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Imune à recessão

nos últimos três anos, o Cooperativismo da Serra respondeu à crise com expansão de 24% no faturamento e 19% no número de associados

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FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

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Pioneiro Monumento em Nova Petrópolis remete às origens do cooperativismo no país

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Em meio à tempestade que atinge a economia brasileira nos últimos anos, as cooperativas da Serra navegam em águas tranquilas. De acordo com o Sindicato e Organização das Cooperativas do Rio Grande do Sul (Ocergs), as 59 empresas serranas com esse perfil faturaram R$ 5,2 bilhões no ano passado, consolidando um crescimento de 24% desde o início da recessão, em 2014. Neste meio tempo, a quantidade de associados na região subiu 19%, totalizando 305 mil pessoas.

Os números positivos contrastam com a situação geral de muitas empresas no país, que viram as receitas despencarem e tiveram de reduzir o quadro de funcionários. Só o polo metalmecânico de Caxias do Sul fechou 20 mil vagas em três anos. No entanto, o bom desempenho do cooperativismo em meio à crise não chega a ser uma novidade.

– O segredo está em uma palavra: resiliência. Cooperativas nasceram na crise. E quem veio da crise, cresce – aponta Vergilio Perius, presidente da Ocergs.

Não que todas as cooperativas tenham passado incólumes pela crise. Ainda que no conjunto o cenário seja de ascensão, alguns segmentos sentiram o baque. Isso fica evidente no nível de emprego. A quantidade de postos de trabalho na Serra teve uma queda de 11,7 mil para 11,2 mil, entre 2014 e 2016. Mesmo assim, há indícios de que as companhias atingidas se recuperam mais rápido que a média do mercado, já que no ano passado foram criadas 340 vagas.

A maior resistência à recessão e a rápida capacidade de recuperação estão ligadas ao caráter local dos negócios. É o que aponta Márcio Port, presidente do conselho de administração da Sicredi Pioneira, de Nova Petrópolis, um dos primeiros negócios cooperativos criados no Brasil.

– Se o ramo metalmecânico não está indo bem em Caxias, a agricultura está. Então
continuamos apostando na agricultura. Já um grande banco define que a economia não está boa e para de emprestar para todo mundo. O fato de conhecer bem a região e a cultura local faz com que as cooperativas cresçam mesmo com o mercado recessivo – exemplifica Port.

Peso histórico

O peso histórico do cooperativismo na Serra é outro fator que ajuda a explicar o bom desempenho das marcas da região mesmo na crise, segundo José Odelso Schneider, professor do curso de especialização em cooperativismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Schneider lembra que o cooperativismo chegou ao Brasil através do padre jesuíta alemão Theodor Amstad. Após morar na Inglaterra e presenciar a expansão das cooperativas na Europa, no decorrer do Século 19, Amstad se instalou no Rio Grande do Sul por volta de 1885. Assim, contribuiu para a criação de algumas das primeiras estruturas no Estado.

Em seguida, por volta de 1910, outro estrangeiro, o italiano Stéfano Paternò, um especialista na criação de cooperativas, desembarcou no Estado para ajudar a difundir a prática. Veio então uma nova leva de cooperativas, principalmente agrícolas, na zona onde se instalaram os imigrantes vindos da Itália, que hoje compreende municípios como Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Flores da Cunha. No restante do Brasil, o modelo cooperativista viria a deslanchar no final da década de 1920, após a grave crise financeira mundial desencadeada pela quebra da Bolsa de Valores de Nova York.

Passados mais de 100 anos, a participação da Serra no cooperativismo gaúcho segue alta. No momento, é a terceira localidade com mais negócios no Estado, perdendo apenas para o Noroeste e a região metropolitana de Porto Alegre. Em 2016, a região serrana contribuiu com 12,6% dos R$ 41,2 bilhões do faturamento da atividade no Rio Grande do Sul e com 11% dos 2,8 milhões de associados.


