10 de setembro de 2018

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+INDÚSTRIA DO ESPORTE

Tabelinha entre paixão
e mercado

ALÉM DAS VENDAS, REGIÃO DESTACA-SE
NA PRODUÇÃO DE ITENS PARA TORCEDORES E ADEPTOS DE ATIVIDADES FÍSICAS

Mobirise



BABIANA MUGNOL
babiana.mugnol@rdgaucha.com.br 

PORTHUS JUNIOR

Mobirise

TEMPORADA | Esta época é de muito trabalho, de desenvolvimento dos novos modelos, que são lançados no fim do ano

 A Serra não é só um polo esportivo pela projeção de clubes e atletas em diferentes modalidades esportivas. A região também tem um vasto campo de produção e comercialização de artigos voltados para este mercado. Caxias do Sul e municípios do entorno possuem desde indústrias que atuam há anos produzindo tecidos, matéria-prima e produtos esportivos que são fornecidos para grandes players mundiais a pequenas empresas que revolucionaram os negócios com criatividade e aproximação com times profissionais e amadores.

É um mercado movido por paixão. As indústrias de confecções estão entre as principais fornecedoras desta cadeia esportiva. Enquanto a maior parte das fábricas da Serra voltadas ao ramo do vestuário tem o inverno como o principal período de “safra”, as empresas que atendem ao torcedor dependem de algo que pode ser tão imprevisível quanto o clima: o resultado de uma partida.

Quanto melhor o desempenho do time, maior o faturamento dos fornecedores. Em alguns casos, até o rebaixamento faz vender mais, porque a torcida se mobiliza para apoiar na retomada. O pior dos cenários é o time que figura no “meio da tabela”.

A trajetória de uma das mais antigas empresas da Serra a trabalhar com bolas, chuteiras e artigos esportivos remete às oscilações de muitos clubes, que começam pequenos, crescem, conquistam visibilidade nacional, entram em crise e conseguem se reinventar.

É o caso da Dal Ponte, de Veranópolis. Começou produzindo bolas e se consolidou na década de 1980 fabricando tênis vulcanizados. Chegou a ser marca oficial da Seleção Brasileira de Futsal, mas passou por uma crise que culminou com uma reestruturação em 2014, quando foi adquirida em leilão judicial. Desde então, é administrada pela Arena Comércio de Artigos Esportivos, que seguiu com a tradição da marca, e lançando novidades.

História : A Dal Ponte identificou-se fortemente com o futsal. Fabricou bolas e foi a marca oficial da Seleção Brasileira de Futsal;

Fornecedora  de ponta

A Serra também abriga a matriz de uma indústria que fornece para algumas das marcas esportivas mais valiosas do mundo: Nike e Adidas, além da The North Face, que trabalha com equipamentos para esportes de neve e montanha. A Pettenati fornece tecidos de meia malha, moletom, tecidos inteligentes e malhas em geral para estes grandes players. A empresa, com mais de cinco décadas de atuação em Caxias do Sul, também passou a fornecer a essas redes peças prontas, como camisetas, bermudas e regatas, há cerca de cinco anos.

Ao mesmo tempo em que a região tem uma malharia com tecnologia e capacidade de produção para atender às maiores marcas esportivas mundiais, tem também confecções familiares que encontraram um novo nicho, como os de artigos com o conceito vintage. Há também lojas especializadas que figuram entre as poucas do Brasil com licenças exclusivas de marcas. Com histórias diferentes, essas empresas têm em comum a torcida para que o setor esportivo da Serra se consolide ainda mais.

O golaço de
dona Dilva

FELIPE NYLAND 

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HEVERTON E DILVA | Negócio familiar produz mais de 100 itens para Grêmio e Inter

Diferentemente de outras malharias da Serra, há uma empresa de Farroupilha que não depende do frio para faturar mais. Ela depende do bom desempenho de times de futebol. A empresa Oldoni é fornecedora de gorros, cachecóis, camisas retrôs e outros artigos para torcedores da dupla Gre-Nal há cerca de 10 anos.

Heverton Silvestrin, sócio-proprietário da malharia, relembra como a mãe revolucionou o pequeno negócio familiar sem nenhum conhecimento esportivo, apenas com a percepção de que dava para fardar os torcedores com as cores do time sem fazê-los passar frio.

