DANDY MARCHETTI, DIVULGAÇÃO IBRAVIN
MERENDIN | Refeição feita sob o parreiral leva os turistas aos tempos dos primeiros colonos italiano
DIEGO ADAMI
diego.adami@pioneiro.com
Não é para beber vinho que as pessoas viajam, mas para viver experiências enoturísticas memoráveis que se traduzem em conhecimento, alegria, satisfação e bem viver. Enoturismo não é só o que está dentro da garrafa.
A afirmação da turismóloga Ivane Favero é uma síntese das ideias que nortearam o 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, na última semana de junho, em Bento Gonçalves. Cerca de 220 congressistas argentinos, uruguaios e brasileiros de oito Estados e do Distrito Federal se reuniram no Spa do Vinho, no Vale dos Vinhedos, para trocar experiências, debater políticas públicas, conhecer estratégias comerciais e estudar casos regionais e internacionais para qualificar os empreendimentos e os serviços prestados. O objetivo: desenvolver toda a região onde o turismo ligado ao vinho tem potencial de ser realizado.
– Se fosse só isso (beber vinho), talvez nem precisasse sair de casa. Hoje você pede qualquer vinho pela internet e vai chegar na sua casa. Eles (turistas) vêm para conhecer um território, a cultura, a paisagem. Por isso que defendemos muito o turismo de experiências – destaca Ivane, atual presidente da Associação Internacional do Enoturismo (Aenotur).
E, em se tratando de turismo, não há limites para a criatividade, e oferecer apenas a trivial visita guiada seguida de degustação já não basta. As opções para atrair cada vez mais visitantes podem variar de um simples, mas aconchegante, piquenique no jardim e concertos de música clássica em meio aos vinhedos a programas que incluem esportes radicais e passeios de carros de luxo pelas regiões vinícolas. Depende do perfil da empresa e dos visitantes que se pretende atingir.
Durante os três dias do congresso, representantes de instituições, associações, universidades e empreendimentos de Portugal, Estados Unidos, Argentina, Brasil, Chile e Uruguai apresentaram estratégias, tendências e oportunidades da atividade com casos bem-sucedidos no turismo mundial, como as regiões dos vales de Napa e Sonoma, Mendoza e de diferentes roteiros uruguaios, portugueses e chilenos.
O Brasil foi representado por cases da Serra e da Campanha Gaúcha, e teve a divulgação de dados de mercado e das iniciativas de articulação política do setor.
– O enoturismo é uma das principais ferramentas para o fortalecimento do setor vitivinícola. Cerca de 30% das vinícolas já possuem atrativos turísticos e, destas, 90% são micro e pequenas empresas. Nestes empreendimentos, mais de 40% da receita provêm da venda direta aos turistas – contabiliza o vice-presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Marcio Ferrari.
DANDY MARCHETTI, DIVULGAÇÃO IBRAVIN
EXPERIÊNCIA | Na última vindima, 1,4 mil visitantes participaram de roteiro da Vinícola Cainelli que inclui pisar uvas
Desde 2016, com a criação do Comitê de Enoturismo e posteriormente com o apoio à Aenotur, o Ibravin vem ampliando as ações voltadas à atividade, incluindo a realização do Congresso Latino-Americano neste ano e a viabilização do Dia do Vinho há uma década, dentre outras iniciativas. Até dezembro, um estudo iniciado em maio, contratado pelo Ibravin, vai mapear o perfil do enoturista da Serra. Além disso, a entidade coordenará, ao longo do segundo semestre, a elaboração de um plano de enoturismo gaúcho. E em uma terceira frente de trabalho, um convênio na ordem de R$ 5 milhões entre o instituto e o Sebrae Nacional destinará R$ 420 mil para ações de promoção das Indicações Geográficas, as IGs, de produção de vinho.
– Enquanto estamos aqui, muitas pessoas estão planejando suas viagens, e essa troca de experiências é fundamental para que o enoturismo gaúcho esteja entre as opções, como um ótimo destino, com grandes vinhos, paisagens maravilhosas e a receptividade que já é uma marca do nosso povo – ressaltou o secretário da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer do Rio Grande do Sul, Victor Hugo Alves da Silva.
Victor Hugo reforça ainda o papel dos setores públicos e privados na busca do sucesso de empreendimentos enoturísticos:
– O Badesul, por exemplo, tem linhas de crédito para parques temáticos e para hotéis com cinco anos de carência e 20 anos para pagar. Não são recursos a fundo perdido, mas que alavancam negócios. O protagonismo é das comunidades, mas se não houver protagonismo, não tem a complementariedade do governo.
Consultora em enoturismo, Ivane acrescenta:
– O turismo movimenta os três setores da economia. Tanto fomenta a agricultura, a indústria, o comércio e todos os serviços. E ainda agrega valor aos produtos ofertados. Qualquer produto de um território turístico bem trabalhado aumenta seu valor. Vejamos o case Gramado. Essa é a grande possibilidade de benefícios econômicos, sociais e culturais que um turismo bem planejado pode trazer.
