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19 DE NOVEMBRO DE 2018

+EMPREENDEDORISMO

Na onda da criatividade

Responsável por 2,64% do PIB brasileiro, economia criativa atrai cada vez mais profissionais como alternativa de independência financeira

Mobirise



RONALDO BUENO
ronaldo.bueno@pioneiro.com


O que o serviço de streaming Netflix pode ter em comum com um selo musical independente criado em Caxias do Sul? Ou então o aplicativo de delivery de restaurantes iFood com um serviço personalizado de aromatização de ambientes focado nos municípios da Serra? Para além do uso da tecnologia, todos fazem parte da chamada economia criativa, setor que prioriza o conhecimento como matéria-prima de negócios que vão além da área cultural, englobando iniciativas em publicidade, moda e até mesmo criação de games e biotecnologia.

Considerando a versatilidade e abrangência do termo, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) define que a economia criativa inclui “os ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual como insumos primários”.

– Não é só desenvolver um novo produto ou serviço, mas expressar o talento de uma forma nova, original, com diferenciais. Muita gente procura o Sebrae e diz que não está preocupado em ganhar dinheiro. Mas tem de se preocupar, sim! Caso contrário, é apenas um hobby, e não um negócio – pontua a coordenadora de projetos de economia criativa e turismo do Sebrae-RS, Amanda Bonotto Paim.

A consultora Vanessa Kukul, sócia da Escola Caxias Criativa e diretora de conexões e relacionamento da Rede Mulher Empreendedora, segue a mesma linha de raciocínio. Conforme Vanessa, a economia baseada na criatividade precisa ser entendida como um ambiente de negócios em torno de produtos e serviços inovadores:

– Não é só fazer meu negócio com criatividade, mas compreender que eu tenho um capital humano que pensa e cria. Mas não é porque eu faço um quadro de pintura que eu sou da economia criativa. É preciso enxergar o quadro como negócio e saber valorizar o capital intelectual – ressalta a consultora.

Essa preocupação em tornar a criatividade rentável, aliás, já mostra resultados significativos. Conforme o relatório Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o setor teve participação de 2,64% no PIB nacional em 2015, o que representa uma fatia de R$ 155,6 bilhões.


RS está no 5º lugar   


Em nível estadual, o levantamento mostra que a participação da economia criativa no PIB gaúcho de 2015 foi de 1,9%. O Rio Grande do Sul ocupa o quinto lugar neste quesito, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Santa Catarina. No caso dos paulistas, o setor alcançou uma fatia de 3,9% do PIB naquele ano.

– A economia criativa não traz só geração de riqueza, novos negócios e valor agregado nos produtos. Ela também ajuda a estruturar um novo ecossistema de negócios, atraindo novas cabeças que pensem em inovação. É importante pra diversificar a matriz econômica – defende o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego de Caxias do Sul, Emílio Andreazza.

O TAMANHO

Mobirise




Subversão musical

LUCAS AMORELLI

Mobirise

PORÃO NO RIO BRANCO |  Jonas Bustince, baterista da caxiense Slow Bricker, decidiu abraçar com a banda, há cinco anos, todas as etapas da produção

Tudo começou em 2013, quando o baterista Jonas Bustince, o guitarrista Lucas Lizot e o baixista Rafael Ritter, da banda caxiense Slow Bricker, decidiram romper o mercado fonográfico convencional para abraçar todas as fases da produção de um novo single. Foi o embrião da Honey Bomb Records, selo, produtora e distribuidora independente que tem como sede um acanhado porão no bairro Rio Branco, em Caxias.

– Eu sempre trabalhei com comunicação, tanto como redator de agência quanto como estagiário no (Centro de Cultura) Ordovás. Então quando a gente foi lançar o novo single, quis testar a experiência de cuidar da produção da própria banda. Aí que surgiu a ideia de um selo que, no futuro, pudesse ser um guarda-chuva pra prestar serviço a outras bandas – relembra o idealizador da Honey Bomb, Jonas Bustince.

E foi exatamente o que aconteceu. Em cinco anos de atuação, a produtora já atendeu grupos como Cuscobayo e Mingarden, de Caxias do Sul, além dos paranaenses da Marrakesh e os paulistas da Bike. Atualmente, o portfólio da Honey Bomb inclui a banda caxiense Catavento, considerada o carro-chefe do selo, além da norte-americana The Blank Tapes, que tem sede na Califórnia.

O leque de serviços prestados inclui a distribuição digital, com lançamento e disponibilização das músicas em plataformas de streaming, assessoria de imprensa com foco em blogs e veículos de comunicação especializados em música, além do agendamento de shows. Nesse último caso, as bandas de outras cidades são convidadas a se apresentar na Casa Paralela, em Caxias, espaço alternativo que, além das apresentações, oferece hospedagem aos músicos visitantes.

