bootstrap builder

+Vitivinicultura

Da colônia e legalizado

Legislação federal, já em vigor, permite que propriedades da agricultura familiar registrem sua produção de vinho colonial

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

diogo sallaberry

Mobirise

piccola cantina | Empreendimento de Diva e Auri Flâmia foi o primeiro a receber o registro, em fevereiro deste ano, e está produzindo seis variedades de vinhos no distrito de Faria Lemos

Uma tradição mantida há décadas por milhares de famílias da Serra gaúcha, a fabricação de vinho colonial agora começa a sair da informalidade. A partir da Lei do Vinho Colonial, de caráter federal e em vigor desde 2014, uma série de produtores deve se legalizar. Os primeiros registros de agroindústrias familiares voltadas à produção da bebida já estão sendo distribuídos neste ano pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Até o momento, três vinícolas de agricultores familiares, duas em Garibaldi e uma em Bento Gonçalves, receberam o registro. Elas integram o projeto piloto conduzido pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e a Emater-RS. A relação ainda inclui três propriedades que solicitaram o registro ao ministério e outras 10 que estão na fase final de coleta da documentação. Nos próximos meses, todas elas devem receber o aval do Mapa.

Segundo o chefe do escritório da Emater em Bento Gonçalves, Thompson Didoné, a experiência com o grupo piloto serviu para sanar as dúvidas relativas à lei e para criar as diretrizes que servirão de base para o registro de novos estabelecimentos.

– Como é uma legislação nova, tivemos que construir uma série de normativas. Todo um processo foi construído. A partir de agora, com a documentação em mãos, o produtor poderá ter o registro em questão de meses – salienta Didoné.

Para pleitear ao registro, o produtor deve obedecer a alguns critérios. O volume fabricado não pode passar de 20 mil litros ao ano, 100% das uvas devem ser de cultivo próprio e a venda só é permitida na propriedade e em feiras municipais. Não é preciso obter um CNPJ, pois as notas podem ser emitidas com o talão de produtor.

Além disso, é necessário respeitar a uma série de critérios ambientais, fiscais e sanitários. O custo para montar a agroindústria varia em cada caso, mas, em geral, oscila entre R$ 30 mil e R$ 100 mil, calcula Didoné.

Segundo a última edição do Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2006, há mais de 8 mil produtores de vinho artesanal no Brasil, a maioria na Serra gaúcha. Desses, 2 mil forneciam ou comercializavam a bebida para terceiros e poderiam se beneficiar da legislação.

– É uma prática cultural antiga, principalmente na Serra. Cada agricultor, mesmo que venda a uva, produz algo de vinho, muitas vezes para consumo próprio – lembra Carlos Paviani, diretor de relações institucionais do Ibravin.

O produtor pode fazer qualquer tipo de vinho, seja de mesa ou fino, desde que respeite o limite de 20 mil litros ao ano.

Nos próximos três anos, o Ibravin projeta que, ao menos, 200 vitivinicultores da Serra serão registrados, o que resultaria em uma produção anual de mais de 4 milhões de litros de vinho colonial.

Os pioneiros

Com 16 hectares de parreirais em Faria Lemos, no interior de Bento Gonçalves, Auri e Diva Flâmia foram os primeiros a obterem o registro do Ministério da Agricultura. O documento foi entregue em fevereiro. Durante o processo de regulamentação, o casal investiu em torno de R$ 70 mil na reforma do galpão que abriga a vinícola e na compra de equipamentos. A principal fonte de renda da família Flâmia segue sendo a venda da uva para as vinícolas da região, mas a produção própria vai potencializar os rendimentos.

– Fazer vinho dá mais trabalho, mas conseguimos ganhar mais. Com 1 mil quilos fazemos 1 mil litros de vinho e ganhamos cinco vezes mais do que vendendo a mesma quantidade de uva para a cantina – compara Auri Flâmia.

Na primeira safra com o registro, a Piccola Cantina, nome que os Flâmia deram ao negócio, está fazendo 16 mil litros da bebida. Entre as variedades disponíveis há bordô, isabel, isabel branco, lorena, moscato e niágara.

O pioneirismo tem rendido bons frutos para os produtores. Diva Flâmia conta que até pessoas de municípios distantes, como Porto Alegre, São Leopoldo e Passo Fundo, apareceram na propriedade para comprar vinho.

– Tudo isso vale a pena. Tivemos um gasto alto, mas sabemos que estamos trabalhando dentro das normas. Ficamos mais tranquilos – comemora Diva.

