FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
porthus junior, bd, 16/11/2016
Potencial desperdiçado | Especialistas acreditam que Caxias do Sul teria condições para tornar o turismo uma atividade rentável para a economia local
Gramado é um dos destinos favoritos dos brasileiros no inverno e oferece eventos o ano todo. Bento Gonçalves virou sinônimo de enoturismo, em função do Vale dos Vinhedos. Cambará do Sul encanta por seus cânions. Farroupilha atrai fiéis de diversos cantos ao Santuário de Nossa Senhora do Caravaggio. E Caxias do Sul? Quando o assunto é turismo, Caxias passa longe de ser protagonista na Serra, a região mais visitada do Rio Grande do Sul. Raramente, a segunda maior cidade do RS consta nos roteiros dos turistas.
O diagnóstico é de que existem atrativos, mas a falta de foco e investimento no turismo durante décadas são motivos para que a atividade não tenha despontado em solo caxiense da mesma maneira que nos vizinhos. O professor da faculdade de Turismo da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Maguil Marsilio aponta que, por ter na indústria metalmecânica sua principal matriz econômica, Caxias historicamente deixou em segundo plano o turismo.
– Caxias está adormecida e teria potencial para ser a grande articuladora no turismo da Serra. Mas a cidade não enxergou isso, em função de outros interesses. Em relação a cidades como Bento Gonçalves, Caxias está uns 20 anos atrás – aponta Marsilio.
Na esteira da recessão e das recentes dificuldades enfrentadas pela indústria, a necessidade de outra matriz para o município começou a ser ventilada com mais intensidade. Neste sentido, o turismo surge como uma alternativa. Existem movimentos, inclusive, para a criação de uma rota industrial, que explore o funcionamento das fábricas junto aos visitantes.
Além disso, o turismo de negócios é visto como um campo no qual Caxias poderia ser competitiva. Mas o baixo investimento e a falta de articulação em prol do turismo são obstáculos a serem vencidos pelo município. Desde 2013, a prefeitura de Caxias não capta verbas federais para a área, indo na contramão de vizinhos como Bento e Gramado, que constantemente encaminham projetos e conseguem recursos.
Centro de eventos
A falta de estrutura faz com que Caxias hoje perca eventos para outros municípios vizinhos, na avaliação do presidente do Caxias do Sul Convention & Visitors Bureau, Diego Dall’Agnol. Para ele, o primeiro passo para mudar esse quadro seria ter um centro de eventos nas condições adequadas. Dall’Agnol lembra que os pavilhões da Festa da Uva poderiam ser reformados para cumprir esse papel.
– Com R$ 1 milhão se conseguiria transformar a Festa da Uva (os pavilhões) em captadora de eventos, com um auditório para 2 mil pessoas. Também é necessário ter cadeiras confortáveis, climatização, boas caixas de som e uma boa internet – menciona Dall’Agnol.
Por outro lado, há quem defenda a construção de um novo centro de eventos. Seja reforma ou construção de uma nova estrutura, o poder público alega que não há recursos. E na iniciativa privada ninguém ainda deu um passo para levar alguma das ideias adiante. O presidente da Associação de Turismo da Serra Nordeste, César Nicolini, aponta que o empresariado tem um papel central para impulsionar o turismo em Caxias.
– Não é a prefeitura que vai fazer (investimento). Quem vai ter que botar a mão na massa é o setor privado. E Caxias tem condições – pensa Nicolini.
Muitas vezes, segundo Nicolini, o principal empecilho não é o dinheiro. Segundo ele, sempre há empreendedores dispostos a investir, o problema maior é a falta de organização e sintonia entre poder público e o empresariado para realizar ações.
O Convention & Visitors Bureau se dedica a atrair eventos. Além de Caxias, existem outras cinco unidades no RS: Bento Gonçalves, Gramado e Canela, Pelotas, Porto Alegre e Santa Maria.
