+terceira idade
FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Se todas as 174,3 mil pessoas com mais de 60 anos da Serra morassem em única cidade, elas formariam a 13ª maior localidade do Rio Grande do Sul. Hoje, esse contingente representa 15% de toda a população em 49 municípios serranos, mas a proporção vem crescendo e deve seguir em alta nos próximos anos. Segundo estimativa da Fundação de Economia e Estatística (FEE), a região deverá contar com 274,6 mil idosos até 2030. Por isso, a chamada terceira idade desperta cada vez mais a atenção das empresas, o que começa a se refletir na oferta de produtos e serviços no mercado.
O envelhecimento da população é uma tendência não só na Serra, mas no Rio Grande do Sul e no Brasil. O coordenador do núcleo de Demografia e Previdência da FEE, Pedro Zuanazzi, explica que esse cenário ocorre por conta da combinação entre a redução da taxa de natalidade e o aumento na expectativa de vida, atualmente de 77,2 anos no Estado.
– A partir de agora, o Estado e o Brasil começam a ter redução na população economicamente ativa. Existe uma transição demográfica que gera impactos diretos, tanto do ponto de vista das empresas, como do consumidor – classifica Zuanazzi.
No caso da Serra, uma das principais características da população é a baixa taxa de fecundidade, cuja média é de 1,5 filho por mulher. É o índice mais baixo do Estado, que já fica abaixo de 2 filhos por casal. Para efeito de comparação, na década de 1940, a média era de 5 filhos por família gaúcha. Conforme Zuanazzi, a região serrana só não tem um percentual de idosos maior porque é uma das que tem maior fluxo de migração no Estado, o que acaba compensando o número reduzido de nascimentos.
O consumidor acima de 60 se transformou muito nas últimas décadas e atualmente é um público muito ativo. Essa é a percepção do fundador do SeniorLab, Martin Henkel, consultor especializado neste segmento. O dirigente ainda constata que o poderio financeiro dos idosos é elevado. No Rio Grande do Sul, a renda total dessa camada da população é de R$ 48,2 bilhões ao ano. Somente em Caxias do Sul, é de R$ 1,55 bilhão.
– Esse público sempre foi bastante excluído dos planos de marketing e negócios das marcas. As empresas ainda não percebem esse consumidor como diferente. A linguagem e a comunicação geralmente tenta se aproximar com a Geração Y (nascidos a partir de 1980) – constata Henkel.
Aos poucos, porém, as empresas começam a despertar para esse nicho. Na visão de Henkel, o mercado tende a amadurecer nos próximos anos, conforme a mudança na pirâmide demográfica se acentue. Neste sentido, o consultor menciona que o Rio Grande do Sul está prestes a viver um momento histórico. No segundo semestre de 2018, as projeções indicam que, pela primeira vez, a população de mulheres de 60 a 64 anos será superior à de 0 a 4 anos.
A mudança demográfica motivou a Merkator a organizar uma feira voltada para produtos e serviços da terceira idade. Em setembro de 2018, ocorrerá a primeira edição da Gerontofair, em Gramado. Em um primeiro momento, deverá ser um evento de empresa para empresa, mas a perspectiva é de que, no futuro, seja aberto ao público.
– Terá empresas que vendem produtos para hospitais, casas geriátricas, farmácias, laboratórios, entre outros – explica Nice Barcelos, diretora-comercial da Merkator e promotora da Gerontofair.
Até o momento, 15 empresas confirmaram presença e outras 30 estão em negociações para expor na Gerontofair.
Entre 2006 e 2016, a população total do RS cresceu 5%, enquanto a população acima de 60 anos aumentou 41%.
Entre 2006 e 2016, a população total da Serra cresceu 13%, enquanto a população acima de 60 anos aumentou 51%
Felipe Nyland
conectada Marilene (esq) recorreu a Ana Carolina (dir) para aprender a se comunicar com os seus amigos e familiares
Foi em um momento de dificuldade, quando estava desempregada, que a jornalista Ana Carolina Sirtori descobriu que tinha vocação para outra atividade.
De tanto ensinar os pais a configurar o celular ou a mexer nas redes sociais, conseguindo transmitir as instruções de maneira didática, ouviu uma sugestão: por que não dar aulas para outras pessoas e fazer disso um negócio? Assim nasceu, no ano passado, a Sperto, empresa de Flores da Cunha voltada à inclusão digital da terceira idade.
A professora atende em Flores e Caxias do Sul e cobra entre R$ 50 e R$ 70 por aula, dependendo da distância do deslocamento. Os conteúdos são personalizados, conforme a necessidade do aluno.
Desta maneira, nas aulas é possível aprender como utilizar redes sociais, fazer fotos com o celular ou mexer em programas como Word e Excel, por exemplo.
