LUCAS AMORELLI
de graspa A geleia | Grupo Valduga, liderado por Juarez Valduga, diversifica portfólio para aumentar o faturamento
FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
A partir da uva nasce o espumante, o suco e o vinho, mas também uma série de outros produtos. Cada vez mais, as vinícolas da Serra têm investido em diferentes nichos de mercado, no intuito de criar novas fontes de receita. Neste sentido, destilados à base da fruta, como brandy e graspa, chás, coolers, cosméticos e até cerveja aparecem entre as apostas das empresas situadas na principal região vitícola do Rio Grande do Sul.
A fabricação desses artigos alternativos representa uma pequena parte da produção total. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), as vinícolas gaúchas comercializaram no ano passado 2,4 milhões de litros de cooler, 9,2 mil litros de graspa e 5 mil litros de brandy. Para efeito de comparação, no mesmo período, foram gerados mais de 200 milhões de litros de vinhos e espumantes.
Bastante consumida na Serra, em especial no inverno, a graspa é produzida a partir da destilação do bagaço da uva. Já o brandy é uma espécie de conhaque, feito a partir da destilação do vinho e envelhecido durante anos em barricas de madeira.
Ainda assim, para algumas empresas, a ampliação do port- fólio virou uma prioridade. Nos últimos anos, o grupo Famiglia Valduga, de Bento Gonçalves, se tornou um dos expoentes da diversificação entre as vinícolas. Dentro de sua estrutura, há diversas companhias, que colocam no mercado mais de 700 tipos de produtos, sendo em torno de 70% deles com uva. A Casa Madeira faz sucos, chás, graspa e geleias, a Leopoldina produz cervejas artesanais e a Vinotage cria cosméticos.
Mais do que a parte financeira, a atuação em um nicho de mercado pode significar a manutenção de tradições históricas. Desde sua fundação, na década de 1980, a Don Giovanni, de Pinto Bandeira, mantém uma pequena produção de brandy. O objetivo é conservar parte da história do lugar que hoje abriga a vinícola, mas que no passado era sede de um centro tecnológico da Dreher, uma das empresas pioneiras na fabricação de conhaque no país.
Até o final dos anos 1970, os conhaques no Brasil eram produzidos a partir da destilação do vinho. No entanto, uma mudança de legislação na época reconheceu como conhaque apenas a bebida oriunda da cana-de-açúcar. Com isso, muitas fábricas gaúchas fecharam ou se transferiram para o interior de São Paulo. Posteriormente, o “conhaque de vinho”, produzido pela Dreher e outras empresas, passou a ser denominado de brandy.
O vínculo da Don Giovanni com a Dreher tornou-se familiar. O sócio-proprietário da vinícola, Daniel Panizzi, acabou se casando com a bisneta do fundador da destilaria.
– Mantemos basicamente a mesma receita e filosofia do fundador para fazer o brandy – constata Panizzi.
Atualmente, a Don Giovanni gera em torno de 300 litros por ano. O destilado é conservado em barricas de carvalho desde 1988.
No senso comum, o consumo de vinho está associado ao inverno. Quando chega o frio, as vendas da bebida costumam aumentar. No entanto, as vinícolas gaúchas têm buscado alternativas de artigos que possam ser degustados em épocas de temperaturas mais elevadas. Bebidas refrescantes, como chás e coolers, estão entre os itens fabricados com esse perfil. Com a atuação nesses segmentos, a ideia é manter os negócios em alta durante o verão e também expandir a presença em outros Estados brasileiros onde há calor durante todo o ano.
FELIPE NYLAND
MERCADO | Mioranza cuida da produção cervejeira da Monte Reale, que inclui rótulo à base de uva
A mistura de vinho com cerveja não causa ressaca. Ao menos para algumas vinícolas da Serra, essa mescla tem surtido um bom efeito. Na Monte Reale, de Flores da Cunha, o mercado cervejeiro se tornou uma das principais apostas para ampliar o faturamento nos próximos anos. A empresa decidiu instalar uma cervejaria no mesmo ambiente onde há quatro décadas produz a bebida de Baco. Para isso, investiu cerca de R$ 2 milhões na estruturação do complexo.
Aos poucos, os primeiros rótulos da Alem, nome dado ao empreendimento da Monte Reale, começam a ser lançados no mercado. Inclusive, um dos estilos é feito com mosto de uva moscatel. Trata-se de uma Saison Muscat, hoje disponibilizada apenas em barril para bares e restaurantes de Caxias do Sul. Nos próximos meses, a ideia é lançar a bebida também em garrafa, distribuindo para todo o Rio Grande do Sul.
– Ter uma cervejaria montada no coração de uma vinícola é algo peculiar. Então, com certeza tínhamos que agregar algo da uva na cerveja – justifica Carlo Mioranza, cervejeiro da Alem.
A relação de proximidade da Alem com o mundo do vinho existe mesmo na fabricação de estilos mais tradicionais, como Pilsen, Weiss e Stout.
Na cave da vinícola, abriu-se um espaço específico para o novo nicho. Nove pipas de carvalho, onde no passado repousavam vinhos da variedade ancellotta, agora abrigam diferentes estilos de cervejas. A ideia é realizar a maturação, deixando um toque de uva no aroma da bebida.
O braço cervejeiro da Monte Reale atualmente produz entre 30 mil e 40 mil litros ao mês, mas possui capacidade para gerar até 200 mil litros mensais. Segundo Mioranza, é provável que no futuro a cervejaria tenha um faturamento superior ao da vinícola, em função da expansão do mercado da cerveja artesanal no Brasil.
A Cervejaria Leopoldina, de Garibaldi, é outro empreendimento na região com laços na vitivinicultura. A marca foi criada em 2015 pelo grupo Famiglia Valduga, após investimento superior a R$ 5 milhões. A empresa possui alguns rótulos envelhecidos em barricas de carvalho e também envasa algumas cervejas em garrafas similares às de espumantes.
Nos próximos três anos, a companhia tem como meta chegar a 100 mil litros produzidos por mês. Até lá, o negócio deverá representar em torno de 15% do faturamento do grupo.
Vinotage, Divulgação
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