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Órfã dos fundadores

em menos de um ano, caxias do sul se despediu de dois empresários de destaque: raul randon e paulo bellini

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FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

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JULIANA BEVILAQUA

juliana.bevilaqua@pioneiro.com

Ricardo Wolffenbüttel, bd, 03/08/2009

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contemporâneos | Paulo Bellini (E) e Raul Randon (D) fundaram, respectivamente, a Marcopolo e a Randon no mesmo ano: 1949

Com as mortes de Paulo Bellini, em junho de 2017, e de Raul Randon, em março deste ano, em menos de um ano Caxias do Sul ficou órfã das figuras que ajudaram a cidade a criar sua vocação industrial. Nesta lista, ao lado de Bellini e Randon, ainda constam nomes como Abramo Eberle e Francisco Stedile, falecidos em 1945 e 2006, respectivamente. De diferentes épocas e com perfis distintos, os quatro empresários criaram companhias de grande porte e foram fundamentais para que Caxias se tornasse o segundo maior polo metalmecânico do Brasil.

A primeira fase da expansão industrial caxiense teve como protagonista Abramo Eberle, que em 1896 fundou a metalúrgica que carregava seu nome. Entre o final dos anos 1940 e o início dos 1960, outra leva de empresas alavancou a economia de Caxias. Em 1949, com a participação de Paulo Bellini, nascia a Marcopolo, então chamada Nicola & Companhia LTDA. No mesmo ano, Raul Randon e o irmão Hercílio abriam o próprio negócio. Pouco depois, Francisco Stedile criou a Fras-le, em 1954, e a Agrale, em 1962. A Fras-le acabaria sendo vendida para as Empresas Randon nos anos 1990.

As empresas, de caráter familiar, logo se tornaram as principais empregadoras do município, posição até hoje ocupada pelas Empresas Randon e a Marcopolo. Em ambas as companhias, os fundadores já não estavam na linha de frente do negócio e desempenhavam um papel semelhante ao de um conselheiro. Raul Randon era presidente do Conselho de Administração da Randon no momento de seu falecimento, enquanto Paulo Bellini detinha o título de presidente emérito da Marcopolo.

A especialista em sucessão empresarial e co-fundadora do Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (IDEF), Hana Witt, destaca que Caxias, de um modo geral, está vivendo um momento de transição de gerações no comando das empresas. Esse processo, na percepção de Hana, deve se intensificar ao longo da próxima década nas pequenas e médias companhias.

– É o fim de um ciclo geracional para Caxias. Os fundadores das empresas estão envelhecendo e a nova geração, através dos filhos, assume o comando – descreve Hana.

Algumas diferenças na maneira de gerir marcam as distintas gerações de administradores, segundo Hana. A geração dos fundadores das grandes empresas caxienses se notabilizava pela experiência obtida na prática, no chão de fábrica. Já as gerações que vieram na sequência se destacam por terem buscado uma formação mais teórica, por meio de cursos universitários, antes de chegarem aos cargos executivos. Além disso, os mais jovens tendem a ter uma visão mais global dos negócios.

Relação comunitária

A proximidade com os funcionários e a preocupação com a comunidade são outras características marcantes das primeiras gerações de empreendedores de Caxias.

O presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Ivanir Gasparin, destaca que no passado os empresários tinham uma relação mais pessoal com os colaboradores, estavam constantemente percorrendo a fábrica para conversar com eles. Situação cada vez mais rara nos dias atuais.

–Vivemos uma onda de impessoalidade (nas empresas), isso me preocupa um pouco, pois são as pessoas que fazem a diferença – opina Gasparin.

Porém, Gasparin diz que Marcopolo e Randon seguem o legado de seus fundadores e que, por isso, mesmo sem a presença de Bellini e Raul Randon, não há risco na continuidade do modelo de gestão.

O Instituto Elisabetha Randon e a Fundação Marcopolo são as estruturas responsáveis por conduzir os projetos sociais envolvendo as duas empresas

Raul Randon, o visionário 

editora belas letras, divulgação

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★ 06/08/1929 ✚ 03/03/2018
nos anos 1960 | Raul Randon em frente à antiga Mecânica Randon

Antes de as rodovias se tornarem o principal modal para o transporte de cargas no Brasil, no início dos anos 1950 Raul Anselmo Randon vislumbrou que logo aquela viria a ser alternativa mais utilizada. Com sua capacidade ímpar para interpretar cenários, em uma época com pouca informação disponível para embasar decisões, conseguiu, ao lado do irmão Hercílio, transformar a oficina de reforma de motores industriais em uma das maiores fabricantes de itens automotivos no mundo.

