FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
Se 2018 foi o ano de consolidação da retomada da economia, 2019 deverá reservar resultados mais expressivos. Essa é a projeção quase unânime entre empresários, economistas e dirigentes de entidades de classe da Serra. A expectativa é de que o próximo ano seja de continuidade da recuperação pós-crise e resulte em um crescimento vigoroso. Palavras como otimismo e confiança permeiam o vocabulário de representantes dos mais variados setores da indústria, do comércio e dos serviços.
As perspectivas positivas são baseadas, principalmente, nos números de 2018. Com 7,6 mil vagas criadas até novembro, segundo o Caged, Caxias do Sul é o município que mais gerou postos de trabalho no Rio Grande do Sul. O resultado ainda está longe de compensar os mais de 20 mil postos de trabalho encerrados durante a crise, mas representa um alento para a cidade. Outras cidades da Serra também voltaram a gerar oportunidades. Vacaria criou 1,2 mil vagas, Bento Gonçalves abriu cerca de 1,1 mil postos e Garibaldi mais de 700.
A protagonista da retomada está sendo a indústria, sobretudo no ramo automotivo. Em Caxias, o segmento cresceu 9,2% até outubro, segundo a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias (CIC). O desempenho respingou também nos demais ramos. Os serviços tiveram alta de 8,6%. O comércio apresentava retração de 1,1%, que deve ser revertida com as vendas de final de ano ainda não contabilizadas. Ao todo, a economia do município apresenta expansão parcial de 7,3%. E, em 2019, os números tendem a ser ainda melhores.
Mesmo com eleições, Copa do Mundo e até uma greve de caminhoneiros, 2018 deixa bons sinais para a economia. Para traçar o panorama do que virá, o Pioneiro conversou com 19 lideranças locais, entre empreendedores, economistas, sindicalistas e dirigentes de entidades.
Se engana quem pensa que o setor de alimentação está composto apenas por franquias de redes de fast food e outras guloseimas. Nos últimos anos, também começaram a despontar franqueadoras voltadas ao mercado de produtos naturais. Na Serra, um dos principais expoentes deste nicho é a Tudo em Grãos, que desde 2015 se expande de maneira acelerada.
Hoje, a marca possui 17 unidades nos três Estados do Sul. A meta é aumentar a rede com até cinco franquias por ano, com o foco voltado para as cidades da região. O investimento em uma unidade da marca varia entre R$ 180 mil e R$ 250 mil. O sócio-fundador da empresa Alex Xavier Bortolini destaca que nem mesmo o contexto de recessão no país travou a ampliação da rede nos últimos anos, pois a demanda por cereais, grãos e outros insumos naturais seguiu em alta.
– Todos os indicadores que temos acompanhado do varejo e da alimentação mostram que nosso segmento vem crescendo acima da média dos demais, mais até que o de fast food – ressalta.
A expansão da empresa por meio de franquias fará com que o faturamento da rede chegue a R$ 12,5 milhões neste ano, um incremento de 66% frente ao ano passado. Se levadas em consideração apenas as unidades que já existiam no ano passado, o crescimento da receita ficará na casa dos 20%. Segundo Bortolini, um dos segredos é manter o aspecto familiar do negócio, mesmo em modelo de franquias.
– Acompanho todas as inaugurações, pois vejo que é fundamental que o franqueado se envolva com o negócio. Os franqueados não são apenas investidores, mas pessoas que têm afinidade com o perfil dos nossos produtos.
Alexander Messias
Economista e diretor de Economia, Finanças e Estatística da CIC Caxias
Eu acho que tanto no cenário político, quanto econômico, bons ventos virão. Temos a possibilidade de uma inflação baixa, como foi em 2018, a manutenção da taxa de juros, talvez com um leve aumento, e a recuperação da indústria, principalmente a nossa. Porém, uma grande incógnita é a reforma da Previdência. Se não for aprovada, acredito que haverá uma reversão rápida de expectativas no ambiente econômico. Acredita-se que a reforma vai passar, a questão é saber se vai ser mais branda ou radical. No cenário externo, tem o conflito entre os Estados Unidos e a China, mas no frigir dos ovos, estou bastante otimista. O Brasil deverá crescer entre 2,7% e 3%, o que é muito bom se compararmos com o 1,3% que devemos crescer neste ano.
Maria Carolina Gullo
Economista, professora da UCS e diretora da CIC
As maiores empresas de Caxias já estão com uma boa carteira de pedidos para o primeiro semestre de 2019. Se não houver nenhum evento impactante, que traga algum tipo de revés, a tendência é de que 2019 seja bem melhor do que 2018. Há um cenário de bastante otimismo com relação a novos investimentos e isso deve impactar a nossa economia. Os setores exportadores devem ter um bom ano, até pelo patamar atual do câmbio (dólar acima de R$ 3,80). O cenário deve ser bom também na geração de empregos, que pode ficar em torno de 7 mil novas vagas em Caxias, como em 2018.
