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FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Renome Tonietto acredita que IGs consolidarão vinho brasileiro
Vinho é praticamente um sinônimo para Serra Gaúcha. Afinal, a região produz 85% de toda a bebida à base de uva no Brasil. Dentro dessa localidade, entretanto, existem várias Serras, com características distintas na produção de vinhos e espumantes. Essas diferenças ficam evidenciadas através das chamadas Indicações Geográficas (IGs), certificações que denotam a origem de fabricação de um determinado produto. No âmbito vitivinícola, o Rio Grande do Sul possui cinco das seis indicações brasileiras. E são todas serranas.
A IP se relaciona com o nome geográfico de uma localidade que elabora determinado produto. Já a DO vai além. Ela atesta que a qualidade e as características de um produto são devidas à terra, ao clima e à história da região. Na DO, os controles e normas são mais rígidos que na IP.
O precursor
NA FRENTE Vale dos Vinhedos foi a primeira região do Brasil a obter uma indicação geográfica
O Vale dos Vinhedos foi o pioneiro na busca de reconhecimento junto ao INPI. No início dos anos 2000, conseguiu a primeira Indicação de Procedência do país. O passo maior, porém, foi dado em 2012, quando a região que compreende os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul ganhou uma Denominação de Origem. Até hoje, é a única DO outorgada para vinhos no país.
A honraria estabeleceu um antes e um depois para o Vale. O número de visitantes cresceu 65%, indo de 248 mil a 410 mil, entre 2012 e 2016. O preço da terra, dependendo da localização, subiu entre 200% e 500%. Um hectare pode custar, atualmente, até R$ 500 mil.
– A denominação de origem trouxe uma evolução no conceito do Vale dos Vinhedos. Quando se tem um produto sem indicação geográfica, ele fica solto na multidão, acaba sendo mais um mais no mercado – compara Jaime Milan, consultor técnico da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Para um vinho ganhar o selo de procedência na garrafa não basta ele ter sido feito naquele local. As associações de cada região possuem critérios específicos de análise para verificar se o produto se enquadra.
– Existe um comitê de qualidade que vê se os requisitos foram cumpridos. São feitas degustações e também análise físico-química para decidir se o produto levará o selo – explica José Virgilio Venturini, presidente da Associcação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes (Apromontes).
Entre as IGs gaúchas, Altos Montes é a única que ainda não tem produtos no mercado. Isso porque houve um problema no design do selo de procedência, que está sendo refeito. A expectativa é de que, em 2018, 700 mil garrafas feitas na localidade exponham a indicação nos rótulos.
foco nos espumantes Pinto Bandeira quer pleitear uma DO para espumantes
A próxima Denominação de Origem (DO) para vinhos gaúchos deverá ser concedida a Pinto Bandeira. O município já começou a elaborar a documentação necessária para pleitear o título junto ao INPI. O foco da DO será destinado à elaboração de espumantes pelo método tradicional, cuja fermentação ocorre dentro da garrafa.
– Estamos adiantados no processo. Acreditamos que até final de 2018 sai o reconhecimento da DO – acredita Arlete de Césaro, secretária executiva da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho).
Atualmente, a localidade possui uma Indicação de Procedência (IP) para vinhos tranquilos (sem gás) e espumantes. Arlete relata que, desde 2010, quando a IP foi obtida, os negócios das vinícolas locais deram um salto e o interesse pela região aumentou. A quantidade de visitantes por ano pulou de 3 mil para 35 mil, em 2016. Além disso, as terras se valorizaram. O preço médio do hectare dobrou, passando de R$ 50 mil a R$ 100 mil.
O forte de Pinto Bandeira são os espumantes. Empresas como Geisse e Don Giovanni, duas das quatro que hoje possuem produtos com o selo da IP, têm praticamente toda sua produção de uvas voltada para esse tipo de bebida. Ao todo, 450 dos 1,2 mil hectares locais são de frutas viníferas, utilizadas na elaboração de vinhos finos.
Entre as regiões que já ostentam o título de IP, é comum o desejo de avançar um degrau e pleitear uma DO. É o que também acontece com Farroupilha, que desde 2015 possui selo próprio. Com predomínio da uva moscato na produção de vinhos e espumantes, nove vinícolas locais possuem produtos que se enquadram dentro dos critérios exigidos pela IP. No ano passado, elas colocaram 300 mil litros de vinhos e espumantes certificados no mercado. O objetivo é elevar o montante a 900 mil litros por ano.
