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02 de JUlHO de 2018

+ entrevista

Cachaça, sem preconceito

‘Comecei envasando o mel em casa. No primeiro
mês, vendi R$ 750 e, no segundo, R$ 2,6 mil.
Vi uma oportunidade’

Mobirise



SILVANA TOAZZA

silvana.toazza@pioneiro.com

Susana Chies tem orgulho de ter começado a sua empresa da forma mais modesta possível: embalando em casa o mel produzido pela família em Dom Pedrito (RS) e vendendo a amigos e conhecidos de Caxias do Sul.

Ao ver o número de potinhos se multiplicar e o negócio incipiente prosperar, a empresária percebeu que era a hora de açucarar ainda mais sua biografia, abrindo em 2016 a Casa Três Vendas, que obteve a certificação para a comercialização do mel em todo o país. Era a forma de retornar ao mercado de trabalho após anos dedicados à criação das duas filhas.

Porém, Susana identificou que um único produto em meio a um cenário em que a Serra amargava uma das piores crises de sua história seria arriscado para garantir a prosperidade do negócio. Foi então que, lançando mão ao tino comercial e à sensibilidade, visualizou que o cenário poderia ser frutífero para investir em uma bebida genuinamente brasileira, mas sem a atenção devida por desconhecimento e preconceito. Naquele momento, a empresa agregou ao portfólio a cachaça produzida artesanalmente e com uma roupagem premium.

Com dose extra de audácia, a empreendedora invadiu um campo não tão feminino para convencer Juventude, Grêmio, Caxias e Internacional a licenciar a cachaça orgânica com os emblemas dos clubes de futebol. Deu certo. A investida desencadeou parcerias fechadas, e em gols no marketing esportivo, o que resulta em contratos mais do que duplicados da bebida em relação a 2017.

Ainda acreditando que a Casa Três Vendas poderia ampliar sua presença num filão efervescente, Susana agregou mais recentemente ao elenco de produtos o espumante Donna, que, assim como a cachaça, é fabricado por parceiros.

As novidades seguem fervilhando, pois ela não tem receio de ousar e de correr riscos.

– Hoje, o que eu vendo é o que eu sou, é o que eu faço – define.

A seguir, entrevista com a diretora da Casa Três Vendas, Susana Chies:


DIOGO SALLABERRY

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brindes | Susana Chies é diretora da Casa Três Vendas, que trabalha com mel, cachaça e espumante

  • Sua história começou como vendedora de mel para transformar-se em case no mercado. Foi difícil?
    Minha trajetória começou como uma história linda, porque trabalhar com um produto real, o mel, não é para muitos, e ter a humildade de oferecê-lo da forma que ofereci também não é para muitos, por isso me orgulho. Sim, comecei envasando o mel em casa, comprando as embalagens bem simples de plástico, com a ajuda do meu esposo e de minhas duas filhas. Um colocava o número do meu celular na etiqueta e o outro fixava a etiqueta no pote. Já era uma fábrica dentro de casa. Eu queria na verdade ter um entreposto de mel em Caxias, mas a burocracia era tão grande que me fez desistir. No primeiro mês, vendi R$ 750 em mel e, no segundo mês, R$ 2,6 mil. Foi aí que vimos a oportunidade de um novo negócio.  
  • Como nasceu a Casa Três Vendas?
    A Casa Três Vendas surgiu da necessidade de eu voltar ao mercado de trabalho e abrir um negócio, com a venda do mel. Esse mel já era produzido nas terras da família do meu marido e resolvemos ampliar os negócios, fazer o mel que trazíamos para consumo se transformar numa grande colmeia. 
  • De que forma conseguiu ampliar o mix, agregando mel, cachaça e espumante?
    Começamos com a produção de mel, achamos que era pouco, com um único produto, manter o negócio, em meio a uma crise, e resolvemos ampliar com a cachaça. Queríamos criar uma grife e aliar vários produtos de excelência à marca. Tentamos com o azeite, e não deu certo, fomos para a cachaça e logo, na sequência, vimos a oportunidade de agregar o espumante. Nosso objetivo agora é consolidar esses produtos para depois ampliarmos a gama de itens, buscando o bom gosto e a excelência. 
  • Quais os mercados abrangidos pelos produtos hoje?
    Hoje, atuamos na Serra Gaúcha, Capital e alguns pontos na fronteira sul do Estado. Sim, estamos trabalhando pela expansão, mas temos de desbravar primeiro o mercado local. Já tive proposta para exportação, voltada ao mercado do Texas (EUA), mas desisti, pois notei que ainda não era a minha hora. 
  • O licenciamento de times de futebol está impulsionando a marca de cachaça?
    Nossa expectativa era de que tivesse uma abrangência maior, mas, sem sombra de dúvida, aliar-se a grandes marcas de futebol agrega e auxilia a impulsionar uma grife nova no mercado. Temos só dois anos de existência, mas há muito a se trabalhar no novo conceito da cachaça para as pessoas, com mais informação sobre esse produto magnífico. Veja bem, futebol e cerveja não existe preconceito, já futebol e cachaça há preconceito. E não tem sentido, pois é um casamento perfeito de duas paixões nacionais. São perspectivas diferentes, por isso, há muito trabalho pela frente. 
  • Você é conhecida por apoiar eventos e agregar valor à marca com ideias criativas. Cite iniciativas recentes.
    Acreditamos que, apoiando eventos, vamos estar sempre na memória do público, trabalhando o marketing, visualização de marca e posicionamento. Trabalhar com mel e cachaça não é nada fácil. Por isso, são necessários muito empenho e dedicação. O espumante é algo mais aceito no mercado. Ou seja, creio que, na situação atual, temos de ser criativos e nos posicionarmos o tempo todo para fazer a diferença. Entre os últimos eventos figura o Panela no Pátio, do Paulinho Silva e do Ada Perini, que abriu as portas para a feira Wine South America (que ocorrerá em setembro, em Bento Gonçalves), me concedendo a possibilidade de ser escolhida como a embaixatriz do setor de cachaça, com a oportunidade de expor e trazer para a Serra vários alambiques do Rio Grande do Sul. E ainda criou condições da parceria com a Escola de Gastronomia da UCS, em Flores da Cunha, que utiliza mel e cachaça em suas aulas e cursos. Outro evento maravilhoso de que participei foi a escolha da rainha da Festa da Uva, quando fizemos o Drink Especial da Soberana, composto pelos ingredientes da Casa Três Vendas, com mel, cachaça Prata, espumante Donna e o suco de uva de uma marca da região. Esse drink foi feito com muito carinho e empenho, e dedicado à rainha que recebeu a coroa, Maiara Perottoni. Ficará para a história da Casa Três Vendas e para a história da Festa. Esse evento abriu oportunidades de negócios em Porto Alegre. Também participamos recentemente da Feijoada do Pulita, com a apresentação de drinks de boas-vindas com as nossas cachaças orgânicas.  

