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11 de JUNHO de 2018

+ EMPRESAS

Mulheres
no comando

TRANSIÇÃO JÁ COMEÇOU, E MAIS DA METADE DAS HERDEIRAS DESEJA ASSUMIR O NEGÓCIO FAMILIAR

Marcelo Casagrande

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MATEUS FRAZÃO
mateus.frazao@pioneiro.com 

Diante do gradual e iminente processo de transição de comando nas empresas familiares da região, alguns aspectos começam a chamar a atenção de pesquisas que traçam os novos perfis de administração. Um deles, é a presença cada vez mais constante de mulheres na gestão de negócios. Em pesquisa realizada pelo Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (IDEF) em 2017, 62% de 103 empresas consultadas na Serra Gaúcha informaram que possuem mulheres em cargos administrativos. Em estudo complementar promovido entre fevereiro e abril deste ano, o IDEF buscou esclarecer as perspectivas de esposas e filhas de fundadores de companhias com média superior a 20 anos de existência. O levantamento apontou que mais da metade das herdeiras deseja eventualmente assumir o negócio familiar. A previsão, conforme o IDEF, é de que, nos próximos 10 anos, haja a transição administrativa das mais tradicionais empresas da região.

70% das empresas faturam até 50 milhões ao ano e 56% têm entre 20 e 50 anos de existência.

De acordo com a pesquisadora e presidente do IDEF, Hana Witt, o estudo não aponta a preferência de perfil de sucessor pelo gênero, mas sim pela aptidão natural que a herdeira ou herdeiro demonstra com os valores da empresa:

– O pai escolhe pela competência, comprometimento e alinhamento daquele filho ou filha. Portanto, não podemos dizer que o gênero é fator decisivo ou que há uma tendência de perfil. O que importa é o questionamento: quem está preparado para assumir meu negócio?

Das 46 filhas de patronos de empresas entrevistadas, 79% das que já trabalham afirmaram que a carreira está alinhada com o desejo profissional pessoal e 52% ainda admitiram que desejam assumir o negócio familiar eventualmente.

Ainda assim, Hana acredita que fatores sociais no que diz respeito ao próprio interesse por capacitação do público feminino acabam surtindo efeito na possibilidade de aumento de ocupação de cargos de comando por mulheres:

– As mulheres estão se preparando mais, basta vermos como temos um número muito maior de alunas em cursos como engenharia e administração. (As mulheres) estão se colocando junto ao pai desde cedo. Hoje elas pensam: “Espera aí, isso não é só pro meu irmão, é comigo” – acrescenta.

“Nunca foi um peso”

Diretora executiva da NL Informática, Grasiela Scheid Tesser trabalha há cerca de 16 anos na empresa fundada pelo pai em sociedade com outras três pessoas. Ela relata que iniciou como estagiária por interesse na área e sem ambições de assumir a gestão do negócio. Hoje, aos 35 anos, embora afirme não haver previsão para a transição sucessória, ela reconhece que estaria preparada para ocupar o comando da empresa.

– Quando comecei, nunca pensei em assumir o lugar dele (do pai). Claro que a gente começa a tomar decisões e, considerando que os sócios não têm filhos, a ordem natural sempre indicou ser eu a sucessora em potencial – comenta.

Porém, diz não considerar a necessidade de planejar a transição a curto ou médio prazo ou sofrer qualquer tipo de pressão ou preocupação caso assuma, eventualmente, o comando da empresa.

– Isso nunca foi um peso para mim ou me motivou a atuar diferente. Meu pai sempre foi uma inspiração e amo a área de tecnologia. Mas todos os sócios são jovens e queremos muito a presença deles na empresa por um longo tempo ainda – ressalta Grasiela.

Lucas Amorelli

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potencial  |  Mesmo sem previsão, Grasiela se diz preparada

 

  

Em circunstâncias repentinas

Marcelo Casagrandre

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DIA SEGUINTE | Cíntia Buzin teve de encarar de forma imediata a responsabilidade de substituir pai

Embora a transição ocorra de maneira gradual conforme o afastamento dos fundadores, alguns casos que envolvem a morte inesperada de empresários requerem decisões imediatas de pessoas próximas associadas a empresas. Essa situação foi vivenciada por Cíntia Buzin em 2011, após o falecimento repentino do pai, Jacir Buzin, em um acidente dentro da própria empresa que ele administrava, a Metalúrgica Buzin.

Cíntia, que já trabalhava com o pai e estava em processo de assumir gradativamente a direção geral do negócio, precisou lidar com a tragédia pessoal e encarar de forma imediata a responsabilidade em decidir o futuro da empresa metalúrgica.

Ela conta que, no dia seguinte à morte do pai foi até a empresa e ficou decidido, junto com a família, que assumiria o cargo de diretora geral. Hoje, aos 39 anos, Cíntia afirma que, em retrospecto, avalia a transição como uma etapa bem-sucedida, apesar de admitir ter sofrido desconfiança inicial.

– Enfrentei grandes desafios, primeiro por ser jovem (tinha 33 anos na época) e ser mulher no setor metalmecânico. Com a morte do meu pai, várias pessoas questionaram a nossa (dela e da família) capacidade em dar sequência aos negócios. Foram dois ou três anos de reconquista de clientes, fornecedores e até funcionários. Hoje posso dizer que sou respeitada – afirma.

Mesmo que o choque com a morte de Jacir tenha influenciado na sucessão prematura, ela comenta que todos já estavam preparados para a transição de gestão.