Intercooperativismo ganha força

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parcerias na produçãO  Wendling diz que intercooperativismo ajuda a Piá a colocar novos produtos no mercado, caso de uma manteiga que será feita em Capão do Leão

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A vocação agrícola da Serra faz com que, naturalmente, o segmento agropecuário seja o mais forte do cooperativismo local. Ao todo, a região conta com 27 negócios nesse ramo. E são eles os que mais firmam parcerias com outras cooperativas, especialmente para terceirização de parte da produção.

O intercooperativismo é responsável por alguns lançamentos da Piá, de Nova Petrópolis. O diretor financeiro da companhia focada em laticínios, Marcelo Wendling, explica que, quando não há estrutura necessária para fazer determinado item, o primeiro passo é procurar alguma cooperativa que possa absorver a demanda. Nestes moldes, a cooperativa serrana se prepara para colocar nas gôndolas, até o final de outubro, uma manteiga em tablete que será feita na planta da Danby Cosulati, em Capão do Leão.

– Em vez de construir uma estrutura de fábrica que custe “x”, a gente vê se outra cooperativa pode fazer esse produto. Assim, não precisamos mobilizar muito capital e ajudamos outra cooperativa que está com capacidade ociosa – frisa o executivo.

Hoje, a Piá conta com cinco parcerias. E deve ampliar esse número, pois pretende fazer creme de leite e leite condensado em unidades de outras marcas. A relação também ocorre no sentido inverso. Neste momento, há tratativas para que a Piá produza alimentos para terceiros.

Essa movimentação acaba estimulando o faturamento, que deve chegar a R$ 750 milhões neste ano, sendo 70% das vendas dentro do Rio Grande do Sul.

Também é constante a intercooperação na Santa Clara, de Carlos Barbosa. A empresa do setor lácteo possui uma série de acordos, que abrangem desde o fornecimento de rações até a fabricação terceirizada de leite em pó. Entretanto, algumas parcerias tendem a ser temporárias. Isso porque a cooperativa barbosense está investindo na construção de uma nova planta, em Casca, para produção de leite e derivados.

– Estamos investindo R$ 115 milhões, em uma época que poucos estão fazendo isso. A tendência é de que a nova planta assuma parte da produção terceirizada – projeta o presidente da Santa Clara, Rogerio Sauthier.

A maior parte da produção da marca, cerca de 60%, fica no mercado gaúcho. O restante vai para Rio de Janeiro e São Paulo e, em menor proporção, a Paraná e Santa Catarina.


União para crescer

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FUSÃO Segundo Dalle Molle, junção trouxe mais competitividade

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Diz o ditado popular que a união faz a força. Ainda que no cooperativismo a frase soe quase como um mantra, algumas empresas resolveram levar essa máxima a outro patamar. Na Serra, existem diferentes casos de cooperativas que decidiram somar esforços para criar uma única estrutura. Redução de custos e aumento da competitividade são alguns aspectos que motivam decisões do tipo.

O setor vitivinícola é o que mais chama a atenção neste aspecto. A Serra já contou com mais de 20 cooperativas neste ramo e agora soma oito marcas. O caso mais recente de fusão é o da Nova Aliança, de Flores da Cunha, que foi forjada a partir de cinco negócios espalhados por Caxias do Sul (Aliança e São Victor), Farroupilha (Linha Jacinto) e Flores da Cunha (Santo Antônio e São Pedro).

O projeto de união começou a ser pensando em 2008, em um momento de dificuldade econômica mundial, e saiu do papel três anos mais tarde. Porém, apenas em 2014, com a construção de uma nova planta industrial, a Nova Aliança se consolidou. A empresa resultante desse processo conta com 850 associados e terá um faturamento de R$ 180 milhões em 2017, incremento de 15% frente à temporada anterior. É a segunda maior no segmento, atrás somente da Aurora.

Se continuassem separadas, as empresas estariam em apuros, avalia o presidente da Nova Aliança, Alceu Dalle Molle

– É difícil dizer que as cinco fechariam, mas com certeza teriam grandes dificuldades. Juntos temos muito mais força.

Com a operação unificada em Flores da Cunha, diversos imóveis pertencentes às cinco marcas estão ociosos. A expectativa é de negociar, nos próximos anos, seis unidades e arrecadar mais de R$ 40 milhões. Os recursos seriam investidos na aquisição de equipamentos e em melhorias estruturais.

