+vitivinicultura
FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
FELIPE NYLAND
SALTON Vinícola liderada por Daniel Salton tem a maior fatia deste nicho
Desde que Jesus Cristo partilhou com os 12 apóstolos o pão e o vinho, como representação de seu corpo e sangue, conforme relata a Bíblia, a bebida à base de uva ocupa um papel central dentro das missas celebradas pela Igreja Católica. Mas não é qualquer vinho que pode ser utilizado pelo padre no momento da Eucaristia. O produto necessita obedecer a uma série de critérios antes de ser derramado no cálice. Atualmente, a Serra Gaúcha conta com cinco vinícolas que seguem a essas determinações e estão aptas a fornecerem aos religiosos.
Um dos mais recentes vinhos litúrgicos a entrarem no mercado é assinado pela Casa Perini, de Farroupilha. Em 2015, a empresa realizou o registro de um rótulo licoroso próprio. A produção anual é pequena, chega a cerca de 900 garrafas. Neste sentido, a bebida é distribuída a religiosos da Serra e só pode ser encontrada no empório situado na sede da empresa.
– Em faturamento, o vinho de missa não é representativo. Mas tem o aspecto histórico e também o nosso vínculo com o Todo Poderoso, que nos permitiu fazer uma vinícola que dá o pão de cada dia à nossa família – comenta Benildo Perini, diretor da marca.
A história da Casa Perini com o vinho litúrgico vem de longa data. João Perini, pai de Benildo e fundador da vinícola, fornecia o líquido aos padres amigos da família desde a década de 1950. A fabricação se dava a partir do uso de uvas de castas americanas. Agora, no novo vinho licoroso da companhia, utilizam-se frutas de castas europeias.
DIOGO SALLABERRY
mercado Ricardo Chesini conta que vinho litúrgico de sua vinícola é vendido em todo o país
Nos primórdios da produção dos vinhos de missa na Serra, o mais comum era que a bebida fosse fornecida em garrafões. Com o passar do tempo, a garrafa de 750ml ganhou espaço. E agora há quem invista até no bag-in-box para vender às igrejas. Dentro deste nicho, a Adega Chesini, de Farroupilha, foi a primeira a apostar na embalagem de papelão. Começou em 2005 e, hoje, essa opção de envase abrange metade dos 50 mil litros da bebida canônica gerada anualmente.
– O bag-in-box conserva melhor o vinho depois de aberto. Não foi fácil no início, pois havia desconfiança dos padres com o formato. Mas isso está mudando aos poucos – salienta Ricardo Chesini, administrador da vinícola.
A atenção da marca com o rótulo litúrgico não é em vão. Afinal, o vinho de missa, apesar de não ser o carro-chefe, é o único da Chesini com presença em todo o Brasil. No momento, é fornecido para 180 municípios em 21 Estados brasileiros e tem sido o cartão de visitas da empresa fora do Rio Grande do Sul. Os principais mercados são Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal.
A vinícola farroupilhense começou a fazer o vinho litúrgico na década de 1970. Felipe Chesini, nonno de Ricardo, iniciou a produção a partir de um pedido do bispado de Caxias. Até o início dos anos 2000, a bebida era feita de maneira informal. A partir de então, buscou-se registro e a fabricação ganhou escala industrial.
Para ganhar mercado, Ricardo começou a participar de feiras de produtos católicos e a estabelecer contatos com fornecedores espalhados pelo Brasil. A tática tem dado certo, já que a demanda pelo vinho licoroso cresce, em média, 10% por ano.
FELIPE NYLAND
capucHinhos Frei Cleonir administra produção em Vila Flores
Um ponto em comum une a maioria dos fabricantes de vinhos de missa: a forte ligação dos produtores com a religião católica. Na Serra, muitos dos vitivinicultores que começaram neste segmento eram próximos aos padres de suas comunidades ou do bispo de Caxias do Sul. Contudo, o caso da Frei Fabiano, de Vila Flores, é único. Na vinícola dos freis Capuchinhos, os próprios religiosos fazem a bebida.
O nome da vinícola é uma homenagem a Fabiano Cavalca, frei que começou a elaborar vinhos a partir da década de 1950. O rótulo para missa, porém, surgiu apenas nos anos 1970, com uma produção inicial de 2 mil litros/ano. Hoje, o volume é de 50 mil litros anuais, sendo um dos campeões de vendas da marca.
– O vinho de missa representa um quinto da produção total de 250 mil litros. Tem uma procura grande, inclusive por parte dos turistas que vêm até nossa pousada. Eles veem o vinho e ficam curiosos ao saber que é utilizado na missa – conta o frei Cleonir Dalbosco, administrador do complexo que, além da vinícola, conta com pousada e cantina.
Com 32 hectares de vinhedos, a Frei Fabiano utiliza entre 70 e 80 toneladas de uva para realizar um lote do vinho litúrgico. As garrafas e os garrafões são comercializados principalmente na Serra, mas também há saída para outras regiões do Rio Grande do Sul e para os demais Estados da Região Sul.
Já a Don Affonso, vinícola de Caxias do Sul, há 40 anos passou a fabricar este tipo de vinho para suprir uma demanda dentro da família. O fundador do negócio, Affonso Gasparin, tinha um filho sacerdote, que lhe encomendou a bebida para utilizá-la nas missas. O produto, entretanto, não está no portfólio comercial da empresa. Atualmente, as garrafas são produzidas apenas para religiosos amigos dos Gasparin.
– O fundador sempre teve esse vinho e fazemos questão de manter a tradição. Às vezes o pessoal de alguma igreja nos liga pedindo o vinho. Fornecemos para umas 10 igrejas em Caxias, Farroupilha e Flores da Cunha – diz André Gasparin, enólogo da empresa.
Segundo André, o processo de produção segue o mesmo de décadas passadas. Um dos pontos mais emblemáticos é o envelhecimento nos tanques de madeira por sete anos antes do envase.
FELIPE NYLAND
Mesmo que já tenha emitido um documento com recomendações para a fabricação de vinho litúrgico, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) quer ir um passo além na relação com o setor. A entidade pretende certificar as bebidas aptas a serem utilizadas pelos padres nas missas. Isso ocorrerá a partir da criação de um selo para as garrafas. A expectativa é de que a medida entre em vigor até o final de 2018.
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