– Apesar de eu ter um irmão e haver essa imagem de mercado de que o filho homem é a sucessão natural, eu sempre fui direcionada a assumir. Durante os 13 anos que trabalhei com meu pai, fui conquistando a confiança dele e ele me delegando mais funções. Sempre fui e sou apoiada 100% por minha família e me sinto capaz de fazer o que faço, apesar de ter perdido meu grande mentor – relata Cíntia.


A mulher na empresa familiar

Fonte: pesquisa realizada pelo Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (IDEF) entre fevereiro e abril deste ano para identificar as perspectivas de esposas e filhas de fundadores de companhias com média superior a 20 anos de existência

Mobirise

“Ainda nos subestimam”

MARCELO CASAGRANDRE

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EM FAMÍLIA | Graciema, da Multinjet, com filhos Rafael e Grace, passou de “coadjuvante” a protagonista e projeta que gestão seguirá feminina

Situação semelhante foi vivida pela Família Mari. Em 2014, após a morte inesperada do fundador da Multinjet, Valmor Mari, a esposa do empresário, Graciema Albé Mari, que até então atuava como “coadjuvante”, como ela própria define, precisou assumir o protagonismo da empresa. Por mais que contasse com o apoio da filha para colaborar na gestão e do filho nos processos operacionais, o auge da crise econômica foi um elemento dificultador na transição da administração da empresa.

Empresa que presta serviços terceirizados na metalização de plásticos.

– Se as coisas estivessem economicamente tranquilas, teria sido mais fácil. Para piorar, perdemos clientes por puro preconceito de ver uma mulher na gestão. Hoje reconquistamos todos eles, apesar de ainda sofrermos um pouco de discriminação e de precisarmos frequentemente provar nossa capacidade. Em pleno Século 21, ainda subestimam as mulheres... – comenta.

Sem ter tempo para absorver o pesar, Graciema ressalta que, no mesmo dia da cremação, ela e os filhos já estavam retomando as atividades da empresa. Atualmente aos 68 anos, ela não projeta se afastar, pois conta que aprendeu a gostar do que faz. Porém, quando não tiver mais condições de atuar como gestora, pretende manter o negócio entre a família e repassar o comando para a filha Greice.

– Quando as minhas amigas estavam se aposentando, eu assumia a empresa. Agora só penso em continuar. Vou sair só quando não tiver mais condições mesmo. Depois disso, não terei problemas em repassar a responsabilidade para os meus filhos. A Greice tem mais interesse do que Rafael (filho dela), então tudo indica que a gestão vai continuar sendo feminina – salienta.

Ela ressalta com divertimento que o comando de mulheres iria surpreender o marido, que cultivava uma posição machista quanto aos negócios:

– Até hoje lembramos... Ele tinha um amigo que era empresário e, quando esse amigo morreu, o Valmor comentou: “Ele não teve filho homem pra levar a empresa adiante.” É uma mentalidade cultural, é claro, porque tenho certeza de que ele confiaria em mim para dar sequência ao negócio da família – defende.



Papel primordial nos bastidores

LUCAS AMORELLI

Mobirise

sem experiência | Jucélia Velho assumiu o negócio para preservar a família

Em 1884, Luigia Carolina Zanrosso Eberle instalou-se com a família em Caxias do Sul. Nos anos que se seguiram, Gigia Bandera, como era conhecida, assumiu uma funilaria comprada pelo marido, tornando-se pioneira no que se refere ao desenvolvimento industrial da região. Além de atuar como funileira na própria empresa, ela também cuidava dos filhos, sendo principal inspiração para um deles em especial, Abramo Eberle.

Se a figura de Gigia representa um símbolo do empreendedorismo feminino na Serra, indiretamente, ela também é referência como mentora de toda a expansão econômica regional no papel de mãe. O aspecto maternal e apoiador de mulheres é também legado predominante em esposas e mães da região, conforme indica a pesquisa do IDEF. O levantamento aponta que 55% das esposas de fundadores de empresas familiares consultadas consideram exercer o papel de orientadora na carreira dos filhos e atuar na mediação de conflitos.

A relevância de Gigia é referenciada pelo troféu que recebe o seu nome e é concedido pelo Simecs para empresas que se destacam no setor metalmecânico

Casada há 47 anos com Ernani Napoli Velho, Jucélia Velho nunca trabalhou na empresa do marido, a Envez Razão, escritório de contabilidade. No entanto, ela assumiu o papel de ser a referência e preservar a estrutura familiar para os três filhos. Hoje, todos eles estão com mais de 40 anos e com as carreiras encaminhadas. Para Jucélia, a função de orientadora e educadora contribuiu para o sucesso profissional de toda a família.

– Hoje é um pouco mais difícil as mulheres ficarem em casa para cuidar da família por questões financeiras. Mas esse papel é muito importante. Tenho certeza de que ajudei muito meus filhos a criar a mentalidade de responsabilidade, comprometimento e até empreendedorismo – comenta.

Para a pesquisadora e fundadora do IDEF, Hana Witt, muitas das histórias de empresas cujo sucesso é atribuído aos fundadores homens têm, na verdade, a influência indireta de uma mulher:

– Temos a figura da dona Nilva Randon (esposa de Raul Randon), que sempre sustentou a educação dos filhos e a própria relação familiar com o marido. Não podemos subestimar essa importância da mulher no papel de esposa– afirma Hana.

– Existe aquele ditado de que atrás de um grande homem existe uma grande mulher. Hoje já nem falamos “atrás”, é do lado, porque ambos se complementam. Podemos fazer a adaptação desse ditado na área empresarial e dizer que do lado de uma grande empresa há uma grande mulher. Ou, à frente das empresas, também, é claro – comenta a empresária Cíntia Buzin.

PORTHUS JUNIOR, BD, 18/9/2017

Mobirise

hana vitt | ”Histórias de sucesso têm a influência indireta delas”

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