Terezinha Buchebuan atuou no Iphan durante um período em que o órgão tentava se aproximar da comunidade, buscando se recuperar do desmonte sofrido durante o governo Collor, no início da década de 1990, quando todos os escritórios técnicos do país haviam sido fechados. A falta de servidores e a burocracia excessiva alienaram a parte dos proprietários que podia – e queria – arcar com a restauração de suas casas, mas não conseguia autorização:
– Começamos a estabelecer rotinas de encaminhamento e os processos começaram a andar mais. Isso foi contribuindo para que a comunidade também compreendesse melhor a importância do patrimônio. Recursos também começaram a ser aportados, tivemos muitos restauros, até porque era um momento econômico interessante.
No entanto, os recursos nunca foram suficientes. Hoje, há sete ações judiciais em andamento, nas quais o MPF cobra a restauração das casas. Em cinco dos processos, o Iphan está entre os réus. A última decisão favorável ao MPF veio no início de abril. O juiz Fernando Etges, da 3ª Vara Federal de Caxias, determinou que o Iphan e os proprietários efetuem o restauro da casa Tergolina-Rizzieri, obra que estava orçada em quase R$ 800 mil em 2013.
A ação teve origem em inquérito civil público aberto ainda em 2008 pela procuradora da República de Caxias Luciana Guarnieri. Ela relata que o MPF começou a olhar para o patrimônio de Antônio Prado no início da década de 2000, após uma das casas tombadas pegar fogo.
– Era uma casa que estava bem deteriorada e o proprietário estava em um impasse com o Iphan. Ele queria fazer algumas modificações, mas o Iphan não concordava, e naquele meio tempo aquela casa incendiou. As casas do lado não pegaram fogo por milagre – lembra.
Após longo processo, técnicos decidiram que a residência deveria ser reconstruída com um memorial do incêndio ao lado. Desde então, Luciana abriu inquéritos para quase todas as outras construções, buscando impedir situações semelhantes. Por meio de acordos, conseguiu priorizar reformas nos casos mais críticos e substituir a instalação elétrica das residências, por exemplo. No entanto, 11 inquéritos seguem em aberto.
– A partir daí, fomos entrando com ações contra o Iphan, contra as pessoas, ou ainda esperando as reformas, conforme a capacidade do Iphan acompanhar e fiscalizar – afirma.
A procuradora explica que a responsabilidade do restauro geralmente recai sobre o órgão federal porque os proprietários não têm recursos suficientes.
– Não é uma simples reforma. Tem que seguir normas, depende do trabalho de pessoas especializadas e é muito mais oneroso. Para qualquer restauro de uma casa dessas a gente está falando em R$ 500 mil, R$ 700 mil, R$ 800 mil. Então não é pouca coisa. Tem que fazer todo o inventário do estado da casa, desmanchar, catalogar, reaproveitar tudo o que é possível. E a maioria dessas pessoas, sozinhas, não tem condições, porque são residências.
O Iphan, por sua vez, simplesmente não recebe verbas suficientes da União, que é ré em três ações e já recorreu de decisão desfavorável em primeira instância em duas delas.
– A dificuldade é orçamentária. Todo ano, o Iphan faz uma lista de prioridades, que vai para Brasília. Eu tenho certeza de que grande parte do que é pedido não vem. Essas casas com ações em aberto, eu tenho certeza que ficaram anos na fila como prioridade. A gente foi entrando com as ações ao perceber que o dinheiro não ia vir nunca. Às vezes, o projeto está elaborado e se perde o pouco que foi feito, já que até executar tem que fazer outro. Não é fácil – lamenta.
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