– Temos a particularidade de produzir metade da uva moscato do Brasil e queremos que nosso vinho seja reconhecido. A Indicação de Procedência é boa para nos dar conhecimento para, mais na frente, buscarmos uma DO – detalha o presidente da Associação Farroupilhense de Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin), João Carlos Taffarel.
Entre todas as indicações geográficas de vinhos no Brasil, a de Farroupilha detém a maior extensão territorial. Ao todo são 379 km², sendo 128 km² apenas de área com moscatéis. A maior parte da produção local é de vinhos tranquilos e, na sequência, de espumantes.
Ano de obtenção – 2012
Área total – 72,45 km²
Área de vinhedos – 1.500 hectares
Municípios – Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul
Vinícolas – 23
Produção – Vinho fino tinto seco, Vinho fino branco seco e espumante
Principais uvas – Merlot, Chardonnay e Pinot Noir
Ano de obtenção – 2010
Área total – 81,38 km²
Área de vinhedos – 1.200 hectares
Municípios – Pinto Bandeira (91% da área), Bento Gonçalves e Farroupilha
Vinícolas – 4
Produção – Espumante método tradicional, Espumante moscatel, Vinho fino tinto seco e Vinho fino seco branco
Principais uvas – Chardonnay, Pinot Noir e Riesling
Ano de obtenção – 2013
Área total – 173,84 km²
Área de vinhedos – 4.600 hectares
Municípios – Flores da Cunha e Nova Pádua
Vinícolas – 11
Produção – Vinho fino tinto seco, Vinho fino branco seco, Espumante branco ou rosado e Espumante moscatel branco ou rosado
Principais uvas – Chardonnay, Merlot e Cabernet Sauvignon
Ano de obtenção – 2013
Área total – 56,09 km²
Área de vinhedos – 2.000 hectares
Municípios – Monte Belo do Sul (80% da área), Bento Gonçalves e Santa Tereza
Vinícolas – 11
Produção – Espumante branco ou rosado, Vinho fino branco seco, Espumante moscatel branco ou rosado e Vinho fino tinto seco
Principais uvas – Riesling Itálico, Chardonnay e Pinot Noir
Ano de obtenção – 2015
Área total – 379,2 km²
Área de vinhedos – 3.700 hectares
Municípios – Farroupilha (99% da área), Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Pinto Bandeira
Vinícolas – 9
Produção – Espumante moscatel, Vinho fino branco moscatel, Vinho frisante moscatel, Vinho licoroso moscatel, Mistela simples moscatel e Brandy de vinho moscatel
Principais uvas – Moscato Branco, Moscato Giallo e Moscato R2
Os Campos de Cima da Serra se configuram em uma das mais novas fronteiras vinícolas gaúchas. Aos poucos, o plantio de uva e o número de vinícolas tem se multiplicado em cidades como Vacaria, Muitos Capões e Campestre da Serra. Por conta disso, em julho, seis produtores locais formalizaram a criação da Associação de Vitivinicultores dos Campos de Cima da Serra (Aviccs). É o primeiro passo da região na busca por sua própria Indicação de Procedência (IP).
– Acreditamos que pedir a certificação vai gerar mais atenção para nossos vinhos. Podemos crescer durante o processo (de solicitação da IP) – destaca Agamenon de Almeida, presidente da Avicss.
A maioria das vinícolas dos Campos de Cima da Serra é de pequeno porte, com áreas que vão, em média, de 10 a 12 hectares. Algumas empresas, inclusive, apenas mantêm os vinhedos na região e terceirizam a vinificação. Com predomínio de uvas como Sauvignon Blanc e Chardonnay, os Campos de Cima têm como peculiaridades o solo, a altitude superior a 900 metros do nível do mar e a oscilação frequente de temperatura.
Todos esses fatores serão levados em consideração na elaboração do pedido de IP, que, segundo Almeida, deve levar três anos para ser atendido. A ideia da Avicss é seguir os mesmos passos de outro rincão gaúcho que começa a se destacar dentro do setor, a Campanha. Até o final do ano, o INPI deverá oficializar a Indicação de Procedência da região, que abrange municípios da Fronteira Oeste.
A IP dos vinhos da Campanha será a sexta gaúcha e a sétima em todo o Brasil. Fora do Rio Grande do Sul, o Vale da Uva Goethe, em Santa Catarina, é o único certificado. No momento, estão sendo analisados pedidos de IPs em outras partes do país, como o Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco) e a Serra Catarinense.
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