25 de JUNHO de 2018

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+VITICULTURA

Produção diversificada

com portfólios que incluem de cosméticos a estilados, vinícolas da serra ampliam seus ramos de atuação

LUCAS AMORELLI

Mobirise

de graspa A geleia  |  Grupo Valduga, liderado por Juarez Valduga, diversifica portfólio para aumentar o faturamento

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FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com

A partir da uva nasce o espumante, o suco e o vinho, mas também uma série de outros produtos. Cada vez mais, as vinícolas da Serra têm investido em diferentes nichos de mercado, no intuito de criar novas fontes de receita. Neste sentido, destilados à base da fruta, como brandy e graspa, chás, coolers, cosméticos e até cerveja aparecem entre as apostas das empresas situadas na principal região vitícola do Rio Grande do Sul. 

A fabricação desses artigos alternativos representa uma pequena parte da produção total. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vinícolas gaúchas comercializaram no ano passado 2,4 milhões de litros de cooler, 9,2 mil litros de graspa e 5 mil litros de brandy. Para efeito de comparação, no mesmo período, foram gerados mais de 200 milhões de litros de vinhos e espumantes. 

Bastante consumida na Serra, em especial no inverno, a graspa é produzida a partir da destilação do bagaço da uva. Já o brandy é uma espécie de conhaque, feito a partir da destilação do vinho e envelhecido durante anos em barricas de madeira.

Ainda assim, para algumas empresas, a ampliação do port- fólio virou uma prioridade. Nos últimos anos, o grupo Famiglia Valduga, de Bento Gonçalves, se tornou um dos expoentes da diversificação entre as vinícolas. Dentro de sua estrutura, há diversas companhias, que colocam no mercado mais de 700 tipos de produtos, sendo em torno de 70% deles com uva. A Casa Madeira faz sucos, chás, graspa e geleias, a Leopoldina produz cervejas artesanais e a Vinotage cria cosméticos.

– Há um princípio antigo na nossa família. Nossos avós e bisavós já recomendavam não colocar todos os ovos na mesma cesta. Por isso, estamos sempre pesquisando sobre outros segmentos, mas mantendo o enfoque na uva e no vinho – ressalta Juarez Valduga, diretor-executivo do grupo.

Somadas, as três companhias são responsáveis por metade do faturamento da Famiglia Valduga. A tendência é de que esse percentual siga subindo. O lançamento mais recente é uma linha de sorvetes, que inclui sabores de variados tipos de uva.

Já a Miolo Wine Group, também de Bento, centrou as atenções na fabricação de brandy. Em 2005, a empresa adquiriu equipamentos para a destilação e decidiu instalá-los em sua unidade no Vale do São Francisco, na Bahia. Como a bebida precisa ser envelhecida por alguns anos até ficar pronta, as primeiras garrafas começaram a ir ao mercado em 2015. Atualmente, a produção fica na faixa dos 300 mil litros por ano.

– Já se sente o peso dessa produção no faturamento. Hoje, representa em torno de 5% das receitas – calcula Adriano Miolo, superintendente da Miolo Wine Group.

Manter a tradição

Mais do que a parte financeira, a atuação em um nicho de mercado pode significar a manutenção de tradições históricas. Desde sua fundação, na década de 1980, a Don Giovanni, de Pinto Bandeira, mantém uma pequena produção de brandy. O objetivo é conservar parte da história do lugar que hoje abriga a vinícola, mas que no passado era sede de um centro tecnológico da Dreher, uma das empresas pioneiras na fabricação de conhaque no país.

Até o final dos anos 1970, os conhaques no Brasil eram produzidos a partir da destilação do vinho. No entanto, uma mudança de legislação na época reconheceu como conhaque apenas a bebida oriunda da cana-de-açúcar. Com isso, muitas fábricas gaúchas fecharam ou se transferiram para o interior de São Paulo. Posteriormente, o “conhaque de vinho”, produzido pela Dreher e outras empresas, passou a ser denominado de brandy.

O vínculo da Don Giovanni com a Dreher tornou-se familiar. O sócio-proprietário da vinícola, Daniel Panizzi, acabou se casando com a bisneta do fundador da destilaria.

– Mantemos basicamente a mesma receita e filosofia do fundador para fazer o brandy – constata Panizzi.

Atualmente, a Don Giovanni gera em torno de 300 litros por ano. O destilado é conservado em barricas de carvalho desde 1988. 