Outro caso de incorporação na Serra teve como protagonista o Sicredi. A Pioneira, sediada em Nova Petrópolis, absorveu a operação de Caxias do Sul em 2010.

– O grande benefício da união é enxugar a estrutura administrativa. Da porta para a fora, os associados nem percebem a mudança. O fato de não ter duplicidade nos cargos e na estrutura nos trouxe uma economia de R$ 5 milhões ao ano – relata Márcio Port, presidente da Sicredi Pioneira.

Antes da junção, as duas unidades computavam 72 mil associados. Neste ano, a Pioneira soma 125 mil. O volume de recursos depositados mais que dobrou, saindo de R$ 915 milhões para R$ 2,2 bilhões, entre 2011 e 2017. Já a carteira de crédito passou de R$ 465 milhões para R$ 830 milhões. SEGUE

Na Serra

Fonte: Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Ocergs)

Em busca de consolidação

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Bons negócios  CAAF, de Caxias, deve ter alta de 30% no faturamento neste ano, aponta Regelin

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Nem só de cooperativas de grande porte vive a Serra. Na região também existem diversos negócios jovens que estão em busca de consolidação. Durante a recessão, o número de empresas se manteve estável, contando, inclusive, com um leve incremento. Entre 2014 e 2016, duas novas companhias se associaram ao sistema Ocergs-Sescoop, responsável por articular a atividade no Rio Grande do Sul.

Uma delas é a Cooperativa de Agricultores e Agroindústrias Familiares de Caxias do Sul (CAAF), sediada em São Luiz da 6ª Légua. Atualmente, a estrutura conta com 240 famílias, sendo 230 caxienses, que produzem mais de 60 tipos de alimentos. A maioria dos clientes da CAAF é do setor público, em especial órgãos municipais e estaduais. Cerca de 98% das vendas têm como destino esse nicho.

E o movimento vai de vento em popa. O faturamento neste ano deverá crescer 30% e chegar a R$ 4 milhões.

– Isso só é possível através da organização dos agricultores dentro da cooperativa.

Conseguimos atender aos clientes durante os 12 meses do ano. O agricultor planta e sabe que vai conseguir vender – aponta Marcos Regelin, gerente da CAAF.

Conforme Regelin, o mercado para os produtos da cooperativa é crescente. Hoje, a CAAF atende 14 prefeituras, oito quartéis do exército, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e dezenas de escolas públicas espalhadas pelo Estado. Apenas em Caxias são abastecidos 51 colégios. A atuação não se restringe à Serra. Os hortifrutigranjeiros e demais artigos chegam a outros municípios gaúchos, como Canoas, Porto Alegre, Gravataí e São Leopoldo.

O próximo passo a ser dado pela CAAF é a compra coletiva de insumos para os agricultores participantes. Isso ajudaria a baratear o custo de produção dos associados.

Situação distinta é vivida por uma das cooperativas caçulas da Serra. Criada em 2014, a Cooperativa dos Transportadores de Nova Bassano (Cotrano) passa por dificuldades. No início, conseguiu ter um bom desempenho. Em seguida, o faturamento caiu, por conta da inadimplência dos clientes. Dedicada à realização de fretes para empresas da região, chegou a faturar de R$ 150 mil a R$ 200 mil por mês com 20 motoristas. Com o tempo, a receita caiu para R$ 50 mil mensais, o que tornou inviável a operação.

Um dos fundadores da Cotrano, Samuel Matiello menciona que outro problema foi a falta de dedicação de parte dos associados.

– Batalhamos um ano e ano para criar a cooperativa. Mas na hora de apoiar, vinha um ou dois nas reuniões. A cooperativa só funciona se as pessoas se envolvem – constata Matiello, presidente da Cotrano.

Ainda que siga ativa formalmente, a Cotrano está com as atividades paralisadas. Matiello pensa que, em 2018, a situação econômica vai melhorar e o negócio poderá ser retomado.

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Confira no mapa onde estão localizadas e em que nichos atuam as cooperativas da Serra.

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