– Um dia, minha mãe, que não sabe nem o que é um tiro de meta, viu o Grêmio e o Juventude jogando no Alfredo Jaconi pela tevê e chamou atenção dela que os torcedores usavam a camisa do time por cima do moletom em um dia frio. Ela então ligou para o Grêmio e propôs a malha do time – recorda o filho.

Na época, a empresa estava em crise, sofria com a concorrência de outras malharias e tinha a produção focada na moda feminina.

– Essa ideia surgiu da necessidade. Eu tinha que sair da zona do conforto e resolvi procurar o clube, que disse que há muitos anos não tinha este produto disponível – relembra Dilva Oldoni.

Depois do primeiro contato com o Grêmio, sem conhecer previamente ninguém do clube, ela enviou uma caixa com amostras de produtos e a direção decidiu visitar a fábrica no bairro Cinquentenário para dar o aval à parceria. Foi questão de pouco tempo para que a malharia passasse a fornecer também para o Internacional. A articulação e a indicação partiram dos próprios clubes, até por uma demanda dos lojistas que buscam atender aos torcedores com igualdade.

Hoje, são mais de 100 itens na linha de produção da Oldoni para os torcedores da dupla. Camisas históricas estão entre os principais lançamentos. Neste mês de setembro, a malharia de Farroupilha produziu a camisa do primeiro título da Copa do Brasil do Grêmio, em 1989. Na época, o episódio da assinatura do contrato com a Coca-Cola consagrou Paulo Odone, porque o time corria o risco de perder o patrocínio quando o dirigente impôs como condição que a marca abrisse mão do vermelho do logotipo. Para relançar a camisa clássica, o Grêmio precisou obter autorização da fabricante de bebidas.

Rivalidade: No lugar da cor do clube rival, o Inter, e de maneira inédita na própria história da multinacional com sede em Atlanta (EUA), a Coca-Cola adotou a assinatura em preto.

Também já está disponível nas lojas a camiseta retrô em homenagem ao atacante Iarley, alusiva ao Mundial de Clubes de 2006, conquistado pelo Inter. O jogador deu o passe decisivo para Adriano Gabiru marcar o gol do título e o material foi recém colocado à venda.

Artigos como estes, que ganham status de colecionador, abrem espaço para que empresas menores, que não são as fornecedoras exclusivas dos times – como a Umbro e a Nike no caso da dupla Gre-Nal – abocanhem uma fatia de mercado em crescimento. Um termômetro disso é a expansão de lojas voltadas exclusivamente para torcedores que vão além dos estádios, ocupam shoppings e lojas de rua das cidades.

Esporte espanta crise

DIOGO SALLABERRY 

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DAL PIZZOL |  Grupo Brisa tem duas unidades voltadas ao mercado esportivo

O grupo Brisa, de Caxias do Sul, tem duas unidades voltadas ao mercado esportivo. Desde 2006, voltou-se com maior força para este segmento. Hoje, mais de 50% do faturamento da empresa vem desta aposta, sendo 25% apenas de uma marca. De acordo com o diretor comercial da Brisa, Thiago Dal Pizzol, a venda de artigos esportivos seguiu em crescimento mesmo no período de recessão econômica.

– Porque as pessoas mantiveram as atividades físicas que muitas vezes não dependem de dinheiro – observa Dal Pizzol.

Neste ano, o negócio esportivo da Brisa está crescendo mais de 8% em relação ao ano passado. O mês de agosto registrou a maior venda da história da empresa, segundo o diretor comercial. O Dia dos Pais foi melhor do que o Natal e o faturamento, 20% superior ao do ano passado, em que a data comemorativa já apresentava crescimento de 6% na comparação com o ano anterior. A “tabelinha” com o frio de agosto foi decisiva.

– Não existe tecnologia melhor para enfrentar baixas temperaturas do que a do segmento esportivo, e são produtos de tíquete alto – ressalta o diretor.

O Dias dos Pais figura entre as principais datas do segmento esportivo, porque os produtos mais vendidos, como camisas, chuteiras e artigos de futebol, são mais consumidos pelo público masculino. Na Brisa, 65% do público-alvo é composto por homens. Dal Pizzol destaca que, além de clubes oficiais, o futebol amador da Serra é muito forte, e artigos para esses consumidores costumam ser muito vendidos. Mas ele ressalta também que a participação feminina é a que mais cresce.