Em pouco mais de um ano de Sperto, Ana Carolina nota um crescimento na demanda pelo serviço. Em dezembro, a agenda conta com cinco alunos fixos. Ela explica que o segredo é ter paciência e ir passando os conteúdos aos poucos para os idosos. Por isso, cada aula tem duração de uma hora e 30 minutos e, geralmente, é realizada uma vez por semana. Além disso, são passadas algumas tarefas extraclasse, para que a matéria seja assimilada.
– Antes, a avó tinha que ficar em casa fazendo grôstoli. Agora não. Ela pode ir ao parque com os netos e tirar fotos ou então acompanhar o que eles postam nas redes – constata Ana Carolina.
A cabeleireira Marilene Sgarioni, de 74 anos, é uma das alunas mais aplicadas. Em pouco mais de cinco meses, já aprendeu a utilizar o smartphone. Agora, participa de diversos grupos de Whatsapp com amigos e troca mensagens diariamente com a família.
– Eu descobri um mundo novo – resume.
Marilene diz que resolveu fazer as aulas após a insistência de suas netas. Elas argumentavam que a avó acabava ficando excluída das conversas por não saber se comunicar pelo smartphone. A partir de então, a cabeleireira buscou o auxílio de Ana Carolina para aprender.
Aos poucos, a cabeleireira vai assimilando os recursos do celular. Recentemente, começou a fazer fotos com a câmara do aparelho. Agora, a meta é aperfeiçoar as suas selfies.
Cada vez que a mãe de Ana Carolina aprendia algo no celular, dizia para a filha que tinha “ficado esperta”. Daí veio o nome do negócio.
É no setor da saúde que geralmente os idosos costumam gastar a maior parte de sua renda. No entanto, não é só com compra de remédios e consultas médicas que esse público abre a carteira.
Atividades físicas e a realização de cursos também estão entre as opções escolhidas para cuidar do corpo e da mente. Na Universidade de Caxias do Sul (UCS), o programa UCS Sênior oferta uma série de atrações nestes eixos.
O coordenador do UCS Sênior, Delcio Agliardi, explica que mais de 50 atividades estão dividas em três eixos: envelhecimento ativo, linguagens e filosofia de vida. Neste sentido, são oferecidas aulas de floricultura, ginástica, musculação, artes cênicas, dança e idiomas, além de encontros para abordar temas como espiritualidade e memória.
Entretanto, as turmas com mais alunos, segundo Agliardi, são as de hidroginástica e de tecnologia, na qual os idosos aprendem a utilizar computadores, smartphones e outros aparelhos.
– O programa existe há 26 anos e foi criado justamente com a ideia de preparar a pessoa para o envelhecimento. A pirâmide demográfica era puxada por crianças e jovens até então e agora vem se modificando. Logo adiante, será invertida – constata Agliardi.
Atualmente, mais de 1,6 mil alunos estão matriculados no programa. A maior parte deles, 1,1 mil, frequenta o campus de Caxias do Sul, mas também há atividades nas unidades de Canela, Farroupilha, São Sebastião do Caí e Vacaria. O valor da matrícula varia de R$ 36 a R$ 130, dependendo da aula escolhida. Algumas das atividades são oferecidas gratuitamente.
Segundo o SeniorLab, 15% da população acima de 60 anos está no Facebook e 63% possuem smartphones
Em movimento UCS Sênior oferece mais de 50 atividades para a terceira idade
passeio Maioria do grupo que foi ao Egito tinha mais de 60 anos
O turismo desponta como um dos segmentos mais demandados pela terceira idade. O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no Rio Grande do Sul (Abav-RS), João Machado, aponta que as pessoas acima de 60 anos respondem por grande parte da demanda nas empresas do segmento. Em muitas agências, são os idosos que lideram a busca por pacotes dentro e fora do país.
– É um público que, muitas vezes, não é familiarizado com a internet. Por isso, acaba precisando da agência para marcar a viagem. Há um mercado muito grande para esse público acima de 60 anos – aponta Machado.
Na Viaggiotur, agência com sede em Carlos Barbosa e filial em Garibaldi, esse nicho já representa em torno de 75% das vendas de pacotes no ano. A diretora-administrativa da empresa, Nadir Basseggio, explica que 40% do faturamento total vêm dos consumidores acima dos 60 anos. O restante da receita é oriundo, principalmente, do turismo corporativo.
– Melhorou muito a procura nos últimos anos. Antes, a terceira idade não viajava. Hoje tem levado uma vida muito saudável, estão sempre dispostos e participativos. Então a terceira idade se tornou o grande filão para o turismo – classifica Nadir, que também acompanha os passeios.
Entre os roteiros mais procurados na Viaggiotur estão viagens para águas termais, shows no centro do país e destinos internacionais, como Itália, Egito e Terra Santa (Israel, Palestina e Jordânia). Os passeios são abertos a todos os públicos, mas geralmente os idosos ocupam a maior parte das vagas.
Nestes dois anos, gostaria que nossa gestão fosse lembrada pelo que julgamos ter sido o passo inicial de uma longa caminhada por Caxias
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