Entre as secretarias e órgãos da prefeitura de Caxias do Sul, a pasta de Turismo será a lanterna no repasse de recursos em 2018. Para realizar todas as suas atividades do ano, receberá R$ 1,3 milhão. É o menor volume entre as 20 estruturas da administração direta e equivale a 0,06% de todo o orçamento do município. O baixo investimento na pasta ratifica uma postura adotada em diferentes governos nos últimos anos.
Segundo a secretária de Turismo, Renata Carraro, a justificativa para a falta de investimento na atividade é a situação financeira do município.
– Ano passado, estivemos focados na revisão do Plano Diretor. Neste ano, pretendemos fazer a regulamentação das zonas de interesse turístico de Caxias – comenta Renata.
Questionada sobre quais serão as zonas de interesse turístico, a secretária não se lembrava dos nomes de todas elas no momento em que era entrevistada. Posteriormente, por e-mail, a secretaria enviou a relação das oito zonas a serem regulamentadas, que contempla os roteiros já consolidados e novas opções: Ana Rech/Fazenda Souza, Caminhos da Colônia, Criúva, Estrada do Imigrante, Galópolis, Santa Lúcia do Piaí, Vale Trentino e Vila Oliva.
Um aspecto que prejudica a elaboração de uma política de turismo mais clara é a falta de números. A prefeitura sequer possui uma estimativa de quantos turistas o município recebe por ano e nem tem uma ideia de quanto a atividade representa para a economia local. Os únicos dados que possui são os atendimentos nos Centros de Atenção ao Turista, que não passaram de 7,5 mil em 2017, e a taxa da ocupação dos hotéis, que ficou em torno de 43%.
Se o poder público se mostra pouco disposto a investir em turismo, a iniciativa privada também não fica atrás. Um exemplo disso é a situação do Caxias do Sul Convention & Visitors Bureau. Responsável por captar eventos para o município, o escritório é mantido por uma série de empresas e entidades locais. Porém, a taxa de adesão do empresariado local é pequena. Com os atuais associados em dia, o órgão consegue captar menos de R$ 4 mil por mês.
Com essa condição financeira, foram obtidos 28 eventos para Caxias em 2017. A meta neste ano é trazer 50 atrações. Os números ficam abaixo de Porto Alegre, Gramado e Canela e Bento Gonçalves.
– Gramado e Canela têm uma receita de R$ 80 mil por mês e Bento fica na casa dos R$ 40 mil mensais – compara o presidente do Convention de Caxias, Diego Dall’Agnol.
Para Dall’Agnol, o município teria potencial para trazer mais de 200 eventos ao ano, caso o Convention tivesse uma receita mensal na casa dos R$ 100 mil.
marcelo casagrande, bd, 26/4/2017
receita | Para Michelon, é necessário “teimosia” para prosperar
Com a propriedade de quem forjou a atividade turística em Bento Gonçalves, o empresário Tarcísio Michelon alerta que não se cria um destino popular de uma hora para a outra. O diretor-superintendente da rede de hotéis Dall’Onder conta que o trabalho que levou Bento à condição atual começou há quase 40 anos. E deu certo porque houve “teimosia” por parte de alguns empresários para driblar a resistência da comunidade.
– Quando eu comecei no turismo em Bento não tinha 10 vinícolas, hoje são 79. A indústria do vinho surgiu em função do turismo. Por isso, a gente fazer divisão entre indústria, turismo e comércio é algo que não tem fundamento teórico – analisa.
O empresário lembra que é necessário envolvimento da comunidade caxiense para que o turismo decole no município. Para ele, o potencial de Caxias é ainda maior do que era o de Bento décadas atrás. Michelon acredita que o turismo de eventos deveria ser a principal aposta de Caxias, mas, para isso, seria necessário investimento na construção de um centro de eventos.
Além disso, a criação de parques temáticos é outro nicho que os caxienses poderiam explorar, na percepção do empreendedor. Entretanto, um ingrediente é fundamental para as iniciativas darem certo: paciência.
