Mobirise


03 de setembro de 2018

+entrevista

Com “nervos de aço”

Empresário Rafael Sebben, DA SUPERAÇO, fala dos desafios para lidar com a oscilação do dólar 

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BABIANA MUGNOL

babiana.mugnol@rdgaucha.com.br

Se no Brasil o empresário tem de ser de aço para lidar com as incertezas econômicas do período que antecede as eleições, quem atua dependendo desse material, fortemente impactado pela oscilação do dólar, precisa ser mais resistente ainda.

O sócio-proprietário da empresa Superaço, Rafael Sebben, abriu o negócio em Caxias do Sul na primeira crise, em 2009, e a ousadia deu certo. Após aproveitar o bom momento da construção civil, ele e o sócio Rogerio Donelli (ao lado de quem quis fazer a foto, à direita) apostaram novamente ao fazer um investimento de grande porte para o tamanho da empresa e comprar uma máquina que permitia atender ao cliente que buscava o mínimo desperdício. A diversificação com a expansão da empresa, que inaugurou recentemente um centro de distribuição em Bento Gonçalves, também vem sustentando a Superaço. Confira a entrevista:

MARCELO CASAGRANDE 

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SÓCIOS | Rafael Sebben (à esquerda) comanda, com Rogerio Donelli, a expansão da empresa Superaço

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O empresário brasileiro precisa de uma certa dose se loucura. É muito difícil planejar a longo prazo 

  • Antes da Superaço, você já trabalhava com importação de aço. Foram quantos anos em outras empresas até fundar o próprio negócio?
    Em torno de 15 anos, mas sempre com aquela vontade de ter oportunidade para fundar a Superaço. Eu trabalhei muitos anos no segmento, tive participação importante na Meincol. Também estive na Perfilados Rio Doce, no Espírito Santo. Mas o tempo passa e você começa a querer voltar para casa. Foi na primeira grande crise, entre 2008 e 2009, a do subprime (crédito de alto risco) das famílias americanas que refletiu muito no Brasil, que voltei para Caxias do Sul com aquela vontade de abrir uma revenda de aço. Abrimos em 15 de julho de 2009, de forma pequena e modesta, o Brasil ainda vinha se recuperando e havia incertezas sobre em que velocidade isso aconteceria.
  • Foi uma decisão ousada, mas em momentos de crise surgem oportunidades...
    Foi bastante ousada, porém a gente estava percebendo que o mercado do aço estava tendo alguma movimentação. Empresas do ramo estavam fechando, mudando de foco, abrindo em um modelo diferente e foi a oportunidade que tivemos. Começamos no bairro São José. Na época, com pouco material para arriscar pouco. Costumo brincar que tínhamos uma bala só dentro da arma. Começamos sabendo nosso lugar, respeitando nossos concorrentes que estavam aqui há anos. E fomos seguindo lentamente com muita cautela, até porque no Brasil a gente não consegue passar muito tempo sem ter uma crise.
  • Cautela é um mantra do empresário brasileiro?
    Justamente. Tem momentos que a economia parece que respira bem, um ano ou dois, e daqui a pouco já passam dois ou três anos de crise. O empresário brasileiro tem que ter uma certa dose de loucura. É muito difícil fazer um planejamento de longo prazo. Eu sou formado em Administração de Empresas e especializado em Marketing. Tudo que estudei sobre ter um planejamento de 20 ou 30 anos, no Brasil, é quase impraticável. Ele existe, mas somos impactados a todo momento com a subida muito grande do preço do aço ou a queda que também afeta, porque você está estocado e tem uma condição de compra nas usinas que precisa ser cumprida. Mas o que a gente mais tem visto é a alta bastante forte e não estamos visualizando nada no cenário de curto prazo de queda.
  • Como é trabalhar com essa oscilação do dólar e a insegurança política?
    A alta do dólar impacta diretamente no nosso produto. Ele é altamente regulado por preços internacionais, mesmo que o minério de ferro esteja muito no Brasil, porque tem carvão e outros aditivos nas usinas, que são importados. Neste ano, o aço já subiu cerca de 25% e estamos esperando aumento de cerca de mais 10%. Existe promessa das usinas de repassar agora no início do mês.
  • Um dos principais setores que vocês atendem é a construção civil e fica difícil repassar essa alta para um setor que ainda sofre com a crise. Como conciliar esses preços?
    Há três anos, se vendia uma barra de ferro de vergalhão fixa a R$ 2,20 o quilo e hoje se fala na casa de R$ 4. É praticamente 100% de aumento. Repassar esses aumentos todos em cascata é impactante, mas infelizmente estamos nesse cenário e não temos o que fazer. Enquanto não se definir esse cenário, o dólar deve ficar nessa volatilidade.
  • Vocês “surfaram” na onda do bom momento da construção civil. Quais são as alternativas com a crise do setor?
    Começamos na linha de serralheria, porque víamos que não tinha uma empresa focada neste ramo. Após seis meses, entramos na construção civil com a linha de vergalhões e a construção vinha bombando, com crescimento absurdo e vislumbramos uma boa oportunidade. Começamos a fabricar telhas de aço, mas também agregar um pouco mais na linha da indústria. Hoje temos equipamentos de corte e dobra de vergalhão que até pouco tempo não existiam na região de Caxias do Sul. Começamos com essa linha onde o construtor não tem perdas. Tivemos um momento de incerteza muito grande, porque faríamos um investimento considerável para o porte da Superaço, mas a gente teve a coragem de fazer na hora certa, o que trouxe um diferencial de competitividade. Mas aliado a isso acabamos investindo no segmento da indústria e conseguimos ter um pouco de “sorte”, a gente conseguiu equilibrar. No momento que a indústria estava fraca, tivemos a construção civil se mantendo em patamar aceitável. Em seguida, começou a se inverter o cenário. Hoje cerca de 50% do faturamento é na construção e 50% na linha industrial.
  • Essa diversificação também foi graças à expansão? São três unidades agora com a inauguração de uma em Bento. Qual o tamanho da operação da Superaço hoje?
    Temos a matriz na RS-122, onde temos a linha industrial, a máquina de corte e dobra e a produção de telhas. Há cerca de quatro anos abrimos a primeira filial dedicada à construção civil no bairro São José. A origem foi ali, mas acabamos saindo para a BR-116 e depois fomos para o atual endereço na RS-122. Com o passar do tempo, a gente vinha estudando a região de Bento, que é bastante industrial mas diferente do perfil de Caxias. Inauguramos no mês passado no bairro São Roque, onde atuamos somente com distribuição e temos estoque para pronta entrega de todas as linhas. A Superaço conta com 50 funcionários e o foco é no mercado da Serra. Atuamos forte em Caxias, mas com aumento de negócios em Bento, Garibaldi e Veranópolis.
  • O que já esta no radar no planejamento dos próximos anos?
    As incertezas são muito grandes, mas eu acredito que os próximos investimentos irão caminhar nessa linha de industrialização do aço, de agregar mais valor. Certamente vamos precisar de mais espaço, porque hoje nossa estrutura é bastante enxuta, adequada ao momento. Sem dúvida, se ampliarmos, será na região.

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