Desde o início de sua trajetória como empreendedor, Raul Randon se mostrou um visionário. Como viajava bastante e atendia aos clientes da oficina, percebeu, ouvindo outras pessoas, que existia uma demanda não atendida e, assim, começou a fabricação de freios a ar para reboques e do terceiro eixo para caminhões. O jornalista Charles Tonet, um dos autores da biografia do empresário, o descreve como um “gênio comercial”.

–Ele tinha uma grande capacidade de observação, de colher informações. Seu Raul era muito humilde. Ouvia, ouvia, ouvia as pessoas e, a partir daí, tirava conclusões – constata Tonet.

Além disso, o Raul Randon mostrava resiliência. Conseguiu superar os momentos de dificuldades, como quando a fábrica de máquinas tipográficas que tinha junto com o irmão foi completamente destruída por um incêndio ou quando a Randon entrou em concordata, nos anos 1980.

Tonet ainda ressalta que a liderança de Raul Randon contagiava os funcionários, com os quais mantinha uma relação muito próxima. Não era raro vê-lo conversando com os empregados da fábrica durante as madrugadas. Sabia o nome de todos.

– Ele tinha valores morais e éticos fantásticos. Conseguia traduzir o melhor do empresário e o melhor do ser humano – detalha Tonet.     




Tonet diz que Raul Randon sabia da importância dos funcionários para o crescimento da empresa, por isso era próximo a eles.

Paulo Bellini, o amigo

ARQUIVO MARCOPOLO

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★ 20/01/1927 ✚ 15/06/2017
presença internacional | Bellini sabia da importância dos funcionários para o êxito da empresa

A trajetória de Paulo Bellini poderia ser resumida em um empreendedor que transformou uma oficina de pintura de caminhão em uma fábrica de ônibus globalizada. O que não é pouca coisa, claro.

A Marcopolo, fundada em 1949, ganhou o mundo. Em todos os continentes há ônibus produzidos pela empresa. É motivo de orgulho para qualquer caxiense ver a logomarca rodando em outras cidades brasileiras e outros países. 

Mas o sucesso da empresa não era mérito apenas seu e Bellini sabia isso. Mais: ele reconhecia a importância e a contribuição de cada funcionário para o êxito da Marcopolo.  

Tanto que quando surgiu a ideia de escrever o livro Marcopolo: Sua Viagem Começa Aqui, lançado em 2002, fez questão que os colaboradores da fábrica fossem ouvidos. Inclusive, sugeriu nomes para serem entrevistados.

– Ele disse: Não quero um livro sobre a minha pessoa, quero sobre as pessoas que fizeram a Marcopolo – conta Marilda Vendrame, organizadora da obra que conta a história de Paulo Bellini e da empresa.

Conforme Marilda Vendrame, Bellini gostava de conversar com os funcionários e saber de suas vidas. 

O empresário gostava de ouvir os funcionários e saber não só do trabalho, mas da vida de cada um deles. Era comum ver Bellini circulando pelos corredores das unidades nos bairros Ana Rech e Planalto, em Caxias, para conversar com os empregados.

Conforme Marilda, que conviveu por muitos anos com o empresário, Bellini tinha a capacidade de se relacionar com todos e fazer as pessoas se sentirem à vontade.

Além disso, apesar de tímido, era muito bem humorado e usava do humor e do carisma para falar de coisas sérias de maneira afável.

– Ele não usava a relação de poder com as pessoas. Ouvia muito, com paciência, para, depois, tomar decisões. Era equilibrado, ponderado. Um líder democrático. Ele valorizava o que o outro tinha a dizer. Tinha humildade intelectual e forjou uma cultura de respeito e envolvimento dentro da Marcopolo – acrescenta Marilda.




Francisco Stedile, o inquieto

FOTO ARTE CAXIAS,ACERVO AGRALE, DIVULGAÇÃO

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★ 17/06/1922 ✚ 09/05/2006
o início | Stedile no primeiro trator produzido pela Agrale, em 1965

Francisco Stedile tinha espírito empreendedor e sabia enxergar as possibilidades. Visionário, não se restringiu a um único interesse. Começou no ramo de autopeças, aos 24 anos, com a Auto Mecânica de Caxias do Sul, e logo criou a Auto Nordeste, ligada ao ramo de produtos de borracha e concessionária de veículos como automóveis, tratores e caminhões.

