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16 de JUlHO de 2018

+de manta e cuia

Frio que gira a
economia da Serra

comércio, hotelaria e gastronomia são alguns dos setores que mais lucram com a chegada do inverno

FELIPE NYLAND

Mobirise

NEGÓCIOS AQUECIDOS  |  Estação mais fria do ano costuma alavancar as vendas de muitas empresas da região

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

É em meio às baixas temperaturas do inverno que diversos segmentos da economia se aquecem na Serra Gaúcha. O turismo, a gastronomia e o comércio são alguns dos ramos que mais se beneficiam do frio. Quanto mais os termômetros descem, mais o faturamento sobe. Afinal, é nesta época que os consumidores se mostram dispostos a abrir a carteira para garantir o conforto, seja ao degustar uma sopa de agnolini bem quente ou comprar uma estufa nova para a casa.

– O frio é um vetor que pode apresentar uma variação positiva entre 30% a 40% nas vendas totais, dependendo do setor – analisa Mosár Leandro Ness, economista e assessor de economia e estatística da Câmara de Dirigente Lojistas de Caxias do Sul (CDL Caxias).

Esse movimento acaba se refletindo no termômetro de vendas elaborado pela CDL Caxias. No último levantamento, realizado em maio, um dos ramos que mais cresceu foi o de vestuário e calçados, com alta de 8,64%. Fruto da maior procura por artigos voltados ao frio, a expansão desse nicho foi superior à do comércio como um todo, que avançou 2,96% no período. Segundo Ness, supermercados e farmácias também notam incremento na demanda, pois as pessoas costumam comprar mais medicamentos para combater as doenças da estação e alimentos.

As faces mais visíveis do aquecimento da economia serrana, porém, estão na hotelaria e na gastronomia. O turismo vive sua alta temporada no inverno, já que a região se torna um dos destinos mais procurados pelos viajantes brasileiros. Sendo assim, Gramado e Bento Gonçalves concentram a maior parte da atenção dos turistas. E a tendência é de que, em 2018, o movimento seja maior do que nos anos anteriores.

– Esse ano, o fluxo está melhor do que no ano passado, até porque o momento econômico está diferente – mensura Fernando Boscardin, presidente do Sindicato da Hotelaria e Gastronomia da Região das Hortênsias (SindTur Serra Gaúcha).

Em Gramado e arredores, existem cerca de 20 mil leitos, e a taxa de ocupação na rede hoteleira nos finais de semana chega a 85%. Durante as férias escolares de julho, o índice supera a marca de 90%. Já na Região Uva e Vinho, o Sindicato da Hotelaria e Gastromia (SEGH) calcula que a ocupação média é de 70% dos mais de 9 mil leitos disponíveis. Em Bento, a taxa é superior a 80% nesta altura do ano.  

Consumo de vinho 

Se tem uma bebida que caracteriza o inverno esta, sem dúvida, é o vinho. Na principal região vitícola do Brasil, o consumo de rótulos dos mais variados tipos é uma tradição, sobretudo na época mais fria do ano.

– O consumo de vinho tem um pico maior no inverno. O frio intensifica o consumo e é um dos melhores garotos-propaganda para o setor – sintetiza Oscar Ló, presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).

Segundo o presidente do Ibravin, Oscar Ló, os vinhos tintos são os que mais são consumidos no inverno

Segundo estatísticas do Ibravin, a comercialização da bebida sempre cresce no segundo trimestre de cada ano, que é quando as vinícolas abastecem os estabelecimentos para a demanda do inverno. No ano passado, foram vendidos 61,44 milhões de litros de abril a junho contra 31,79 milhões de litros nos três meses anteriores. Ou seja, a perspectiva de chegada do frio fez crescer em 93% os negócios do setor.

A baixa temperatura também é essencial para o desenvolvimento da matéria-prima do vinho.

– É de fundamental importância para manter a planta em dormência. Depois do acúmulo de frio, ocorre a brotação da uva e ela floresce com mais vigor – aponta Ênio Todeschini, engenheiro agrônomo do escritório da Emater em Caxias do Sul.

Para a vitivinicultura, considera-se frio as horas com temperatura inferior a 7,2 graus. Dependendo da variedade da uva, recomenda-se até 400 horas de frio para o desenvolvimento, como é o caso da cabernet sauvignon. No ano passado, a Serra teve 189 horas de frio, ficando abaixo da média histórica, que é superior a 400 horas. Neste ano, até junho, já foram 156 horas. (Colaboraram André Fidler e Cláudia Alessi)

Cresce a fabricação de massas

DIOGO SALLABERRY

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agnolini  |  Produção na Massas Santa Clara, de Caxias, quadruplica durante o inverno

O inverno é uma época que costuma atiçar o paladar dos consumidores para uma série de iguarias. Neste sentido, um dos campeões de vendas é o agnolini, artigo indispensável nas sopas dos habitantes da Serra. E a preferência é pelo agnolini caseiro, que remete àquele feito pela nonna. Nesta época, a produção nas fábricas de massas cresce substancialmente. Conforme cresce o frio, mais saída tem o produto. 

