13 de AGOSTO de 2018

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+ comércio

Em movimento

café, eventos e diferentes tipos de produtos são as apostas dos sebos para atrair público

Lucas Amorelli

Mobirise

cultura geek |  Livraria Colecionador, comandada por Berti, realiza eventos voltados ao público nerd e possui vasto acervo de histórias em quadrinhos

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

Concorrência com grandes redes de projeção nacional, ascensão do livro digital e poucos leitores no país. O cenário atual evidencia que, para ser livreiro, é necessário driblar uma série de obstáculos, que podem ser determinantes para a continuidade do negócio. É em meio a esse contexto que os sebos de Caxias do Sul têm procurado diversificar seu perfil de atuação, agregando novos tipos de serviços e produtos ou se especializando em determinadas áreas.

Segundo a Associação dos Livreiros Caxienses (Alca), o município conta atualmente com cerca de 20 livrarias. Destas, cinco são voltadas principalmente para o mercado de livros usados. Entretanto, o número de estabelecimentos vem se reduzindo ao longo dos últimos anos, devido às dificuldades enfrentadas no segmento.

– Tivemos o fechamento de, pelo menos, seis livrarias nos últimos dez anos. O mercado encolheu. Se pensarmos em um cenário maior, o mercado nacional do livro passa por uma crise grande de uma década para cá – constata Cristiano Gomes, livreiro e presidente da Alca.

Primeiro sebo da Serra, com quase 30 anos de existência, a Livraria Colecionador acompanhou de perto a transformação do segmento na cidade. Já há alguns anos, a empresa optou por apostar na cultura geek como um diferencial. Por isso, além de livros, CDs, DVDs e LPs dos mais variados gêneros, o local é repleto de revistas em quadrinhos e cards de franquias como Magic the Gathering, Pokémon e Yu-Gi-Oh. Além disso, o estabelecimento realiza eventos, como a Virada Nerd, onde sedia palestras, oficinas e campeonatos de diferentes tipos de jogos ao longo de um único dia.

– O que percebo é que os sebos que sobreviveram têm tido criatividade para se diversificar. Muitos comerciantes que viviam exclusivamente do livro tiveram de fechar as portas – conta Fernando Berti, sócio-proprietário do sebo.

Segundo Berti, o público da livraria não se restringe à Caxias. É muito comum encontrar clientes que vêm de Bento Gonçalves, Farroupilha, Flores da Cunha e outros municípios da região que não possuem sebos. Atualmente, são mais de 150 mil títulos no estoque. Somente em quadrinhos, o acervo contempla em torno de 9 mil títulos, entre novos e usados. A média de vendas do local é de aproximadamente 2 mil livros por mês.

Café, eventos e livros 

No mercado desde 2005, a livraria Do Arco da Velha também aposta em diferentes frentes para se manter ativa. O negócio começou como sebo e, com o passar dos anos, entrou no mercado de livros novos e ainda adicionou uma cafeteria. Além disso, toda semana há alguma programação voltada à literatura no local, seja com debates ou lançamentos de títulos de autores da região. Neste sentido, os dias com eventos e os finais de semana são quando a empresa mais fatura.

– O café e os eventos são maneiras de atrair as pessoas. Apostamos muito na venda na loja, no sentido de o cliente vir e ter uma experiência, tomar um café ou vir a um bate-papo e ter contato com os produtos que oferecemos – diz Germano Weirich, sócio-proprietário da livraria.

Atualmente, a venda de usados representa 20% do faturamento mensal da Do Arco Da Velha. O restante é dividido pela cafeteria e o comércio de títulos novos. Atualmente, a livraria possui em torno de 30 mil títulos, computando os usados e novos. Weirich conta que a recessão dos últimos anos não deixou ileso o mercado de livrarias. A receita caiu em torno de 20% e a recuperação nas vendas ainda deve levar mais algum tempo para ocorrer, na percepção do livreiro.  


Atualmente, Caxias do Sul possui 5 sebos, segundo a Alca. Outras cidades da Serra, como Bento Gonçalves, Farroupilha e Flores da Cunha não possuem estabelecimentos do tipo.

 

 


Maior margem

Os livreiros caxienses coincidem ao afirmar que, no mercado de livros novos, é praticamente impossível competir com os preços das grandes redes de livrarias que têm presença na cidade e donas de canais próprios de vendas pela internet. Como os preços costumam ser tabelados, as empresas de maior porte conseguem negociar melhores acordos com as editoras, por adquirirem exemplares em escala.
No entanto, com o livro usado, a situação muda. Como não há preço fixado, outros fatores determinam o preço. Se o título está esgotado no mercado, é uma primeira edição ou possui um autógrafo de um autor de renome, certamente será vendido por um valor superior ao de um livro novo. E se o usado é raro e está em bom estado de conservação, mais valorizado ele fica.
De um modo geral, mesmo com os livros de segunda-mão comuns, os lojistas muitas vezes conseguem uma melhor margem de lucro, já que eles geralmente são adquiridos de pessoas físicas, e não de editoras.

– A média de ganho bruto em um livro novo é de 30%, em média. Nos usados, conseguimos ter uma margem melhor, de 50% em média, às vezes até de 100% – destaca Maria Helena Lacava, sócia-proprietária da livraria Mercado de Ideias.

