FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Seja qual for o bairro de Caxias do Sul em que você vive, muito provavelmente haverá alguma clínica veterinária ou pet shop por perto. Nem mesmo a recessão tem impedido que a oferta de produtos e serviços voltados aos animais domésticos cresça na cidade, acompanhando uma tendência verificada em todo o Brasil. Cada vez mais negócios disputam espaço no mercado pet caxiense.
Levantamento do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) mostra que o número de clínicas veterinárias registradas em Caxias saltou de 19 a 28 nos últimos três anos. Não existe uma estatística oficial que englobe todos os estabelecimentos ligados ao mercado pet no município. No entanto, empresários locais estimam que haja mais de 200 pet shops, clínicas e agropecuárias em atividade.
– Hoje, o mercado pet tem uma importância dentro da economia do país. O pet virou um membro da família, ele entrou no orçamento familiar. Por isso é um mercado que segue crescendo – aponta Natália da Rosa, proprietária da clínica veterinária e de recreação La Santé.
Veterinária de formação, Natália é uma das empreendedoras que decidiu ingressar no mercado pet caxiense recentemente. No ano passado, adquiriu a La Santé e largou sua carreira como represente da indústria farmacêutica para gerir o negócio. Ainda que o estabelecimento também oferte produtos, como rações, remédios e brinquedos, os serviços puxam a demanda da empresa. Banho e tosa e a recreação para cães são responsáveis por atrair a maior parte dos clientes.
Em um momento no qual o empresariado se mostra reticente a investir, o mercado pet pode ser considerado uma exceção da regra. Além de novos estabelecimentos surgindo, aqueles que estão no mercado há mais tempo buscam novos ingredientes para manter a clientela. Neste sentido, a clínica e pet shop Colina investirá mais de R$ 50 mil na mudança para um novo espaço, a poucos metros da loja atual.
– O espaço ficou pequeno. Vamos para um local com 380 metros quadrados. Hoje estamos em 156 metros quadrados – compara Márcio Bento, um dos sócios da empresa ao lado da esposa Vera e do filho Gabriel.
A previsão é de que o novo Colina abra as portas até o final de outubro. Há dez anos no mercado, Bento destaca que é necessário se atualizar constantemente, já que a quantidade de concorrentes na cidade cresce rapidamente.
O mercado brasileiro
aposta no segmentoNo ano passado, Natália investiu na aquisição de uma clínica veterinária e de recreação para animais
O Brasil tem atualmente mais de 132 milhões de animais de estimação, conforme o IBGE. Essa população, maior que a de muitos países, é o motor da expansão do mercado pet. O faturamento do segmento foi de R$ 18,9 bilhões em 2016, crescimento de 4,9% frente ao ano anterior. Mesmo positivo, o resultado é considerado modesto pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), José Edson.
– Não era o que se esperava, já que nos últimos anos vínhamos com crescimento próximo ou acima de dois dígitos. Fomos atingidos pela crise, mas não podemos negar que crescemos. É uma vitória, em um terremoto desses, sobreviver com algum crescimento.
Edson relata que, com a redução do poder de compra dos brasileiros, o consumidor mudou alguns hábitos. Trocou produtos caros por opções mais baratas e passou a recorrer a serviços, como banho e tosa, com menos frequência. Ainda assim, não deixou de investir no animal de estimação. Tanto que, hoje, o mercado pet brasileiro é o terceiro maior do mundo em faturamento, perdendo apenas para Estados Unidos e Reino Unido.
Os produtos e serviços oferecidos pelas empresas do mercado pet de Caxias têm um perfil diverso. É possível encontrar desde estabelecimentos tradicionais, como pet shops e clínicas veterinárias, até serviços especializados, como adestramento. Hospedagem, recreação e até plano de sócio em clube de futebol são outras opções que, nos últimos anos, passaram a estar ao alcance dos caxienses donos de animais domésticos.
Ex-funcionário de um pet shop, o empresário Rodrigo Lunardi decidiu há 16 anos abrir o próprio negócio, focado em hospedagem de cães e gatos e adestramento de cachorros. Assim nasceu a Dog Ville, que hoje treina de 20 a 25 cães por dia. Lunardi constata que, durante a crise, caiu a demanda por hospedagem de animais de estimação. Com isso, a prioridade passou a ser o serviço de treinamento dos bichos, o que permitiu que o faturamento se mantivesse estável nos últimos anos.
– Sentimos a crise, mas não foi nada grave a ponto de demitir funcionário por não ter serviço – relata Lunardi.
Segundo o proprietário da Dog Ville, o adestramento de um cão leva, no mínimo, quatro meses. O tempo pode variar dependendo da finalidade do treinamento. Quanto mais jovem o animal é treinado, mais rápido ele assimila aos comandos.
Caxias também conta com algumas iniciativas inusitadas. O Juventude, por exemplo, lançou um plano de sócios voltado aos animais. Com uma mensalidade de R$ 10, qualquer espécie pode se associar ao Jaconero Animal. A iniciativa destina metade do valor arrecadado para o clube de futebol e outra metade para a ONG Help Vira Latas, que trabalha com a proteção de animais de rua na Serra.
– Percebemos que muitos sócios do clube tinham cães com nomes de jogadores ou apelidos relacionados ao Juventude. Então resolvemos unir essas duas paixões – destaca o publicitário Ricardo Brisotto, que idealizou o plano junto com o clube.
Além da ajuda ao clube e à ONG, a associação no Jaconero Animal garante descontos em lojas voltadas à venda de ração e outros produtos para os pets. Segundo Brisotto, a ideia é expandir a rede de conveniados.
CUIDADO EM CASA Fernanda acredita no crescimento da demanda por babás de pets em Caxias
Uma tendência no exterior e que começa a se consolidar em diversas cidades no Brasil, a profissão de cuidador de animais domésticos ainda engatinha em Caxias do Sul. Apesar de a oferta de pet sitters ou babás de bichos de estimação estar em crescimento, são poucas opções na cidade. A tendência, porém, é de que, aos poucos, a atividade se consolide.
O serviço funciona da seguinte maneira: o dono contrata o profissional para cuidar do animal de estimação em sua própria residência, em períodos que o bichano estaria desassistido. Assim, o cuidador se responsabiliza por alimentar, entreter e passear com o pet.
– Esse serviço está ficando mais conhecido. Algumas pessoas preferem não deixar o animal em hotel e querem que ele fique no conforto de casa – explica Fernanda Steffli, babá de gatos e cachorros.
Há sete anos na profissão, Fernanda passou a se dedicar exclusivamente a essa atividade no ano passado. Por mês, atende a cerca de 10 pets, a maioria gatos. O pico da demanda ocorre durante o verão, quando passa a cuidar de mais de 30 animais.
Um dos principais desafios neste ramo é vencer a desconfiança inicial que alguns donos têm ao contratar o serviço. Afinal, o cliente está colocando para dentro de casa uma pessoa, até então, desconhecida. Por isso, a cuidadora Natália Cenin destaca que é importante ter uma conversa inicial para explicar como funciona o serviço e passar tranquilidade ao contratante.
– Fazemos uma entrevista com o cliente e conhecemos também os bichos, aí se vai adquirindo mais confiança.
A cuidadora acredita que esse mercado ainda tem bastante espaço para se expandir em Caxias. Natália se juntou à irmã e à mãe para criar a Babá Pet Caxias, um serviço de babás de animais que atende principalmente a gatos.
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