26 de fevereiro de 2018

+mercado de trabalho

Escassez de emprego

Em 2017, maioria dos municípios da Serra fechou postos de trabalho, mas perspectiva é de virada neste ano

Mobirise



FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

Marcelo Casagrande

Mobirise

Construção civil |  Foi o setor que mais fechou postos de trabalho no ano passado



O mercado de trabalho vem de um ano de desempenho negativo na maioria das cidades da Serra. Dos 49 municípios serranos, 30 tiveram mais demissões do que contratações em 2017, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), elaborado pelo Ministério do Trabalho. Em toda a região, aconteceram 166.150 admissões e 167.013 desligamentos, o que resultou em um saldo de 863 postos fechados no período.

A relação inclui os municípios situados nos Coredes Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Serra.

O resultado no vermelho foi puxado pela construção civil, que encerrou 1.205 vagas no ano passado. Após passar por um momento de expansão acelerada, no início da década, o segmento vive uma ressaca. Apenas em Caxias do Sul, foram aprovados 395 mil metros quadrados de empreendimentos imobiliários em 2017. Três anos antes, a cifra era de 1,3 milhão de metros quadrados, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil de Caxias do Sul (Sinduscon Caxias).

– Tivemos uma redução grande no número de lançamentos. Os empresários do setor não se sentiram confiantes em fazer novas obras que pudessem empregar essa mão de obra – afirma Oliver Viezzer, presidente do Sinduscon Caxias.

Mas a construção civil não é a única responsável pela continuidade da retração do mercado de trabalho serrano. Indústria de transformação, indústria mineral extrativa, serviços industriais e administração pública também fecharam o ano passado com saldo negativo. Somados, esses segmentos encerraram 809 vagas entre janeiro e dezembro da temporada passada.

Do lado oposto da moeda, se encontram o comércio, a agropecuária e o setor de serviços, que retomaram as contratações e, juntos, criaram 1.150 postos na região. Entre os três ramos, o comércio foi o que teve melhor desempenho, impulsionado pela melhora recente de uma série de indicadores econômicos.

– Observamos uma recuperação do consumo das famílias, com a inflação mais baixa e a queda dos juros. Quando voltam a consumir, as pessoas vão às lojas. E aí se precisa de gente para atender. Por isso, o comércio respondeu – constata Patrícia Palermo, economista-chefe da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS).

No entanto, Patrícia relata que o número de empregos gerados no setor no Estado ainda é tímido e não chega nem perto de recompor o nível existente antes da recessão, em 2014. Para voltar ao patamar antigo, segundo a economista, há um longo a ser percorrido.


 A saída do poço

Mesmo que o desempenho do mercado de trabalho na Serra tenha sido negativo em 2017, os dados do Caged esboçam sinais positivos para o futuro. O saldo de 863 empregos cortados ficou bem abaixo dos resultados constatados em 2015 e 2016, quando houve redução de 35 mil postos na região. Sendo assim, a escalada do desemprego pode estar com os dias contados, projeta a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Soares. 

– Em 2018, podemos chegar a um número positivo de vagas geradas na região, mas temos que ter cautela. É como se tivéssemos chegado ao fundo do poço e agora começamos a escalar ele. Estamos vendo a claridade, há perspectiva de termos um 2018 no azul – constata.

Lodonha ainda enfatiza que, mesmo com o início da recuperação da economia, o nível de emprego pré-crise dificilmente será atingido no curto prazo. As contratações voltarão a acontecer, mas de maneira pontual.

– As empresas investem na produtividade. Em um setor que trabalhavam 10 pessoas, seis foram demitidas e quatro deram conta, vão contratar talvez mais um ou dois, no máximo - exemplifica.    

O mercado de trabalho em números

Em 2017, a maioria dos municípios da Serra teve saldo negativo na geração de empregos, conforme aponta o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Na região, a maioria das localidades teve saldo negativo no período. Ao todo, 30 municípios mais demitiram do que contrataram, 16 mais contrataram do que demitiram e outros três tiveram número igual de contratações e demissões. No período, ocorreram na região 166.150 admissões e 167.013 desligamentos, o que resultou em saldo de 863 postos fechados.


Resultado por setor na região

Mobirise

Desempenho por municípios

Fonte: Caged

Mobirise

Mapa do emprego



Para ver mais detalhes sobre o desempenho do mercado de trabalho, clique na aba e selecione a cidade de sua preferência.