Há 23 anos no ramo, a Mercado de Ideias começou a explorar o segmento de usados oito anos atrás. Atualmente, esse nicho representa 20% dos negócios. Dos 16 mil títulos em estoque, em torno de 3,5 mil são de segunda-mão. A tendência, porém, é de expansão. Para a Feira do Livro de Caxias, a empresa tem apostado por colocar uma banca para novos e outra só para os usados, estratégia que deve ser repetida neste ano.


A margem de lucro bruto de um livro usado costuma ser de 50% enquanto a de um título novo é de 30%, em média,

 

 

Empresas enxugam

ucas Amorelli

Mobirise

popular | Só Ler enxugou a estrutura e se caracteriza pela venda de livros, revistas e outros artigos populares, diz Nardelli

Mesmo os sebos consolidados no mercado tiveram de rever suas estratégias nos últimos anos, em função das dificuldades enfrentadas no segmento. Hoje com duas unidades em Caxias, a Só Ler chegou a ter três lojas. No início do ano, cogitou a hipótese de concentrar sua atuação na cidade em apenas um estabelecimento. Só não encerrou as atividades no ponto localizado na Avenida Júlio de Castilhos porque conseguiu renegociar o preço do aluguel do imóvel.

– Tem que enxugar um pouco a máquina. É melhor ter menos lojas, mas melhor administradas. Quando tínhamos três lojas, o faturamento era menor do que é hoje com duas – afirma Edicarlos Nardelli, gerente da Só Ler em Caxias.

Nardelli menciona que a empresa, há 14 anos no mercado, também mudou sua política de compras, passando a adquirir menos volumes e concentrando a escolha em alguns títulos específicos. Paralelamente, criou um programa de pontuação que possibilita que o cliente ganhe descontos após adquirir R$ 100 em produtos.

Além disso, o sebo também aposta no balaio com títulos promocionais para girar o estoque. Com mais de 300 mil títulos, entre livros, CDs, DVDs e LPs, a Só Ler se caracteriza por ser um sebo popular. Cada cliente gasta, em média, R$ 20 por compra, segundo conta Nardelli. Inclusive, entre os artigos mais vendidos se encontram algumas revistas, em especial as de cruzadas, caça-palavras e outros passatempos.

Aos poucos, a estratégia tem ajudado o sebo a se recuperar da queda na demanda vivida durante a crise. A redução do faturamento fez a empresa diminuir o quadro de funcionários de 12 para oito pessoas. No entanto, neste mês, a Só Ler decidiu realizar duas contratações, pensando já no atendimento durante a Feira do Livro, que ocorre a partir de 29 de setembro.

A Livraria Colecionador é outra que optou por reduzir sua estrutura há pouco mais de cinco anos. Na época, a empresa preferiu manter uma única sede e decidiu ingressar no e-commerce. Porém, o sócio-proprietário do estabelecimento, Fernando Berti, salienta que os sebos físicos ainda seguem tendo um papel relevante para a cidade.

– O ambiente do livro é importante, precisamos dele. É só ver a quantidade de pessoas que aparecem na livraria para trocar informações e muitas vezes nem se conhecem. Seja com um café, um encontro de nerds ou o que for, o importante é que as pessoas estejam falando sobre livros e trocando ideias – defende.  


O tíquete médio da Só Ler fica na faixa dos R$20 e os primeiros dias de cada mês costumam ser os de maior movimento nas lojas.

 

 

Presença virtual

Lucas Amorelli

Mobirise

diversidade | Weirich aposta em café, eventos voltados à literatura e vendas online

A venda de produtos pela internet cresce exponencialmente no país, e os livros não ficam de fora do ambiente virtual. No caso dos sebos, os negócios pela internet também se tornaram uma importante fonte de renda. Alguns recorrem a plataformas voltadas especificamente à comercialização de livros, como é o caso do site Estante Virtual.  

Atualmente, existem cinco livreiros cadastrados em Caxias do Sul na página. O Do Arco da Velha é quem tem a maior presença digital, com mais de 15 mil títulos cadastrados no comércio eletrônico. Segundo o sócio-proprietário Germano Weirich, são vendidos em torno de 400 títulos por mês na internet. Os clientes estão espalhados por todo o Brasil.

– A internet abriu novas possibilidades para o mercado de livros usados. O que era um mercado apenas local, agora está aberto para o Brasil inteiro – aponta Weirich.

O foco da Do Arco da Velha na internet é exclusivamente para os usados e, sempre que possível, títulos raros. A maior venda realizada pela livraria foi de um exemplar sobre a Revolução de 30, impresso na época, que saiu por R$ 1 mil. Uma das metas da empresa é ampliar a oferta na internet, potencializando os ganhos com o e-commerce.

Dos sebos caxienses, a Livraria Colecionador e a Só Ler também utilizam plataformas na internet para a venda de produtos. Mesmo assim, existem algumas dificuldades a serem superadas no ambiente de vendas online. Uma das principais é o preço do frete no Brasil. Em um país de proporções continentais, o custo do envio de um livro frequentemente é maior do que o valor pago pelo próprio produto.

– O frete recém subiu e neste mês vai subir de novo. Isso acaba encarecendo o livro para quem vai comprar na internet. Mas, por outro lado, isso acaba reforçando o movimento nas lojas físicas – argumenta Edicarlos Nardelli, gerente da Só Ler.

Além disso, Nardelli lembra que as plataformas de vendas online, como Estante Virtual e Mercado Livre, têm aumentado as taxas sobre as vendas realizadas pelos livreiros, o que também acaba interferindo no preço final dos artigos.

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