A produção

Fonte: Ibravin

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Bebidas leves para o verão

No senso comum, o consumo de vinho está associado ao inverno. Quando chega o frio, as vendas da bebida costumam aumentar. No entanto, as vinícolas gaúchas têm buscado alternativas de artigos que possam ser degustados em épocas de temperaturas mais elevadas. Bebidas refrescantes, como chás e coolers, estão entre os itens fabricados com esse perfil. Com a atuação nesses segmentos, a ideia é manter os negócios em alta durante o verão e também expandir a presença em outros Estados brasileiros onde há calor durante todo o ano.

A Salton, de Bento Gonçalves, recentemente decidiu entrar com força no mercado de chás gelados. Em 2016, a empresa lançou uma linha com quatro tipos da bebida, todos contendo suco de uva. Neste ano, dois novos sabores foram lançados. Em agosto, outras duas variedades devem entrar no portfólio da companhia.

– O mercado de chás está reagindo bem. O produto é novo, mas já deixa um bom faturamento, até porque agrega uma inovação no portfólio da empresa – sinaliza Daniel Salton, presidente do conselho de administração da vinícola.

Hoje, o peso dos chás não chega a 1% das receitas da Salton. A tendência é de que, em até três anos, a produção represente aproximadamente 5% do faturamento da empresa. Pelo ritmo acelerado de crescimento na fábrica, a meta deve ser alcançada com facilidade. Em 2016, foram produzidas em torno de 100 mil garrafas. O montante subiu a 540 mil no ano passado e deve ficar entre 1 milhão e 1,2 milhão de unidades em 2018.

Já a Cooperativa Aurora se destaca pela produção de cooler, bebida gaseificada que leva vinho e suco. A vinícola de Bento Gonçalves começou a fabricação ainda na década de 1970, quando o líquido era bastante popular no Brasil. Nas décadas seguintes, o mercado diminuiu, mas voltou a reagir nos últimos anos.

– Hoje poucas empresas fazem cooler. Temos 75% deste mercado no país – diz Hermínio Ficagna, diretor-geral da Aurora.

Atualmente, a Aurora faz em torno de 2 milhões de litros de cooler ao ano, o que representa aproximadamente 4% de toda a produção da empresa. Neste ano, a vinícola deve aumentar a produção para 3 milhões de litros, em função do crescimento da demanda.

A região Sudeste do Brasil, em especial o Estado de São Paulo, é a que concentra a maior parte das vendas. A empresa também tem planos para a exportação da bebida. Um contêiner já foi enviado para a China e outros três irão a caminho da Ásia nos próximos meses.









 A aposta na cerveja

FELIPE NYLAND

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MERCADO | Mioranza cuida da produção cervejeira da Monte Reale, que inclui rótulo à base de uva

A mistura de vinho com cerveja não causa ressaca. Ao menos para algumas vinícolas da Serra, essa mescla tem surtido um bom efeito. Na Monte Reale, de Flores da Cunha, o mercado cervejeiro se tornou uma das principais apostas para ampliar o faturamento nos próximos anos. A empresa decidiu instalar uma cervejaria no mesmo ambiente onde há quatro décadas produz a bebida de Baco. Para isso, investiu cerca de R$ 2 milhões na estruturação do complexo.

Aos poucos, os primeiros rótulos da Alem, nome dado ao empreendimento da Monte Reale, começam a ser lançados no mercado. Inclusive, um dos estilos é feito com mosto de uva moscatel. Trata-se de uma Saison Muscat, hoje disponibilizada apenas em barril para bares e restaurantes de Caxias do Sul. Nos próximos meses, a ideia é lançar a bebida também em garrafa, distribuindo para todo o Rio Grande do Sul.

– Ter uma cervejaria montada no coração de uma vinícola é algo peculiar. Então, com certeza tínhamos que agregar algo da uva na cerveja – justifica Carlo Mioranza, cervejeiro da Alem.

A relação de proximidade da Alem com o mundo do vinho existe mesmo na fabricação de estilos mais tradicionais, como Pilsen, Weiss e Stout.

Na cave da vinícola, abriu-se um espaço específico para o novo nicho. Nove pipas de carvalho, onde no passado repousavam vinhos da variedade ancellotta, agora abrigam diferentes estilos de cervejas. A ideia é realizar a maturação, deixando um toque de uva no aroma da bebida.

O braço cervejeiro da Monte Reale atualmente produz entre 30 mil e 40 mil litros ao mês, mas possui capacidade para gerar até 200 mil litros mensais. Segundo Mioranza, é provável que no futuro a cervejaria tenha um faturamento superior ao da vinícola, em função da expansão do mercado da cerveja artesanal no Brasil.

