FERNANDO SOARES
fernando.soares@pioneiro.com
DIOGO SALLABERRY
o primeiro | Ezequiel Nólio é responsável pela gestão da propriedade em Paraí que foi a pioneira na utilização de robôs de ordenha. Desde 2015, a atividade é feita pela máquina
Cheias de leite no úbere, as vacas vão se aproximando sozinhas da sala de ordenha instalada no pavilhão. Assim que um animal passa a porta de entrada e se acomoda dentro da estrutura, um braço robótico começa a atuar. Em questão de segundos, a máquina encaixa as teteiras, por onde passarão litros do líquido com destino ao tanque resfriador. Enquanto isso, os demais gados aguardam, do lado de fora, a vez para serem ordenhados. Tudo acontece espontaneamente, sem interferência humana. Há três anos, essa cena ocorre durante as 24 horas do dia no Tambo Nólio, em Paraí. Aos poucos, a situação começa a se tornar comum também em outras propriedades do Rio Grande do Sul.
A família Nólio foi a pioneira na robotização da ordenha no Estado. Em 2015, o produtor Ezequiel Nólio e seus pais investiram mais de R$ 900 mil na aquisição de um robô e em melhorias estruturais para a adaptação ao sistema. Junto ao equipamento, foi instalado um software, que gera relatórios em tempo real sobre a produtividade e a saúde dos animais. A opção pela tecnologia mudou radicalmente a rotina na propriedade.
– A prioridade não é mais fazer a ordenha, mas sim tomar decisões em cima dos dados gerados pela própria máquina. Antes tu ficavas muito no acho e no se. Hoje, dá para gerir melhor a propriedade e decidir, por exemplo, qual vaca fica e qual é descartada – relata Ezequiel Nólio, responsável por gerir a propriedade.
O produtor salienta que o único arrependimento foi não ter colocado robôs antes. Isso porque ele notou uma melhora na própria qualidade de vida. Já não é mais necessário acordar às 5h da manhã para ordenhar as vacas, que agora escolhem o horário que desejam fornecer o leite. Ele trabalha pela manhã e tem as tardes livres. Além disso, não é mais necessária mão de obra na ordenha. Antes, três funcionários ajudavam na tarefa.
No local, os mais de 60 gados do rebanho geram em torno de 2,3 mil litros de leite por dia, que são entregues à cooperativa Santa Clara. Antes do robô, era produzida a mesma quantidade da bebida, mas com 80 cabeças. Por conta da adoção do sistema robótico, o Tambo Nólio virou atração turística em Paraí. Por mês, em torno de 500 pessoas, entre estudantes, pecuaristas e profissionais de diferentes áreas, visitam a propriedade para entender como funciona o novo jeito de ordenhar.
No Estado, as propriedades com robôs estão em Arroio do Meio, Barão de Cotegipe, Candelária, Carlos Barbosa, Erechim, Guaporé, Muitos Capões, Nova Bassano, Nova Bréscia, Paraí (duas), Pontão (duas) Roca Sales, Vacaria e Vespasiano Corrêa.
Atualmente, 16 estabelecimentos contam com robôs de ordenha no Rio Grande do Sul. Eles estão espalhados por 14 municípios do Estado. A maioria dessas propriedades, sete delas, se localiza na Serra. Apesar do avanço do modelo robotizado nos últimos anos, a tecnologia está restrita a um grupo pequeno de produtores gaúchos, em função do alto investimento necessário na implementação.
– Por muito tempo ainda deverá ser uma tecnologia restrita ao produtor de vacas de alta produtividade, que capta a partir de 2 mil litros de leite por dia. Por isso, ter robôs não é uma coisa para a maioria dos produtores – aponta Jaime Ries, assistente técnico da Emater-RS especializado em gado leiteiro.
Hoje o Estado conta com cerca de 65 mil produtores de leite, mas no máximo 1 mil deles teriam potencial para automatizar a ordenha. Essa é a estimativa do presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug. Mesmo assim, lembra Krug, a adoção do sistema é uma tendência mundial, por ser mais eficiente do que a mão de obra humana e proporcionar ganho de produtividade.
– Com o robô, a vaca é mais ordenhada, de duas a quatro vezes por dia. Como ela vai à sala no horário que preferir, aumenta o conforto do animal. Isso gera um incremento médio de 10% na produtividade, que pode variar em cada propriedade – avalia.
O dirigente destaca que o sistema pode ser vantajoso para propriedades com mais de 60 cabeças e que adotam o sistema de confinamento dos animais. Entretanto, Krug reforça que, para saber se o investimento compensa, cada caso deve ser analisado individualmente.
diogo sallaberry
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DIOGO SALLABERRY
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