DIOGO SALLABERRY
ADEGA ABASTECIDA | Valdirene e Antonio Marcos lotaram o porta-malas com vinhos e espumantes
O porta-malas lotado de caixas de marcas diversas reflete a paixão de Antonio Marcos da Silva e Valdirene Buava por vinhos e espumantes. Na última terça-feira, o casal vindo de Paraguaçu Paulista, município de aproximadamente 45 mil habitantes no interior de São Paulo, aproveitava as férias de inverno para visitar vinícolas em Bento Gonçalves. Naquela manhã gelada, escolheram a Cainelli, às margens da BR-470, no Vale do Rio das Antas. Em apenas dois dias na Serra Gaúcha, quase não havia mais espaço livre no compartimento de bagagens do automóvel.
Atualmente, a venda direta corresponde a 50% do faturamento da Cainelli.
– Tomamos vinho do mundo inteiro, mas não tínhamos o hábito de consumir vinhos brasileiros até vir pela primeira vez para a Serra no ano passado. São tão bons ou melhores do que os de outros países – elogia o engenheiro agrônomo, acrescentando que, após a primeira viagem, também passaram a adquirir diretamente nos e-commerces das empresas nacionais.
A professora diz terem ficado surpresos especialmente com as vinícolas de pequeno porte. O atendimento, na maioria pelos próprios produtores, é a principal razão da avaliação positiva.
– Já aprendemos muitas coisas sobre a elaboração dos vinhos que não sabíamos – emociona-se Valdirene.
Fundada em 1929 , a Cainelli abriu as portas para o enoturismo em 2012, depois de ficar fechada por quase 50 anos, entre 1965 e 2004. Com os primeiros vinhos chegando ao mercado em 2011, a família inspirou-se na antiga Festa da Colheita de Tuiuty, distrito de Bento onde a empresa está instalada, para oferecer aos turistas a experiência de pisar uvas como faziam os antigos colonos da região. Além disso, os visitantes podiam colher uvas diretamente do parreiral, degustar um verdadeiro banquete sob o vinhedo e passear de carretão. Tudo embalado por canções italianas entoadas por verdadeiras nonnas vestidas a caráter. Foi um sucesso. Na última vindima, 1,4 mil turistas adquiriram o pacote, ao custo de R$ 80.
– Precisávamos trazer o cliente para nos conhecer. Se o turista tiver que escolher entre viver uma experiência e apenas comprar um vinho, ele escolhe a experiência – lembra o enólogo Roberto Cainelli Júnior, 29.
Com o tempo, outras atrações foram sendo incluídas no menu de opções. Fora do período da colheita, quem visita a Cainelli pode conhecer um museu com objetos da família, degustar três rótulos da casa ao custo de R$ 10 ou aprender sobre o tão falado conceito de terroir, ou seja, o conjunto de fatores como clima, geografia e manejo do vinhedo, entre outros, que influenciam no resultado final do produto. Além disso, a vinícola realiza periodicamente eventos enogastronômicos como o Pane al forno (uma nonna assa pães em um forno de tijolos) e o Cordeiro e Vinho. Em frente à vinicola, um deck acomoda mesas onde o visitante pode realizar happy hours levando sua própria comida e degustando os vinhos produzidos no local.
DIOGO SALLABERRY
PRIMEIRA NO RANKING | Com atendimento personalizado, Torcello caiu no gosto dos visitantes
Ostentando o posto de vinícola do Vale dos Vinhedos com melhor pontuação no site de viagens TripAdvisor, onde os próprios usuários opinam e dão notas a assuntos relacionados ao turismo, a Vinícola Torcello é outro exemplo de reinvenção e de como o enoturismo é uma ferramenta importante para alavancar as vendas. Com a primeira safra oficial em 2005, passou por uma reformulação sob o comando de Rogério Carlos Valduga, que viu no terreno às margens da ERS-444, por onde passam a cada ano cerca de 400 mil turistas, a oportunidade de começar um novo negócio.
JOLIMONT, DIVULGAÇÃO
INCENTIVO | Clube de Vantagens concede benefícios aos clientes frequentes da Jolimont
ROBERTO FURTADO, DIVULGAÇÃO IBRAVIN
CONSAGRADOS | Liz Thach falou sobre vales de Napa e Sonoma
Em um dos painéis mais aguardados do 7º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, a master of wine americana Liz Thach mostrou como os vales de Napa e Sonoma, nos Estados Unidos, se transformaram em um dos principais e mais populares roteiros de enoturismo das Américas e de que forma o setor vinícola soube aproveitar a atividade para potencializar seus negócios. Liz é uma das 370 profissionais no mundo com o título de master of wine. A expert leciona as disciplinas de Administração e Vinhos da Sonoma State Universtity tanto para cursos de graduação como de MBA. A californiana, jurada em diversos concursos e premiações vinícolas internacionais, é residente em Sonoma, onde cultiva um pequeno parreiral e elabora seu próprio Pinot Noir.
A partir da próxima edição, o Congresso Latino-Americano de Enoturismo se revezará com o evento europeu, com realização nos anos pares na América e, nos ímpares, na Europa, sempre de forma integrada. As próximas edições latinas serão realizadas no Chile (2020), no Uruguai (2022) e, novamente no Brasil (2024), com apresentação do pedido de Vila Flores para sediar os debates.
O foco agora é centralizar
em educação continuada
com treinamentos e
desenvolvimento,
proporcionando
competitividade à empresa
Proporcionar experiências aos visitantes é o caminho para alavancar vendas
Volare, de Caxias, comemora retomada dos negócios, mudança de sede e liderança no mercado de miniônibus
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