A Cervejaria Leopoldina, de Garibaldi, é outro empreendimento na região com laços na vitivinicultura. A marca foi criada em 2015 pelo grupo Famiglia Valduga, após investimento superior a R$ 5 milhões. A empresa possui alguns rótulos envelhecidos em barricas de carvalho e também envasa algumas cervejas em garrafas similares às de espumantes.

Nos próximos três anos, a companhia tem como meta chegar a 100 mil litros produzidos por mês. Até lá, o negócio deverá representar em torno de 15% do faturamento do grupo.

  



Fabricação de cosméticos ganha força

Vinotage, Divulgação

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Matéria-prima | Semente e casca da uva são utilizadas na fabricação de produtos de beleza

As propriedades encontradas no bagaço e no óleo extraído da semente da uva são um prato cheio para o setor de cosméticos. Uma infinidade de produtos, como aromatizantes, cremes e hidratantes, podem ser fabricados a partir da fruta. Como o mercado da beleza no Brasil cresce exponencialmente a cada ano, o setor vitivinícola tem olhado com atenção para o potencial deste nicho.

Em alguns casos, as próprias vinícolas fabricam os cosméticos à base de uva. É a situação do grupo Famiglia Valduga, que adquiriu, há três anos, a fábrica de produtos de beleza Vinotage, de Garibaldi. Com capacidade para produzir 100 mil itens ao mês, todos à base de uva, a companhia já representa 10% do faturamento do conglomerado. E a perspectiva é de que os negócios sigam crescendo. A marca deve se expandir a partir da instalação de lojas próprias em diferentes cidades do Brasil. A primeira unidade foi inaugurada neste mês, em Caxias do Sul.

– Trataremos essa loja como um modelo para nossa expansão. Devemos ter outros parceiros licenciados e, no futuro, queremos criar um modelo de franquia da Vinotage – afirma Alexandre Ferrari, gerente nacional de vendas da empresa.

Entre os 45 produtos no port- fólio da Vinotage, os cremes faciais, os artigos para banho e os aromatizantes de ambiente estão entre os que puxam o faturamento. Mesmo pertencendo a um grupo com produção própria de uva, o óleo de semente de uva utilizado na fabricação dos cosméticos é importado da Europa. Isso porque, no Brasil, ainda não há tecnologia com custo acessível para a extração das substâncias.

Em geral, spas, salões e lojas especializadas em produtos de beleza estão entre os principais pontos de comercialização dos cosméticos feitos com uva. As vinícolas também possuem um papel importante na venda dos produtos, em função dos visitantes que costumam receber.

Querendo se beneficiar do grande fluxo de turistas no Vale dos Vinhedos, a Essência di Fiori, de Bento Gonçalves, está investindo em uma fábrica na localidade.  

– A expectativa é de inaugurarmos até marco do ano que vem – conta o sócio-proprietário Éder Moretto.

Há 12 anos no segmento de cosméticos, com foco nos artigos de uva, a marca deve centralizar toda sua produção na nova unidade, que custará R$ 10 milhões. Atualmente, a empresa tem mais de 200 tipos de artigos no portfólio e produz em torno de 1 milhão de unidades ao ano. A companhia não tem vínculo direto com alguma vinícola, apenas possui parcerias para a comercialização dos itens.









Joias oriundas do vinho

ENOJOIAS, DIVULGAÇÃO

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enojoias | Designer produz brincos e outras joias com cristais da uva

Os cristais de uva que se formam dentro das pipas após o processo de vinificação se tornaram uma fonte de inspiração para a designer de joias Patrícia Pedrotti. Para participar de um concurso em Goiânia, alguns anos atrás, ela desenvolveu uma linha de joias utilizando o material, que geralmente é tido como resíduo pelas vinícolas. Os produtos chamaram tanto a atenção do público que ela decidiu montar a Enojoias, um pequeno negócio voltado à fabricação de brincos, colares, anéis, pulseiras, entre outros artigos.

Todos os itens são de prata ou folheados a ouro, contendo detalhes feitos com os cristais de uva. Esses cristais são gerados pela precipitação do ácido tartárico e do potássio, dois elementos presentes na fruta. Em baixas temperaturas, eles reagem entre si, dando origem ao “diamante do vinho”. A designer tem parceria com a Vinícola Aurora, que fornece o material e também vende as joias em sua loja de fábrica, em Bento Gonçalves.

– O público que se interessa pelas joias é formado principalmente por enófilos e enólogos. Recebo em torno de cinco pedidos de peças por semana – conta Patrícia.

Os preços dos itens variam de R$ 70 a R$ 500. As peças são feitas sob encomenda e já foram comercializadas até para o Exterior.

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