Ivanir Gasparin
Presidente da CIC Caxias
A partir de junho, vimos a economia crescer. E Caxias com crescimento acima do Estado e até do Brasil. Isso vai se refletir no ano que vem. Esperamos que Caxias recupere os postos de trabalho perdidos na crise. Com a retomada do crescimento, as grandes empresas da indústria tendem a continuar contratando e aí o comércio e o setor de serviços também passam a contratar.
Elton Gialdi
Presidente do CIC de Bento Gonçalves
Em Bento Gonçalves, nos últimos meses a economia tem dado sinais positivos de retomada. O setor moveleiro já sentiu no final de ano um pequeno sinal de melhoria. Eu acho que, com o novo governo (federal) teremos estabilidade política no Brasil, o que é importante para as pessoas voltarem a consumir e fazer investimentos. Será um ano de grandes desafios, mas acho que o povo está mais otimista e seguro para voltar a consumir e investir.
Jovenil Vitt Lima
Presidente da Associação das Micro e Pequenas Empresas (Microempa)
Com a mudança política, tanto no Estado como no país, esperamos que ocorram as mudanças necessárias para que a economia cresça. Hoje a grande dificuldade não é a criação de empresas, mas a sustentabilidade delas. O governo deve entender que é preciso mudanças urgentes, tanto na parte de tributação como na burocracia. Se houver essa simplificação, haverá crescimento e a possibilidade das micro e pequenas empresas se manterem no mercado será muito maior.
Joacir Reolon
Presidente do Sindicato das Empresas Contábeis da Serra Gaúcha (Sescon)
Com a eleição do (presidente) Jair Bolsonaro, a expectativa de mudanças é bem forte, a reforma tributária é uma delas. Não acreditamos em redução da carga, até porque a situação financeira do país é complexa. Mas também não dá para falar em aumento de impostos, porque a sociedade está saturada. O que se espera é uma simplificação da quantidade de impostos a quatro ou cinco, no máximo. Apesar de não alterar a carga, desburocratizaria aspectos.
Reomar Slaviero
Presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas
e de Material Elétrico de Caxias (Simecs)
As perspectivas são melhores. As grandes empresas já vinham se recuperando, mas as pequenas empresas e os fornecedores começaram a sentir essa melhora no final do ano, o que dá um alento para pensar que 2019 será melhor. Há entusiasmo com o novo governo (federal). É possível projetar que o nível de emprego siga crescendo. Os sinais até agora nos deixam otimistas de que 2019 será muito bom.
Claudecir Monsani
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias e Região
Os últimos dois anos foram um desastre para os trabalhadores, não só os metalúrgicos. Foram anos de ataque e retirada de direitos. Esperamos que a economia de Caxias melhore e tenhamos um ano mais tranquilo do que foi 2018. Está surgindo uma possível nova reforma trabalhista e tem a reforma da Previdência. A principal luta da categoria será defender o que já foi conquistado, como 13º salário e férias. A legislação nunca prejudicou os empresários. Com essa proposta de reforma da Previdência, o trabalhador vai ter de trabalhar praticamente até morrer.
Jaime Lorandi
Presidente do Sindicato das Indústrias de Plástico
da Região Nordeste (Simplás)
Acreditamos que o PIB do país vai crescer entre 2,5% e 3%, mas a indústria de plástico da região crescerá mais, entre 6% e 7%, porque percebemos que haverá uma série de fornecimentos grandes para a indústria automobilística, a moveleira e a de alimentação. Estamos bastante otimistas. Está na hora de contratar mais pessoas. O principal desafio está na inovação, na criação de produtos diferentes e na gestão de processos.
Edson Pelicioli
Presidente do Sindimóveis Bento Gonçalves
O pior momento do setor moveleiro foi no segundo semestre de 2017. Em 2018 começou uma retomada, acreditamos que vamos crescer em torno de 3%. E, para o ano que vem, essa retomada continua e esperamos crescer entre 2,5% e 3%. Temos uma certa cautela. Se o governo fizer o que precisa ser feito transmitirá confiança para o empresariado. Aí tenho certeza de que os investimentos vão acontecer.
