make your own website


09 de JUlHO de 2018

+enoturismo

Muito  além da taça

proporcionar experiências aos visitantes é
o caminho para alavancar vendas

DANDY MARCHETTI, DIVULGAÇÃO IBRAVIN 

Mobirise

MERENDIN  |  Refeição feita sob o parreiral leva os turistas aos tempos dos primeiros colonos italiano

Mobirise



DIEGO ADAMI
diego.adami@pioneiro.com

Não é para beber vinho que as pessoas viajam, mas para viver experiências enoturísticas memoráveis que se traduzem em conhecimento, alegria, satisfação e bem viver. Enoturismo não é só o que está dentro da garrafa.

A afirmação da turismóloga Ivane Favero é uma síntese das ideias que nortearam o 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, na última semana de junho, em Bento Gonçalves. Cerca de 220 congressistas argentinos, uruguaios e brasileiros de oito Estados e do Distrito Federal se reuniram no Spa do Vinho, no Vale dos Vinhedos, para trocar experiências, debater políticas públicas, conhecer estratégias comerciais e estudar casos regionais e internacionais para qualificar os empreendimentos e os serviços prestados. O objetivo: desenvolver toda a região onde o turismo ligado ao vinho tem potencial de ser realizado.

– Se fosse só isso (beber vinho), talvez nem precisasse sair de casa. Hoje você pede qualquer vinho pela internet e vai chegar na sua casa. Eles (turistas) vêm para conhecer um território, a cultura, a paisagem. Por isso que defendemos muito o turismo de experiências – destaca Ivane, atual presidente da Associação Internacional do Enoturismo (Aenotur).

E, em se tratando de turismo, não há limites para a criatividade, e oferecer apenas a trivial visita guiada seguida de degustação já não basta. As opções para atrair cada vez mais visitantes podem variar de um simples, mas aconchegante, piquenique no jardim e concertos de música clássica em meio aos vinhedos a programas que incluem esportes radicais e passeios de carros de luxo pelas regiões vinícolas. Depende do perfil da empresa e dos visitantes que se pretende atingir.

Durante os três dias do congresso, representantes de instituições, associações, universidades e empreendimentos de Portugal, Estados Unidos, Argentina, Brasil, Chile e Uruguai apresentaram estratégias, tendências e oportunidades da atividade com casos bem-sucedidos no turismo mundial, como as regiões dos vales de Napa e Sonoma, Mendoza e de diferentes roteiros uruguaios, portugueses e chilenos.

O Brasil foi representado por cases da Serra e da Campanha Gaúcha, e teve a divulgação de dados de mercado e das iniciativas de articulação política do setor.

– O enoturismo é uma das principais ferramentas para o fortalecimento do setor vitivinícola. Cerca de 30% das vinícolas já possuem atrativos turísticos e, destas, 90% são micro e pequenas empresas. Nestes empreendimentos, mais de 40% da receita provêm da venda direta aos turistas – contabiliza o vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Marcio Ferrari.

 

  

Ações ampliadas para impulsionar a atividade

DANDY MARCHETTI, DIVULGAÇÃO IBRAVIN 

Mobirise

EXPERIÊNCIA  |  Na última vindima, 1,4 mil visitantes participaram de roteiro da Vinícola Cainelli que inclui pisar uvas

Desde 2016, com a criação do Comitê de Enoturismo e posteriormente com o apoio à Aenotur, o Ibravin vem ampliando as ações voltadas à atividade, incluindo a realização do Congresso Latino-Americano neste ano e a viabilização do Dia do Vinho há uma década, dentre outras iniciativas. Até dezembro, um estudo iniciado em maio, contratado pelo Ibravin, vai mapear o perfil do enoturista da Serra. Além disso, a entidade coordenará, ao longo do segundo semestre, a elaboração de um plano de enoturismo gaúcho. E em uma terceira frente de trabalho, um convênio na ordem de R$ 5 milhões entre o instituto e o Sebrae Nacional destinará R$ 420 mil para ações de promoção das Indicações Geográficas, as IGs, de produção de vinho.

– Enquanto estamos aqui, muitas pessoas estão planejando suas viagens, e essa troca de experiências é fundamental para que o enoturismo gaúcho esteja entre as opções, como um ótimo destino, com grandes vinhos, paisagens maravilhosas e a receptividade que já é uma marca do nosso povo – ressaltou o secretário da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, Victor Hugo Alves da Silva.

