FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Jeferson Soldi, DIVULGAÇÃO
produtividade em alta | Fábricas de móveis em Bento Gonçalves começam a recuperar a capacidade máxima de produção, com a perspectiva de aumento nas vendas
O polo moveleiro de Bento Gonçalves começa a ver a luz no fim do túnel da recessão. Após quatro anos seguidos de retração, o faturamento das empresas do setor deve subir 3% em 2018. Ao todo, as mais de 300 companhias do setor no município devem faturar R$ 1,81 bilhão neste ano, conforme estimativa do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis). Será o primeiro passo para recuperar o espaço perdido durante a crise.
No entanto, a caminhada até o patamar de negócios pré-crise deve ser longa. Entre 2014 e 2017, a receita anual do polo caiu 30,7%, saindo de R$ 2,54 bilhões para R$ 1,76 bilhão. A expectativa do presidente do Sindmóveis, Edson Pelicioli, é de que o pico de produção só voltará a partir de 2022.
– O primeiro semestre de 2017 foi o fundo do poço e no segundo começou a haver recuperação. Temos uma expectativa de retomada, mas ela vai ser lenta e gradual – projeta Pelicioli.
Hoje responsável por quase um terço dos móveis fabricados no Rio Grande do Sul e por 5% da produção nacional, a indústria moveleira de Bento vive um momento de cautela. Devido à recente queda nas vendas, muitas empresas cortaram empregos, buscaram fornecedores mais baratos e reduziram investimentos. Em alguns casos, até mesmo o perfil da produção foi modificado, com itens planejados perdendo espaço para os móveis avulsos.
– A crise da economia atingiu bastante a construção civil, um setor com o qual estamos muito ligados. Então, o móvel planejado chegou a um patamar muito baixo de venda. Por outro lado, o móvel solto, mais popular, cresceu nos últimos anos – constata o diretor administrativo da Bentec, Henrique Tecchio.
Na Bentec, a receita vinda dos móveis planejados chegava a 85% do faturamento, enquanto os móveis avulsos representavam 15%. Atualmente, a proporção é de 55% a 45% a favor dos planejados, a margem mais curta que a empresa já teve. No total, a receita da companhia despencou quase 40% nas temporadas passadas. Para 2018, Tecchio menciona que a perspectiva é de começar a reverter o prejuízo, voltando a crescer.
Recuperação imediata
Algumas fábricas de móveis vislumbram uma retomada mais consistente já em 2018. É o caso da Dalmóbile, que viu a demanda despencar a partir de 2015. Agora, a meta é crescer entre 18% e 20% neste ano, o que permitiria reverter os resultados negativos recentes.
– Perdemos dois anos e meio. Com o crescimento em 2018, devemos retornar ao volume de vendas de 2015 – calcula Norberto Faccini, diretor comercial da Dalmóbile.
Faccini conta que, a partir da segunda metade de 2017, a empresa começou a reagir. Uma das principais razões para a retomada é o aumento da rede de lojistas da marca, cujas vendas geram 85% do faturamento anual. Desde o ano passado, o número de unidades subiu de 116 para as atuais 140 em 21 Estados. Atualmente, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro são os principais mercados.
A queda do faturamento da indústria moveleira trouxe uma onda de desemprego nos últimos anos. De 2014 a 2017, as empresas de Bento Gonçalves cortaram 2,1 mil vagas. Com isso, a força de trabalho chegou a 6,1 mil pessoas, o menor contingente em uma década. Em maior ou menor intensidade, quase todas as companhias reduziram o quadro de funcionários.
– Adequamos a empresa para um patamar menor de faturamento. Inclusive, deixamos de trabalhar em alguns dias da semana – conta Henrique Tecchio, diretor administrativo da Bentec.
Hoje com aproximadamente 100 funcionários, a Bentec tinha 150 colaboradores antes da recessão. Os cortes chegaram ao fim e a perspectiva a partir de agora é de voltar a abrir vagas, diz Tecchio.
