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24 de setembro de 2018

+finanças públicas

Dependência externa

maioria dos municípios da região não gera recursos próprios suficientes para manter a máquina pública 

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

roni rigon, bd, 15;10/2010

Mobirise

pinhal da serra | Município na divisa com Santa Catarina gera menos de 5% das receitas necessárias para custear a sua estrutura

Três de cada cinco municípios da Serra não conseguem gerar receitas próprias suficientes para custear a estrutura da máquina pública, entre prefeitura, secretarias e Câmara de Vereadores. A constatação é feita pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em estudo sobre a capacidade de geração de tributos municipais e o custo das administrações de todo o país. Ao todo, 29 das 49 cidades serranas, praticamente 60% delas, dependem dos repasses de verbas da União e do Estado para conseguir suprir os gastos básicos. Juntas, essas localidades arrecadam R$ 53,3 milhões, mas gastam R$ 113,2 milhões por ano na manutenção do Executivo e do Legislativo.

O levantamento da Firjan desconsidera a capacidade dos municípios investirem em áreas cruciais, como educação, saúde e segurança, e foi realizado apenas nas localidades com menos de 20 mil habitantes. A referência são os balanços financeiros de 2016, informados pelas prefeituras à Secretaria do Tesouro Nacional. Por este critério, na região, só Monte Alegre dos Campos, Paraí, Picada Café e Serafina Corrêa são autossustentáveis.

A iniciativa foi realizada em um momento no qual a Câmara dos Deputados está prestes a votar um projeto de lei que pretende criar novas diretrizes para a formação de municípios no Brasil. Pelo texto, na Região Sul, apenas seria permitida a emancipação de locais com mais de 20 mil habitantes.

– Desde a Constituição de 1988, houve crescimento acelerado na criação de municípios, mas essa emancipação não está condicionada ao potencial de os municípios gerarem receita para se manterem. Temos um número muito grande de municípios no Brasil com baixo percentual de arrecadação própria – destaca Nayara Freire, analista de estudos econômicos da Firjan.

Entre os 29 municípios da Serra dependentes das receitas externas, a maioria possui até 30 anos de existência. No total, são 17 jovens municípios, com arrecadação de impostos municipais, como IPTU e ISS, de R$ 21,5 milhões. Em contrapartida, o custo da máquina pública chega a R$ 55,5 milhões. Neste sentido, os repasses da União, através do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), e do Estado, por meio do retorno do ICMS, acabam se tornando vitais para a manutenção em diversas localidades serranas.

O prefeito de Veranópolis e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), Waldemar De Carli (MDB), explica que essa situação ocorre em função do perfil econômico dos municípios. Em geral, as cidades pequenas são voltadas à agricultura, possuem poucas empresas em operação e dificilmente atraem investimentos.

– São municípios com poucas residências, aí o IPTU é pequeno. Também não ocorrem muitas transferências de imóveis, que acabam gerando o ITBI. Então sempre haverá essa dependência dos repasses.

O município da Serra com menor capacidade de geração de receitas para custeio da máquina pública é Pinhal da Serra, com população de 1,9 mil habitantes. A administração consegue levantar apenas R$ 297 mil dos R$ 6,9 milhões necessários para a manutenção das estruturas municipais, ou 4,29% do total. É o índice mais baixo do Estado. O prefeito Anderson de Jesus Costa (PP) reconhece que a maior parte das despesas é custeada por recursos do FPM.

– A população é basicamente rural. A arrecadação com tributos como IPTU é quase insignificante.

O prefeito argumenta que a criação do município trouxe maior desenvolvimento à população local. Segundo Costa, a emancipação favoreceu a busca por recursos em áreas como saúde e educação. (Colaborou Leonardo Vieceli). 

Total da receita própria no custeio
da máquina pública (%)

Fonte: Firjan

Mobirise

 Prefeitos destacam função social

Ainda que tenham dificuldades para obter receitas próprias, os municípios pequenos possuem um importante papel social, já que conseguem atender às demandas da população melhor do que se permanecessem como um distrito de outra cidade maior. Essa é a justificativa comum entre os prefeitos das localidades de menor porte.

– Como município, conseguimos ter uma relação mais próxima com os habitantes, que buscam educação, saúde e os serviços na prefeitura. Por isso a emancipação foi uma grande evolução – destaca Jorge Pivotto (PT), prefeito de São Jorge, município que fazia parte de Nova Prata até 1987.

São Jorge é o segundo município serrano mais dependente dos repasses federais e estaduais. A receita própria do local é suficiente para bancar apenas 20,31% da máquina pública. O prefeito alega que a cidade tem dificuldade para atrair investimentos, em função da falta de acesso asfáltico. Além disso, em um local com pouco mais de 2,8 mil habitantes e voltado à produção rural, há poucas residências, o que impacta diretamente na arrecadação de IPTU.

O prefeito de Vila Flores, Vilmor Carbonera (DEM), aponta que a revisão do pacto federativo poderia ser uma alternativa para tornar as pequenas cidades menos dependentes da União e do Estado. Ele lembra que parte da arrecadação gerada nas cidades fica na mão dos governos federal e estadual e só depois acaba retornando ao município em forma de repasse, mas sempre em menor proporção.