Victor Hugo reforça ainda o papel dos setores públicos e privados na busca do sucesso de empreendimentos enoturísticos:

– O Badesul, por exemplo, tem linhas de crédito para parques temáticos e para hotéis com cinco anos de carência e 20 anos para pagar. Não são recursos a fundo perdido, mas que alavancam negócios. O protagonismo é das comunidades, mas se não houver protagonismo, não tem a complementariedade do governo.

Consultora em enoturismo, Ivane acrescenta:

– O turismo movimenta os três setores da economia. Tanto fomenta a agricultura, a indústria, o comércio e todos os serviços. E ainda agrega valor aos produtos ofertados. Qualquer produto de um território turístico bem trabalhado aumenta seu valor. Vejamos o case Gramado. Essa é a grande possibilidade de benefícios econômicos, sociais e culturais que um turismo bem planejado pode trazer. 

Números

  • Em 2017, o Vale dos Vinhedos, principal destino enoturístico do Brasil, recebeu 415.957 turistas, de acordo com a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
  • O número é 2% superior a 2016, quando 410 mil pessoas estiveram na região. 
  • Os meses de inverno (junho, julho e agosto) continuam sendo os mais movimentados do ano. Somente neste período do ano passado, o Vale dos Vinhedos recebeu aproximadamente 137 mil visitantes.  
  • Em seguida vem o período de Vindima, que recebeu cerca de 80 mil visitantes.  
  • O mês de dezembro de 2017 foi o grande responsável pela superação da marca: foram 10 mil visitantes a mais do que 2016, principalmente acumulados no período de festas.

Como os antigos imigrantes

DIOGO SALLABERRY

Mobirise

ADEGA ABASTECIDA | Valdirene e Antonio Marcos lotaram o porta-malas com vinhos e espumantes

O porta-malas lotado de caixas de marcas diversas reflete a paixão de Antonio Marcos da Silva e Valdirene Buava por vinhos e espumantes. Na última terça-feira, o casal vindo de Paraguaçu Paulista, município de aproximadamente 45 mil habitantes no interior de São Paulo, aproveitava as férias de inverno para visitar vinícolas em Bento Gonçalves. Naquela manhã gelada, escolheram a Cainelli, às margens da BR-470, no Vale do Rio das Antas. Em apenas dois dias na Serra Gaúcha, quase não havia mais espaço livre no compartimento de bagagens do automóvel.

Atualmente, a venda direta corresponde a 50% do faturamento da Cainelli.

– Tomamos vinho do mundo inteiro, mas não tínhamos o hábito de consumir vinhos brasileiros até vir pela primeira vez para a Serra no ano passado. São tão bons ou melhores do que os de outros países – elogia o engenheiro agrônomo, acrescentando que, após a primeira viagem, também passaram a adquirir diretamente nos e-commerces das empresas nacionais.

A professora diz terem ficado surpresos especialmente com as vinícolas de pequeno porte. O atendimento, na maioria pelos próprios produtores, é a principal razão da avaliação positiva.

– Já aprendemos muitas coisas sobre a elaboração dos vinhos que não sabíamos – emociona-se Valdirene.

Fundada em 1929 , a Cainelli abriu as portas para o enoturismo em 2012, depois de ficar fechada por quase 50 anos, entre 1965 e 2004. Com os primeiros vinhos chegando ao mercado em 2011, a família inspirou-se na antiga Festa da Colheita de Tuiuty, distrito de Bento onde a empresa está instalada, para oferecer aos turistas a experiência de pisar uvas como faziam os antigos colonos da região. Além disso, os visitantes podiam colher uvas diretamente do parreiral, degustar um verdadeiro banquete sob o vinhedo e passear de carretão. Tudo embalado por canções italianas entoadas por verdadeiras nonnas vestidas a caráter. Foi um sucesso. Na última vindima, 1,4 mil turistas adquiriram o pacote, ao custo de R$ 80.

– Precisávamos trazer o cliente para nos conhecer. Se o turista tiver que escolher entre viver uma experiência e apenas comprar um vinho, ele escolhe a experiência – lembra o enólogo Roberto Cainelli Júnior, 29.

Com o tempo, outras atrações foram sendo incluídas no menu de opções. Fora do período da colheita, quem visita a Cainelli pode conhecer um museu com objetos da família, degustar três rótulos da casa ao custo de R$ 10 ou aprender sobre o tão falado conceito de terroir, ou seja, o conjunto de fatores como clima, geografia e manejo do vinhedo, entre outros, que influenciam no resultado final do produto. Além disso, a vinícola realiza periodicamente eventos enogastronômicos como o Pane al forno (uma nonna assa pães em um forno de tijolos) e o Cordeiro e Vinho. Em frente à vinicola, um deck acomoda mesas onde o visitante pode realizar happy hours levando sua própria comida e degustando os vinhos produzidos no local.

