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“Foi uma dura lição”

O vice-presidente da Florense, Gelson Castellan,
fala da tumultuada transição da empresa
para a segunda geração

Mobirise



BABIANA MUGNOL

babiana.mugnol@rdgaucha.com.br

O vice-presidente da Florense, Gelson Castellan, atua desde os 13 anos na empresa fundada pelos pais e outros acionistas em 1953. A fábrica de móveis de Flores da Cunha completa 65 anos em maio. Com isso, Gelson participa do dia a dia de uma das marcas mais conceituadas do Brasil há quase 47 anos. O acordo societário da empresa prevê a troca de comando quando o CEO assume 65 anos. O empresário de 60 anos conta como a transição da primeira para a segunda geração foi tumultuada e como serviu de lição para encaminhar o processo para a terceira geração que ocorrerá nos próximos anos.

 CÍNTIA HECHER, DIVULGAÇÃO 

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As pessoas que vão liderar na terceira geração já estão definidas 

  • Como foi começar tão cedo? Deu tempo de pensar outro plano ou sempre pensou em atuar na Florense?
    Meu pais quiseram que começasse cedo. Ele queria que eu tivesse tempo de conhecer como tudo funcionava, o que fazia ganhar e perder. Durante 11 anos, até os 25, conheci todos os departamentos da Florense. Foi uma experiência maravilhosa e um aprendizado real. A ideia era que eu me apaixonasse pela empresa para que não tivesse outro plano. 
  • Por quais setores o senhor passou, e o que mais o impressionou?
    Eu fiz tudo, comecei com office boy, depois tive uma experiência na área técnica de suprimentos, na área de custos, contato com a área financeira... Me identifiquei muito com área de custos. Minha formação é contabilidade, não tem nada a ver com minha atividade, mas me ajudou muito. Conheci mesmo a empresa quando fiquei esse tempo trabalhando no cálculo do custeio de quanto a empresa produz, os rateios de custo hora, toda matemática da empresa. Talvez tenha tido a melhor escola preparatória para exercer a atividade que estava prometida se eu tivesse a competência de fazer. 
  • Seu pai, Lourenço Castellan, continua como presidente, mas quem de fato está à frente da direção executiva é o senhor. Como foi a transição?
    Nem sempre acontece como se previa. Os pais trazem os filhos para as empresas querendo que eles deem continuidade, mas a expectativa é que pensem e façam exatamente o que eles querem. Não foi assim que aconteceu comigo. Os filhos podem ter uma visão diferente na condução da empresa no futuro. No meu caso, essa transição começou a acontecer no final dos anos 1980 e ela andou até o início dos anos 1990. Eu tinha aproximadamente 30. Foi dura, porque tínhamos uma empresa com muito sócios e eu era um dos candidatos, não era o único. Isso criou alguns conflitos dentro da família, mas nenhum que impedisse que a gente conversasse e fizesse a transição com sucesso. Eles ficaram no passado. Por mais que tivesse conflito com filhos de outros acionistas, eles não interferiram na condução de hoje. Essa transição se deu porque fizemos uma mudança societária que foi fundamental. Se tivéssemos permanecido com a empresa fragmentada do passado, não teríamos conseguido.  
  •   Como é suceder alguém que já tem muito o nome atrelado à marca? 
    Tínhamos divergências. Eu tinha um plano para a Florense e o meu pai me via de outra forma. Para ajustarmos as vontades de cada um, foi preciso conversar, impor, sempre cuidando para que esse estresse não inviabilizasse a questão familiar no futuro. Eu e meu pai temos relação de irmandade. Eu sou o principal conselheiro dele, ele é o meu. Isso foi preservado. Nós tínhamos que fazer mudanças e podiam ser compreendidas por ele como discordância da gestão que ele vinha fazendo. As empresas precisam mudar, se reinventar, inovar, ser transparente. A transparência ajudou a enxergar de forma racional a meritocracia. 
  • O senhor tem filha que atua na empresa. No entanto, outra pessoa está sendo preparada para assumir o comando, que não tem o sobrenome Castellan. Como está a transição para a terceira geração?
    O processo da segunda para terceira geração está andando há muito tempo. Já está claro quem são as pessoas que vão liderar. Existe toda uma documentação que orienta isso. Nós escolhemos o sucessor pelo perfil e não pelo sobrenome. Se por acaso tiver o sobrenome de uma das famílias, ótimo. O Mateus Corradi é o líder que escolhemos há muito tempo. E estamos conduzindo a sucessão de forma muito transparente. Poderia ser minha filha ou de outro acionista, mas as empresas familiares não podem despertar uma desconfiança no mercado. O pai do Mateus, Paulo, na época da primeira sucessão era uma das pessoas que disputava comigo a liderança da segunda geração. Eu não sou um vencedor ou o Paulo um perdedor. A empresa achou que o Gelson tinha o perfil ideal. Eu sou o mais jovem tinha uma veia comercial importante na época. Eu conseguia, por falar inglês e italiano, ter facilidade para abrir operações. Internacionalizei a empresa. A forma como conduzimos a segunda geração permitiu que isso acontecesse com a terceira, uma transição tranquila e fácil. Eu tenho ainda, se quiser, cinco anos para ficar na empresa, porque com 65 anos nós saíamos. Pode ser que eu saia antes, pois no momento que eu sentir que eu estou atrapalhando o Mateus, eu tenho que sair. 
  • Qual o tamanho da Florense hoje e quais são os planos para os próximos anos?
    Meu desafio era organizar a empresa. Meu pai era muito empreendedor, negociante, visionário, mas não tinha a organização que precisava. Tínhamos um objetivo: ser uma das melhores empresas do planeta. Hoje a Florense é uma referência mundial no seu segmento em inovação. Ela trouxe o sistema de franquias para o setor moveleiro nos anos 1980. A lei de franquias foi homologada só em 1994 no Congresso. Ela inovou e começou a fazer a venda do móvel com a própria marca no ponto de venda exclusivo sem estoque, produzindo na fábrica apenas aquilo que estaria vendido. Isso era um risco enorme, uma novidade que poucos acreditavam. Temos uma empresa online. Sabemos que temos uma força muito grande pela cultura da Florense, de uma energia muito positiva. É bom entrar na empresa todos os dias e ver as pessoas felizes. Me sinto realizado, mas não parado. Acho que minha missão não terminou. 

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