FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Política desenvolvida pelo governo do Rio Grande do Sul no final dos anos 1990 e que enfrenta altos e baixos ao longo das últimas duas décadas, o desenvolvimento de arranjos produtivos locais (APLs) pode ganhar um novo impulso na Serra. Em setembro, a prefeitura de Caxias do Sul começou uma mobilização junto a diversas entidades setoriais no intuito de formalizar o reconhecimento de um APL focado na produção de alimentos e bebidas na cidade. Caso seja implementada, esta seria a sexta estrutura do tipo na região.
Segundo definição do Sebrae, os APLs são aglomerações de empresas localizadas em um território determinado, que atuam dentro de um mesmo segmento e mantêm vínculos de cooperação com outros atores locais, como governos, associações empresariais e instituições de ensino e pesquisa. Na teoria, essa união visa ao desenvolvimento das companhias inseridas nesse setor e à realização de ações coletivas. Na prática, porém, a falta de recursos ou de mobilização acaba muitas vezes inviabilizando que esses planos saiam do papel. Neste sentido, dos cinco arranjos existentes na Serra, somente três vêm realizando ações sistematicamente.
Existem outros três APLs de abrangência estadual que também contam com a participação de empresas de cidades serranas: APL de Audiovisual, APL Eletroeletrônico de Automação e Controle e APL de Máquinas e Equipamentos Industriais.
Geralmente, a iniciativa privada é a responsável por articular a criação de um APL, mas no caso da ramificação de alimentos e bebidas de Caxias foi a prefeitura que se colocou à frente das discussões.
A Secretaria do Desenvolvimento Econômico é a responsável por liderar o processo. O titular da pasta, Emílio Andreazza, diz que ainda não há detalhes sobre a quantidade de empreendimentos que poderiam entrar no arranjo e nem sobre quais tipos de produtos seriam incluídos.
– O principal objetivo é a geração de novos negócios, conseguindo de maneira colaborativa trabalhar novos mercados e fortalecer as marcas dos produtos que temos em Caxias – comenta o secretário.
Neste sentido, Andreazza lembra que Caxias possui mais de 2,7 mil propriedades rurais, segundo o Censo Agropecuário, e que boa parte dessa produção poderia ser melhor distribuída nas redes de padarias, mercados de bairro e supermercados existentes hoje na cidade. O processo de criação do APL, porém, deve avançar somente em 2019.
Em 2016, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) realizou um estudo com 11 APLs gaúchos e constatou que apenas três deles poderiam ser considerados como consolidados. Entre eles estava a aglomeração do setor moveleiro na Serra. No entanto, o arranjo do segmento viveu momentos de turbulência nos últimos anos, com problemas internos, e acabou se desmobilizando.
– Houve uma quebra na gestão e o APL se perdeu pelo caminho – constata Diego Miolo, gerente administrativo da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs).
A partir de janeiro deste ano, a Movergs acabou incorporando o APL. A ideia é reativar a atuação e organizar ações voltadas ao desenvolvimento da indústria moveleira. Recentemente, foram obtidos R$ 16 mil em recursos junto ao Corede Serra. Com essa verba, o objetivo é realizar alguma ação dentro da Fimma, feira da área que será realizada em 2019.
Outro APL da região que está vinculado à uma entidade setorial é o vitivinícola, que está atrelado ao Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). Neste sentido, o próprio Ibravin acaba assumindo o papel de fomentar o segmento e realizar ações voltadas à promoção das vinícolas gaúchas.
– O Ibravin cumpre e até ultrapassa a função do APL. E ainda temos o Fundovitis, que conquistamos há 20 anos. Então já temos uma política específica para o setor – explica Carlos Paviani, diretor de relações institucionais do Ibravin.
DIOGO SALLABERRY
participação em eventos | APL Metalmecânico e Automotivo levou 30 empresas da região para a Mercopar, apostando na criação de um estante coletivo
Desde o ano passado, algumas das empresas associadas estão participando de uma iniciativa que visa capacitá-las para fornecer peças e produtos para grandes marcas, como Tramontina, Randon e Altivus Elevadores. O projeto foi viabilizado a partir da obtenção de R$ 650 mil junto ao governo do Estado, através da extinta Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI). A perspectiva é de que no primeiro semestre de 2019, essas empresas do APL já comecem a entregar os produtos.
A crise que afetou em cheio o setor metalmecânico fez com que o número de associados do APL caísse de 150 para cerca de 100.
– Estamos desenvolvendo cinco produtos para essas três empresas, que hoje não conseguem comprá-los no Rio Grande do Sul. Entre as demandas está um banco de retroescavadeira para a Randon e um eixo de transmissão para a Tramontina – explica Ubiratã Rezler, presidente do APLMMeA.
Além disso, a união das empresas do setor permite que elas participem de eventos importantes, como a Mercopar, feira de inovação industrial realizada no início do mês, em Caxias do Sul. Neste ano, o estande coletivo do APL foi o maior do evento, contando com 30 companhias da região em um único espaço. Rezler comenta que, sozinhos, dificilmente esses negócios teriam essa oportunidade. Com o auxílio de patrocínios, as companhias pagaram um valor reduzido para participarem da exposição. Assim, a economia com o custo da inscrição foi de 60%.
O APL industrial ainda possui uma parceria com o APL de Tecnologia da Informação da região (Trinopolo), para realizar workshops sobre inovação no setor produtivo. O Trinopolo é outro dos arranjos mais antigos da região, em funcionamento desde 2002. Entre os APLs serranos é o que conta com mais associados no momento, 120 no total.
Uma das principais ações desenvolvidas pelo Trinopolo, no momento, é a criação de uma startup voltada ao desenvolvimento de uma solução de recursos humanos utilizando inteligência artificial. Oito companhias ligadas ao APL somaram esforços para criar uma plataforma na qual as empresas conseguirão identificar qual é o melhor candidato para preencher uma vaga de trabalho.
– Se as empresas fossem desenvolver sozinhas a solução, elas não conseguiriam. Agora, a startup está em fase de construção do produto, que deve entrar em operação em novembro – sinaliza Thiarlei Machado, presidente do Trinopolo.
Outra iniciativa destacada que vem sendo realizada pelo arranjo focado em tecnologia é o desenvolvimento de uma rede pública em Caxias especificamente para a internet das coisas. Ou seja, uma conexão que possa ser compartilhada por objetos com tecnologia embarcada, como veículos, prédios ou máquinas da indústria. Ao todo, 16 empresas do APL participam da ação e dividiram os custos para a aquisição de três antenas, que devem ser instaladas no município nos próximos meses.
JÚLIO SOARES, DIVULGAÇÃO
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