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“O momento é de retomada”

Thais herédia, jornalista da Globonews, palestrará
em Caxias nesta terça-feira sobre o cenário macroeconômico e político 

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SILVANA toazza
silvana.toazza@pioneiro.com

O que esperar da economia para os próximos anos? Profissionais e empresários da Serra estão na expectativa para ouvir as projeções da comentarista de economia do G1 e da GloboNews, Thais Herédia, que palestrará em Caxias do Sul nesta terça-feira, às 19h, no Intercity Hotel, numa promoção da Interface Comunicação e Eventos.

A jornalista especializada em economia acredita que o Brasil já deu largada a um processo vagaroso de recuperação, mas admite:

– A recessão desde o segundo trimestre de 2014 foi a pior já vivida pelo país.

Para os empresários, ensina: não depender do Estado e sim buscar a eficiência. Thais Herédia já atuou como gerente de comunicação do Carrefour e como assessora de imprensa do Banco Central, durante a presidência de Armínio Fraga.

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Quem buscou eficiência e procurou melhorar
a produtividade, sai da crise mais fortalecido

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Pioneiro:

  • O que esperar da economia para os próximos anos?
    A economia já começou um processo lento de recuperação que pode se acelerar em 2018, mas nada muito estrondoso. No longo prazo, a atividade só vai aumentar consistentemente se o investimento em infraestrutura e melhora da capacidade produtiva do país voltar a crescer o mais rápido possível. O entrave para uma melhora contínua das condições econômicas está na aprovação das reformas, especialmente a da Previdência.  
  • Como os cenários macroeconômico e político interferem na tomada de decisões? 
    Num movimento inédito no Brasil, na história das crises, a economia começou a se descolar da política no final do ano passado. No início de 2017, a atividade ainda reagia às votações e aprovações no Congresso Nacional. Mas depois da delação da JBS em maio, quando a maioria dos analistas achou que a economia sofreria um segundo mergulho, a retomada se manteve e o descolamento ficou mais evidente. Tudo indica que os agentes econômicos, empresários e consumidores querem retomar a vida e deixar para trás a profunda recessão, dando mais importância para a queda da inflação, a redução dos juros e o otimismo do mercado financeiro. Os dados de confiança mostram que estamos todos muito ligados ao cenário político, entre decepções e perplexidade, mas não tem sido suficiente para tirar o país da frágil rota da recuperação.  
  • Quais os principais desafios do Brasil para sair da crise econômica?
    A estabilidade da moeda já está proporcionando uma trajetória mais saudável e sustentável para a saída da crise. Mas para o país deixar de correr riscos como os que nos ameaçam agora, é preciso seguir nas reformas estruturais, especialmente mudando as regras da Previdência. É imperativo que sejam estabelecidos novos parâmetros e prioridades para o orçamento público nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal), caso contrário, o país vai chegar rapidamente a um ponto em que toda arrecadação de impostos será usada para pagamento do funcionalismo público e aposentadorias. Neste cenário, o BC perde controle sobre a inflação e a economia entra num ciclo perigoso e muito difícil de superar.  
  • O momento é de retomada ou de estagnação? 
    O momento é de retomada. Os dados do primeiro semestre mostraram que há uma recuperação do consumo das famílias, o que tem colaborado para os setores do comércio e dos serviços. A indústria, que foi a que mais sofreu com a recessão, também já está em trajetória positiva, mas ainda muito lenta.  
  • Essa é a pior crise econômica já vivida pelo Brasil? 
    Sim, em qualquer comparação histórica que se queira aplicar, a recessão presenciada a partir do segundo trimestre de 2014 foi a pior já vivida pelo Brasil. Outra diferença relevante com relação a outros episódios é que essa crise foi provocada por nós mesmos, por erros de política econômica, irresponsabilidade dos governos do PT, especialmente de Dilma Rousseff. O mundo está em recuperação há dois anos, na contramão da nossa recessão, o que mostra que andamos na direção oposta à retomada da economia internacional depois da crise de 2008.  
  • Quando será retomada a geração de empregos? 
    Tudo indicava no começo do ano que o desemprego sofreria uma piora relevante ao longo dos meses. O que não aconteceu. No trimestre entre maio e julho, 1,4 milhão de pessoas voltaram ao mercado de trabalho, a maioria na informalidade. Ainda assim, o ritmo esperado para a queda da taxa de desemprego ainda é de velocidade baixa, a depender dos efeitos esperados pela queda dos juros e na confiança dos empresários.  
  • Como comentar assuntos complexos, buscando a compreensão do público, sem simplificar demais e perder o contexto?
    Este é o meu desafio diário. Eu costumo dizer que economia somos todos nós. Todas as decisões que tomamos, diariamente, têm reflexo na economia: se deixamos de ir ao salão de beleza toda semana, se adiamos a troca do carro, se desligamos o freezer de casa, tudo acaba refletindo em mais ou menos emprego, mais ou menos renda, mais ou menos crescimento. Eu procuro sempre partir desta perspectiva para relatar os caminhos que as nossas decisões percorrem, seus custos e benefícios. Tenho muito cuidado com a linguagem para não comprometer conceitos ou perder o contexto. Não dá para perder isto de foco nem um minuto.  
  • Qual o seu conselho a empresários?
    Olhem para dentro do negócio, busquem eficiência e qualidade na gestão da empresa. Não vamos mais contar com o Estado para estimular a economia, dar um incentivo aqui, outro acolá. Ao mesmo tempo, o peso dos impostos continuará pesando, sem contrapartidas, já que o setor público perdeu sua capacidade de empurrar o país como fez durante tantos anos. Quem buscou essa eficiência, procurou melhorar a sua produtividade, sai da crise mais fortalecido. Infelizmente, não foi uma conquista de muitos empresários, mas continua sendo a solução mais realista.  
  • E para o consumidor que está desempregado e vendo as dívidas se avolumarem? 
    Este é o lado mais perverso da crise. O desemprego que levou a renda embora de famílias muito endividadas, com uma taxa de juros estratosférica. A primeira coisa a se fazer é renegociar dívidas caras por mais baratas. O emprego informal, os “bicos”, o trabalho por conta própria está ajudando muita gente a recuperar alguma fonte de renda e, minimamente, buscar equilibrar o orçamento doméstico. O desalento é cruel e compromete o futuro dos jovens. Tudo indica que esta situação já começou a se reverter, mas vai levar muito tempo até que grande parte daqueles que perderam seu trabalho na crise recuperem suas conquistas. Mas o importante é que o movimento já começou.

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