Na Massas Santa Clara, de Caxias do Sul, a produção quadruplica durante a estação do frio. São produzidos 100 quilos diários de agnolini e outros 50 quilos de outras massas, como macarrão, tortéi e ravioli.

O agnolini é tão consumido na reigão que se tornou um dos produtos levados em consideração pela UCS na hora de calcular o preço da cesta básica de Caxias do Sul.

— Quando dá uma esfriada, o pessoal busca mais o produto. Acabamos trabalhando direto nos finais de semana no inverno. Aceleramos a produção – conta Daniela Cavion Valentin, uma das sócias da empresa.  

A produção da Santa Clara deu um salto nos últimos dois anos, quando a empresa adquiriu uma máquina que ajuda na fabricação das massas. Sem o equipamento, a produção diária era de, no máximo, 30 quilos.

O acabamento do agnolini, no entanto, ainda é feito manualmente. Isso porque o objetivo é garantir a mesma qualidade da massa fabricada há mais de 40 anos por Zulmira Cavion, matriarca da família e responsável por iniciar o negócio. Hoje, Zulmira e os filhos Daniela e Flávio são os responsáveis por gerir a empresa e também fazem as massas.

Atualmente, a empresa familiar fornece os alimentos para mais de 30 pontos de venda em Caxias, Farroupilha, Osório e em Porto Alegre, sendo a maioria mercados. Além disso, a empresa faz vendas diretas aos consumidores.  

Movimento nas malharias dispara

DIOGO SALLABERRY

Mobirise

a cada 15 dias | Dona de loja em São Gabriel, Élida não abre mão de vir até os centros de compras e malharias de Caxias do Sul e Farroupilha para abastecer seu estoque

– Bom dia, gurias. O que tem de novidade? – indaga a empresária Élida Vieira à vendedora logo ao entrar em uma loja em um shopping de confecções em Farroupilha.

O tom informal entrega a proximidade de Élida com os lojistas e fabricantes de malhas da Serra. Dona de uma loja de roupas em São Gabriel, na Região da Campanha, ela vem há 35 anos buscar mercadorias nos centros de compras e malharias em Caxias do Sul e Farroupilha. Por isso, conhece bem os trabalhadores de muitas das empresas da região. No inverno, Élida vem a cada 15 dias em excursão à região serrana para rechear seu estoque. O roteiro de compras começa ainda na madrugada, por volta das 3h, e segue até às 17h30min, quando o ônibus retorna ao local de origem.

– De cada loja levo um pouco. Compro de tudo, calças, blusões, palas, roupas para o frio em geral – relata.

A rotina é semelhante à da empresária Consuelo Franz Ferreira, dona de duas lojas de roupas em Pelotas e uma em Canguçu, no Sul do Rio Grande do Sul. Ela vem com frequência à Serra Gaúcha para municiar seu comércio.

– Venho há 28 anos na Serra. É um ponto de referência. Em Caxias e Farroupilha é onde realmente conseguimos nos abastecer de mercadoria – comenta.

As excursões vindas de diferentes partes do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná se proliferam nesta época do ano nos estabelecimentos serranos. Há dias em que mais de 50 grupos vêm à Serra simultaneamente. Segundo a Associação dos Centros de Compras da Serra Gaúcha (Acecors), que congrega 360 empresas de confecção da região, são recebidas mais de 10 mil excursões durante todo o ano, gerando um fluxo de 150 mil compradores. Em 2018, já chegaram 4 mil grupos. O auge do movimento ocorre entre abril e julho. 

O perfil das excursões vem se modificando ao longo do tempo. No passado, os lojistas só conheciam as novidades e decidiam que produtos levar ao chegar na Serra. Agora, na era da internet, os empreendedores já conhecem as mercadorias e encaminham as negociações a distância.

– O relacionamento de vendas está se transformando. Com a facilidade de acesso às redes sociais, os lojistas não precisam se deslocar até os centros produtores para comprar. Isso diminui as excursões um pouco – destaca Paola Reginatto, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e Malharias da Região Nordeste do Rio Grande do Sul (Fitemasul).

Ainda assim, a dirigente constata que, mesmo com a abertura de novos meios de vendas, as excursões seguem sendo uma fonte importante de receitas para as empresas da Serra e esse panorama deve perdurar por um longo tempo. 