Em uma série de empresas do polo moveleiro, as contratações estão voltando, mas de maneira pontual. A tendência é de que a recuperação do nível de emprego seja bem mais lenta que a do faturamento das companhias. Isso porque o investimento em tecnologia acaba suprindo algumas lacunas na linha de produção.
– Não paramos os investimentos em máquinas. Tínhamos um turno à noite, que cortamos, e acreditamos que não vamos mais precisar dele, pois a gente conseguiu substituir com tecnologia – aponta Norberto Faccini, diretor comercial da Dalmóbile
Nos últimos anos, a Dalmóbile passou de 190 a 145 funcionários. Com o início da recuperação econômica, algumas reposições começaram a ser feitas recentemente.
marcelo casagrande
presença internacional | Politorno, de Nepomuceno, tem 40% do seu faturamento oriundo das vendas para destinos no Exterior
Se o desemprego aumentou e o faturamento diminuiu, a boa notícia de 2017 veio das exportações. Após três anos de quedas, os embarques de móveis produzidos em Bento Gonçalves tiveram incremento de 9% frente a 2016. Isso significa uma receita de US$ 37,9 milhões, segundo o Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O desempenho, no entanto, ainda está distante do obtido algumas temporadas atrás.
A curva das exportações não voltou a subir à toa. Diante da baixa demanda no mercado interno, uma série de companhias viu no Exterior uma alternativa para driblar a crise. O dólar acima da faixa dos R$ 3 também contribuiu para aumentar a competitividade dos produtos gaúchos ao redor do mundo.
– Hoje, as empresas têm que voltar parte da sua produção para exportação. Não que se abandone o mercado interno, mas é recomendável colocar um pé no mercado externo – sinaliza Volnei Benini, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs).
Atualmente, os principais destinos das vendas de Bento são Uruguai, Peru e Chile. Até pouco tempo atrás, a Argentina figurava como a maior compradora. As restrições comerciais dos hermanos às importações, porém, fizeram com que as empresas gaúchas tivessem de reformular a estratégia.
Maior exportadora do polo, com uma carteira de 25 a 30 clientes por mês, a Politorno é uma das empresas que teve de se adaptar à nova realidade. A Argentina, que concentrava os pedidos, ficou para trás. Hoje, os negócios estão distribuídos em 35 países, entre eles Inglaterra, Peru e Estados Unidos.
– Temos 40% do faturamento vindo do comércio exterior, o que, sem dúvida, nos ajudou a sofrer menos com a crise – acredita Cesar Nepomuceno, gerente comercial da marca.
A Movelsul será um dos termômetros da recuperação do setor moveleiro neste ano. O evento, que ocorre entre 12 e 15 de março, em Bento Gonçalves, contará com a presença de 246 empresas, expansão de 5% frente à edição anterior, realizada em 2016.
A maioria dos expositores é do Rio Grande do Sul, mas também haverá representantes de marcas de Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo. A expectativa dos organizadores é receber pelo menos 30 mil visitantes, oriundos de mais de 50 países.
Um dos principais destaques do evento é o Projeto Comprador, que colocará 145 indústrias e designers brasileiros em contato com 70 lojistas e distribuidores estrangeiros.
Neste ano, o número de compradores vindos do Exterior é recorde. Com isso, a meta é movimentar em torno de R$ 300 milhões em negócios a partir do evento. O montante é similar ao obtido na edição passada da feira.
Além disso, as empresas devem apresentar mais de 50 lançamentos durante os dias de Movelsul. Os produtos foram desenvolvidos a partir das demandas do varejo brasileiro, que foram constatadas a partir de uma pesquisa realizada pelo Sindmóveis.
Durante a feira, também ocorrerá o Prêmio Salão Design e o Fórum Movelsul, que discutirá a reinvenção do varejo.
Serviço
As mulheres são
tão importantes
para as empresas
familiares quanto
os fundadores
Entre 2014 e 2017, faturamento das empresas do setor caiu mais de 30%
Carlos Bertuol é diretor da Meber, de Bento Gonçalves, líder no Estado na fabricação de metais sanitários
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