Percebendo a necessidade do mercado, fundou a Fras-le, fabricante de lonas para freio e revestimentos de embreagem. A empresa, que hoje faz parte do grupo Randon, se tornou referência no ramo de materiais de fricção tanto no país quanto no Exterior.

E Stedile não parou por aí. Adquiriu o controle acionário da Agrisa, produtora de motocultivadores e motores estacionários, e a transformou na gigante Agrale. A fábrica passou da produção de tratores agrícolas e motores diesel para a atual linha de caminhões leves e passou também a fabricar motocicletas, ciclomotores, caminhões e chassis para microônibus.

Da Agrale, surgiu a Lavrale, produtora e distribuidora de máquinas, implementos agrícolas e veículos. No início dos anos 2000, Stedile comprou o negócio de tratores da marca Yanmar no Brasil, fundando a empresa Agritech Lavrale, e a empresa Fundição Indaiatuba – Fundituba, produtora de autopeças.

Mas Stedile, muito inquieto, ainda queria mais. E resolveu inovar, investindo em outro ramo: a indústria alimentícia. Criou a Frutale, empresa dedicada à fruticultura, e a Germani Alimentos, produtora de massas, biscoitos e farinhas.

A neta Fúlvia Stedile Angeli Gazola lembra que o avô, sabiamente, sempre procurou se cercar de especialistas para, justamente, poder atuar em setores tão diferentes uns dos outros.

– Ele era uma pessoa vibrante. Tinha aquela coisa de “qua comando mi”, mas tinha a sabedoria de enxergar até onde podia ir, até onde ele sabia. Ele tinha essa coisa de ver as possibilidades, de novos projetos, tinha essa inquietude – descreve Fúlvia. 



Abramo Eberle, o precursor

STUDIO GEREMIA, ACERVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL JOÃO SPADARI ADAMI, DIVULGAÇÃO

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★ 02/04/1880 ✚ 13/01/1945
na fábrica | Abramo Eberle (segundo da direta para a esquerda) confere o trabalho na seção de estampação, em 1940

Quando aos 16 anos comprou do pai Giuseppe Eberle a funilaria localizada na Rua Sinimbu, no Centro, Abramo Eberle talvez não imaginasse que aquele pequeno negócio se tornaria um dos mais importantes empreendimentos não somente de Caxias do Sul, mas do país. O jovem imigrante italiano, que chegou com a família ao Brasil em 1884, talvez não achasse também que sua modesta empresa abriria as portas para tantas outras e ajudaria a transformar o município da Serra gaúcha em um dos mais importantes polos metalmecânicos do país.

Abramo, que aprendeu o ofício com a mãe Luigia, começou produzindo lamparinas a querosene, tão necessárias em um uma época sem energia elétrica. O crescimento da produção impulsionou a fabricação de diversos outros itens, como talheres, utensílios de mesa, artigos sacros, lâminas, facas, espadas e motores elétricos – um império que teve seu auge nos anos 1940 e 1950.

A capacidade de diversificar a produção é uma das características de Eberle apontada pela historiadora Vania Herédia.

– Ele conseguia visualizar a questão dos negócios no sentido de não ficar preso. Sabia que era possível abrir novos mercados.

Vania também lembra que o empresário teve forte atuação na Associação dos Comerciantes. Uma de suas principais bandeiras era a ampliação da capacidade de energia elétrica para a indústria.

– Ele fazia reivindicações para beneficiar todos os comerciantes. Sempre foi participativo, ativo – conta Vania, acrescentando que Eberle tinha dentro de sua empresa uma escola de formação para os funcionários.

Além de fundar a metalúrgica que levou seu próprio nome, Abramo criou a Ferragem Caxiense e representou os produtos do Lanifício Gianella e da tecelagem Panceri. Também vendeu vinho ao mercado paulista, tornando-se um dos pioneiros, ao lado de Antônio Pieruccini.

Em 1984, a Eberle foi adquirida pelo Grupo Zivi-Hércules. Em 2003, os grupos foram fundidos, surgindo a Mundial S.A. 

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