontrará a cura para o fungo que mata os pomares.

Silvestrin aposta que a retomada da produção no município ocorrerá a partir do desenvolvimento de mudas sadias, algo previsto na pesquisa. Há a perspectiva, inclusive, de criação de sementes de tipos de kiwi ainda não cultivados na cidade, como o de polpa avermelhada.

O início da produção

A história do plantio de kiwi em Farroupilha está entrelaçada com a da feira, cuja primeira edição ocorreu em 1991. Poucos anos antes do surgimento da festa, no final dos anos 1980, que as primeiras mudas da fruta chegaram ao município. Naquela época, a uva enfrentava dificuldades na cidade, o que estimulou a busca por uma alternativa mais rentável.

Em 1986, o então secretário municipal de Trabalho e vice-prefeito, Clóvis Zanfeliz (PMDB), descobriu um viveirista local que trabalhava com diferentes tipos de frutas. Ele havia trazido quatro mudas de kiwi de São Paulo e as plantou. Três mudas vingaram, mas estranhamente o pomar não dava frutos. Só depois se descobriu que as plantas vivas eram todas fêmeas. Era preciso também a planta macho para realizar a polinização e, assim, obter o resultado esperado.

— Descobrimos um japonês em Novo Hamburgo que tinha a flor macho e enviei o agrônomo da prefeitura até lá para consegui-la. No outro dia, passamos a manhã inteira polinizando as flores. Nunca se deu tanta fruta – recorda Zanfeliz.

Vendo que o kiwi poderia dar certo na cidade, em 1987 a prefeitura organizou uma excursão de Farroupilha até o Chile, um dos maiores produtores mundiais de kiwi, com a finalidade de conhecer mais detalhes sobre o plantio. A comitiva incluiu cerca de 30 pessoas, entre produtores locais e funcionários da administração pública.

Naquele momento agrônomo da prefeitura, Gervásio Silvestrin era um dos integrantes do grupo. Silvestrin veio com uma série de livros sobre a cultura, muniu-se de informações com agricultores chilenos e trouxe diversas mudas na bagagem. A escolha pelo kiwi como alternativa para a economia farroupilhense não foi por acaso.

— A origem do kiwi é de uma região da China muito úmida. A fruta precisa de frio no inverno e se adapta bem à umidade. Com a uva temos problemas em anos mais chuvosos e o kiwi não tem muito problema. O kiwi se adapta melhor até que a própria videira no nosso clima – constata Silvestrin.

As primeiras toneladas de kiwis farroupilhenses começaram a ser colhidas em 1989, mesmo ano em que Zanfeliz assumiu o cargo de prefeito de Farroupilha. A partir daí, veio a ideia de criar uma festa voltada a essa variedade. O ex-prefeito lembra que a empolgação com a fruta era tanta, que o evento foi criado antes mesmo de haver uma produção significativa. Na edição de inauguração, em 1991, quase todo o kiwi era importado. Hoje, Zanfeliz critica o fim da Fenakiwi.

— Não vejo motivo (para terminar). É como se Caxias acabasse com a Festa da Uva e criasse a Festa da Maçã. Com outra nomenclatura, o evento perde sentido e toda sua história.

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