Diogo Sallaberry

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cachaça e futebol | Grife licenciou a cachaça para times de futebol

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Busque aliar a marca com a sua personalidade. Hoje, o que eu vendo é o que eu sou, é o que eu faço  

  • Como criar uma marca vencedora e subverter as dificuldades?
    Muito trabalho, foco, determinação, produtos com qualidade que te deem credibilidade. Mas, acima de tudo, mostrar o produto, as pessoas precisam conhecê-lo. Dificuldades haverá sempre, com sucesso ou não. 
  • Quais os próximos produtos que devem ser desenvolvidos pela Casa Três Vendas?
    O alfajor é um dos produtos que já estamos comercializando. Você já tinha pensado em um alfajor com cachaça e mel? Pois, então, alfajor é feito de conhaque e mel. Foi aí que mais uma vez levei a cachaça para a gastronomia. Estamos trabalhando com parceiros no setor de doces, trufas com cachaça e novas embalagens para o segmento de hotelaria e eventos (casamentos, festas de aniversário, formaturas e lembranças). Temos algumas novidades já desenvolvidas para a grife, porém, ainda não podemos divulgar. Mas certamente serão produtos com excelência. 
  • Ser mulher no mercado da cachaça é algo inusitado?
    É, infelizmente, inusitado em nossa região, no Rio Grande do Sul, pois em outros Estados as mulheres já estão mais inseridas. Antigamente, eram as mulheres que cuidavam dos alambiques, enquanto os homens iam trabalhar nas minas preciosas. Nós, mulheres, temos muito a agregar, porém, não quero mostrar nenhum tipo de feminismo, quero mostrar elegância, charme e tirar o preconceito da cachaça. Hoje, esse produto já não é mais vulgarizado, temos de ultrapassar o preconceito e valorizar essa nossa bebida genuinamente brasileira. É claro que temos cachaças ruins, assim como há vinhos, cervejas e espumantes muito ruins. Mas uma coisa eu garanto: o que eu colocar a minha marca terá excelência e qualidade. 
  • Fale do Clube das Cachacières, uma confraria feminina de valorização da cachaça artesanal.
    O Clube das Cachacières foi criado em 20 de novembro de 2017, com a intenção de falar sobre cachaças, tirar aquela imagem e preconceito dessa nossa bebida genuinamente brasileira, mas ainda menosprezada por muitos. É óbvio que isso não vai acontecer do dia para a noite. Nosso clube começou com 14 integrantes e hoje já estamos em 103 mulheres. A cada dia aumenta o número. As mulheres apreciam cachaça, mas tinham vergonha de dizer que gostavam dessa bebida maravilhosa, e foi então que percebi que poderia criar a confraria e trazer, por meio de encontros bimestrais, o conhecimento sobre a produção, a história e o paladar. Já realizamos o terceiro encontro, agora em junho. E funciona assim: o restaurante escolhido deverá sempre fazer a inclusão da cachaça no menu, desde a entrada até a sobremesa. Depois, um dos pratos deverá ser escolhido pelas “cachacières” para ficar no cardápio da casa. Os drinques, todos, são elaborados com cachaças e harmonizados com o jantar. Também temos o lado social e aproveitamos para escolher sempre uma entidade a ser beneficiada. Deixamos as “cachacières” à vontade para trazerem suas doações para a entidade escolhida na noite do encontro. Como somos muitas mulheres, o clube ainda deverá ter seu estatuto, e suas regras estão em fase de formatação. Para agosto, já dei a ideia de fazermos um jantar com os respectivos esposos, para a comemoração do Dia dos Pais. Nos encontros, temos sempre palestrantes do ramo da cachaça. Em agosto, a princípio, teremos uma marca de Santa Rosa, que ganhou vários prêmios na Expocachaça, feira voltada ao setor, que ocorreu no início de junho em Belo Horizonte (Minas Gerais). Ou seja, o Clube das Cachacières traz conhecimento, gastronomia e benemerência social.
  • Que conselhos você daria a uma empreendedora?
    Persistência, foco, muito empenho e equilíbrio. Dá, sim, para ser mãe, empresária e esposa. Só precisamos buscar o equilíbrio. Nós, mulheres, somos fortes e temos o dom do acolhimento. Talvez, por isso, tenhamos o dom de sermos mães, recuar na hora certa, mas, sempre, criar, criar e criar. Seja feliz com equilíbrio. Busque a felicidade, e seja sempre autêntica consigo mesma, busque aliar a marca com a sua personalidade. Hoje, o que eu vendo é o que eu sou, é o que eu faço.

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