free web site builder


30 de JUlHO de 2018

+ entrevista

“Foi um ato de coragem”

Ercio becker, diretor da vivelle móveis e
decorações, fala do início difícil, do
reconhecimento e dos planos de expansão

Mobirise



SILVANA TOAZZA

silvana.toazza@pioneiro.com

“Somos uma empresa pequena, mas grande para realizar sonhos.” Com essa frase, o diretor da Vivelle Móveis e Decorações, Ercio Becker, emocionou a plateia presente na reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias, no dia 4 de julho, quando subiu ao palco para receber o Troféu Ítalo Victor Bersani, na categoria comércio. Evidenciando o sentimento de gratidão e o perfil emotivo, Becker convidou ao púlpito a esposa Renata, com quem divide a rotina na loja, e o filho Rafael, de nove anos, sua “grande inspiração”.

Natural de Bento Gonçalves e com experiência no ramo de móveis e eletrodomésticos, há 20 anos, o empresário percebeu que era a hora de empreender em Caxias do Sul. Em 1998, alugou uma casa antiga na Via Decoratta e enfrentou seis meses de obras para criar uma modesta loja de móveis. Com foco na personalização do atendimento, o comerciante estabeleceu-se com sucesso e hoje já está atendendo aos netos das primeiras famílias de clientes.

Os três funcionários da época transformaram-se em 18 atualmente. A estrutura acanhada, de 75 metros quadrados, hoje chega a quase 3 mil metros quadrados, num complexo que abrange dois andares de loja de móveis e decoração, fábrica de móveis planejados e depósitos, em endereço nobre: na Rua Cremona, 884, bairro Cinquentenário.

A seguir, entrevista concedida ao Pioneiro por Ercio Becker:

Felipe Nyland

Mobirise
Mobirise


Pensamos em abrir uma nova loja no começo de 2019, em outra cidade da Serra ou no Litoral