  



Melhor pontuação no TripAdvisor

DIOGO SALLABERRY

Mobirise

PRIMEIRA NO RANKING  |  Com atendimento personalizado, Torcello caiu no gosto dos visitantes

Ostentando o posto de vinícola do Vale dos Vinhedos com melhor pontuação no site de viagens TripAdvisor, onde os próprios usuários opinam e dão notas a assuntos relacionados ao turismo, a Vinícola Torcello é outro exemplo de reinvenção e de como o enoturismo é uma ferramenta importante para alavancar as vendas. Com a primeira safra oficial em 2005, passou por uma reformulação sob o comando de Rogério Carlos Valduga, que viu no terreno às margens da ERS-444, por onde passam a cada ano cerca de 400 mil turistas, a oportunidade de começar um novo negócio.

Para atrir turistas, Valduga fez parcerias como guias e agências de turismo, principalmente os da Região das Hortênsias que traziam os visitantes de Gramado e Canela para conhecer o Vale. Inicialmente, não havia venda de produtos diretamente ao consumidor, já que o público alvo eram os revendedores. Apostando no atendimento personalizado, ganhou a simpatia de turistas e dos guias.

– O turista pode chegar a hora que quiser, sem reserva. Se chegarem duas pessoas, serão atendidas da mesma forma que um grupo. Deixa de ser uma visita e se torna um bate-papo e acaba criando um vínculo de amizade – conta ele.

Em 2017, a Torcello recebeu cerca de 8 mil visitantes, que pagaram cada um R$ 25 pela visita guiada. Em 2012, quando não havia cobrança de taxa, foram quase 20 mil turistas.

– Resolvemos colocar um valor, pois tinha muita gente que vinha, bebia os vinhos sem nenhum interesse em conhecer os produtos e ia embora sem comprar nada. Teve um ano que, num feriado de Corpus Christi, abrimos 67 garrafas para degustação gratuita e, em compensação, foram vendidas só 53. Cobrando a taxa, conseguimos limitar um pouco o perfil dos visitantes – explica.

Atualmente, 64% das vendas são realizadas na loja da vinícola, que produz anualmente 20 mil garrafas de vinho, 15 mil de espumante e 60 mil de suco, trabalho coordenado pela enóloga Maria Luiza Milani.

– O marketing boca a boca é o que melhor funciona – garante Valduga.






Enoclub com 8 mil integrantes

JOLIMONT, DIVULGAÇÃO

Mobirise

INCENTIVO  |  Clube de Vantagens concede benefícios aos clientes frequentes da Jolimont

Focar no e-commerce e em pacotes personalizados de passeios e degustações foi o caminho encontrado pela Vitivinícola Jolimont para atrair e fidelizar consumidores. Localizada a cinco quilômetros do centro de Canela, a empresa fundada por um francês em 1946 e comprada por brasileiros em 1987 passou a oferecer em 1991 a oportunidade de conhecer a elaboração dos vinhos. O negócio decolou em 1994, após a visita à vinícola de Guilherme Paulus, um dos fundadores da CVC. A aproximação foi fundamental para que a operadora passasse a incluir a Jolimont nos roteiros da Região das Hortênsias.

– Apostamos forte no pós-venda. Criamos um sistema para manter contato com os visitantes e investimos forte em telemarketing, site e loja online, além de perfis em todas as redes sociais. Alguns dias após a visita, sempre entramos em contato para saber como foi a viagem de volta e nos colocamos à disposição para quando precisarem – conta o diretor de e-commerce, Marçal Duarte Velho.

A vinícola conta ainda com um Clube de Vantagens, por meio do qual os clientes que adquirem produtos são divididos em duas categorias: Enotour e Enoclub. No Enoclub estão consumidores que já realizaram mais de três compras ou adquiram mais de R$ 1 mil em produtos. Os cerca de 8 mil integrantes têm benefícios como bônus na compra, área exclusiva de conteúdo, prioridade em lançamentos, canal exclusivo com sommelier e convites para eventos exclusivos, entre outros. De acordo com a vinícola, o tíquete médio por cliente é de R$ 520.