– Hoje, Estado e União ficam com parte do que o município gera de receita. Com uma revisão do pacto federativo, com certeza conseguiríamos nos manter com receitas próprias – aponta Carbonera

Conforme a Firjan, Vila Flores arrecada R$ 3,3 milhões em tributos próprios e despende R$ 3,9 milhões na manutenção da máquina pública. Ou seja, a cidade gera 85,93% dos recursos necessários para manter sua estrutura. Neste sentido, Carbonera aponta que há a intenção de implantar medidas que melhorem a arrecadação. Uma delas é a revisão do Plano Diretor, que deve acompanhar uma revisão das alíquotas do IPTU.

Outra saída encontrada pelo município emancipado de Veranópolis tem sido o turismo, que gira principalmente em torno da Pousada dos Capuchinhos. Ao todo, são recebidas até 400 pessoas por final de semana na cidade, que possui em torno de 3,3 mil habitantes.

A situação em cada cidade

Município PopulaçãoDespesa  Receita própria
Pinhal da Serra2115R$ 6,9 milhõesR$ 297,3 mil
São Jorge2844R$ 3,5 milhõesR$ 721,4 mil
Guabiju1606R$ 3,1 milhõesR$ 666,3 mil
André da Rocha1300R$ 3,5 milhõesR$ 770,3 mil
Protásio Alves2037R$ 3,2 milhõesR$ 768,8 mil
União da Serra1393R$ 2,1 milhõesR$ 540,8 mil
Coronel Pilar1734R$ 2,6 milhõesR$ 710,5 mil
Campestre da Serra3400R$ 2,6 milhõesR$ 720,2 mil
Pinto Bandeira2847R$ 3 milhõesR$ 910,5 mil
Vista Alegre do Prata1612R$ 3,2 milhõesR$ 1,1 milhão
Bom Jesus11784R$ 7,8 milhõesR$ 2,8 milhões
Muitos Capões3147R$ 5 milhõesR$ 1,8 milhão
Santa Tereza1780R$ 2,4 milhõesR$ 957,2 mil
Jaquirana4110R$ 5,1 milhõesR$ 2,2 milhões
Cotiporã4004R$ 4,4 milhõesR$ 1,9 milhão
Montauri1551R$ 1,9 milhãoR$ 888,9 mil
Nova Roma do Sul3584R$ 3,8 milhõesR$ 1,8 milhão
São Valentim do Sul2261R$ 2,5 milhõesR$ 1,3 milhão
Nova Pádua2563R$ 2,5 milhõesR$ 1,3 milhão
Boa Vista do Sul2859R$ 3,9 milhõesR$ 2,1 milhões
Esmeralda3307R$ 2,8 milhõesR$ 1,6 milhão
Ipê6448R$ 4,5 milhõesR$ 2,7 milhões
São José dos Ausentes3483R$ 3,3 milhõesR$ 2 milhões
Nova Araçá4429R$ 3,9 milhõesR$ 2,4 milhões
Antônio Prado13296R$ 8,4 milhõesR$ 6 milhões
Monte Belo do Sul2696R$ 2,2 milhõesR$ 1,6 milhão
Fagundes Varela2716R$ 2,8 milhõesR$ 2,3 milhões
Vila Flores3373R$ 3,9 milhõesR$ 3,3 milhões
Nova Bassano9540R$ 7 milhõesR$ 6,2 milhões

 Possível alteração na lei não deve impactar a Serra

diogo sallaberry, 09/01/2018

Mobirise

pinto bandeira |  Caçula da Serra, município tem na vitivinicultura a principal atividade econômica

Segundo a Amesne, a eventual alteração na legislação para criação de novos municípios não deve impactar a Serra. Isso porque não há, no momento, nenhum movimento de emancipação em curso na região. Assim, o caçula do Rio Grande do Sul deve continuar sendo Pinto Bandeira, que há cinco anos tem autonomia política.

O antigo distrito de Bento Gonçalves passou por uma batalha judicial até conseguir sua emancipação. A primeira tentativa de separação ocorreu em 1996, com base em uma lei estadual. Em 2003, uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a reintegração ao território de Bento. Somente em 2010, o STF decidiu pelo retorno da condição de município. Após a eleição para a prefeitura, em 2012, o município foi reinstalado no primeiro dia de 2013.

Com 2,8 mil habitantes, Pinto Bandeira arrecada R$ 910 mil em impostos municipais e aporta R$ 2,6 milhões na manutenção da prefeitura e da Câmara de Vereadores. O prefeito Hadair Ferrari (MDB) admite que seria inviável administrar a cidade sem os recursos da União e do Estado. Atualmente, o Fundo de Participação dos Municípios é responsável por mais da metade da receita. Por outro lado, Ferrari salienta que a condição de município permite que haja mais investimentos no local.

– Hoje conseguimos aplicar em torno de 20% da arrecadação mensal em investimentos. Se continuássemos como distrito de Bento, Pinto Bandeira estaria completamente parada. Porque Bento está parada – acredita o prefeito.

A principal atividade econômica é a agricultura, com destaque para a vitivinicultura. Mesmo com vinícolas na cidade, o potencial de arrecadação é reduzido. Isso porque, segundo o prefeito, os produtores entregam 90% da uva para vinícolas de Bento e Farroupilha. Com isso, boa parte dos impostos gerados pelo beneficiamento da fruta em forma de vinho ou suco fica na cidade da indústria e não vai para o cofre de Pinto Bandeira.

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