  • Conte um pouco dos primórdios da Vivelle. Você costuma comentar que foi um começo difícil.
    Ercio Becker: Vim de Bento Gonçalves para Caxias. Trabalhei no setor desde a época da extinta JH Santos, lá na Sinimbu. Por isso vinha toda a semana para Caxias. Eu sempre gostei daqui. Já atuava no setor de móveis e surgiu a oportunidade de investir. Em 1998, vim para Caxias e não havia sala comercial. Falar isso hoje, para quem está surgindo no mercado de Caxias, parece impossível, mas não havia sala. Como tinha contato com a Eloísa Tondo, pois eu mobilei o prédio dela, ela disse: tem uma casa aqui perto, no bairro São Pelegrino, mas terá de reformar. Uma casa de 75 metros quadrados. Demorei seis meses para fazer a reforma, derrubar paredes. Era uma casa antiga e tinha as divisórias pequenas. Mas aluguei a moradia e, na época, revendia móveis de outra marca, com três funcionários. Comecei a formar know-how e a fazer um trabalho diferente. Fui conquistando confiança, pois não se tinha muitos recursos. Cada cliente era único, e comecei a atender cada vez melhor.  
  • E como ocorreu o processo de ampliação? 
    Fui ampliando, ampliando, e em 2006 reinauguramos aqui (atual endereço). Foi um ato de coragem ser tão grande assim. Em 2008, agregamos à nossa essência, que são os móveis planejados, a loja de móveis e decorações. A Vivelle começou pequena, mas hoje já estamos chegando aos 13 mil clientes, pessoas que já compraram móveis e itens de decoração. Podemos mobiliar uma casa inteira. 
  • Como é possível chegar do nada e construir uma loja desse porte? 
    Eu sou apaixonado por móvel, porque a gente realiza o sonho dos clientes. A pessoa compra uma casa, que é o sonho maior, mas falta o recheio. E esse recheio é o que dá o toque final, fazendo os olhos do cliente brilharem. É apaixonante.  
  • Qual a equipe de funcionários e de que forma a crise econômica impactou na empresa?
    Precisamos reduzir um pouco a equipe. Hoje, temos 18 funcionários, mas no ano passado estávamos com 25. Com a crise econômica, a gente aprendeu que tem de ser muito mais eficiente. Fazer muito mais para obter menos resultado. Tivemos de melhorar todos os processos para não desperdiçar nada. É uma melhoria contínua diária, conversando com as pessoas, mostrando o que é melhor, desde as 7h da manhã até as 8h da noite estou trabalhando.  
  • Você acompanha todos os processos?
    Todos. Na dor é que a gente aprende a gemer. Quando a loja era bem pequena, uma cliente encomendou um dormitório, mas exigiu que fosse entregue para o Natal. Eu disse: “terás teu projeto para o Natal”. No dia 22 de dezembro de noite, o montador informou que estava indo embora e só voltaria no ano que vem. Fiquei sem chão. Para mim, decepcionar o cliente era a dor maior. No dia seguinte, fui para a casa da cliente, me ajoelhei e disse que não iria conseguir entregar para o Natal. Eu jurei que nunca mais dependeria de ninguém. Fiquei durante seis meses atuando como auxiliar de montagem até dominar tudo, trabalhando junto aos montadores. Hoje, a equipe, quando se aperta, vem falar comigo. Se eu disser: “isso aqui não está bom”, eles não retrucarão porque eu sei mostrar como fazer. Esse know-how eu aprendi na dor. Foi muito difícil decepcionar o cliente. Hoje, se o montador não vem ou no final do ano, quando acumula a produção, eu vou para dentro da fábrica. Para nós, eu e a Renata (esposa), é normal meter a mão. A gente carrega, descarrega, monta, desmonta. Claro que eu não consigo hoje estar em todos os lugares, mas se eles se apertam, me chamam. 
  • Qual a média de produção de móveis? O número caiu nos últimos anos?
    Chegamos até 2 mil projetos por ano. Em 2017, a gente conseguiu manter o desempenho, mas com uma margem de lucro menor. Precisamos reduzir as margens. Trabalhamos muito as pessoas. Aqui os funcionários não estão Vivelle, são Vivelle. Precisam estar engajados. 
  • Com a retração econômica e o desemprego, o consumidor ficou mais receoso para fechar negócios?
    Tem aquela insegurança. No ano passado, as pessoas só queriam pagar à vista, não aceitavam um centavo de dívida. Este ano está um pouco diferente. O pessoal já parcela em cinco, 10 vezes. Já tem cliente fazendo em 24 vezes. O cenário está mudando. Uma dificuldade que temos são os financiamentos por bancos. Não há incentivo como existe para a compra de automóveis. Os juros são pesados e a restrição altíssima, liberando apenas de 10% a 15% do orçamento (renda). 
  • É preciso ter capital de giro para fazer frente a essa dificuldade?
    Sim, mas no ano passado tivemos casos gravíssimos de inadimplência. Só para um cliente, o rombo foi de R$ 105 mil. Foi difícil. Ainda estamos nos recuperando. 
  • Qual o público-alvo da empresa?
    É
     geral, tem muito casal novo e tem os antigos que estão retornando, pois trocaram de apartamento.  
  • No geral, como avalia os negócios em 2018?
    Minha expectativa é de que o segundo semestre seja melhor do que o primeiro. O público já se acostumou com notícias ruins, envolvendo política. Aos poucos, estamos percebendo mais confiança. O caxiense sofreu muito: muita gente perdeu o emprego e aquele que estava trabalhando ficou inseguro. Aos poucos, essa insegurança está passando e o consumidor começa a assumir dívidas para a frente, parcelas de pagamento. Tudo isso me traz uma convicção de que o segundo semestre será melhor do que o primeiro. E, para o ano que vem, teremos uma melhora também. Caxias é muito grande e precisou aprender nessa dificuldade. Agora que público está se encontrando, o mercado vai começar a reagir.  
  • Em termos de percentual, quando prevê de incremento?
    Este ano, imagino um percentual de 10% a 15% de crescimento em relação ao ano passado. Para o ano que vem, a gente quer crescer bem mais.  
  • Mas voltar aos parâmetros de 2013/2014, época do boom de consumo, não é irreal? Há quem diga que só em 2022 seria possível.
    Houve uma acomodação do mercado. Aquilo era um conto de fadas, que nem em 2022 vai voltar. O Brasil vai gradativamente voltar a melhorar. Mas aquilo era irreal, era uma coisa de sonhos, e hoje estamos pagando o preço daquela irrealidade. Por isso, a gente está sofrendo. A população aprendeu que o real é consumir dentro de uma normalidade. Naquela época, tinha funcionário que começava a trabalhar e não tinha nem dinheiro para pagar a passagem de ônibus. Dias depois, vinha trabalhar de carro, pois havia conseguido um financiamento. Como é que a pessoa uma semana atrás não tinha dinheiro nem para a passagem e depois tinha adquirido um veículo? Era irreal.  