– Eu percebi que o lance da autoestima também pesava pros artistas locais. Muitas bandas viviam praticamente de cover e, quando iam tocar uma música autoral, já começavam a pedir desculpas para o público. Portanto a autoestima também precisava ser resgatada – contata Bustince.    

AS 14 CARREIRAS CRIATIVAS

Com a intenção de mapear o mercado de trabalho criativo, o sistema Firjan elencou as 14 carreiras criativas – profissões nas quais o conhecimento é o principal insumo de produção. O levantamento leva em consideração a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho.

  1. Arquitetura e Engenharia
  2. Artes
  3. Artes cênicas
  4. Biotecnologia
  5. Design
  6. Expressões culturais
  7. Filme e vídeo
  1. Mercado editorial
  2. Moda
  3. Música
  4. Pesquisa e desenvolvimento
  5. Publicidade
  6. Software e computação
  7. Televisão e rádio





Renda mensal maior

De arquitetos a editores de livros, o número de profissionais atuando formalmente na economia criativa tem crescido nos últimos anos. De acordo com levantamento do sistema Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), o contingente de trabalhadores criativos saltou de 850,4 mil para 851,2 mil de 2013 a 2015, período em que mais de 900 mil postos de trabalho foram extintos no país.

Um dos fatores que justificam esse crescimento é a remuneração: enquanto o salário médio do brasileiro foi de R$ 2.451, as carreiras criativas renderam uma média mensal de R$ 6.270.

– No passado, quando falávamos em optar por áreas voltadas à economia criativa, havia um grande questionamento sobre como aproveitar esses conhecimentos para atuar no mercado de trabalho. Hoje, por outro lado, as profissões mais alinhadas com o futuro que está sendo desenhado são as criativas – destaca a coordenadora do curso de Economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Jacqueline Maria Corá.

A professora, que trabalha há 25 anos com jovens universitários, acredita que a mudança de comportamento do consumidor, cada vez mais informado e exigente, favorece a expansão dos empreendimentos que utilizam as novas tecnologias como diferencial.

Para Jacqueline, a intelectualidade é um dos principais fatores produtivos da sociedade contemporânea, um contraponto ao tripé capital-terra-trabalho de sustentação da economia tradicional:

– Esse profissional usa seus talentos para criar bens e serviços cada vez mais alinhados ao perfil do consumidor contemporâneo, que não deseja apenas satisfazer suas necessidades materiais, mas também atender à demanda subjetiva que envolve a experiência e o encantamento – completa a professora da UCS.






Aromas personalizados

FELIPE NYLAND

Mobirise

brilho nos olhos | Suelen Laner criou a Divinittà e transformou uma paixão em sua principal fonte de renda

Uma paixão que virou negócio. É assim que a administradora Suelen Laner descreve o movimento que levou à criação da Divinittà Aromas e Sensações. Com três anos de mercado, a empresa comercializa aromas personalizados para ambientes residenciais e corporativos, além de prestar consultoria sobre as fragrâncias mais adequadas para usar em lojas, escritórios ou em cada peça da casa.

– Sempre gostei de aromas e cheiros. Então comecei a ler alguns livros e assistir a vídeos sobre o assunto, primeiro para entender como harmonizar os aromas em cada ambiente. Depois eu me aprofundei, fazendo especializações em São Paulo e em Santa Catarina até criar a empresa – conta Suelen, sem esconder o sorriso de satisfação.

O que começou como hobby, em junho de 2015, acabou se tornando a principal fonte de renda de Suelen. Depois de conciliar por alguns meses a venda dos aromatizadores com o emprego no setor de RH em uma empresa de informática, ela decidiu concentrar esforços no próprio negócio.

– Comecei vendendo pros meus colegas de trabalho e pra família, mas, com a divulgação dos eventos dos quais eu participava, logo o meu negócio começou a brilhar mais os meus olhos do que meu emprego. Quando comuniquei minha decisão, o diretor da empresa me apoiou muito, por também ser um empreendedor – relembra.

Com cerca de 100 clientes fixos em municípios da Serra, como Caxias do Sul, Flores da Cunha, Farroupilha, Bento Gonçalves e São Marcos, Suelen pensa em ampliar o leque de produtos. Além dos aromatizadores de vareta e spray, água de lençol e aromas para carros, a empresa planeja comercializar sabonetes, hidratantes e séruns de mão. Recorrendo, é claro, à criatividade para fidelizar o público e valorizar a marca.

FÓRUM ESTADUAL

  • Com o tema Capital Humano, reinventando o seu negócio, Caxias do Sul recebe no dia 27 de novembro o 4º Fórum Estadual de Economia Criativa, no complexo Fabbrica.
  • O evento, realizado pelo Grupo Setorial de Economia da Microempa, reunirá empreendedores e consultores em workshops, palestras e reunião-almoço. 

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