– A corrida já teve um “boom”, mas agora esse mercado estabilizou. A procura por artigos fitness em geral cresce muito entre as mulheres porque cada vez mais o número de adeptos de academias vem sendo impulsionado – aponta.

Confira

O case da Brisa

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A fornecedora da dupla Ca-Ju

PORTHUS JUNIOR 

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PROXIMIDADE | Empresa de Gelson Scola confecciona material esportivo do Juventude há 3 anos e, desde o final do ano passado, passou a fornecer também para o Caxias

 Gelson Scola, 56 anos, começou a carreira esportiva no time de futsal da Enxuta no final da década de 80 em Caxias. Mesmo depois que a equipe foi extinta, continuou a atuar como jogador no esporte amador da Serra, mas resolveu abrir também uma estamparia. Quando abandonou os campos, no ano de 2000, ampliou o negócio para uma confecção voltada para fardamentos de times não profissionais. Aos poucos, a empresa foi chamando atenção de equipes que disputavam campeonatos da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), como o Glória, de Vacaria, e o Brasil, de Farroupilha. Além de fornecer artigos para clubes de futebol, passou a atender a outras modalidades esportivas disputadas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e o Canoas Vôlei.

Mas foi nos últimos anos que a Mar Um Sports passou a ser a fornecedora exclusiva dos times de futebol de Caxias. Este é o terceiro ano que confecciona o material esportivo do Juventude. No final do ano passado, fechou contrato também com o Caxias. Com isso, este período do ano passou a ser o de maior trabalho na fábrica que ocupa três pavimentos de um prédio no bairro Rio Branco. Esta é a temporada de desenvolvimento do “enxoval” dos clubes. Os lançamentos costumam ocorrer no final do ano. A marca produz material para treinos e jogos. São cerca de 60 produtos de cada time, que incluem desde camisas oficiais, trajes da comissão técnica até camisas infantis e jaquetas para torcedores na linha casual.

Hoje, um terço do que é confeccionado na Mar Um atende à demanda da dupla Ca-Ju. A empresa está negociando com mais três clubes e pretende direcionar todo o esforço de trabalho para o esporte profissional, pois consegue agregar mais valor aos produtos.

– Por ter jogado, consigo conhecer bastante o que os clubes precisam. Hoje em dia, não é só material de jogo, o jogador gosta de vestir os outros artigos esportivos da marca, e a torcida gosta de comprar – destaca Scola.


Proximidade favorece percepção e logística

Além da proximidade por ter sido atleta, outra vantagem do fornecedor local é conhecer o território onde os times atuam e poder ampliar o portfólio conhecendo o perfil do torcedor. Isso sem contar na logística de entrega tanto para os comerciantes quanto para o clube.

– Se estragou uma camisa ou entrou um novo patrocinador, consigo produzir e entregar em poucos dias – exemplifica.





Uma cidade esportiva

Para se ter uma ideia do tamanho do mercado consumidor esportivo de Caxias do Sul, basta pensar na quantidade de pessoas que circulam na Vila Poliesportiva da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Conforme o coordenador do centro esportivo, Carlos Bonone, mais de três mil pessoas frequentam semanalmente esta área da instituição.

São pelo menos 1,5 mil atletas e mais cerca de 1,5 mil clientes que contratam serviços da universidade, como a academia. Isso sem contar outros programas da instituição externos à Vila, mas que se utilizam da estrutura poliesportiva.

Recentemente, a academia foi remontada, com escolha de fornecedor local para os equipamentos. Na manutenção da estrutura do complexo, são necessários desde materiais esportivos, como bolas, redes e fardamento, até produtos químicos empregados para a manutenção de piscinas.

Mais do que uma paixão, o esporte movimenta variados segmentos econômicos de Caxias do Sul, até mesmo o setor de bebidas. E sem contar a indústria plástica, que fabrica squeezes que substituem as garrafinhas descartáveis. A empresária Susana Chies, de Caxias do Sul, proprietária da marca de cachaças artesanais Três Vendas, chegou a produzir edições especiais para as duplas Gre-Nal e Ca-Ju.

São apenas mais exemplos de o quanto o futebol pode ser dinâmico. Dentro e fora dos gramados.

Alcance: São mais de 500m atriculados no programa UCS Sênior e alunos de Ensino Médio atendidos pela estrutura esportiva da UCS.

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