Marcus Vinícius Rossi
Diretor-executivo da Gramado Summit
De uns dois anos para cá, a Serra tem evoluído muito na inovação. Vemos muitas grandes empresas se conectando com startups, levando uma nova cultura para dentro das corporações. Em 2019, acredito que a nossa região vai chamar a atenção em nível nacional e pode se inserir como um dos principais polos de inovação. No Rio Grande do Sul, vejo espaço para crescimento de startups que resolvam processos, que resolvam problemas específicos de grandes empresas e que acabe facilitando a criação do produto final dela.
Enor Tonolli Junior
Coordenador do Parque de Ciência,
Tecnologia e Inovação da UCS
Há um olhar para o futuro e as tendências que estão acontecendo, de realização de parcerias no sentido de desenvolver processos de inteligência artificial e para a indústria 4.0. É o que vem se delineando. A interação da academia com o setor produtivo se mostra cada vez mais real. Isso é a principal ação de 2018 e que vai se refletir no ano que vem, intensificando um ambiente propício para atração de investimentos e desenvolvimento de um ecossistema de empreendedorismo e inovação.
Rudimar Menegotto
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias
Na questão da produção, a expectativa é de uma safra boa. Tivemos alguns problemas por fatores climáticos, como temporal e granizo, mas a safra está se desenhando com uma ótima qualidade e até de certa quantidade. Na uva e na fruticultura em geral deve haver no máximo 10% de perda em relação à safra passada. Teremos a Festa da Uva, que é importante para nós, já que muitos visitantes acabam vindo para cá e o setor se beneficia.
Oscar Ló
Presidente do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)
A expectativa é bastante positiva para a vitivinicultura. Vamos terminar o ano com crescimento de 14% ou 15% no volume de vendas e isso deve continuar em 2019. A safra de 2018 foi excepcional em termos de qualidade e a de 2019, apesar de perdas pelo mau tempo, tende a se manter próxima da colheita passada em volume e qualidade.
Vicente Perini Filho
Presidente do Sindicato da Gastronomia e Hotelaria Região Uva e Vinho (SEGH)
Observamos o crescimento na indústria e no próprio comércio e isso vem alavancando o turismo na região. Com a Festa da Uva haverá crescimento de 10%, em média, na ocupação da rede hoteleira. Nos finais de semana, deve chegar a 20% de aumento. Sem a festa neste ano, acabamos perdendo. Agora, em 2019, esperamos que a gastronomia e a hotelaria se recuperem.
Alexander Messias
Presidente do Sindicato da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon)
Após as eleições vimos a melhora no nível da confiança e isso tem gerado aumento na busca por novos imóveis e está movimentando bastante o setor. Vemos espaço em 2019 para crescermos no segmento de médio padrão, que, até então, estava mais contido. Deverá ser o segmento com maior movimentação. Mas nos preocupa o segmento popular, pois não há definições concretas sobre qual será a política de habitação popular do próximo governo.
Vanius Corte
Gerente regional do Ministério do Trabalho em Caxias
A ação do ministério (do Trabalho) deve ser nula. É o que o presidente eleito (Jair Bolsonaro) tem afirmado. Se sabe que as funções do ministério serão colocadas em outros três ministérios, mas não existe definição em relação a isso. 2018 foi de muitas dificuldades, tivemos grande número de denúncias das mais variadas infrações trabalhistas, de empresas que não registraram a carteira de trabalho até o não pagamento de salários. Tem muita informalidade na cidade e sentimos a redução na massa salarial. Não podemos dizer que dá para ficar otimista.
Idalice Manchini
Presidente do Sindilojas Caxias
Esse ano foi um tanto tímido para o comércio, mas no último trimestre deu uma reagida. Para o ano que vem temos boas expectativas, acreditamos que será um ano de virada depois da recessão. A indústria está sendo reforçada e esperamos que o crescimento da economia chegue ao comércio. Devemos crescer em torno de 15% em 2019.
Ivonei Pioner
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias (CDL)
Há todos os ingredientes necessários para esperarmos um ano de crescimento. Todas as crises são cíclicas. Em 2018 tivemos os desafios de uma Copa, eleições e a greve de caminhoneiros. Para o ano que vem, sem nada disso no calendário, devemos ter um ano positivo. O principal desafio está na modernização do varejo, mudar a cultura a partir das exigências do consumidor.
Pesquisa afirma que 97% dos empresários querem investir em 2019 e que 47% deles pretendem gerar novos postos de trabalho.E que a reforma tributária, com 93%, é a maior prioridade para o fortalecimento do setor
Dirigentes empresariais de diferentes setores e economistas da região
fazem projeções otimistas para 2019
Cintia Buzin dirige metalúrgica familiar e foi agraciada com o mérito gigia bandera
Chance deve ser aproveitada para se destacar. Busque informações e tenha comportamento proativo
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