– Noventa e cinco por cento dos clientes do site são pessoas que visitaram a vinícola durante uma viagem a Gramado e Canela – contabiliza Duarte Velho.





A receita californiana

ROBERTO FURTADO, DIVULGAÇÃO IBRAVIN 

Mobirise

CONSAGRADOS  |  Liz Thach falou sobre vales de Napa e Sonoma

Em um dos painéis mais aguardados do 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, a master of wine americana Liz Thach mostrou como os vales de Napa e Sonoma, nos Estados Unidos, se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas e de que forma o setor vinícola soube aproveitar a atividade para potencializar seus negócios. Liz é uma das 370 profissionais no mundo com o título de master of wine. A expert leciona as disciplinas de Administração e Vinhos da Sonoma State Universtity tanto para cursos de graduação como de MBA. A californiana, jurada em diversos concursos e premiações vinícolas internacionais, é residente em Sonoma, onde cultiva um pequeno parreiral e elabora seu próprio Pinot Noir.

A partir da próxima edição, o Congresso Latino-Americano de Enoturismo se revezará com o evento europeu, com realização nos anos pares na América e, nos ímpares, na Europa, sempre de forma integrada. As próximas edições latinas serão realizadas no Chile (2020), no Uruguai (2022) e, novamente no Brasil (2024), com apresentação do pedido de Vila Flores para sediar os debates.

  • Como pode ser medida a importância do enoturismo para o setor vitivinícola, bem como para a região onde ele é desenvolvido?
    O enoturismo é um motor econômico na maioria dos principais países produtores de vinho. Por exemplo, nos Estados Unidos, as receitas oriundas do turismo da atividade foram de US$ 17,6 bilhões, com 43 milhões de turistas visitando as vinícolas americanas em 2017. Na Califórnia, a indústria do vinho emprega 325 mil californianos e fatura US$ 57,6 bilhões anualmente. A melhor maneira de avaliar os resultados do enoturismo é realizar estudos para determinar o número de turistas que visitam a cada ano, a quantidade média de gastos feitos por eles e o impacto econômico na região. 
  • O vinho por si só é suficientemente atrativo para levar turistas para uma região?
    A maioria das pesquisas sobre enoturismo indica que é importante que uma região tenha outras atrações turísticas próximas, em vez de apenas o vinho. Por exemplo, Napa e Sonoma são muito próximas de São Francisco, que é uma grande cidade turística. A Borgonha, na França, fica a três horas de carro ao sul de Paris, mas ainda tem muitos edifícios arquitetônicos e museus da Unesco que atraem turistas, além de trilhas para caminhada e restaurantes com estrelas Michelin. 
  • O enoturismo tem algum diferencial com outras modalidades turísticas? E o que tem em comum?
    O enoturismo está intimamente relacionado ao turismo culinário, ecoturismo, agroturismo e, em alguns lugares, como Central Otago, na Nova Zelândia, ao turismo de aventura. Para locais com spas e campos de golfe, o turismo do vinho pode ser vinculado à saúde e ao turismo esportivo, por exemplo. 
  • Existe algum efeito negativo dessa atividade?
    Se muitos turistas chegam a uma região de enoturismo e a infraestrutura (hotéis, restaurantes, estacionamento, polícia, médicos) ainda não está preparada, então pode ser muito frustrante para as pessoas que vivem lá. Além disso, muito tráfego pode criar poluição ambiental e sonora. Napa Valley e Sonoma têm sofrido com alguns desses problemas. 
  • No caso de Napa, quais foram as estratégias aplicadas para consolidar a região como um destino turístico?
    Napa é considerada uma das regiões de enoturismo mais bem sucedidas do mundo. Eles conseguiram isso principalmente através da alta qualidade do vinho, belas paisagens e esforços colaborativos entre vinícolas, empresas e outras partes interessadas. O Napa Valley Vintners (NVV) é uma organização que ajudou a liderar grande parte desse arranjo, e eles continuam a fazê-lo trabalhando de perto com os vinicultores e principais interessados, desenvolvendo programas regionais de promoção e realizando atividades de captação de recursos, como o leilão de vinhos do Napa.

Clique e leia mais


+ARTIGO

O foco agora é centralizar em educação continuada
com treinamentos e
desenvolvimento,
proporcionando
competitividade à empresa

+enoturismo

Proporcionar experiências aos visitantes é o caminho para alavancar vendas

+ENTREVISTA

Volare, de Caxias, comemora retomada dos negócios, mudança de sede e liderança no mercado de miniônibus

Compartilhe