  • O que representou o Troféu Ítalo Victor Bersani?
    Eu nunca imaginei a dimensão deste prêmio. Recebi abraços e mensagens de pessoas que nunca imaginei. Eu fiquei feliz. A marca Vivelle se tornou maior do que a nossa estrutura. Fomos muito felizes e iluminados ao longo desse tempo, e conseguimos valorizar essa marca tão grande na metrópole de Caxias, que não é desafio fácil.  
  • Como se cria uma marca com respeito?
    Aquilo que minha mãe e meu pai ensinaram: ética, transparência, sempre ser honesto. A gente transmite isso ao cliente, que cria confiança na marca. Se teve algum cliente nesses 20 anos com algum problema não resolvido é porque não nos foi comunicado. Lidar com pessoas é uma arte que dá tantas alegrias. Os pouquíssimos clientes que tentam tirar proveito, se aproveitar da ingenuidade, são exceções. A gente se compromete. Qual a razão de uma loja? Os clientes. A tecnologia é importante, mas o consumidor quer o olho no olho, a personalização. Quer ser atendido por alguém, se sentir valorizado.  
  • Quais os projetos de expansão da Vivelle, já que afirmou que a marca é maior do que a sua estrutura?
    Estou mais seguro de pensar isso por tudo o que vem acontecendo. Se eu olhar ao redor, fico triste com tantas lojas do setor que fecharam em Caxias, mas estamos planejando abrir fronteiras. A participação na ExpoBento (em junho) foi uma gratificação muito grande, pelo reconhecimento que obtivemos de outras cidades da Serra. Superou qualquer expectativa. No primeiro final de semana, já tínhamos pago todo o investimento no estande. Pudemos perceber a dimensão da marca. No dia a dia, estamos tão focados em cumprir o que prometemos, não atrasar o projeto. Para nós, não é normal dar curva no cliente. Se tem problema, a gente dá a cara para bater. 
  • Qual o desafio para expandir a operação?
    Estamos fazendo pesquisas e avaliando, justamente porque precisamos dar o passo certo, uma vez que não temos muitos recursos a investir. É preciso um passo de cada vez e certo. Pensamos em abrir uma nova loja mais para o início do ano que vem. A ideia é que não seja em Caxias, mas em outra cidade da Serra ou no Litoral Norte, onde temos muitos clientes. A marca permite, mas hoje o que falta é capital de giro. O momento é ideal porque grandes empresários sempre dizem que se deve investir na crise para faturar quando o mercado retornar. O ramo imobiliário está mais em conta, é possível barganhar mais.  
  • Com o fechamento de lojas do setor de móveis em Caxias – cerca de 20 nos últimos anos –, a concorrência não diminuiu?
    Isso não me deixa feliz. É muito desafiador esse setor. Quem viver vai sobreviver mesmo. Houve lojas que ficaram com um passivo muito grande. Me deixa triste. Eu queria que todo mundo estivesse bem, porque, caso minha empresa não tivesse bom desempenho, o problema era meu. Só que o problema não é meu, é o todo, o mercado. Todo mundo concorre com todo mundo. Uma coisa que proliferou muito em Caxias são aqueles funcionários, geralmente montadores, que trabalhavam nessas lojas que fecharam, saíram, compraram uma máquina velha proibida pela norma e hoje fazem móveis no porão de casa mais ou menos retos, mas eles concorrem com a gente. É o Brasil em crise. É como um camelô para o lojista. Ele concorre? Sim, ele incomoda. Vendendo mais barato, sem nota, qualidade inferior, mas o público compra. É muito mais barato? Não, porque hoje a gente não trabalha mais com grandes margens de lucro, trabalha para pagar as contas e manter o negócio.  
  • Mas aos poucos o mercado começa a reagir?
    A gente acredita que logo começa a ter lucro de novo para reinvestir. Hoje temos de ter certificação de meio ambiente, repassar o resíduo a quem dá o destino certo. Temos 100% da equipe registrada, com carteira assinada, mas em 80% dos meus concorrentes, inclusive de marcas tradicionais, os montadores são autônomos. Claro que o custo é menor, porém, eu não faria, porque o risco é grande. 
  • Qual o caminho para Caxias do Sul se reerguer?
    Caxias do Sul terá de se reinventar. Bento Gonçalves aprendeu na dor. Bento sacudiu quando quase quebrou a Cooperativa Aurora (o alto endividamento bancário da vinícola quase provocou a sua ruína em 1995). O móvel representava muito pouco na economia. Muitos clientes meus (eu tinha outra marca lá de móveis, a Pinguim) do interior me pediam dinheiro emprestado para urgências. Eu emprestava, e todos me devolveram. Ali que surgiram essas cantinas novas, já que havia demanda por vinho, e a qualidade foi melhorando e veio o turismo. Caxias do Sul tem de acordar para a coletividade. Vamos voltar a ser Caxias. O turista não quer comer comida fina. Quer polenta, queijo do jeito que a gente faz. O polo turístico do Rio Grande do Sul no futuro será Bento. 
  • Qual a maior inspiração para o seu trabalho?
    Minha maior inspiração hoje é meu filho (Rafael). Todos os dias, ele me surpreende. Se estou cansado, me concentro nele e tudo passa. Ele tem muito orgulho de mim, não posso decepcioná-lo. Tenho de ser modelo, porque os desafios que ele enfrentará provavelmente serão maiores do que os meus. Ele tem de estar preparado. Eu não posso desistir de nada. Tenho de olhar para a frente. A minha esposa, a Renata, é uma guerreira. Não tem tempo ruim para ela. A gente, enquanto empresa, é pequeno, mas tem muito orgulho e força. Eu nunca imaginei que iria ter tantos amigos como tenho em Caxias do Sul. Claro que eu doo muito do meu tempo para o associativismo, com participação no Sindimadeira, Sindilojas, CDL e CIC. A gente sai daqui cansado, mas feliz. 

Clique e leia mais


+ARTIGO

Yoga e meditação são meios que aprimoram o processo cognitivo, criativo e produtivo.

+gastronomia

Com incremento no número de opções, mercado de hamburguerias
se aquece em Caxias do Sul 

+ENTREVISTA

Ercio Becker, diretor da Vivelle Móveis e Decorações, fala do início difícil, do reconhecimento e dos planos de expansão

+Trabalho

Confira nove dicas para lidar com os atritos existentes
do dia a dia corporativo 

Compartilhe