marcelo casagrande
JULIANA BEVILAQUA
juliana.bevilaqua@pioneiro.com
Luciano e Jane Melo resolveram colocar o pé na estrada sem data para voltar para casa. Há menos de um mês, iniciaram a viagem que começaram a planejar no ano passado. Enquanto corpo e mente permitirem, o casal de Maceió, Alagoas, estará rodando o país de carro. A aventura começou em Canela, um dos destinos preferidos dos dois. Eles já estiveram na região outras 15 vezes! Agora, estão em São Francisco de Paula, onde devem permanecer até o final da semana. A próxima parada ainda não está definida. Talvez São Joaquim, na Serra Catarinense, para sentir o frio que nem de longe faz no Nordeste.
Como a trip promete ser longa, buscaram uma alternativa mais em conta para o bolso. Conheceram, então, uma plataforma na internet para troca de casas. Fizeram cadastro no site, oferecendo para permuta a residência da família na praia do Francês. Os proprietários das casas de Canela e São Chico ficarão hospedados em Alagoas em fevereiro de 2019, pelo mesmo período que Luciano e a esposa ficaram em suas casas no Rio Grande do Sul. Eles já têm pouso garantido também em Caldas Novas, no interior de Goiás.
Com o sistema de troca, o casal estima economizar, somente na passagem pela Serra, cerca de R$ 3 mil em hospedagem.
– Assim, a gente consegue viajar mais, comer melhor – diz Luciano.
Mas a economia não é o único benefício apontado pelo casal para optar pela troca de casa. Viver como um local é uma delas. Nos dias em que esteve em Canela, Luciano e Jane adquiriram hábitos bem típicos da região, como colher pinhão na rua e cozinhar no fogão – a sapecada era ainda desconhecida.
A economia em hospedagem, segundo a plataforma Be Local, pode chegar a 80%.
divulgação
alagoas | Casa de Luciano e Jane no Francês
Vários sites oferecem a possibilidade de troca de casas por temporada. Luciano e Jane escolheram o Be Local, da carioca Andrea Aguiar, que opera no Brasil há cerca de um ano e tem 900 imóveis cadastrados no país e no Exterior. Na Serra, além de Canela e São Francisco, há casas disponíveis para troca em Gramado e Protásio Alves.
– É uma outra forma de hospedagem. Proporciona economia, mas tem outros pontos. É um turismo de qualidade. Converso antes com a pessoa, minha casa fica preparada, deixo dicas. Traz uma experiência diferente – defende Andrea, sócia-fundadora da plataforma.
A maioria das pessoas oferece para troca uma casa secundária, ou seja, não aquela onde elas moram, mas uma casa de veraneio, por exemplo.
– Para quem tem casa de férias é mais fácil, porque já está acostumado a alugar.
Diferentemente dos clubes para troca de casas, as plataforma de compartilhamento como Airbnb e Booking proporcionam lucrar com a atividade a quem disponibiliza sua casa para locação. O sistema é, de fato, vantajoso para quem o utiliza. Mas as plataformas preocupam o setor hoteleiro. Presidente do Sindicato Empresarial de Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (Segh), Vicente Homero Perini Filho estima o prejuízo de 10%. Apesar disso, reconhece que é preciso conviver com as novas formas de hospedagem.
– É como o Uber. A gente vai ter que conviver com isso, mas acho que tem que pagar alguns impostos – exemplifica.
Na Região das Hortênsias, o setor perde cerca de 25% da taxa de ocupação com a concorrência considerada desleal pelo presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região das Hortênsias, Fernando Boscardin. Ele estima que, da arrecadação anual de R$ 1,3 bilhão em diárias vendidas na Serra, Airbnb fique com 15%, o equivalente a R$ 207 milhões.
Conforme pesquisa do próprio Airbnb, feita em conjunto com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a companhia adicionou R$ 2,5 bilhões à economia brasileira em 2016. A plataforma gerou naquele ano 70 mil empregos.
– Se tem uma ideia romântica sobre o aluguel de temporada. Se pensa que ele é explorado por pessoas que economizaram durante a vida toda para ter um apartamento a mais e alugar. Isso é ilusão. Hoje estão construindo prédios inteiros, com 40 ou mais apartamentos, exclusivamente dedicados ao aluguel de temporada, hotéis que, em sua maioria, estão disfarçados de residenciais, sem recolher impostos – diz Boscardin.
Segundo ele, Gramado tem, oficialmente, 200 hotéis, mas sites como Booking mostram quase 900 opções na cidade. A maioria, conforme Boscardin, não aceita cartão de crédito. O receio é que os hoteleiros deem baixa no hotel e o transformem em aluguel de temporada de maneira informal.
– Não temos medo de concorrência. Gramado ganhou em 2015 como o quarto melhor destino em reputação de hotéis no mundo, segundo eleição dos usuários da Trip Advisor. Não queremos tirar o pão da boca de ninguém. O que queremos é a regulamentação de quem está fora do sistema. Que eles tenham as mesmas obrigações legais e tributárias que todos nós. Ou que então tirem da gente esse peso e nos deixem com a mesma ausência de obrigações que eles – reclama.
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Férias | Adriane ficou em casa trocada em São Francisco do Sul
A professora Adriane Viana, 45, de Novo Hamburgo, é fã de hospedagem alternativa. É dela a casa em São Francisco de Paula onde Luciano e Jane passam alguns dias. Em fevereiro, ela vai para Alagoas e imagina economizar cerca de R$ 3,5 mil com hospedagem. Antes, passa Natal e Réveillon em uma casa trocada em Bombinhas, litoral catarinense.
– A hospedagem é um gasto significativo. Com a troca, a gente pode ficar mais dias e levar a família inteira. Eu abracei essa ideia, estamos vivendo um novo tempo – acredita.
Mas não é somente da troca que Adriane é adepta. Ela também costuma se hospedar por meio de sites como Airbnb, Booking e OLX. Sua casa em São Chico também está cadastrada nessas plataformas para locação. Seja trocando ou alugando, ela garante que sempre sai ganhando.
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São chico | Casa de Adriane cadastrada em sites de troca
Esse modelo capaz de integrar desenvolvimento financeiro e bem-estar social tem como pilares a participação democrática,a solidariedade
e a autonomia
Luciano e Jane trocaram, temporariamente, a casa em Alagoas, por hospedagem no RS. A Economia é de R$ 3 mil
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