Administração pública
Admissões Demissões Saldo

Agropecuária
Admissões Demissões Saldo

Comércio
Admissões Demissões Saldo

Construção civil
Admissões Demissões Saldo



Indústria de transformação
Admissões Demissões Saldo

Indústria extrativa mineral
Admissões Demissões Saldo

Serviços
Admissões Demissões Saldo

Serviços industriais de utilidade pública
Admissões Demissões Saldo

Caxias lidera corte de vagas

Felipe Nyland

Mobirise

Sem desistir | Três vezes na semana, Paula distribui currículos

Após sete anos trabalhando no setor de pintura de uma metalúrgica em Caxias do Sul, Paula de Macedo foi comunicada, em julho do ano passado, da notícia que nenhum trabalhador gostaria de ter recebido: estava demitida. A justificativa da companhia era de que a demanda estava baixa e, por isso, eram necessários cortes na linha de produção. Discurso semelhante foi ouvido por muitos caxienses nos últimos anos.

– Quando achei que o pior da crise já tinha passado, me mandaram para a rua – resume.

Agora, ela tenta dar a volta por cima. Pelo menos três vezes por semana sai de casa com uma porção de currículos debaixo do braço e bate na porta das empresas. Com larga experiência na indústria, espera conseguir uma vaga neste setor, mas não descarta oportunidades em outras atividades.

– Trabalhei 15 anos em madeireira e sete em metalúrgica, estou procurando algo nessas áreas. Mas se não aparecer, o que vier vou pegar – projeta.

A situação de Paula não é isolada. Ela é uma das 57,1 mil pessoas que perderam o emprego em Caxias do Sul durante 2017. Como no ano foram 56,5 mil contratações, o município teve um saldo de 615 postos fechados de janeiro a dezembro. É a maior quantidade na região. Mesmo ruim, o resultado foi menos negativo que o dos anos anteriores.

Após quatro temporadas seguidas de aumento do desemprego, Caxias deve começar a reagir em 2018. A diretora de Economia, Finanças e Estatística da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Maria Carolina Gullo, constata que diversas empresas de grande de porte anunciaram a abertura de postos, em função da demanda prevista para o primeiro semestre.

– Poderemos fechar o ano com certa estabilidade no mercado de trabalho, pelo menos chegando no zero a zero, para depois passar para um saldo positivo (na geração de vagas) – projeta.

Como Caxias fechou em torno de 25 mil postos desde 2013, Maria Carolina salienta que a retomada não virá da noite para o dia. Além disso, constata que os empregadores estão mais exigentes na hora de realizar os processos seletivos, já que possuem múltiplas opções de candidatos para preencher as vagas.

Carlos Barbosa tem o
maior saldo positivo

Roni rigon

Mobirise

primeiro emprego | Recém-formada, Carla conseguiu uma vaga na Santa Clara

A escalada do desemprego, nos últimos anos, dificultou ainda mais a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Fatia expressiva das pessoas sem ocupação no País está na faixa etária até os 24 anos. Diante deste contexto, a química industrial Carla dos Santos, 22, alcançou uma proeza nos dias atuais. Obteve o primeiro emprego, no ano passado. E conseguiu a vaga em Carlos Barbosa, o município que criou mais postos na região.

– Quando me formei na faculdade, fiquei muito assustada. Tem muita gente que se forma e fica desempregada anos. Foi um alívio conseguir emprego. Nem pensei muito quando apareceu a vaga – conta Carla, que hoje é auxiliar de laboratório na Cooperativa Santa Clara.

Carla foi uma das 3,7 mil pessoas contratadas no município em 2017. Paralelamente, no período, aconteceram 3,2 mil demissões. Assim, Carlos Barbosa fechou a temporada passada com um saldo de 418 novas vagas, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), compilados pelo Ministério do Trabalho. Principal segmento da economia local, a indústria foi quem teve mais peso no resultado, pois criou 401 novos postos.

O resultado positivo passou principalmente pela atividade das grandes empresas da cidade, mas as companhias de menor porte também ajudaram a forjar esse quadro.

– Percebemos que os pequenos negócios também contrataram muito – constata Fabiano Ferrari, presidente da Associação do Comércio, Indústria e Serviços de Carlos Barbosa (ACI).

Segundo o dirigente, há pleno emprego em Barbosa. Situação que contrasta com a da maioria de municípios do Rio Grande do Sul e do Brasil. Isso não quer dizer que as empresas locais não sofreram com a crise. Elas foram impactadas, mas com menor intensidade do que em outros lugares

– Se a crise não tivesse acontecido, teríamos as empresas faturando muito mais e poderíamos ter contratado e inovado mais – avalia Ferrari.

A criação de novos negócios é outro aspecto que segue em alta em terras barbosenses. Apenas no ano passado, 120 empresas se associaram à ACI, que chegou à marca de 800 companhias vinculadas.

Tudo isso fez com que Carlos Barbosa figurasse no pequeno grupo de 16 municípios serranos que mais contrataram do que demitiram no ano passado.

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