De uma necessidade pessoal surge uma fábrica de lareiras

Felipe Nyland

Mobirise

demanda em alta  |  Segundo Guerra, Castellar produz 600 lareiras ao ano e tem conseguido aumentar
a produção em até 20%

Em uma noite de inverno na Serra Gaúcha, há cerca de 15 anos, Jair Guerra não conseguiu dormir. Ele havia comprado uma lareira para sua casa, no intuito de enfrentar as baixas temperaturas e garantir noites tranquilas de sono. No entanto, suas expectativas foram frustradas. O acionamento do equipamento acabou causando insônia em Guerra.

– Era uma lareira aberta, então estralava a lenha, saía fagulha. Não dormi com medo que pegasse fogo na casa – relembra o empreendedor.

Como sua família tinha uma metalúrgica, ele pensou em desenvolver um modelo alternativo de lareira. Criou um protótipo com aço e fechado com vidro. Mostrou para um amigo a criação e, a partir dali, começou a receber pedidos de pessoas interessadas em adquirir um produto semelhante. Surgia assim a Castellar Lareiras, empresa com sede em Barão e que produz em torno de 600 equipamentos por ano.

São mais de 10 modelos diferentes no catálogo da empresa, todos produzidos com materiais como cobre e inox. O que varia é o tamanho da lareira e alguns detalhes que podem ser encomendados pelo cliente, como a cor das chapas. O diferencial das lareiras fechadas é o melhor desempenho. Isso porque o aproveitamento da lenha é bem superior ao das lareiras abertas. Além disso, não se espalha cinzas ou fumaça no ambiente enquanto o fogo arde.

Na média, os preços das lareiras fechadas vão de R$ 3 mil a R$ 12 mil, dependendo do modelo. Guerra, sócio da Castellar, diz que a companhia vive em função do inverno. Se não há perspectiva de frio, os negócios caem.

– Torcemos todos os anos pelo frio. Se fizer um frio caprichado neste ano, isso vai se refletir em mais vendas no ano que vem – aponta Guerra.

Mesmo que os invernos recentes tenham sido mais amenos do que a média, a demanda pelo produto tem crescido. A Castellar aumenta de 15% a 20% por ano a produção na fábrica. Guerra diz que a perspectiva é manter o ritmo de expansão. Ele argumenta que hoje existem poucas fabricantes nacionais de lareiras, já que a maioria dos produtos é importada.

Atualmente, os principais mercados da companhia estão na região metropolitana de Porto Alegre e na Serra. Também há uma série de clientes nos outros Estados do Sul. Em torno de 90% das vendas são para consumidores finais. O restante dos negócios é feito com construtoras, que já equipam seus prédios com as lareiras da empresa.

Piso aquecido garante conforto em meio às baixas temperaturas

FERNANDO SOARES

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calefação  |  Central do piso aquecido fica escondida na parede, diz Wisintainer

Comum na Europa e até em países vizinhos, como a Argentina, a instalação de calefação em residências ou ambientes de trabalho está longe de ser corriqueira na Serra. Mesmo com o rigor do inverno, ainda é pouco usual encontrar esse item nas casas ou apartamentos dos habitantes da região. Os fabricantes de aquecedores, no entanto, começam a oferecer novas alternativas para tentar mudar esse panorama. Uma das que despontam com mais força é o aquecimento por meio do piso. 

Nesta modalidade, o aquecimento ocorre de baixo para cima, através do chão. Para isso, instala-se um sistema especial de tubulação para água aquecida sob o piso e um aquecedor. O usuário pode controlar a temperatura através do termostato. Em um ambiente de 100 metros quadrados, o custo para a instalação deste modelo chega a quase R$ 30 mil, segundo Júlio Giacomet, sócio da Giacomet, empresa caxiense que fabrica sistemas de aquecimento.

Segundo Giacomet, o preço médio para adotar o sistema é de R$ 150 o metro quadro, além do equipamento para aquecimento.

Ele lembra que o momento ideal para colocar o sistema é durante a construção ou a reforma de um local. Para Giacomet, o pouco uso de calefação na Serra não se restringe a uma questão financeira.

– A falta de conhecimento (sobre a calefação) é preponderante. Ninguém em sã consciência deixaria de oferecer conforto à família – analisa.

O contador Ricardo Wisintainer decidiu adotar o sistema de piso aquecido ao adquirir um apartamento na planta. Ele investiu em torno de R$ 25 mil na instalação da calefação. Hoje, ele, a esposa e os três filhos aproveitam os benefícios dessa escolha.

– Instalamos por uma questão de conforto e saúde. Estamos sempre com a temperatura agradável dentro de casa. Temos três filhos pequenos e nenhum está com problemas respiratórios – diz.

Outra vantagem, segundo Wisintainer, é estética. A calefação no piso passa despercebida dentro de casa, já que a central de controle da tubulação pode ficar “escondida” na parede.

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