– Tem que começar com humildade, pequeno, pois o turismo não vai nascer de uma hora para outra. Caxias não vai receber 1 milhão de pessoas de imediato. Tem que começar com 10 mil, 20 mil, depois 200 mil. Começando do zero, um dia vai se chegar lá em cima, mas sem atropelar ninguém – recomenda.
Principal destino turístico do Rio Grande do Sul, Gramado também pode deixar algumas dicas para Caxias. Uma delas é o forte investimento na atividade. Por ano, o município da Região das Hortênsias aporta R$ 40 milhões no segmento, seja em divulgação, atração de eventos ou melhorias em infraestrutura. O retorno é evidente. Hoje, mais de 80% do Produto Interno Bruto de R$ 1,6 bilhão do município são provenientes da atividade, que traz 6 milhões de visitantes ao ano.
– Planejamento, envolvimento comunitário e investimento fizeram de Gramado referência no Brasil. Foi um processo de 30 a 40 anos. Hoje, Gramado tem uma empresa só para fazer eventos – exemplifica Edson Néspolo, presidente da GramadoTur, autarquia municipal de turismo.
Integrante dos governos de José Ivo Sartori e de Alceu Barbosa Velho na prefeitura de Caxias, Néspolo reconhece que a mentalidade das administrações nunca esteve voltada ao turismo e que foram feitas apenas “ações muito isoladas” na área.
Michelon liderou a criação dos principais roteiros de Bento, como o Vale dos Vinhedos e os Caminhos de Pedra.
Marcelo Casagrande, BD, 25/11/2017
Este é, possivelmente, o nicho em que Caxias consegue mais destaque nacional. A maior atração, neste contexto, é a Festa da Uva. No entanto, a festa é realizada a cada dois anos (ou três, no caso da edição 2019), algo insuficiente para gerar uma elevada demanda fixa de turistas a cada temporada. Já o Mississippi Delta Blues Festival tem se consolidado como um dos principais eventos musicais do país e atrai visitantes de diferentes locais do Brasil.
Roni Rigon, BD, 3/10/2017
Segundo maior polo metalmecânico do país, Caxias hoje sedia a Mercopar, uma das principais feiras do setor. Com a crise enfrentada pelo segmento, nos últimos anos, a feira também definhou. No geral, a cidade atrai menos eventos que municípios serranos como Bento e Gramado. A falta de estrutura é considerada uma das causas para isso. Neste aspecto, duas alternativas são recomendadas: a reforma dos pavilhões da Festa da Uva, com a criação de um auditório e a realização de outras melhorias estruturais, ou a construção de um novo centro de eventos. Nenhuma das duas propostas tem perspectiva de sair do papel tão cedo.
Marcelo Casagrande, BD, 7/11/2017
A vocação industrial de Caxias pode se tornar um atrativo turístico. Já há um movimento na cidade para a criação de um
circuito industrial, no qual os visitantes poderão ver como funciona uma fábrica. A iniciativa será realizada ainda neste ano e contará com quatro empresas em um primeiro momento, entre elas a Marcopolo. Ao todo, 40 companhias se colocaram à disposição para participar da rota.
Daniela Xu, BD, 6/9/2013
O interior de Caxias do Sul tem uma série de atrações que poderiam ser potencializadas. Roteiros como Caminhos da Colônia, Criúva, Estrada do Imigrante, entre outros, contam com paisagens deslumbrantes e uma oferta diversa, que vai da gastronomia aos esportes radicais. Inclusive, alguns locais na cidade têm potencial para chamar a atenção dos visitantes, como a Igreja de São Pelegrino, repleta de obras do pintor italiano Aldo Locatelli.
O cumprimento deste conglomerado de cuidados reflete na idoneidade do produtor, no aumento da qualidade e no reconhecimento pelo consumidor
Mesmo com atrativos em diferentes segmentos, Caxias do Sul é deixada de lado por quem visita a serra
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