+MERCADO DE CAPITAIS
FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Conjuntura Para Teixeira, melhora da economia pesa na bolsa
Após passar por temporadas de instabilidade, a Bolsa de Valores de São Paulo vive um ano de bonança. O Ibovespa, índice que monitora o desempenho das principais ações negociadas, chegou a bater recorde em outubro, quando tocou a marca de 78 mil pontos. E as empresas da Serra com capital aberto estão pegando carona no bom momento. Seis das sete companhias da região presentes no mercado de capitais viram seus papéis se valorizarem desde o início do ano.
A serrana com maior valorização entre janeiro e novembro é a Randon Implementos, com alta de 101% no preço na ação. Ao longo do ano, também operam com incremento expressivo Pettenati (82%), Grendene (62%), Marcopolo (41%) e Fras-le (35%). Já a Unicasa apresenta uma variação positiva mais modesta, de 4%. A única com resultado negativo, com queda de 23%, é a Lupatech, companhia que há algum tempo vive situação delicada.
O sócio-diretor da Messem Investimentos em Caxias do Sul, William Teixeira, aponta que o bom momento da bolsa está calcado na melhora de uma série de indicadores econômicos do Brasil, que sinalizam o final do período de recessão. A expectativa de uma variação positiva, ainda que baixa, no Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, a queda da inflação e a redução dos juros são aspectos que pesam neste sentido.
Além disso, o mercado financeiro simpatiza com as reformas conduzidas pelo governo federal, como a já aprovada Trabalhista e a da Previdência, que está na pauta. Por conta desse cenário e da projeção de um bom 2018 na economia, a movimentação da B3 deslanchou principalmente no segundo semestre deste ano.
– O movimento de alta nos últimos 90 dias é por conta de uma perspectiva de que 2018 será um ano melhor – aponta Teixeira.
No caso das empresas da Serra, outro fator que ajuda a compreender o resultado das ações é o setor em que elas atuam. A maioria está situada na indústria, segmento que sofreu fortemente na crise, mas que é um dos primeiros a dar sinais de reação em 2017. Isso torna os papéis do ramo industrial atrativos para os investidores.
A Serra é a segunda região do Rio Grande do Sul com mais companhias na B3 (nome da bolsa após a fusão entre BM&F Bovespa e Cetip), perdendo apenas para a área metropolitana de Porto Alegre. Ao todo, o Estado conta com 31 ações disponíveis.
Eleições influenciam rumos
Para o próximo ano, um fator pode ser decisivo para o desempenho do mercado: o resultado da eleição presidencial de 2018. As próprias empresas devem adotar uma postura cautelosa até lá, seja com relação a investimentos internos ou oferta de ações no mercado.
– Conversando com (diretores de) várias empresas, nenhuma está pensando em se comprometer para o ano que vem, devido à instabilidade política. As empresas estão esperando passar as eleições – acredita Alexandre Wolwacz, sócio-fundador do Grupo L&S, que agrupa diferentes empresas na área de investimentos.
O assessor da Monte Bravo Investimentos Bruno Madruga endossa essa análise e acredita que virá pela frente um ano de altos e baixos no mercado, em função do pleito.
– O sobe e desce deve ser bem forte. E isso deixa as empresas, incluindo as da Serra, sujeitas a oscilações – sinaliza Madruga.
A maior valorização entre ações da Serra, em 2017 é da Randon. A fabricante de implementos rodoviários e vagões ferroviários enfrentou anos difíceis entre 2013 e 2015 e reagiu a partir de 2016. O sócio-fundador do Grupo L&S, Alexandre Wolwacz, destaca que a empresa foi afetada pelo desaquecimento da economia, a ponto de chegar a operar com prejuízo. No mais recente balanço trimestral, porém, o lucro voltou a aparecer.
– A alta da Randon está calcada em cima de expectativa pela recuperação da empresa.
A onda recente de redução dos juros, com a Selic em um patamar de 7,25%, é um bom sinal para a companhia, pois barateia a tomada de crédito para seus compradores, conforme o sócio-diretor da Messem William Teixeira. A alta taxa, que chegou a 14,75% no passado, e as restrições em linhas de financiamento públicas atingiram em cheio a indústria.
Entre as serranas, a Randon tem uma das ações mais negociadas na bolsa.
Entre as empresas da região na B3, a Pettenati apresenta um dos gráficos mais vistosos. Desde 2013, a curva é ascendente e a valorização ganhou mais força ao longo deste ano. O analista William Teixeira lembra que a companhia têxtil tem realizado investimentos fora do país, expandindo a produção, o que é visto com bons olhos pelo mercado.
É uma ação com baixa liquidez. Ou seja, o volume diário de negociação na bolsa é pequeno. Mas Alexandre Wolwacz verifica que há uma melhora neste aspecto. A empresa tem conseguido reduzir as dívidas e vem obtendo lucro líquido nos balanços, fundamentos que denotam uma “boa gestão”, na percepção de Wolwacz.
