“É preciso usar o verbo suar”

+entrevista

“É preciso usar o verbo suar”

Idalice manchini é a primeira presidente mulher na história de 64 anos do Sindilojas de Caxias

SILVANA TOAZZA
silvana.toazza@pioneiro.com

Idalice Teresinha Manchini foi eleita a primeira presidente mulher na história de 64 anos do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Caxias. Sócia da Pole Modas, rede caxiense de moda feminina com 40 anos, quatro lojas físicas e plataforma online, a empresária de 54 anos assumirá em posse festiva no dia 2 de abril o mandato de quatro anos, entre 2018 e 2022.

Mãe de dois filhos, Idalice é formada em Ciências Exatas (Matemática Financeira). Na Pole Modas, que tem 28 funcionários, acumula as funções de diretora administrativa, financeira e RH. No Sindilojas, terá a missão de unir e fortalecer um setor formado por 1,5 mil empresas associadas e que passa por transformações com a chegada de grandes redes e franquias. A seguir, trechos da entrevista com Idalice Manchini:

Julio Soares, divulgação

força | Empresária acumula as funções de diretora administrativa, financeira e RH da Pole Modas

Temos hoje em Caxias do Sul um terço da população economicamente ativa com restrições em seu CPF

O desafio é maior por ser a primeira mulher a presidir o Sindilojas Caxias?
Com certeza. Vejo uma expectativa bem maior do empresariado por eu ser do gênero feminino. O Sindilojas tem 64 anos e sempre foi presidido por homens competentes e importantes da nossa sociedade. Mas, pela primeira vez, se abre um espaço bastante desafiador para uma mulher empresária. Minha meta é propor uma gestão inovadora, integrada por nove mulheres e 12 homens, sendo que, desse grupo, mais de 50% dos integrantes são novos comerciantes. É um desafio pessoal e profissional ser presidente de uma entidade tão bem conceituada e reconhecida em âmbito nacional, que se tornou uma referência sindical.
Como avalia o atual momento do comércio local?
Percebe-se que o momento é bom e as expectativas são ótimas, se comparadas aos três anos anteriores, quando o comércio em geral chegou a ficar negativo em 29%. Fechamos o ano de 2017 com números positivos, em torno de 6%. E a previsão para 2018 é de que a economia cresça com mais força, entre 10% e 15%. Essa retomada gera confiança e impulsiona as vendas no comércio.
A chegada de grandes redes de varejo, como a Havan, gera polêmica, entre os que vibram e os que temem reflexos a pequenos negócios. Qual sua análise?
A vinda dessa rede vai gerar empregos diretos e indiretos, contribuindo para o desenvolvimento de Caxias do Sul e região por meio de mudanças na infraestrutura, como reformulação de ruas, rótulas, trevos de acesso, passarelas. Isso é um ganho imensurável. Por outro lado, alguns dos pequenos e microempresários têm reclamado, visto que a desburocratização das leis e normas foi “facilitada” para essa rede, por ser uma grande empresa do varejo. É inegável que a chegada dessa marca pode interferir no andamento dos estabelecimentos que temos hoje na região. Mas não podemos enxergar de todo ruim esse fato e temos de abrir espaços para conversas e diálogos entre todos os empreendedores aqui instalados. Queremos o desenvolvimento, em prol do progresso de uma metrópole do porte de Caxias do Sul.
Por quais mudanças o varejo vem passando?
A Pole Modas comemorou 40 anos em 2017, e tudo mudou de lá para cá. Temos uma nova geração consumindo, com um novo modelo de consumo e nós, empresários do comércio, devemos estar atentos e entrar na onda dessa cultura. Mudou o estilo de comprar, influenciado pela abertura do comércio internacional e também pelo e-commerce. As necessidades são mais específicas, pontuais e ligadas, principalmente, ao relacionamento com o cliente. Diante desse cenário, percebeu-se a necessidade dos gestores e suas equipes buscarem a inovação como ferramenta para entender o consumidor de hoje.
A presença de ambulantes é outra queixa junto a órgãos de fiscalização. Melhorou?
O comércio dos ambulantes, ou comércio informal, é uma das bandeiras do Sindilojas, bem como da Fecomércio-RS, em âmbito estadual. Temos queixas diariamente dos empresários da área central. Houve várias reuniões com o poder público, com o intuito de desenvolver ações para coibir essa prática. No entanto, não temos o poder de fiscalizar, já que essa atividade é de responsabilidade da Secretaria de Urbanismo. Pretendemos intensificar essa parceria na gestão que se inicia para que os cidadãos caxienses tenham um Centro com calçadas desobstruídas, dando uma leveza para as pessoas que ali transitam. E que os consumidores possam efetuar suas compras com segurança e conforto e que a economia gire em nossa cidade, a partir dos recolhimentos legais de impostos.
A inadimplência ainda preocupa o comércio?
Temos hoje em Caxias do Sul um terço da população economicamente ativa com restrições no seu CPF. Isso ocorreu em função do desemprego de 2013/2017, com um saldo negativo de 25.226 empregos. Agora, com a retomada da economia e os custos já trabalhados, acredito que a empregabilidade vai ser lenta e gradual, como já vem acontecendo desde o final de 2017 e início de 2018. A inadimplência tende a cair, se esse quadro se concretizar.
O setor voltou a contratar?
Como os empresários do comércio cortaram custos para poder sobreviver com a crise, agora as equipes estão mais enxutas. Acredito que já estão ocorrendo mais contratações, mas não em grande escala.
Como ser competitivo e manter a lucratividade?
Não adianta só ser competitivo e criativo, é preciso usar muito mais o verbo “suar” e colocar as ideias e a inovação na prática do seu negócio, diariamente. Para manter a lucratividade, é necessário cortar gastos, investir em planejamento e em processos e qualificar pessoas.
Que conselhos daria a empreendedores iniciantes?
Em primeiro lugar, ame o seu empreendimento e a sua vocação, independente do setor e tamanho. Estude, pesquise, busque ajuda, não se canse de aprender, aprenda sempre porque ninguém nasceu sabendo. Seja persistente, trabalhe bastante, busque a troca de conhecimento entre os seus parceiros e também concorrentes. Dinheiro no caixa da empresa não é dinheiro no bolso. Saiba distinguir um do outro. Outra dica: invista em pessoas, pois o sucesso da sua empresa reside nas pessoas que nela trabalham.

+entrevista