Produtores no estado

Fonte: Escritório da Emater em Bento Gonçalves

Mobirise

À espera da primeira safra registrada

Marcelo Casagrande

Mobirise

preparação | Adriana e Aldo Lazzari ajustam os últimos detalhes para, a partir de julho, começar a comercializar vinho

Após ter centenas de litros de vinho apreendidos em uma ação de fiscalização, a família Lazzari viu que havia chegado a hora de legalizar a fabricação da bebida na sua propriedade em Marcorama, no interior de Garibaldi. Era 2012 e, na época, se começava a discutir a implementação da Lei do Vinho Colonial. Quando a legislação entrou em vigor, anos depois, Aldo e Adriana Lazzari não hesitaram em iniciar a busca pelo registro.

Em fevereiro, os agricultores receberam a autorização do Ministério da Agricultura e agora se preparam para colocar no mercado os primeiros garrafões da La Nostra Cantina, nome do empreendimento. Atualmente, a bebida está fermentando nos tanques da pequena vinícola e deve ficar pronta a partir de julho. Serão produzidos 17 mil litros das variedades bordô, isabel rosé e lorena.

– Saiu a nossa agroindústria e vai sair o melhor vinho do ano. Nesta safra, a uva está com um bom grau, uma qualidade muito boa – exalta Adriana Lazzari.

Para se adequar às exigências da lei, foram investidos R$ 35 mil. A maior parte dos recursos foi destinada à compra de pipas novas e máquinas para moer uva, para lavar os garrafões e envasar a bebida. Além disso, Aldo Lazzari fez a reforma do galpão que abriga os tanques.

– Fizemos todo o investimento por conta própria. Agora é esperar para vender o vinho e recuperar o dinheiro – comenta Aldo.

Os agricultores pretendem frequentar as feiras no município para comercializar o vinho. Enquanto a bebida repousa nos tanques, Aldo e Adriana estão providenciando os rótulos e toda a identidade visual da agroindústria. Centenas de garrafões vazios, acumulados em uma sala, estão à espera do líquido que sairá dos tanques.

Para Aldo, uma das principais vantagens garantidas pela legislação é a baixa alíquota tributária sobre o vinho. Como a venda é feita com o talão de produtor, paga-se 1,5% de imposto.

Ele conta que o processo de legalização tem despertado curiosidade em outros agricultores na região. Após receber o registro, alguns produtores de Garibaldi e de outros municípios entraram em contato com os Lazzari para saber como obter o certificado legal.  

A agroindústria pretende trabalhar exclusivamente com garrafões para envasar o vinho, algo cada vez menos comum na região.

Registro é válido por 10 anos

MARCELO CASAGRANDE

Mobirise

O registro de agroindústria de vinho colonial só é concedido após a visita de um fiscal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ao estabelecimento. Na Serra, o escritório de Caxias do Sul é o responsável por agendar as vistorias. Na ida até a propriedade rural, o servidor analisa se a documentação está em dia e se o local tem condições adequadas para a fabricação do produto.

Aprovado nesta etapa, o agricultor recebe uma autorização para produzir a bebida, com validade de 10 anos. Após esse período, realiza-se uma nova visita para a renovação do documento. O ministério conta somente com um funcionário em Caxias para realizar a tarefa.

– Para um estabelecimento que faz vinho, as exigências são simples, pois não é um produto que oferece risco microbiológico, como os de origem animal – explica José Fernando Werlang, chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Sipov) do ministério.

Segundo Werlang, a flexibilização das leis tem permitido que a fabricação de uma série de produtos coloniais, como queijos, salames e sucos, esteja sendo legalizada. Atualmente, o Rio Grande do Sul conta com oito agroindústrias de produtores familiares reconhecidas.                                             

Passos rumo à legalidade

Os produtores precisam atender a requisitos para se enquadrarem na Lei do Vinho Colonial. Para se regularizarem, segundo a Cartilha do Vinho Colonial, devem seguir uma série de passos.

Mobirise

Clique e leia mais


+ARTIGO

Pode parecer fácil
fazer a transição,
mas é importante
fazer uma reflexão
sobre o que levou
à desmotivação

+Vitivinicultura

Legislação federal, já em vigor, permite que propriedades da agricultura familiar registrem sua produção de vinho colonial

+ENTREVISTA

O vice-presidente da Florense, Gelson Castellan, fala da tumultuada transição da empresa para a segunda geração

+RECURSOS HUMANOS

Prejuízos podem variar entre 3 e 15 vezes o salário, estima especialista  

Compartilhe