A Grendene é uma das queridinhas do mercado no momento. A companhia do setor calçadista passou pelo período de recessão com crescimento expressivo nos seus papéis, tanto que hoje é a serrana com maior valor de mercado (índice calculado pela cotação multiplicada pelo número de ações existentes).
Para Alexandre Wolwacz, a empresa passou incólume pela crise. Sua dívida vem em queda e o patrimônio está crescendo.
– É a menina dos olhos da Serra, em termos de resultados. É uma empresa que mostra nos seus balanços que tem resiliência – define Wolwacz.
Outro aspecto que chama a atenção é o fluxo de caixa. O analista da Quantitas Vinicius Piccinini constata que a Grendene possui uma reserva de R$ 1,6 bilhão e sabe aproveitar bem sua posição financeira.
Neste sentido, pela situação financeira folgada, a calçadista consegue ter maior margem de negociação com seus clientes e foge das oscilações da conjuntura.
A gestão da empresa, que tem sede em Farroupilha, e o seu peso dentro do segmento em que atua também são elementos elogiados pelos analistas de mercado.
Dona da maior receita líquida na Serra, a Marcopolo vive uma situação idêntica à da Randon. Teve anos ruins na bolsa entre 2013 e 2015 e começou a se recuperar ainda no ano passado. Uma das principais características da fabricante de ônibus é a pulverização dos negócios. Isso significa que o faturamento é composto, em proporções parecidas, pelas vendas para o Brasil, as exportações e a produção das plantas em outros países.
Vinicius Piccinini, analista da Quantitas, ainda credita a valorização da empresa à própria retomada da economia brasileira, que reaqueceu a demanda. Grande parte da valorização da Marcopolo no mercado veio no segundo semestre. Nem mesmo o incêndio que atingiu a unidade de plásticos em Ana Rech e levou à paralisação parcial das atividades abalou a confiança dos investidores na companhia.
– Da região, é uma das empresas com maior liquidez. É a mais negociada na bolsa – descreve William Teixeira, da Messem.
Os analistas acreditam que os dias de crise ficaram para trás e que as vendas da empresa devem manter uma trajetória de ascensão, o que acaba influenciando a procura pelos papéis. A tendência é de continuidade da valorização da ação no decorrer deste ano e de 2018.
A fabricante de pastilhas e lonas de freio vem em alta na bolsa de valores desde o segundo semestre de 2016. Por ter sua receita fortemente atrelada à exportação, durante a recessão acabou se tornando o “elo forte do grupo Randon”, segundo William Teixeira, da Messem.
Como o dólar se valorizou perante o real e tem permanecido acima dos R$ 3, as companhias exportadoras conseguiram amenizar os efeitos da crise e se tornaram atrativas aos investidores. No caso da Fras-le, o comércio exterior representa quase metade do faturamento total no ano.
Apesar da valorização do papel neste ano, o assessor da Monte Bravo Investimentos Bruno Madruga lembra que a Fras-le é considerada uma empresa de baixa liquidez no mercado. Isso pode fazer com que o acionista tenha dificuldade na hora em que desejar converter os papéis em dinheiro.
Com capital aberto desde 2012, a Unicasa é a caçula da região na bolsa de valores. A empresa apresenta uma variação positiva modesta, mas com uma retomada no segundo semestre. A companhia foi bastante afetada durante a recessão. Teixeira, da Messem, constata que a fabricante de móveis sofreu com a queda na demanda, em função dos problemas enfrentados pela construção civil. A situação é evidenciada no faturamento, que, nos últimos 12 meses, apresenta prejuízo.
Além de sofrer com a situação do mercado imobiliário, Vinicius Piccinini, analista da Quantitas, recorda que a companhia teve atrito com alguns de seus franqueados.
– Isso gerou ruído no resultado da empresa na bolsa – avalia. É tida como uma ação de baixa liquidez.
Única empresa da Serra com ação em queda no ano, a Lupatech respira por aparelhos. A empresa está em recuperação judicial e passa por um momento delicado. A atuação da fabricante de máquinas e equipamentos estava diretamente ligada aos pedidos feitos pela Petrobras. Com as dificuldades da petroleira estatal nos últimos anos, a Lupatech teve diversos contratos cancelados e sucumbiu. Wolwacz, do Grupo L&S, lembra que o papel apresenta baixíssima liquidez e é visto como um investimento arriscado.
O assessor da Monte Bravo Bruno Madruga constata que a companhia não tem fundamentos sólidos para o investidor apostar nela.
– É uma ação que se tornou bastante especulativa – aponta Madruga.
Em 12 meses, a empresa apresenta lucro. No entanto, o resultado só foi possível porque a companhia, no final de 2016, transformou parte de sua dívida em bônus de subscrição.
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